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"Macrob. surinamicum"  
Artigo publicado em 03/11/2013, última edição em 27/03/2022  


Camarão-do-Suriname - Macrobrachium surinamicum


 


Nome em português: Camarão-do-Suriname
Nome em inglês: Suriname River Prawn
Nome científico: Macrobrachium surinamicum Holthuis, 1948

Origem: Norte da América do Sul, costal atlântico
Tamanho: até 10 cm
Temperatura da água: 24-29° C
pH: 6.5-7.8

Dureza: indiferente
Reprodução
: primitiva, necessita de água salobra para as larvas
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

            O Camarão-do-Suriname é um camarão de pequeno porte, capturado na Amazônia como fauna associada à pesca do camarão-da-Amazônia (M. amazonicum) que é largamente explorado pela pesca artesanal e que atende as necessidades alimentícias e econômicas da comunidade ribeirinha. São pescadas com armadilhas chamadas de matapis.

            Desta forma, não possui importância em aquarismo, mas uma importância secundária regional como espécie comestível.

            Etimologia: Macrobrachium vem do grego makros (longo, grande) e brakhion (braço); surinamicum significa nativo do Suriname.




Distribuição geográfica de Macrobrachium surinamicum. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 2003 e demais referências.



Origem

            Este camarão é encontrado apenas em bacias costeiras atlânticas do Norte do Brasil, nas Guianas, Suriname, Venezuela e Colômbia. No Brasil, ocorrem somente nos estados do Amapá e Pará, junto à foz dos Rios Amazonas e Tocantins.

            É um típico representante costal dos palaemonídeos, devido ao padrão reprodutivo, não é encontrado em locais muito distantes do litoral, ou em ambientes sem conexão com o mar.

Pode ser encontrado em água doce, mas habita preferencialmente a foz de rios, com águas de baixa salinidade, se mantendo no estuário tanto nas etapas juvenis quanto adulta.

 

  




Macrobrachium surinamicum
, fotografado no Rio Mana, na Guiana Francesa. Foto gentilmente cedida por Gregory Quartarollo (Guyane Wild Fish Association).








Casal de Macrobrachium surinamicum, coletado no Rio Mazagão, afluente do Amazonas, em Mazagão, AP. Fotos gentilmente cedidas por Daniel Pereira da Costa.



Aparência

 

São camarões de médio/grande porte, tamanho médio de 6 cm, mas podendo atingir 10 cm de comprimento.

Camarões menores são transparentes, animais maiores adquirem uma coloração acastanhada. Geralmente são confundidos com o M. amazonicum, espécie simpátrica.

Possuem um aspecto bem semelhante a outros Macrobrachium de grande porte, com grandes garras, mas com a carapaça e abdome ásperos pela presença de espinulações na margem anterolateral em adultos (liso em juvenis). Pode ser identificado com relativa facilidade, pelo aspecto do rostro, com um grande número de dentes rostrais localizados atrás da órbita, e grande número de dentes rostrais ventrais, além da dentição das suas quelas.

Rostro: Relativamente longo, alcança o fim do escafocerito, reto e com a extremidade ligeiramente curvada para cima. Margem superior com 13~16 dentes, os proximais mais aproximados do que os distais, segundo dente mais longe do primeiro do que do terceiro, os primeiros 3 ou 4 antes da órbita, o primeiro separado do segundo em espaço maior do que os demais proximais. Margem inferior com 4~6 dentes.

Quelípodos dos machos: Grandes e fortes, mais longos do que o corpo, iguais na forma e desiguais no tamanho. Dedos bem mais curtos do que a palma, carpo com metade do comprimento da quela, mero pouco menor do que o carpo. Dedos da quela formando uma fenda entre eles e cruzados amplamente na extremidade distal; margem cortante com um a três dentes proeminentes, um no dátilo e os dois no dedo fixo; presença de urna serie de dentículos distribuídos regularmente até a extremidade distal.

 



Macrobrachium surinamicum, coletado em um canal perene do estuário da Baía do Guajará, Belém (PA). Na segunda foto, detalhe do rostro. Fotos gentilmente cedidas pela Prof. Dra. Bianca Bentes da Silva.


Parâmetros de Água

 

É uma espécie robusta, bastante tolerante quanto às condições da água. Habita ambientes tropicais, com temperatura entre 24 e 29° C. Poucos dados existem sobre o pH ideal, baseado em espécies que co-habitam o mesmo ambiente, estima-se um valor ideal entre 6,5 a 7,8. Existe uma medição no Delta do Rio Orinoco, Venezuela, onde habitavam águas bem ácidas, com pH de 5,7. No Brasil, são mais comuns em rios de águas brancas, turvas e com muito sedimento.

Pode ser encontrado em água doce, mas habita preferencialmente a foz de rios, com águas salobras de baixa salinidade. Há registros de coletas em locais com salinidade baixa (0~8%o), e também em outros locais com maior salinidade (30%o).

 


 


Macrobrachium surinamicum, exemplar da Venezuela. Fotos gentilmente cedidas pelo Dr. Jonathan Vera Caripe.



Dimorfismo Sexual

 

As fêmeas tendem a ser menores, com garras também menores. Fêmeas possuem pleuras abdominais arqueadas e alongadas, formando uma câmara de incubação. Também podem ser diferenciados pela análise dos órgãos sexuais, mas isto é bem difícil em animais vivos.













Macrobrachium surinamicum, pescados juntamente com Macrobrachium amazonicum, fotografados em Abaetetuba, Pará. Fotos gentilmente cedidas por Ademir Heleno A. Rocha.


Reprodução

O Camarão-do-Suriname é uma espécie com reprodução primitiva, gerando ovos muito pequenos (0,3 ~0,5 mm) e em grande número, dos quais nascem formas planctônicas de nado livre. As formas larvares dependem de água salobra para seu adequado desenvolvimento, o que limita bastante sua reprodução em cativeiro. O ajuste da salinidade é difícil, assim como a alimentação nas primeiras fases larvares.

A fecundidade é de até 1780 ovos. As desovas são intermitentes, apresentando, no entanto, um pico de desova próximo de Março, coincidindo com a maior pluviosidade na região amazônica.

A fêmea passa por uma muda pré-acasalamento, e logo após o macho deposita seu espermatóforo. Após a ecdise, a fêmea libera os ovos, que são fertilizados e se alojam nos pleópodes.

As larvas nascem como zoea de vida livre, desenvolvendo-se em água salobra. Na primeira fase larvar não se alimentam, consumindo nutrientes de seu saco vitelínico. Passam então por uma fase carnívora, se alimentando de zooplancton. Mais adiante, podem receber alimentos inertes ricos em proteína. O comprimento da primeira maturação das fêmeas é estimado em 24 mm.

            Um fato curioso, muitas vezes esta espécie ocorre associada ao Camarão-da-Amazônia (M. amazonicum), sendo pescados pelas populações locais com armadilhas. Na Baía do Guajará (PA), quando fêmeas ovígeras desta espécie são capturadas (são menores do que o M. amazonicum), são comumente conhecidas por “mãe-do-camarão” ou “mãe preta” e curiosamente, são devolvidas ao meio no momento da despesca com matapis.

 






Macrobrachium surinamicum à venda em um mercado de peixes em Abaetetuba, Pará, pescados juntamente com Macrobrachium amazonicum. Fotos gentilmente cedidas por Ademir Heleno A. Rocha.


Comportamento

 

Agressivo, em especial os camarões maiores, não pode ser mantido com peixes ou outros animais. Predam os peixes, principalmente durante a noite, quando estes dormem. Por outro lado, tornam-se vulneráveis após a ecdise, enquanto seu exoesqueleto ainda não está totalmente solidificado.

Camarões juvenis são menos agressivos, têm até um comportamento gregário, vivendo em colônias. Porém, com seu crescimento, acentua-se sua agressividade e seu comportamento canibal. Populações adultas mantidas juntas por muito tempo se devoram progressivamente, ou indivíduos dominantes se alimentando dos menores, ou animais (mesmo grandes) sendo devorados após a muda.

 




Casal de Macrobrachium surinamicum, coletado no Rio Mazagão, afluente do Amazonas, em Mazagão, AP. Fotos gentilmente cedidas por Daniel Pereira da Costa.



Alimentação

 

Não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a ração dos peixes.

 

 

 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Cavalcante DV. Biologia e ecologia do camarão dulcícola Macrobrachium surinamicum Holthuis, 1948 (Decapoda: Palaemonidae) no Estuário Guajará, Pará, Costa Norte do Brasil. Belém, PA. Dissertação (Mestrado em Ecologia Aquática e Pesca) – Universidade Federal do Pará. 2012.
  • Lima DP. Caracterização dos Crustacea Decapoda na Lagoa dos Índios, Macapá – AP. Macapá, AP. Dissertação (Bacharel em Engenharia de Pesca) – Universidade do Estado do Amapá. 2010.
  • Araujo MVLF, Brabo MF, Cintra IHA, Ferreira ILS, Klautau AGCM, Silva KCA. Frequência de ocorrência e sazonalidade de camarões em águas estuarinas de Salinópolis, Estado do Pará, Brasil. Boletim técnico-científico do CEPNOR, Belém, 2009 Vol. 9, p. 101-113.
  • Holthuis LB. Note on some Crustacea Decapoda Natantia from Surinam. Proceedings of the Koninklijke Nederlandse Akadademie van Wetenschappen 51: 1104-1113. 1948.
  • Montoya JV. Freshwater Shrimps of the Genus Macrobrachium Associated with Roots of Eichhornia crassipes (Water Hyacinth) in the Orinoco Delta (Venezuela). Caribbean Journal of Science, Vol. 39, No. 1, 155-159, 2003.
  • Nóbrega PSV, Bentes B, Martinelli-Lemos JM. Composition of shrimp populations (Crustacea: Decapoda) in non-vegetated areas of two river islands in a Brazilian Amazon estuary. Zoologia (Curitiba). 2013 Dec; 30(6): 652-660.
  • Pileggi LG, Magalhaes C, Bond-Buckup G, Mantelatto FL. New records and extension of the known distribution of some freshwater shrimps in Brazil. Revista Mexicana de Biodiversidad; v. 84, n. 2, p. 563-574, JUN 2013.
  • Pimentel FR. Taxonomia dos Camarões de Água Doce (Crustacea: Decapoda: Palaemonidae, Euryrhynchidae, Sergestidae) da Amazônia Oriental: Estados do Amapá e Pará. Dissertação (Mestrado). MCT/INPA, Manaus, 2003.
  • Lima JF, da Cruz MCM, Silva LMA. Reproductive biology of Macrobrachium surinamicum (Decapoda: Palaemonidae) in the Amazon River mouth. Acta Amazonica. 2015; 45(3): 299-306.

 

Agradecimentos especiais ao professor Ademir Heleno A. Rocha (veja seu blog  aqui ), aos zoólogos Prof. Dra. Bianca Bentes da Silva (Universidade Federal do Pará - Grupo de Pesquisa em Crustáceos da Amazônia), Dr. Jonathan Vera Caripe (Venezuela), Gregory Quartarollo ( Guyane Wild Fish Association ) e Daniel Pereira da Costa pela cessão das fotos para o artigo, e valiosas informações.

 
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