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Invertebrados Aquáticos: Uma Visão Global |
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Andrew Pollock - Uma visão geral sobre invertebrados e sua manutenção em aquário. |
Por Andrew Pollock
Camarões são decápodes, ou crustáceos de 10 pernas, juntamente com lagostins, caranguejos e outros. Historicamente só se mantinham lagostins em aquários, mas nos últimos 10~15 anos camarões e outros crustáceos se tornaram cada vez mais populares em aquários domésticos. Este artigo visa dar uma visão global na criação e reprodução dos pequenos camarões dulcícolas, camarões filtradores e camarões de braços longos, assim como de pequenos lagostins. Apesar de impreciso, o termo “camarão” será usado para se referir a todos eles. Devido ao grande número de decápodes sendo abordados aqui, generalizações irão ocorrer, e detalhes mais específicos devem ser buscados, uma vez feita a escolha do habitante do aquário.
Os diferentes tipos de Decápodes abordados aqui incluem:
1. Os comedores de algas, basicamente espécies de Neocaridina e Caridina: animais deste grupo são conhecidos como os camarões anões.
2. Camarões de braços longos ou Macrobrachium, como o Pitu, que são predadores oportunistas, tendo desta forma necessidades distintas, assim como opções diferentes de companheiros de tanque, além de detalhes reprodutivos peculiares.
3. Camarões filtradores, espécies dos gêneros Atya, Atyoides e Atyoida, que podem ficar grandes, mas são geralmente pacíficos, na sua maioria devem ser mantidos em grupos. Possuem adaptações nas suas primeiras pernas, em forma de leque, especializadas na filtragem de água para captura de partículas das quais se alimentam. Necessitam boa circulação de água e bactérias/microorganismos em suspensão, normalmente ficando próxima a alguma saída de filtro, ou agarrados a algum objeto.
4. Lagostins anões, pequenos e mais pacíficos do que seus parentes maiores. A maioria das espécies deste grupo é do gênero Cambarellus. Lagostins Procambarus têm maiores dimensões.
Configurações do aquário
Habitantes: Um aquário dedicado com uma única espécie é o ideal, infelizmente muitos aquaristas novatos tentam tê-los como parte de um tanque comunitário, porque geralmente possuem um único aquário e pelo desejo de ter a fauna mais variada possível. Os camarões sofrem com isso, e geralmente se escondem dos peixes nesta situação, nos privando de admirá-los, e também privando o camarão de um ambiente adequado. Com os Pitus e outros camarões de braços longos, predadores como são, desta forma com necessidades protéicas, peixes, camarões e até caramujos serão devorados periodicamente, dependendo da espécie. Novamente um tanque mono-espécie é o ideal pelas razões expostas. Lagostins anões, apesar de geralmente pacíficos, podem ser bastante agressivos entre si, com brigas entre machos se tornando mais prováveis nestas condições, e novamente um tanque com uma única espécie é a melhor opção. Sempre haverá relatos de sucesso na manutenção de diferentes combinações de camarões, lagostins, peixes, etc., e não é meu intuito aqui dizer que estas combinações não irão funcionar em situações individuais. Só é importante ter em mente estas diretrizes básicas e decidir o que é mais importante para você, e espero que seja a saúde e o bem-estar dos seus habitantes.
Parâmetros da água: Para a maioria dos camarões, uma água neutra e com dureza média é o mais adequado. Algumas espécies de camarões preferem águas ligeiramente ácidas ou moderadamente alcalinas, apesar de que uma faixa de pH de 6.5 a 7.5, e dureza em torno de 10 gH são adequados na maioria dos casos. Uma vez decidida qual espécie, seria aconselhável pesquisar melhor seus parâmetros específicos. Você pode facilmente checar os parâmetros de camarões e lagostins acessando suas páginas específicas. Veja a galeria de espécies de camarões e lagostins (hiperlink) para uma lista de todas as espécies. Na troca parcial de água, é importante tentar ao máximo igualar a água nova àquela antiga no tocante á sua temperatura, dureza e TDS*. Acho isto mais fundamental com camarões do que com peixes. O mais importante é certificar-se de que cloro, cloramina e metais pesados tenham sido removidos da água antes de colocar no aquário. Devido à sua grande sensibilidade a metais pesados, camarões são mais susceptíveis à toxicidade de íons absorvidos a partir de encanamentos de cobre em sistemas de água encanada aquecida, onde o contato da água com o cobre é mais longo. É altamente recomendável não utilizar água encanada aquecida quando realizar trocas d’água. Se a água encanada estiver muito fria, por favor, leia o artigo Trocando a água durante o inverno (hiperlink) para informações mais detalhadas sobre como proceder nesta situação.
O fundo do aquário: Sua área é mais importante do que o volume do aquário, e por isto camarões podem ser mantidos em pequenos recipientes com sucesso. Somente lembrando que é mais fácil manter os parâmetros estáveis em tanques maiores, e eu não aconselharia nada menor do que 25 litros. Tocas devem ser providenciadas com plantas, rochas ou enfeites. Isto é particularmente importante com lagostins anões, já que eles ficam bastante vulneráveis após a ecdise.
Filtragem: Simples filtros mecânicos internos movidos a ar são suficientes para aquários somente com camarões. Se você possui um aquário maior, pode ser necessário um sistema mais potente de filtragem, como um filtro externo. Para evitar que os camarões sejam sugados você precisará proteger a entrada do filtro. Certamente os camarões se divertirão escalando a entrada do filtro e parecerão seguros, mas eles podem, e irão descobrir uma forma de entrar no próprio filtro. Muitas vezes eu acho camarões vivos durante a limpeza de filtros canister que não têm uma espuma de pré-filtragem na sua entrada. Quando uma circulação mais intensa se faz necessária, ou pela densidade das plantas, ou para prover correnteza para camarões filtradores, bombas “powerheads” maiores ou canisters podem ser úteis e novamente as espumas são fundamentais. As entradas destes filtros devem ser protegidas, a fim de prevenir que seus camarões sejam triturados.
Temperatura: É possível manter a água em torno de 20 graus Celsius na maioria das residências sem o uso de aquecedores. É claro que peculiaridades geográficas e ambientais têm uma grande influência nisto. Se a temperatura da água cai abaixo de 20 graus, é melhor que você tenha um aquecedor no aquário (já tive camarões sobrevivendo a invernos em tanques externos, mas isto não é recomendável). Da mesma forma, aqueles que moram em climas mais quentes muitas vezes vão precisar de chillers (resfriadores) ou ventiladores. Flutuações na temperatura do aquário, se discretas, até podem ser benéficas para a sobrevivência e longevidade dos camarões. Você pode facilmente checar os parâmetros de camarões e lagostins acessando suas páginas específicas. Veja a galeria de espécies de camarões e lagostins (hiperlink) para uma lista de todas as espécies.
Tampas: Alguns camarões irão escalar plantas e objetos, e fugir do aquário, e realmente podem sobreviver curtos períodos de tempo fora d´água. Farão isto especialmente se estiverem em condições inadequadas, quer seja ambientais, parâmetros d´água ou população. É altamente recomendável que tampas sejam usadas nos aquários para evitar fugas acidentais, levando a morte no chão por dessecação. Da mesma forma, tentativas de sair do aquário devem alertar o aquarista da possibilidade de que o ambiente dos animais não esteja ideal.
Plantas aquáticas: Plantas mais simples são mais indicadas para estes aquários. Aquelas com baixa necessidade de manutenção e crescimento rápido permitem aos camarões encontrarem algas e outros biofilmes para se alimentarem. Aquários de alta manutenção, fertilizados e livres de algas são um ambiente onde é bem mais difícil a criação de camarões com sucesso, um crescimento mais exuberante de plantas irá competir com os biofilmes e algas reduzindo as fontes de alimentação naturais dos camarões. Existem teorias de que fertilizantes possam ser tóxicos aos camarões em maiores dosagens, em especial os que contenham cobre. A injeção de gás carbônico em aquários plantados é outra questão controversa. A minha experiência tem sido a de que é possível a manutenção de camarões em aquários com adição de gás carbônico, apesar de que nunca vi eles se reproduzindo, da mesma forma, quando os níveis de gás carbônico se elevam, os camarões parecem menos ativos. Meu “setup” preferido para camarões inclui iluminação moderada, nenhum fertilizante líquido (substratos férteis não causam problemas) e sem adição de gás carbônico.
População compatível com camarões: Existem alguns animais que podem ser mantidos juntamente com os camarões. Algumas outras espécies de camarões, peixes com aparatos bucais especializados como Otocinclus, Corydoras, Ancistrus e outros pequenos cascudos, além de peixes que se alimentam na superfície d´água. Qualquer peixe maior irá assustar os camarões, independente de ser predador ou não. É claro que dependendo do seu objetivo e do tamanho do aquário, as opções podem variar entre as diversas espécies de camarões anões (onde a maior preocupação será a hibridização dentre as diferentes espécies) até aquários de reprodução de lagostins anões, onde somente fêmeas podem ser mantidas, o macho sendo introduzido somente por curtos períodos de tempo. Por favor, leia o artigo Estes camarões irão se hibridizar? para obter maiores informações.
A maioria das linhagens de camarões ornamentais é criada de forma seletiva pela sua intensa coloração. Esta característica física exagerada reduz as habilidades dos camarões de se camuflarem, e tendem a atrair mais a atenção dos peixes. Gostaria de reforçar novamente a importância de não se manter camarões e peixes juntos. Basicamente, qualquer peixe que tenha uma boca grande o suficiente para caber um camarão provavelmente irá comê-lo. Uma vez que os peixes associem camarões à comida, eles irão rapidamente caçar todos os camarões do aquário, apesar de que as exceções listadas no início não têm esta tendência, e exceções existem para quase qualquer regra. Por favor, leia o artigo Companheiros de tanque seguros para camarõespara maiores informações nestes potenciais companheiros.
Se você pretende reproduzir camarões, então nenhum peixe é o ideal, já que filhotes de camarões são tão pequenos que inevitavelmente serão devorados até mesmo pelo mais pacífico dos peixes. É só lembrar que náuplios de Artêmia é um dos alimentos mais populares entre criadores de peixes. Finalmente, vale lembrar que camarões irão se alimentar de co-habitantes mortos e doentes, pequenos lagostins anões já foram vistos predando camarões anões, e é desnecessário reforçar que pitus e outros camarões de braços longos irão apanhar e predar pequenos peixes e camarões, doentes ou enquanto estiverem dormindo.
Sexagem de camarões
Em geral os camarões anões podem ser sexados pelo formato do corpo: fêmeas têm as extensões inferiores nas carapaças abdominais (pleuras dos somitos) mais proeminentes, para auxiliar no transporte dos ovos, machos são mais esguios e talvez menos coloridos. Machos muitas vezes têm antenas mais longas – mais pronunciada no segundo par mais curto de antenas. Apesar disto, em algumas espécies esta distinção não é tão fácil, e a forma biologicamente mais correta seria examinar as aberturas genitais na região ventral, a abertura da fêmea esta situada no 6o segmento enquanto que no macho este se situa entre o 6o e o 8o segmento (eu sei, isto não é muito útil num camarão de 2~3cm).
Nos Macrobrachium o tamanho do primeiro apêndice em garra é usualmente a forma mais fácil de distinguir o macho da fêmea, o macho possui garras maiores, geralmente existe também uma significativa diferença no tamanho do corpo em indivíduos adultos.
Camarões filtradores tendem a ter as primeiras pernas locomotoras maiores nos machos, e fêmeas têm as extensões ventrais nas carapaças abdominais (pleuras) para auxiliar a carregar os ovos. Nos lagostins anões as diferenças nos genitais externos são visíveis abaixo da cauda, onde o primeiro pleiópode mostra adaptações especializadas.
É interessante lembrar também que a maioria dos decápodes tem mudanças hermafrodíticas parciais, e certamente o criador interessado num único sexo (machos crescem mais rápido e são considerados mais rentáveis economicamente) pode induzi-los através de manipulação hormonal androgênica.
Reprodução
Todos os camarões produzem ovos nos ovários, os quais podem ser vistos se desenvolvendo através da sua carapaça na região dorsal ou imediatamente atrás da cabeça. Se o acasalamento ocorreu, os ovos ainda não-fertilizados passam através da abertura genital (onde o esperma foi depositado no acasalamento) para serem fertilizados e retidos nos apêndices natatórios ou pleiópodes sobre a cauda da fêmea. A maioria dos camarões demora 3 a 4 semanas para a eclosão dos ovos, se você vir uma fêmea carregando ovos sobre sua cauda eles estão quase certamente fertilizados. Duas formas diferentes são vistas na eclosão destes ovos:
1. Alguns camarões produzem versões em miniatura totalmente desenvolvidos dos camarões adultos.
2. Outros produzem animais num estagio planctônico (zoea) que tem vida livre e natatória. Este ciclo planctônico precisa de ambientes com salinidade, e de diminutas partículas em suspensão para se alimentarem, para se desenvolverem até a forma juvenil.
Doenças
Há atualmente uma grande escassez de informação referente a doenças de invertebrados. Com a crescente popularidade de camarões em aquários, isto pode mudar. Hoje a maioria das pesquisas tem sido focada nas espécies criadas como fonte de alimentação, os quais não são abordados neste artigo, como por exemplo, camarões maiores, lagostins e lagostas (alguns artigos bem detalhados abordando doenças em carcinocultura podem ser encontrados no website da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação:www.fao.org ).
Boa qualidade da água e ambiente correto é obviamente importante para manter seus camarões saudáveis. Da mesma forma que ocorre com os peixes ornamentais, muitas doenças são atribuíveis a falhas em prover condições apropriadas. Alguns remédios são sabidamente tóxicos para invertebrados, como cobre, acriflavina e organofosforados. Outros são seguros, como formalina, verde malaquita e muitos antibióticos. Ate hoje só passei por duas situações de doenças: Fungos em ovos enquanto ainda carregados pelas fêmeas, por vezes com infecções secundarias das suas carapaças. Isto, na minha experiência, se resolveu sozinho quando a fêmea liberou os ovos, sem nenhum tratamento especifico. A outra experiência foi com o desenvolvimento de um aspecto opaco e translúcido no corpo do camarão. Não tenho certeza se isto é devido a uma falha no controle osmótico e uma alteração inespecífica pré-óbito que pode ser vista em mais de uma condição patológica, ou uma doença especifica. Minha tendência é acreditar mais na primeira possibilidade.
Doença da Carapaça em Lagostins: Estas podem ser regeneradas na próxima ecdise, apesar de que pode demorar algumas mudas para restaurar seu aspecto original. Nos crustáceos criados para alimentação, uma doença de carapaça é comumente vista, é basicamente uma infecção secundaria numa área da carapaça que sofreu algum dano. De forma muito semelhante às nadadeiras roídas em peixes, muitas diferentes bactérias têm sido implicadas. Cuidados e boas condições da água devem controlar esta condição, e a cura geralmente é vista após a ecdise. São descritas placas em lagostins causadas pelo fungo Aphanomyces, infectando tecidos moles não calcificados, talvez de forma semelhante ao que encontrei nos camarões. A doença da porcelana de lagostins australianos é devido a uma infecção por um parasita microsporídio, Thelonia, e não existe tratamento atual conhecido além do isolamento dos indivíduos infectados. Existe um pequeno verme chato, Temnocephalan, geralmente não-patogênico, e que pode ser removido com banhos de solução salina.
Há ainda relatos de uma larva de um verme encistado, onde se acredita que os crustáceos sejam hospedeiros intermediários. Ainda em criações comerciais de lagostas, existe um parasita protozoário conhecido por causar morte súbita, chamado Paramoeba, que ataca o sistema nervoso levando a paralisia e morte geralmente num intervalo de 24 horas, doença conhecida também como “síndrome da lagosta manca”. Aerococcus, uma bactéria gram positiva, pode causar vermelhidão da região ventral do abdômen, a sua mortalidade é mais alta em temperaturas maiores, não consegui descobrir nenhum relato de sucesso com tratamentos usando antibióticos.
* “Total Dissolved Solids”, sólidos dissolvidos totais, a medida da quantidade total de minerais contidos na água. Determina sua pressão osmótica.
Tradução e adaptação: Walther Ishikawa
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