Nome comum: Camarão "Red Cherry" / Red Cherry Shrimp Nome Científico: Neocaridina davidi Bouvier 1904 Origem: Ásia Tamanho macho/fêmea: 2.0 / 2.5 cm Temperatura da água: 20º - 30°C (14º - 30°C nas populações invasoras) pH ideal: 6.8 - 7.4 (6.0 - 8.2 nas populações invasoras) GH ideal: 4 - 7 (0 - 27° nas populações invasoras) KH ideal: 2 - 5 TDS: 200 - 300 Taxa de reprodução: Alta Comportamento: Pacífico Dificuldade: Fácil
Visão global
O Red Cherry é sem dúvida o camarão ornamental mais popular de todos, devido à sua
beleza, fácil reprodução, bem como sua capacidade de viver em vários parâmetros
diferentes de água. A maioria dos aficionados por camarão começa com esta
espécie devido aos seus poucos requisitos e também para aprender sobre camarões
anões de maneira geral. Depois de adquirir experiência no hobby através da
criação do Red Cherry, a maioria dos hobistas cria espécies mais difíceis, como
Tiger e o Red Crystal. Outros nomes para esta espécie são Cherry, Cherry Red ou
mesmo camarão Cereja, a sigla RCS significa simplesmente Red Cherry Shrimp.
Um camarão para iniciantes
Eu recomendo fortemente que todo recém-chegado ao hobby de criação de camarão
de água doce comece com o Red Cherry. Este camarão vai lhe ensinar muito, e os
erros provocados, inclusive a morte de camarões, podem ser superados devido à
sua grande capacidade de reproduzir. Você também não vai querer cometer erros com
outras espécies mais caras. Os camarões Red Cherry são os camarões mais baratos
no hobby.
Taxonomia
Há décadas este camarão tem sido criado por aquaristas orientais como
controlador de algas, e após a seleção de formas coloridas (como o Red Cherry),
passou a ser uma das espécies ornamentais mais extensamente criadas no mundo, mesmo
nunca se sabendo exatamente qual era a sua espécie.
Em 1999, foram detectadas grandes populações estabelecidas em
diversos riachos e lagos de ilhas havaianas, todas originárias de animais
introduzidos no país como alimento vivo de peixes e iscas de pesca. Estes
espécimes foram analisados pelo Dr. Englund e Dr. Cai, e identificados como Neocaridina denticulata sinensis (Kemp
1913). Muitas fontes desatualizadas na internet ainda usam esta identificação
para o Red Cherry.
Em 2002 o carcinologista chinês Dr. Liang descreve uma nova
espécie, Neocaridina heteropoda,
separando-a de N. denticulata devido
ao seu pronunciado dimorfismo sexual. Dois anos depois publica uma revisão
sobre os Atyideos de água doce da China, onde considera as espécies N. denticulata sinensis e Caridina davidi Bouvier, 1904 como sendo
sinônimos de N. heteropoda. Com isso,
o Red Cherry passou a ser classificado como Neocaridina
heteropoda Liang, 2002.
Em paralelo, houve também uma revisão da taxonomia do Caridina davidi. Em sua revisão do
gênero Neocaridina em 1996, Dr. Cai
transfere C. davidi ao gênero Neocaridina, considerando-a uma
subespécie de N. denticulata (N. denticulata davidi). Porém, diversos
autores (como Dr. Klotz) consideram espécies distintas, baseadas nas suas marcadas
diferenças morfológicas. Desta forma, a maioria dos autores considera Neocaridina davidi como espécie distinta
e válida.
Voltando ao N.
heteropoda, em 2007 Dr. Shih e Dr. Cai declaram que C. davidi deveria ser o sinônimo sênior, tendo prioridade sobre N. heteropoda, por ter sido descrito
previamente (artigo 23 do ICZN). Desta forma, atualmente o Red Cherry é
classificado como Neocaridina davidi Bouvier,
1904. Alguns pesquisadores (como o Dr. Klotz) compararam diversos Hong Kong
Blue e Red Cherry criados em aquários com o material tipo de N. davidi depositado no Museu de
História Natural de Paris, confirmando a identificação.
Análises genéticas realizadas em 2014 com DNA mitocondrial demonstraram uma proximidade filogenética muito grande entre o N. davidi e N. palmata, explicando o encontro de híbridos dentre estas duas espécies, eventualmente férteis.
Aspecto
Neocaridina davidi é um camarão anão,
as fêmeas atingem uma dimensão máxima de 40 mm (dimensão média de 25 mm para
fêmeas e 20 mm para machos).
Seu rostro é delgado, comprimento médio, não ultrapassando a
extremidade distal do terceiro segmento antenal. 9~22 dentes dorsais, 2~3
destes atrás da margem posterior da cavidade orbital. 1~9 dentes ventrais.
Carapaça sem espinho supraorbital, com espinho antenal bem desenvolvido e um
pequeno espinho no ângulo pterigostomial. Dois detalhes permitem a
diferenciação dos Neocaridina dos Caridina: presença de endópodo no
primeiro pleópodo, e o aspecto do appendix
masculina no segundo pleópodo.
Macho e fêmea de "Red Cherry".
Origem e Habitat
A forma selvagem deste camarão tem uma ampla distribuição geográfica no Sul da
China, Taiwan, Japão, Coréia e Vietnã. Bastante adaptável, habitam locais
variados, encontrados em pequenos córregos montanhosos, canais agrícolas,
riachos, lagos e represas, mais comuns em habitats de leito rochoso e vegetação
densa. São ambientes de clima temperado, com a temperatura caindo para 0°C no
inverno e podendo ultrapassar 30°C no verão. Muitos dos seus biótipos mostram
congelamento da sua superfície no rigoroso inverno. Esta plasticidade explica a
sua resistência a parâmetros variáveis em cativeiro.
Desde a década de 90 é usada em aquarismo, inicialmente em
Taiwan, depois se espalhando por toda a China, e posteriormente Japão. Este uso
é anterior ao desenvolvimento de formas ornamentais, no início era utilizado
como controlador de algas (semelhante ao Amano), ou como alimento vivo. O Japão
importava grande quantidade desta espécie também como isca de pesca. A
variedade Red Cherry foi desenvolvida por reprodução seletiva por criadores de
Taiwan, e disponibilizado no ocidente pela primeira vez por um importador
alemão em 2002.
Já é identificado em diversas localidades como espécie
invasora, em todos os casos decorrentes de uma liberação acidental ou intencional
de indivíduos de aquário. Há registros de múltiplos focos de introdução no
continente chinês, além da sua área nativa de ocorrência. Desde 1999 é
encontrado em grande número no Havaí, em lagos de O'ahu, e em rios e canais de Nu'uanu
Ho'omaluhia. Desde 2004 é encontrado no Lago Biwa, o maior lago de água doce do
Japão, em Honshu, onde reduziu drasticamente a população da espécie nativa N. denticulata. Populações invasoras foram detectadas também em Israel (2019) e Ilha da Reunião (2017). Na Europa já está presente como invasor, principalmente em locais onde há água aquecida, como próximo a usinas termonucleares (desde 2003 no Rio Oder, Polônia, e desde 2013 no Rio Erft, Alemanha), em fontes termais de Miskolc, Hungria (desde 2017) e também em Budapeste, Eslováquia (2024) e BC, Canadá (2019). Em 2024 foi coletado um indivíduo exótico na costa brasileira, em água salgada, em Pernambuco.
Junto a estas populações invasoras, parasitas invasores já foram identificados em várias ocasiões, como o microsporídeo EHP, um parasita que pode infectar também o Lagostim-vermelho, outra espécie invasora de ampla ocorrência.
Parâmetros da água Muito robusto, o camarão Red Cherry pode tolerar diferentes parâmetros de
água. Podem ser criados em uma faixa de pH de 6,0 a 8,0 (ideal entre 7,0 e 7,4), tanto água mole quanto
dura, temperaturas de 22ºC a 29ºC e em diversos substratos. Via de regra, o Red
Cherry pode viver na maioria dos aquários de água doce que não contenham
predadores, mas se a idéia é reproduzi-los, o melhor é um tanque monoespécie.
Algumas pessoas já mantiveram esta espécie até em lagos e em aquários sem
filtros, mas não é recomendável. Em outras palavras o Red Cherry é o camarão
mais resistente para aquários de água doce.
Alimentação
A alimentação dos camarões Red Cherry também é muito
fácil, não são nada exigentes, aceitando virtualmente qualquer tipo de alimento
para peixes ou camarões ornamentais. Eles comem qualquer ração industrial para
peixes ou camarões, além de espinafre, abobrinha, algas, minhocas, e muito
mais.
Observar os camarões se alimentando dá uma boa
idéia sobre a sua saúde, além, é claro, deles estarem se reproduzindo bem. Se
uma colônia de Red Cherry é saudável, então os animais irão correr para a
comida e saltar todos uns sobre os outros na tentativa de agarrar um pedacinho,
quase como formigas. E se você encontrar bebês, este é um sinal de que as
coisas estão indo muito bem. Camarões se alimentando sem entusiasmo e
constantemente se escondendo é um indicador de que as coisas não vão muito
bem.
O melhor é alimentá-los uma vez por dia. Apenas uma quantidade de alimento que
o camarão pode terminar no prazo de 2-3 horas, no máximo. Não é bom alimentá-los
em excesso, deixando sobras de comida no aquário por muito tempo.
Superalimentação (overfeeding) é uma conhecida causa de morte e também pode
causar deterioração da qualidade da água. Lembre-se que os camarões são
necrófagos por natureza. Eles comem tudo o que encontrar e não são acostumados
a uma fonte de alimento constante (24/7). Não alimentar por um ou dois dias não
irá prejudicá-los em nada. Pode ser interessante periodicamente deixar de
alimentá-los por alguns dias para deixar os camarões limparem as sobras no
aquário, e manter o aquário limpo.
Um detalhe importante a ser lembrado é que a cor vermelha desta
variedade de camarão é devido a um pigmento lipídico intracelular, e é
necessário que o camarão tenha uma dieta balanceada para sua síntese.
Particularmente, os carotenóides são importantes, e podem ser fornecidos por
cenouras, pimentão vermelho, Cyclops,
bem como rações industriais ricos em carotenóides. Se, apesar de uma
alimentação adequada, estes camarões não apresentarem uma cor vermelha, é um
sinal de que os parâmetros ambientais podem estar inadequados. Um interessante trabalho da Argentina mostrou que um substrato de cor escura induz um aumento na pigmentação vermelha nos camarões, com um aumento em área de três vezes em relação a exemplares criados em fundo branco ou vermelho.
Ovos em estágio avançado de desenvolviemnto, com olhos visíveis.
Bebê "Red Cherry".
Reprodução
Diferente dos Caridina e camarões palaemonídeos (como os Macrobrachium), todos os Neocaridina têm uma forma completamente suprimida de reprodução, os ovos
são grandes, e não há fase planctônica, as larvas já nascem numa forma
bentônica.
O camarão Red Cherry é extremamente prolífico, o que
significa que eles se reproduzem rapidamente e praticamente todo o dia. Uma
colônia saudável se multiplica rapidamente e as fêmeas estarão constantemente
grávidas.
O ovário está localizado na região dorsal da fêmea, na região
dorsal da transição entre o cefalotórax e abdômen, em forma de “sela”. É aqui
que a maturação dos ovos ocorre. Com os ovos maduros, ocorre uma muda (ecdise)
pré-acasalamento, e a provável liberação de ferormônios na coluna d´água,
atraindo camarões machos sexualmente maduros. Ocorre um "nado
nupcial", onde os machos procuram freneticamente as fêmeas, mas apenas um
deles irá fecundar a fêmea. Todo o processo (muda e cópula) dura menos de 10
segundos. Durante a cópula o casal fica ventre-a-ventre, e o macho deposita o
saco de esperma usando seu appendix
masculina na abertura genital
feminina, que se localiza entre as pernas ambulatórias (pereiópodes).
A expulsão dos ovos para fora da abertura genital ocorre de
poucos minutos a algumas horas mais tarde. Neste meio tempo, ocorre também a
dissolução do revestimento do saco seminal, permitindo a fertilização. Os ovos
são fertilizados quando são eliminados pela fêmea, ao se dirigirem para a
câmara incubadora ventral, formada pelos pleópodes e o crescimento das pleuras
abdominais. No dia seguinte após a cópula, a fêmea é vista carregando ovos
fertilizados. Os ovos são fixos aos pleópodes com uma substância pegajosa,
incubados na câmara até a eclosão. Durante a incubação, a fêmea assegura a
oxigenação adequada dos ovos, com movimentação rítmica dos pleópodes, e limpa
os ovos usando o quinto par de pernas ambulatórias. Também elimina ovos não
fertilizados ou mortos.
São ovos grandes, de forma ovalada, com cor variando de
esverdeado a amarelado, medindo em média 1,2 mm ao final da gestação. Tipicamente
a gestação dura de 15 a 45 dias até a eclosão dos ovos. Os ovos vão se tornando
mais claros e translúcidos à medida que se desenvolvem. A melhor maneira de
saber se os ovos estão prestes a eclodirem é pelo aparecimento de um par de
olhos escuros no interior de cada ovo. Outra maneira de saber é pelo
aparecimento de uma nova sela enquanto a fêmea ainda possui ovos. O surgimento
da sela é a indicação de que a fêmea está se preparando para ter um novo
conjunto de ovos e que os seus ovos antigos estão perto de eclodirem.
Os filhotes recém-nascidos parecem pequenas miniaturas dos pais,
medindo em média 2,3 mm, transparentes, acinzentados e quase invisíveis a olho
nu. A prole varia de 20 a 50 filhotes, maior quanto maior a fêmea. Larvas se
tornam juvenis em 60 dias, ainda indiferenciados sexualmente. Juvenis demoram
15 dias para maturidade sexual. Fêmeas maduras são identificadas pela presença
da sela alaranjada. Duas semanas após o nascimento, os filhotes já vão se
tornando mais e mais pigmentados.
A longevidade desta espécie é de cerca de 1,5 anos.
Sexagem
A sexagem do Red Cherry é muito fácil. As fêmeas são fáceis de identificar, sendo
maiores que os machos, e com uma coloração vermelha muito mais escura e
intensa. As fêmeas também têm a região ventral do abdômen expandido e curvado,
formando a câmara de incubação dos ovos. Nas fotos podem ser vistas como o
macho é menor, tem pouca pigmentação vermelha, e a região ventral abdominal é
uma linha reta sem nenhuma curvatura.
As fêmeas também têm uma
“sela” que é o nome comum para os ovos que ainda estão nos ovários, situado na
região posterior do cefalotórax, e transição com o abdômen. É assim chamado
devido à semelhança com uma sela de cavalo. A maioria dessas selas é de cor
amarela, porém também pode ser verde. As selas são um sinal de maturidade
sexual, sinal de que logo ela terá seus ovos fecundados.
Não há uma boa explicação
para a cor dos ovos serem verde ao invés de amarela. Os Neocardina davidi
selvagens têm uma sela verde, a mesma expressão genética deve estar se
manifestando na cor dos ovos. Os ovos do Red Cherry são na maior parte das
vezes amarelas, mas podem ser verdes também. Se a sela está verde, os ovos
serão verdes, e vice-versa. Não há diferença entre ter ovos de cor verde ou amarela,
em termos de qualidade da prole, e também não é um indicador de saúde. Nesta
página podem ser vistos exemplos de diferentes cores de selas e ovos no Red
Cherry.
Fêmea com sela amarela.
Fêmea com sela verde.
Fêmea com ovos verdes.
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Tradução e adaptação: Guilherme Anjos, atualizado por Walther Ishikawa
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