Aedes aegypti, larvas. Foto de Walther Ishikawa.
Olá,
Com a chegada do nosso verão tropical, chega também um
problema recorrente: a temporada de maior intensidade reprodutiva dos
mosquitos. E isso pode representar um fato positivo para os aquaristas:
a oportunidade de obter larvas fresquinhas, um excelente alimento vivo
para seus peixes.
Essas larvas são um ótimo alimento
alternativo, podendo ser inclusive oferecidas diariamente. Riquíssimas
em proteínas, também possuem sais minerais e outras substâncias
importantes para o metabolismo dos peixes. Geralmente são encontrados
liofilizados (desidratados) os BloodWorms (forma larval dos algumas espécies de mosquitos da Família Chironomidae),
em embalagens práticas, nas lojas especializadas. Apesar de ser uma
opção consideravelmente mais fácil, o fato das larvas estarem vivas é
um fator muito mais atrativo aos animais: quem já ofereceu larvas vivas
aos peixes sabe o frenesi que ocorre. Tanto pela cor como pelo
movimento, chamam a atenção até dos peixes mais tímidos, além de
reanimar e ajudar na recuperação daqueles que passam por algum
tratamento estressante.
Todavia, o risco de doenças sempre se
encontra presente: essencialmente quando falamos em mosquitos.
Automaticamente associamos esse inseto (especialmente do gênero Aedes, o A. aegypti)
ao verão e também às doenças por ele transmitidas, como Dengue e Febre
Amarela. Tanto é que esse inseto vetor de tais enfermidades estimula
todos os anos inúmeras campanhas por todo o país, que instruem a
população em geral a como prevenir sua reprodução e consequente
propagação (evitando água parada, por exemplo).
Alguns
aquaristas, mais por desinformação do que qualquer outra coisa, ao
tentar conseguir larvas de mosquito acabam agindo de forma
irresponsável: deixam recipientes com água limpa espalhados pelo pátio,
na esperança que mosquitos lá depositem seus ovos. A irresponsabilidade
consiste no fato de que a maioria se esquece deles, permitindo que o
inseto passe por todas as etapas de seu desenvolvimento, atingindo a
fase adulta e portanto representando risco para a população. E mesmo
que o aquarista mantenha-se vigilante, não possui controle sobre o
tempo de cada fase, então em uma manhã as larvas já são pupas por
exemplo, na mesma tarde podem já ter se transformado em mosquitos
adultos. Essa instabilidade é o que representa o perigo, não se
consegue ter controle.
Salientando e repetindo, essa prática não deve ocorrer em hipótese alguma: jamais deixe recipientes com água espalhados pelo pátio, isso é correr risco e colocar sua família e sua comunidade em perigo!
Mas
então, se isso é perigoso, como obter larvas de mosquitos vivas de
forma segura? É fácil, basta usar uma armadilha para mosquitos ou mosquitoeira,
uma engenhoca especial que de forma fácil e prática conseguirá muitas
larvas para nossos peixes. Não é novidade, já existe e se aplica muito
bem na nossa situação como aquaristas.
Essa armadilha é uma
maneira muito eficiente e segura de combater os mosquitos de uma forma
geral, é fácil de montar e pode ser feita por qualquer pessoa. Além de
ser composta por materiais recicláveis, que inicialmente seriam
descartados como lixo doméstico, não se usa produtos químicos tóxicos,
que poderiam representar um perigo para a natureza, características que
a torna ecologicamente correta.
Como fazer?
É realmente
simples e fácil, exigindo materiais que praticamente sempre temos à
nossa disposição: basicamente precisamos de uma garrafa PET comum (pode
ser de qualquer tamanho a partir de 2 litros), um pedaço de tule (tecido
com o metro vendido por R$1,00 ou R$2,00), alguma fita adesiva
(tradicional, isolante ou crepe - mas dê preferência às que resistem à
umidade, por exemplo) e alguns grãos.
Garrafa
pet, tule, fita adesiva e grãos basicamente - materiais acessíveis e
recicláveis.
Primeiramente deve-se cortar o topo da garrafa e aproximadamente um
pouco abaixo da metade, formando um "círculo" ou "anel". Dependendo do
formato da garrafa, pode acontecer de parecer difícil ou que não dará
certo, mas com jeito acaba-se por cortar corretamente, nem que sejam
desperdiçadas algumas outras até lá.
Corta-se o
topo e um pouco abaixo da metade.
Focando na parte cortada de cima, retira-se a tampa e também a argola
que lacra tampa, sem rompê-la. Isso é necessário, pois a usaremos mais
tarde. Use um objeto pontiagudo para ajudar a retirá-la. Algumas fontes
recomendam que se lixe bem a parte interna desse lado da garrafa,
deixando-a bem áspera afim de que aumente a área de evaporação da água,
facilitando que o mosquito encontre a armadilha. Se for fazer, essa é a
hora (use uma lixa virgem).
Retira-se
a tampa e a argola.
O passo seguinte é posicionar o pedaço de tule em cima da "boca" da
garrafa, e recolocar a argola, prendendo-o. Se não quiser fazer dessa
forma, não retire a argola e use um simples elástico amarelo (atílios),
que o resultado será o mesmo. O tule serve para que a larva passe
enquanto é pequenina, mas não consiga mais sair após crescer.
Prende-se
o tule na "boca" da garrafa com a própria argola.
Para um melhor acabamento e também praticidade (para que as larvas não
fiquem presas no excesso de tecido), cortamos as rebarbas de tule.
As
rebarbas de tule devem ser retiradas.
Logo em seguida, colocar água até a metade da parte de baixo da
garrafa. É importante que essa água seja limpa e desclorada. Usar água
com cloro não vai impedir a proliferação de mosquitos, mas a atrasa um
pouco. Coloque o suficiente para que quando encaixe a outra metade da
garrafa, o gargalo fique parcialmente submerso.
Colocar
água limpa e sem cloro (descansada) até a metade.
Para que o mosquito seja atraído, não basta ter apenas água, se faz
necessário algum material orgânico, que sirva de alimento para as
larvas. Se a fêmea perceber que seus filhotes terão alimento, ela
depositará os ovos. Para isso basta usar grãos comuns, como de arroz ou
alpiste (ou painço). Uns 2 ou 3 grãos de arroz ou 4 ou 6 de
alpiste/painço já são suficiente, triturados ou inteiros, é
indiferente. Se quiser, use um pedacinho de ração para gato triturada
(não use de cães, pois é muito gordurosa, o que prejudica muito a
funcionalidade da armadilha ao criar uma película oleosa na superfície).
Alguns
poucos grãos para servirem de alimento.
Após, o próximo passo é encaixar a parte superior da garrafa na parte
inferior, com o gargalo virado para baixo. Note que a água passou pelo
gargalo e ficou exposta, e é ali onde a fêmea de mosquito depositará
seus ovos, atraída pela umidade da água e pela presença de material
orgânico.
Encaixar
uma parte na outra, da forma mais lógica.
Agora basta vedar com alguma fita que resiste a umidade. Pode ser as
mais comuns que temos em casa mesmo. A mais resistente é a fita
isolante, que dura mais tempo sem se soltar. O importante mesmo que
tenha uma boa vedação, não permitindo que nada saia ou entre pelas
laterais da armadilha.
Vedar bem
as laterais da armadilha.
E a armadilha está pronta! Basta agora escolher o melhor local, que
será aquele que seja sombreado, pois a maioria dos mosquitos domésticos
possui certa aversão à luz (especialmente o Mosquito da Dengue). É
importante que seja fresco e ventilado, lugares abafados costumam ser
descartados pela fêmea. Prefira locais como pátios e varandas, fora de
casa e não muito movimentados.
Colocar
então a armadilha em um lugar com sombra, arejado e pouco movimentado.
Com o passar dos dias, é natural que se crie um pouco de limo (algas
vedes) ou outros detritos, não se preocupe. Inclusive muitas larvas
utilizam esses materiais mais seus próprios excrementos como proteção,
formando verdadeiros túneis. Mas nunca estará 100% limpo, até porque ao
crescer as larvas trocam de pele.
Larvas
aprisionadas e utilizadas antes que evoluam para o próximo estágio, pupar.
Um ponto interessante é que a armadilha pode prender diferentes tipos
de mosquitos. Obviamente não são todas as espécies que depositam seus
ovos em águas limpas e calmas, mas a maioria dos que encontramos em
nosso país sim, nas zonas residenciais. Interessante por si só,
observar o comportamento de cada tipo de larva, o tamanho, a cor etc.
Dependendo de quantas posturas ocorreram, na mesma armadilha é possível
encontrar a mesma espécie mas em diferentes tamanhos.
Uma larva muito comum é uma cor de sangue, vermelho bem vivo, grande e robusta, conhecida e comercializada como BloodWorm
(foi citado no começo desse artigo), variedade bem recorrente. Ela
atrai muito a atenção dos peixes, que ficam muito agitados e a devoram
rapidamente.
BloodWorms
e outra espécie de mosquito em fase larval, de diferentes tamanhos.
Para lavar é simples, basta ir colocando água e retirando os detritos,
ou mesmo "coá-los" em água corrente, com um jato fraco para não
matá-los, até porque o interessante é oferecê-los vivos. Dependendo do
caso, basta retirá-los jogar aos peixes, pois a água em que estão já é
desclorada. Se encontrar pupas, ofereça imediatamente, impedindo que
consigam evoluir para mosquitos adultos.
Como funciona?
A
armadilha funciona de forma tão simples e precisa como é feita: o
mosquito fêmea detecta a umidade e se aproxima, percebe através de
receptores a presença de alimento e deposita então seus ovos na beira
da água. Após alguns dias os ovos eclodem e as larvas, ainda muito
pequeninas, passam tranquilamente pelo tule, indo para o interior da
armadilha. Após ganharem tamanho, já não conseguem voltar devido ao
tamanho do tecido, sendo obrigados a permanecer na armadilha. Mesmo que
passem pela metamorfose, do casulo ao mosquito adulto, o inseto não tem
para onde ir, ficando preso (por isso é importante vedar bem com fita
adesiva).
No caso de aquaristas, fica fácil conseguir larvas:
basta verificar semanalmente a presença ou não de larvas, e quando
detectar, basta acompanhar seu crescimento até o tamanho desejado (pode
mudar dependendo do tamanho do peixe) e então abrir a armadilha,
coletar as larvas, enxaguar se necessário e oferecer aos peixes.
Novamente monta-se a armadilha normalmente, podendo se reutilizada
inúmeras vezes.
No final das contas essa armadilha representa um
benefício para a sociedade, além da simples fonte de alimento aos
peixes ornamentais. Servir de alimento já á algo interessante, mas
também combate os mosquitos de uma maneira geral e
muito segura, pois mesmo que você esqueça que fez tal armadilha, os
eventuais mosquitos aprisionados morrerão de qualquer maneira.
Então, se esquecer, tais animais também são eliminados, servindo como
utilidade para a comunidade, uma verdadeira ferramenta da defesa contra
esses insetos transmissores de doenças.
Com a intenção de
alimentar os peixes ou de eliminar focos de mosquitos e doenças, essa
armadilha é eficiente, simples, segura e recomendada por e para todos.
Aquaristas ou não, vale à pena montar pelo menos uma. Seus peixes
agradecerão e sua comunidade também.
Abraços.