Artigo publicado em 10/08/2019, última edição em 20/09/2020

Ampulária Pomacea diffusa flutuando no aquário. Um sinal de alerta, mas um achado bem comum e geralmente sem importância. Foto de Juliana Jara.
Doenças de Ampulárias - Tecidos Moles
Há poucas
informações sobre doenças de Ampulárias (Pomacea diffusa) na internet, e
praticamente nenhuma em literatura científica. Este artigo é uma tentativa de
compilar as diversas condições patológicas que podem acometer estes animais,
como diagnosticá-las, e, se possível, tratá-las. Muitas condições são graves e
letais, e a maior parte dos tratamentos são baseados em experiências empíricas limitadas
de aquaristas, com elevadas taxas de insucesso. Assim, certamente este será um
artigo em constante revisão e evolução, contribuições com imagens e informações
serão sempre bem-vindas.
Aqui
abordaremos condições de saúde relacionadas aos tecidos moles destes caramujos.
Doenças das suas conchas podem vistas no artigo complementar: Erosão na concha de moluscos.
Inatividade – minha Ampulária morreu?
Por um
motivo não muito claro, as Ampulárias podem ficar imóveis e retraídas dentro da
sua concha por um período longo, boiando na superfície da água, ou paradas no
fundo do aquário. Pode ser uma reação a um estresse ambiental, ou a alguma
doença. Mas na maioria das vezes o animal volta à atividade sem uma aparente
explicação para o motivo deste período de latência. Sempre vale a pena realizar
o teste de retirar o caramujo da água e deixa-lo alguns minutos em um local
seco, para excluir algumas condições graves (veja adiante).
Uma dúvida
muito comum com estas Ampulárias imóveis é se o caramujo ainda está vivo, ou já
morreu. Se o opérculo está entreaberto, ou as partes moles já se mostram
irregulares e com alteração de cor, é quase certo que o animal já morreu. Se
não, uma boa dica é simplesmente verificar se o caramujo está com um forte cheiro
podre. Estes animais têm o tecido bastante flácido e decompõem rapidamente
depois de mortos. O cheiro é realmente muito forte e desagradável, e impregna
qualquer local em que o tecido apodrecido entre em contato. Sugere-se fazer isso
num lugar ventilado, e usar luvas descartáveis, senão seus dedos ficarão com um
cheiro ruim por muito tempo!

Ampulária Pomacea canaliculata flutuando e inativa na primeira imagem. Um achado comum e que gera preocupação, mas houve recuperação e atividade normal após alguns dias. A segunda imagem mostra uma P. flagellata flutuando morta, havia morrido há alguns dias. Fotos de Stijn Guesquiere.
Perda de tentáculos
Se as Ampulárias
são mantidas com peixes, é uma condição quase inevitável. Os finos tentáculos
em movimento lembram deliciosos vermes, e são rapidamente devorados pelos
peixes, especialmente se forem peixes belicosos como tetras e barbos.
Felizmente a capacidade regenerativa de caramujos é muito grande, e estas
perdas são curadas com o crescimento de novos tentáculos. Apesar dos caramujos terem
a habilidade de fazer isso repetidamente, não é um processo inócuo, os tentáculos
regenerados costumam ser mais curtos, e todo o processo leva a uma menor
atividade da Ampulária. Representa um estresse e sofrimento para o caramujo,
que pode comprometer a saúde global do animal a longo prazo, devendo ser
evitado. Caramujos mantidos com peixes podem mudar seu comportamento, e mantêm
os tentáculos parcialmente retraídos, ou ocultos embaixo da concha.
Ferimentos no corpo e pé
Assim como
os tentáculos, a maior parte do pé do caramujo também pode ser regenerado,
embora represente uma agressão maior para o animal. Causas comuns são ataques
de peixes, ferimentos com aquecedores, e aspiração pelo filtro (veja o artigo Ampulárias sendo sugadas por filtros). O ideal é que o caramujo seja separado e bem alimentado, para
acelerar sua recuperação.
Ao contrário
do pé, o restante do corpo das Ampulárias é bastante sensível e frágil,
felizmente é quase todo envolvido na concha protetora. Pode haver problemas em
conchas quebradas, expondo as partes moles do animal. A gravidade do ferimento
irá depender muito do local envolvido, a anatomia interna destes animais é
bastante complexa, mas os órgãos mais vitais tendem a ficar localizados mais
profundamente dentro da concha.


Ferimento no pé de uma Pomacea diffusa, provável acidente com filtro. A sequência de fotos mostra a regeneração do pé. Fotos de Kauê Braga.
Atrofia do pé
Em condições de doença, é comum moluscos gastrópodes catabolizarem proteínas do seu pé muscular, levando a atrofia. É uma condição bastante conhecida em criações de Abalones, onde é chamada de "foot withering syndrome".
Pé retraído
e encolhido é um sinal de alerta, mais frequente em condições de estresse grave, por exemplo por inanição. É comum em Ampulárias mantidas em
aquários sem alimentação adequada por um período prolongado. Se a inanição
persistir, os danos nos órgãos internos serão irreversíveis, levando à morte.
Se detectado a tempo, a maioria dos caramujos terá recuperação completa, após
uma a duas semanas de alimentação abundante e adequada. Se o animal continua a
exibir uma retração no pé, sem melhora, é um dos sinais indicando uma lesão permanente,
com morte iminente.
Mais raramente, um pé retraído pode ser um sinal de alguma
malformação, ou tumores internos com um caráter retrátil, mas via de regra este
diagnóstico não pode ser feito com o caramujo vivo.


Provável atrofia do pé em uma Pomacea diffusa. O caramujo constantmente retraía o pé, com dificuldade de locomoção. A causa foi desconhecida, talvez uma doença antes da aquisição pelo aquarista. Fotos de Gabriel Saes.
Micoses
Infecções
fúngicas profundas têm um aspecto bem típico, inicia-se com uma perda da coloração no pé,
que progride para manchas mais claras ou escuras. Pode haver micoses superficiais também, com um aspecto de
“algodão”, como acontece com peixes. Infelizmente não há tratamento, já que
todas as medicações antifúngicas para peixes de aquário contêm substâncias
químicas tóxicas para caramujos. O animal doente deve ser separado, para evitar
contágio dos outros caramujos. Reduzir a temperatura da água para 17 a 20o C
parece facilitar a recuperação do animal, mas a taxa de sobrevivência é muito
baixa.

Pomacea flagellata com infecção fúngica, note as manchas claras no pé e corpo. Havia uma tendência à expansão nas margens das manchas, e cura na porção central. Muitos caramujos acometidos morreram. Foto de Stijn Guesquiere.

Pomacea diffusa
com infecção fúngica, note as estruturas parecidas com algodão na cabeça do animal, e a destruição do tentáculo cefálico. Fotos de Amanda Donegá.
Verrugas, cistos e tumores
Mais comum
em indivíduos velhos de Pomacea canaliculata, são caroços e verrugas que podem
aparecer no pé, face e tentáculos. Seu tamanho varia do quase imperceptível ao
de uma cabeça de alfinete, e os maiores nos tentáculos podem causar dobras e
deformidades. Apesar do aspecto desagradável, não parece ser transmissível, nem
causar grandes consequências à saúde do animal.
Cistos
lembram verrugas, mas neste caso há um objeto central na região elevada. São
visíveis como esferas escuras no meio do tecido acometido, de natureza
desconhecida. Costumam desaparecer sem tratamento. Podem surgir após infecções
fúngicas, sugerindo que possam se tratar de granulomas. Não parecem ser
contagiosos, e não há aparente repercussão na saúde do animal. Em Ampulárias
selvagens coletadas, vermes digênicos podem também formar pequenos cistos preenchidos
por material purulento, especialmente no pé do caramujo, representando as
cercárias que serão eliminadas.
Os tumores
vêm em diferentes formas, desde pequenas nodulações a grandes massas internas
calcificadas. Sua causa é desconhecida, alguns atribuem a uma degeneração
genética por excesso de cruzamentos consanguíneos. Talvez por isso, são mais
frequentes em algumas variedades selecionadas de cor, como os Púrpuras e
Vermelhos, muitas vezes associadas a outras desordens genéticas, como a Síndrome
da Concha Fina. Não são perceptíveis, exceto se muito grandes, desta forma nem
são diagnosticados ou tratados. Eventualmente um tumor calcificado pode ser
identificado no processo de limpeza da concha para guardá-la como lembrança, quando
um pedaço grande de material ósseo sai da concha depois das partes moles
estarem decompostas.
Assim como em seres humanos, estes tumores têm gravidade e agressividade variáveis, o mais comum é que sejam tumores benignos de crescimento lento, onde o caramujo convive com a tumoração sem causar grandes consequências. Mas há relatos também de tumores mais agressivos e de crescimento rápido, levando o animal a morte num período curto de tempo.

Pomacea canaliculata com nódulos na pele (1) e sifão (2), afetando o funcionamento deste último. Foto de Stijn Guesquiere.

Ampulária Pomacea diffusa doente, com nódulos no seu pé. O animal morreu alguns dias depois destas fotos. Imagens de Aline Bernal Stefani.

Pomacea diffusa com pequenas nodulações ou cistos no seu pé. Fotos de Terri Bryant.

Dois exemplares de Pomacea canaliculata
encontrados em St. Marys, Camden County, Georgia, EUA. Em meio ao tecido dos pés dos animais, foram encontradas estas estruturas calcificadas. Curiosamente, ambas não apresentavam opérculo. Fotos de Bill
Frank.


Pomacea diffusa com cerca de um ano de idade e um tumor no seu pé. Este tumor mostrou crescimento rápido, e a ampulária morreu cerca de duas semanas após a detecção. Fotos de Mariana Milhomem.
Tentáculos ou sifões bifurcados
Tentáculos
podem ser bifurcados, ramificados ou supranumerários, mais comumente de causa
hereditária. Não costumam causar grandes consequências na vida do caramujo.
Algum dano no tentáculo (como cistos) durante o seu crescimento pode levar a
uma bifurcação adquirida. Nestes casos, se este tentáculo for devorado por
algum peixe, o novo tentáculo cresce normalmente.
Sifões
bifurcados também são comuns, e geralmente sem grandes consequências. Em
especial, se o sifão for mais dobrado, ou com dificuldade em se estender
totalmente, o caramujo pode ter maior dificuldade em respirar o ar, e talvez
precise de um maior espaço acima da linha d´água para respirar.




Ampulária com algumas anomalias congênitas, note que há quatro olhos (ao invés de dois) e quatro tentáculos cefálicos (ao invés de dois), um deles bifurcado. Apesar das anomalias, o caramujo vive normalmente. Imagens cedidas por Natália Aratanha.


Pomacea diffusa com anomalias congênitas. Sifão deformado na primeira foto, dificultando a respiração aérea. Tentáculo bifurcado na segunda imagem. Fotos de Terri Bryant.
Colapso do manto
O manto é uma
estrutura com aspecto de saco que envolve o corpo do caramujo, e contém órgãos vitais
como o pulmão e brânquias. Em condições normais, o manto é firmemente aderido à
superfície interna da concha, inclusive, sendo responsável pelo crescimento da
concha em espessura. Só há uma mínima lâmina líquida no espaço entre o manto e
a concha. Se por algum motivo o manto se destacar da concha, haverá colapso. Com
o colapso da cavidade do manto, ocorre colapso também do pulmão. Sem um suporte
estrutural que garanta seu funcionamento, não somente a função respiratória
aérea pulmonar é gravemente afetada, mas também a troca gasosa aquática pelas
brânquias, devido ao comprometimento da circulação de água através dela. A
extensão do destacamento é variável, somente à direita, à esquerda, ou bilateral.
O pulmão se localiza à esquerda, assim, se o colapso for deste lado, o pulmão
colaba rapidamente, sufocando o caramujo. Só sobrevive no máximo algumas horas,
e em geral não é diagnosticado antes da morte do animal. Se o colapso for à
direita, a Ampulária pode sobreviver por algumas semanas, mas com muita
dificuldade na respiração e locomoção, e é sempre uma condição fatal.
Infelizmente
não é claro o que causa esta soltura do manto da concha, mas parece ser
prevalente em Ampulárias ornamentais. Não há tratamento conhecido, sendo uma
condição sempre letal e com grande sofrimento do animal, sugere-se sacrificá-lo,
se não houver melhora após alguns dias. Uma forma adequada de eutanásia é
colocar o caramujo na geladeira. O frio reduz o metabolismo do animal, e a
morte ocorre em um dia, sem sofrimento. Para assegurar, alguns preferem colocar
a Ampulária no congelador após um dia na geladeira, ou esmagar rapidamente o
corpo do animal. Esperamos que você nunca tenha que fazer isso.

Primeira foto mostra anatomia normal em Pomacea megastoma. Abertura do pulmão (pneumostoma) (1), e pulmão (2). Segunda imagem de uma Pomacea diffusa com colapso do manto. O manto (1) deveria estar alinhado com a concha (2). Fotos de Stijn Guesquiere.
Colapso pulmonar / Pulmões inundados
Problemas no
pulmão são bem mais comuns em fêmeas que precisam frequentemente sair e entrar
na água para depositar seus ovos. Quando o caramujo está fora da água, o pulmão
permanece aberto para que possa respirar o ar. Se ela cair inesperadamente na
água, e não conseguir fechar rapidamente a abertura do pulmão, pode haver
entrada de água. É um problema bastante raro, já que o animal consegue fechar o
orifício muito rapidamente. Mas quando acontece, é uma condição que pode ser
grave. Em geral, a única dica de que pode haver algo errado é a inatividade do
caramujo. Ampulárias saudáveis e ativas que repentinamente fecham-se na concha
e permanecem imóveis por vários dias. Inatividade é algo bastante comum em
Ampulárias, com inúmeras causas. Mas sempre vale a pena verificar inundação
pulmonar, já que é uma condição grave e tratável.
O tratamento
é simples, basta retirar o animal da água, e deixa-lo em algum lugar seco por
alguns minutos. Sugere-se deixa-lo sobre um tecido molhado, para manter a
umidade e evitar acidentes. Se o problema for esse, ele deve-se abrir e começar
a caminhar. Com a abertura do opérculo e posicionamento do caramujo, geralmente
a água do pulmão será eliminada naturalmente. Se não houver saída visível de
água, vale a pena realizar uma manobra para facilitar o escoamento de água dos
pulmões. Inicialmente segure a concha com o ápice para cima, e gire a concha em
sentido anti-horário (visto por cima) algumas voltas. Então, segure a concha
deitada, com o ápice contra você, e gire a concha em sentido horário por
algumas voltas completas (veja a figura abaixo). Estas rotações vão direcionar
a água dos pulmões para fora através da sua abertura.
Outro
problema que pode ocorrer é um colapso pulmonar, mesmo sem o grave colapso do
manto. Também é uma condição extremamente rara, mas aqui também os caramujos
vão precisar de ajuda para melhorar. O sintoma mais comum deste problema é o
animal permanecer no fundo do aquário com a concha virada de ponta-cabeça,
esticando o corpo ao máximo tentando se desvirar. A razão desta postura é que a
cavidade do manto está repleta de água, deixando o topo da concha mais pesado,
dificultando a Ampulária de se desvirar. Caramujos com colapso pulmonar devem
ser tratados da mesma forma que aqueles com o pulmão inundado, deixando-os em
um lugar seco sobre tecido úmido por alguns minutos, e então realizando as
manobras de rotação da concha, descritas acima. Depois disso, devem ser
deixadas em algum lugar com água rasa, para que consigam re-inflar seu pulmão
com o sifão. Se você colocar o caramujo de volta em um aquário fundo antes dele
re-insuflar completamente seus pulmões, ele terá novamente o mesmo problema.

Manobra para se retirar a água da cavidade pulmonar, veja texto acima. Ilustração de Walther Ishikawa, sobre original de Donya Quick. Fotos de Arthur Belver.
Rotura do músculo columelar
Muitas vezes
associada ao colapso do manto, esta condição é 100% fatal. O músculo columelar
é responsável por manter o corpo do animal fixo ao interior da concha, e também
por retrair o opérculo fechando a concha. Quando este músculo se rompe, o
caramujo não consegue se fixar à concha, e com o tempo ela se destaca do corpo.
Por vezes isso resulta em um caramujo vivo e caminhando “sem a concha”, mas a
sobrevivência não é possível nestas condições. A morte ocorre depois de alguns
dias, por edema ou problemas respiratórios decorrentes do colapso pulmonar. Por ser uma condição sempre letal, muitos aquaristas preferem realizar uma eutanásia nesta situação.

Ampulária sem concha, decorrente de rotura do músculo columelar. Note a concavidade na porção superior, correspondendo a um colapso do manto. Também há edema. Imagens cedidas por Terri Bryant.

Rotura do músculo columelar. Na primeira e última imagens, o caramujo sem a concha, já moribundo. A primeira foto já mostra ele boiando na superfície do aquário. Na segunda foto, a concha destacada do corpo do animal. Imagens cedidas por Carolina Colicigno.
Separação do opérculo
Esta condição
envolve a separação da porção do pé que produz o opérculo do restante do corpo
do animal. A separação pode ser total, mais rara, ou parcial.
Na
separação parcial, pode haver cura com uma conexão refeita entre o pé e
opérculo. Ou o pé pode começar a produzir um novo opérculo, permanecendo o
caramujo com dois opérculos. Após o crescimento completo do novo opérculo, o
antigo pode se destacar ou não. Mesmo com separação total, geralmente o opérculo é regenerado, devendo-se somente atentar a ataques por outros animais até a regeneração.

Pomacea diffusa com opérculos pequenos e deformados. Fotos de Terri Bryant.

Ampulárias coletadas na natureza sem opérculo, nos EUA. Pomacea diffusa na primeira foto (Duval County, Florida), e Pomacea canaliculata na segunda foto (St. Marys, Camden County, Georgia). Fotos de Bill Frank.

Regeneração de opérculo, Pomacea canaliculata encontrada no Lago Hatton Chase, Duval County, Florida. Foi criada em cativeiro, o intervalo entre as duas fotos é de 29 dias. Fotos de Bill Frank.
Edema
Ampulárias possuem um tecido bastante frouxo e friável no seu corpo, qualquer distúrbio no equilíbrio de fluidos corporais vai levar a uma retenção líquida e inchaço. Isso é mais comum em caramujos mais velhos ou debilitados, com uma capacidade mais limitada de osmorregulação. Este excesso de volume no corpo da
Ampulária faz com que ele não caiba mais na concha, “transbordando” para fora,
e não permitindo o fechamento pelo opérculo. Um local mais fácil desse inchaço ser visto é no seu pé, que fica com um aspecto deformado e com a margem ondulada. Pode levar a dificuldades na sua locomoção. Nos casos mais graves, o inchaço se estende para a cavidade do manto, comprometendo a função respiratória. Frequentemente há um aumento na secreção de muco, que pode ser uma tentativa de eliminar o excesso de água.
Possui várias causas, talvez possa ser
considerado um sintoma inespecífico de várias condições diferentes, ao invés de uma doença. A primeira causa que deve ser excluída é uma intoxicação, ou condições químicas inadequadas de água (nitrogenados, por exemplo), em especial se há mais de um caramujo acometido. Testes devem ser realizados, e TPAs.
Enquanto
muitos caramujos morrem, outros permanecem em condições relativamente estáveis,
melhorando depois de algum tempo sem uma clara explicação. Recomenda-se isolar
o animal enquanto isso, para evitar um eventual contágio dos outros habitantes,
mas também para proteger o caramujo vulnerável do ataque dos outros habitantes
do tanque. Não há tratamento específico, lembrando que estes animais são
bastante sensíveis a sais, qualquer tentativa de tratamento baseado em
alterações osmolares da água deve ser feito com muito cuidado.

Edema em Ampulária. O animal foi separado para tratamento, mas infelizmente morreu alguns dias após. Fotos de Paula Antonino.

Edema em Ampulária. Após uma fertilização líquida em um aquário plantado, o animal tornou-se letárgico, boiando e eliminando muco. Note o inchaço, não conseguindo fechar a concha com o opérculo. Fotos de Telma Perrotta de Campos.

Fotos da mesma ampulária acima, depois de recuperada. O caramujo foi separado em um outro aquário para tratamento, com troca d´água e separado dos outros habitantes, com recuperação completa. Fotos de Telma Perrotta de Campos.
Intoxicações
Ampulárias
são bastante sensíveis a produtos químicos, muitos deles usados rotineiramente
em aquarismo para tratamento de doenças ou ajustes de parâmetros químicos da
água. O princípio básico de qualquer tratamento medicamentoso em peixes é matar
o germe, e não ter efeitos adversos no peixe. Ou seja, é baseada na diferença
de metabolismo entre o peixe e o agente que causa a doença. O problema é que o
metabolismo de moluscos é muito mais próximo de vários destes germes (por
exemplo, vermes) do que dos peixes hospedeiros. Via de regra, tratamentos para
verminoses de peixes irão matar os moluscos também. Assim, sugere-se separar
moluscos ornamentais do aquário sempre que for feito qualquer tratamento de
doenças no aquário.
Alguns
exemplos de substâncias sabidamente tóxicas para caramujos são:
- Verde malaquita
(usado no tratamento de íctio, fungos e veludo / oodinose).
- Vários
pesticidas organofosforados como formaldeído, metrifonato, triclorfon, diclorvos,
usados para tratamento de verminoses e crustáceos parasitas.
- Metaldeído,
um moluscida.
- Medicamentos contendo cobre, para tratamento de infecções fúngicas e
protozoários.
- Óxido de Di
N Butil estanho, um vermífugo.
Lembrando
também que moluscos são bastante sensíveis a substâncias químicas como cloro,
cloraminas, fluorinas, metais pesados, etc. O cobre presente em encanamentos
também pode ser bastante tóxico para estes seres. Por outro lado, comparado a
peixes ornamentais, são mais resistentes à intoxicação com amônia, nitrito e
nitrato.
Ampulárias são vetores de doenças?
Sim, inúmeras doenças de peixes, e uma humana.
Diversos vermes digênicos têm Ampulárias como hospedeiros intermediários. São
vermes com ciclo de vida complexo, o mais comum é que passem parte do seu
desenvolvimento no caramujo, e parte em algum vertebrado. Se esse ciclo é
quebrado, não há perpetuação do verme. Geralmente, cada verme tem um caramujo
específico e um vertebrado específico, estes últimos podem ser peixes, anfíbios,
aves ou mamíferos. Por exemplo, o verme da Esquistossomose não se desenvolve em
Ampulárias.
Diversos
vermes que parasitam peixes usam Ampulárias como hospedeiro. E os caramujos
continuam eliminando os vermes durante toda a vida, desta forma, a quarentena
não é eficaz. A única forma 100% segura de se coletar Ampulárias na natureza,
livre de doenças, é a coleta dos ovos e criação dos filhotes. Isto porque estes vermes não têm transmissão vertical, da mãe para o filho.
Dentre todos
estes vermes digênicos, somente um tem importância médica: Angiostrongylus
cantonensis, que causa a meningite eosinofílica. Fala-se muito do Caracol
Gigante Africano como vetor desta doença, mas muitos estudos indicam que
Ampulárias sejam tão ou mais importantes do que o Africano, com casos
confirmados de doença inclusive no Brasil. Mas a chance de infecção humana com
animais de aquário é pequena, já que é preciso a ingestão do verme vivo, em
quantidade suficiente. Na prática, isso só ocorre comendo o caramujo cru, ou
bebendo a água do aquário. Mas deve-se atentar a esta doença, que pode ser até
fatal. Veja mais detalhes no artigo específico de Meningite Eosinofílica.
Obviamente, o risco só existe em Ampulárias coletadas na natureza, ou criadas
em condições inadequadas, em contato com ratos.
Agradecimentos a Stijn Ghesquiere, responsável pelo portal applesnail.net , e também a Bill Frank ( Jacksonville Shell Club ), por permitir o uso do material e fotos. Agradecimentos também à aquarista norte-americana Donya Quick, moderadora do fórum deste portal, muitas das informações deste artigo foram extraídas de tópicos fixos no fórum, e de documentos de sua página pessoal, que pode ser acessada aqui. Agradecemos também às aquaristas Terri Bryant (EUA), Natália Aratanha, Kauê Braga, Carolina Colicigno, Amanda Donegá, Arthur Belver, Paula Antonino, Mariana Milhomem, Gabriel Saes e Telma Perrotta de Campos por nos permitir usar suas fotos.