Nome em português: Pitú, Camarão de Rio.
Nome em inglês: Tiger Shrimp,
Cascade River Prawn
Nome
científico: Macrobrachium heterochirus (Wiegmann, 1836)
Origem:
Américas, costal atlântico.
Tamanho: machos adultos chegam a 16 cm
Temperatura da água: 21-26° C
pH: 6.8-7.5
Dureza: média
Reprodução: primitiva, necessita
de água salobra para as larvas
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil
Apresentação
Embora a rigor o nome “Pitú”
designe somente a espécie Macrobrachium carcinus, todo camarão agressivo
de grandes garras é chamado no comércio aquarístico de “Pitú”. Dentre estas
espécies, a mais comumente disponível é o Macrobrachium acanthurus, mas
existem outras espécies mais infrequentes como o Macrobrachium heterochirus.
É uma espécie que frequentemente é confundida com o Macrobrachium
carcinus, o Pitú verdadeiro.
Etimologia: Macrobrachium vem do grego makros
(longo, grande) e brakhion (braço); heterochirus vem do grego heteros (outro, diferente) e chiro (forma latinizada do grego kheiros, mão), uma alusão às suas quelas
assimétricas.
Distribuição geográfica de Macrobrachium heterochirus. Imagem
original Google Maps; dados de Melo GAS 2003 e demais referências.
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Origem
Este camarão é encontrado na
porção atlântica do continente americano, desde a Flórida (EUA) até o Rio
Grande do Sul (Brasil), em rios que se conectam com o Oceano Atlântico. Entretanto,
sua distribuição é algo descontínua, no Brasil é encontrado nos estados do RN,
PE, BA, ES, RJ, SP, SC e RS.
É um típico
representante costal dos palaemonídeos, devido ao padrão reprodutivo, não é coletado
em locais muito distantes do litoral, ou em ambientes sem conexão com o mar. Entretanto,
são mais comuns em cursos mais altos dos rios, relativamente mais distantes do
litoral do que outros camarões anfídromos. Já foram coletados a mais de 1000
metros de altitude no México.
Mostra
também maior adaptabilidade a habitats de diferentes perfis, sendo mais comum
em rios límpidos, mas é encontrado também em águas com pouca correnteza. Parece
preferir temperaturas mais amenas a outras espécies com que coexiste.
Macrobrachium heterochirus,
foto mostrando a belíssima coloração que esta espécie pode ter, foto de Chris Lukhaup.
Aparência
É um camarão de porte médio a grande, machos atingindo até 16 cm. Possuem
um aspecto bem semelhante a outros Macrobrachium
de porte similar, com corpo liso, e grandes garras.
Camarões menores são transparentes, mas com o crescimento
desenvolvem uma cor mais escura. Parece haver duas formas distintas de
coloração nos adultos, uma delas é marrom escura com faixas longitudinais
amareladas no corpo, e as pernas e quelas são avermelhadas, lembrando um pouco
o padrão do Macrobrachium carcinus. A
outra é verde claro com marcas negras e azul-esverdeadas, bandas escuras
transversais no abdômen.
Pode ser confundido com o M. carcinus, mas sua distinção é simples
baseando-se no comprimento e aspecto da dentição do rostro, e proporção dos
segmentos do quelípodo, com o carpo (segmento médio, “cotovelo”) mais longo do
que o mero. As garras dos machos dominantes são assimétricas, daí seu nome
científico.
Rostro: Estreito e reto, extremidade dirigida para cima, margem
superior com 10~12, 4~5 deles atrás da órbita, os primeiros 3 ou 4 mais eretos
e mais distanciados do que os demais. Margem inferior com 2~4 dentes.
Quelípodos dos machos: Grandes, iguais na forma mas desiguais no
tamanho, com finos espinhos. Dedos longos, 2/3 do comprimento da palma, que é
alongada. Carpo do comprimento da palma, e tão longo quanto o mero.
Macrobrachium heterochirus,
close da região cefálica mostrando o rostro típico desta espécie, com os dentes pós-orbitais mais espaçados e eretos. Foto de Omar Perez-Reyes, a primeira imagem é também de sua autoria.
Macrobrachium heterochirus,
exemplar fotografado no Vale do Ribeira, SP. Note as típicas faixas escuras transversais no abdomen. Fotos de Fábio Rosa Sussel (Instituto de Pesca).
Parâmetros
de Água
É uma espécie
robusta, bastante tolerante quanto às condições da água, mas se desenvolve melhor entre 21 e 26° C, uma temperaturas
mais amenas a outras espécies anfídromas. Prefere um pH tendendo a neutro.
Macrobrachium heterochirus,
fotografado em Rivière Grosse Corde, em Capesterre Belle-Eau, Guadalupe, foto de Claudine e Pierre Guezennec.
Dimorfismo Sexual
Bem demarcado, machos são bem maiores e mais robustos, com garras mais
desenvolvidas. As fêmeas possuem pleuras abdominais arqueadas e
alongadas, formando uma câmara de incubação. Também podem ser diferenciados
pela análise dos órgãos sexuais, mas isto é bem difícil em animais vivos.
Reprodução
É uma espécie com reprodução primitiva, gerando ovos
pequenos e em grande número, dos quais nascem formas planctônicas de nado
livre. As formas larvares dependem de água salobra para seu adequado
desenvolvimento, o que limita bastante sua reprodução em cativeiro. O ajuste
da salinidade é difícil, assim como a alimentação nas primeiras fases larvares.
Possui alta taxa de fertilidade e fecundidade, uma fêmea
em boas condições produz cerca de 29 mil ovos. A fêmea passa por uma muda pré-acasalamento,
e logo após o macho deposita seu espermatóforo. A fêmea libera os ovos, que são
fertilizados e se alojam nos pleópodes. Com os ovos fecundados, as fêmeas
migram em direção ao litoral.
Os ovos são pequenos, medindo 0,6 mm. Sua coloração se
modifica ao longo do desenvolvimento, inicialmente têm uma cor verde clara,
desenvolvendo uma coloração acinzentada pouco antes da eclosão. Após uma
incubação de duas a três semanas, as larvas são liberadas, levadas pela correnteza até os estuários, onde encontram um
ambiente favorável para seu desenvolvimento.
Poucas informações existem sobre
seu desenvolvimento larvar. Sabe-se que dependem de água salobra, na
primeira fase larvar não se alimentam, consumindo nutrientes de seu saco
vitelínico. Passam então por uma fase carnívora, se alimentando de zooplancton,
que é onde reside a dificuldade na criação em aquários. Possivelmente possa ser
alimentadas com náuplios de Artemia nesta
etapa. Após se transformarem em pós-larvas, começam a
migrar rio acima, lá chegam já adultas, e sexualmente maduras.
Macrobrachium heterochirus,
duas fotos de animais juvenis, o primeiro fotografados em Rivière Petite Plaine, em Pointe-Noire, e o segundo em Rivière Grosse Corde, em Capesterre Belle-Eau, ambas localidades de Guadalupe. Fotos de Claudine e Pierre Guezennec.
Comportamento
Bastante agressivo,
não pode ser mantido com peixes ou outros animais. Predam os peixes,
principalmente durante a noite, quando estes dormem. Por outro lado, tornam-se
vulneráveis após a ecdise, enquanto seu exoesqueleto ainda não está totalmente
solidificado.
Tem também um comportamento
canibal, populações adultas mantidas juntas por muito tempo se devoram
progressivamente, ou indivíduos dominantes se alimentando dos menores, ou
animais (mesmo grandes) sendo devorados após a muda. Desta forma, idealmente
recomenda-se a manutenção de um único animal adulto em um tanque dedicado.
Hábitos noturnos,
ficando entocados durante o dia.
Macrobrachium heterochirus, fotografados na alta bacia do rio Nurucual, Parque Nacional Mochima, estado Sucre, Venezuela. Fotos de Francisco Marval.
Alimentação
Não são nada
exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a ração dos
peixes. Caçam ativamente outros animais, inclusive outros camarões, e destroem
também plantas ornamentais. A falta de proteína animal na dieta acentua seu
comportamento agressivo.
Bibliografia:
- Melo GAS. Manual de
Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora
Loyola, 2003.
- Ching CA, Velez MJ. Mating, Incubation
and Embryo Number in the Freshwater Prawn Macrobrachium
heterochirus (Wiegmann, 1836) (Decapoda, Palaemonidae) Under Laboratory
Conditions. Crustaceana, Volume 49,
Numbers 1-3, 1985 , pp. 42-48(7).
- Mejia-Ortiz LM, Alvarez F, Roman R, Viccon-Pale JA. Fecundity and
distribution of freshwater prawns of the genus Macrobrachium in the Huitzilapan river, Veracruz, Mexico, Crustaceana, 74, 2001, pp. 69-77.
- Mejia-Ortiz LM, Alvarez F. Seasonal Patterns in the Distribution of
Three Species of Freshwater Shrimp, Macrobrachium
spp., along an Altitudinal River Gradient. Crustaceana,
Volume 83, Number 4, 2010, pp. 385-397(13).
- Lemmon J. Quick-Reference Pictorial Key to the Prawns of the Check Hall
River. 2004.
- de Almeida AO, Coelho PA, Luz
JR, dos Santos JT, Ferraz NR. Decapod crustaceans in fresh waters of southeastern
Bahia, Brazil. Rev Biol Trop. 2008
Sep;56(3):1225-54.
- Bowles
DE, Aziz K, Knight CL. Macrobrachium
(Decapoda: Caridea: Palaemonidae) in the Contiguous United States: A Review of
the Species and an Assessment of Threats to Their Survival. Journal of
Crustacean Biology. Vol. 20, No. 1 (Feb., 2000), pp. 158-171.
- Mossolin
EC, Pileggi LG, Mantelatto FL. Crustacea, Decapoda, Palaemonidae, Macrobrachium Bate, 1868, São Sebastião
Island, state of São Paulo, southeastern Brazil. 2010. Check List 6(4):605-613.
Agradecimentos ao colega zoólogo Omar Perez-Reyes (Universidade
de Utah), ao ecólogo Francisco José Marval (Venezela), a Claudine e Pierre Guezennec (que coordenam um site de fotografia
de Guadalupe, Zoom Guadeloupe ), e também ao Dr. Fábio Rosa Sussel e Antonio Carlos Simões ( Instituto de Pesca ) pela cessão das fotos para o artigo.
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