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Salvem os Caramujos!
 
Mateus Camboim - Salvem os Caramujos!




Olá,

Um aquário vai muito além de um simples recipiente para se manter peixes, é literalmente um pequeno ecossistema. Ele abriga um incontável número de organismos que ajudam o ambiente a se manter estável, interagindo entre si, sendo essenciais para a sua existência.

Esses seres podem ser tanto microscópicos como milimétricos, mas estarão sempre presentes em qualquer porção d'água, em qualquer aquário, não importando a montagem. E inevitavelmente todo aquarista se deparará com os mais injustiçados deles: os caramujos. Esses invertebrados acabaram por receber uma fama que não condiz com toda a sua funcionalidade, levando muitos aquaristas a um verdadeiro extermínio.



Um caramujo Planorbídeo e um pequeno Physa.


Bem diferentes dos famosos e até venerados Red Ramshorns, Ampulárias (Pomacea bridgesi) e Neritinas (Neritina zebra), espécie adquiridas em lojas especializadas, os mais comuns e que parecem surgir "espontaneamente" são sumariamente combatidos, sem nem ao menos mostrar como podem desempenhar papéis importantes no aquário, dando auxílio ao aquarista.

As espécies mais comuns que marcam presença em quase todos os aquários, especialmente os que possuam (ou possuíram) alguma planta são: Physa, Lymnaea, Melanoides (Trombetas) e os Planorbídeos (a variedade comum, não a albina). Essas espécies possuem em comum o fato de se alimentarem de algas (eventualmente plantas quando sua taxa de reprodução não for controlada), restos de ração e outros alimentos, folhas mortas e até cadáveres de peixes, além de uma velocidade de reprodução alta e em grande quantidade.



Trombetas.


Suas funções no aquário são inúmeras: ajudam a manter as algas verdes sob controle, bem como comendo folhas mortas, peixes mortos e restos de ração; são indicadores de qualidade da água, de forma indireta: eles reproduzem mais intensamente quando o aquário possui matéria orgânica em excesso e vice-versa; servem de alimento para muitas espécies de peixes ornamentais como Paraísos, Mocinhas, Bótias e Bettas (comem os filhotinhos) além de proporcionar uma maior biodiversidade, algo supostamente desejável a todo o aquarista. Porém uma dessas características mais marcantes é também uma das causadoras do ódio por parte de tantos aquaristas: sua reprodução. É rápida e frequente. Sendo de forma ovípara, ovovivípara, por hermafroditismo ou até por partenogênese, esses animais podem facilmente multiplicar sua população e a partir de então começam a causar problemas. Os dois principais problemas mencionados pelos aquaristas são o aspecto desagradável que causa esse boom populacional ao aquário, proporcionando um aspecto desleixado e também o ataque às plantas, especialmente as de folhas mais tenras como Elódeas, Cabombas, Rabos-de-Raposa etc.



Caramujo Planorbídeo.


Quando uma explosão populacional acontece, geralmente o aquarista desesperado recorre ou aos lojistas da região ou a fóruns de aquarismo na internet, e logo é bombardeado por muitas informações, acertadas e errôneas, sempre bem intencionadas mas com uma única mensagem: aniquilá-los. Para tanto se recorre a muitas técnicas distintas: usar folhas de verduras, geralmente Alface, para atrair os moluscos e então retirá-los do aquário, usar armadilhas próprias para caramujos, usar moluscidas e até mergulhar por um dia ou dois fios de cobre na água!



Lapa de água doce.


O que muitos aquaristas não sabem é que é perfeitamente possível manter caramujos sob controle no aquário, com uma população aceitável e em equilíbrio com os outros habitantes de uma forma geral. Para isso bastam medidas simples, na verdade medidas necessárias até mesmo em aquários sem estes invertebrados:

- Alimentar os peixes apenas com a quantidade necessária de ração, sem exagerar e deixar sobras;

- Realizar sifonagens bem feitas, retirando todos os detritos acumulados no fundo;

- Retirar eficientemente as algas dos vidros e das rochas e/ou troncos, deixando apenas as presentes nas plantas.



Um caramujo Planorbídeo.


Essas medidas garantem que em pouco tempo a população de caramujos caia drasticamente e passe a um número estável. É observada que mesmo com muitos indivíduos, realizando-se os itens anteriores, não se faz necessária nenhuma intervenção, eles começarão a desaparecer sozinhos (não totalmente, sempre ficarão alguns).

Apenas deve ocorrer uma intervenção quando o número de caramujos ultrapassar o aceitável: recolha manualmente e com auxílio das folhas de alface. Caso seu aquário não tenha esses invertebrados e você deseja que continue assim, lembre-se de sempre usar produtos preventivos (como moluscidas) em plantas recém-adquiridas e também se possível quarentená-las, garantindo que nenhum ser indesejado venha (geralmente na forma de ovos) escondido.



Trombetas em galhos submersos. Os peixes são Tetras Red Crystal (Hyphessobrycon haraldschultzi).


A convivência entre caramujos e o aquarista pode ser harmoniosa e produtiva, basta ter plena consciência da função e do motivo da presença desses invertebrados no seu aquário. Conseguido isso como o primeiro passo, a necessidade de radicalismos é descartada...

Salvem os Caramujos!

Até.



Trombetas.


Agradecimentos ao amigo aquarista Mateus Camboim por permitir a publicação do seu artigo no nosso portal. Todas as fotos são de autoria do Mateus, são imagens dos seus belíssimos aquários.

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