Nome em português: -
Nome em inglês: Rough River Prawn
Nome científico: Macrobrachium equidens (Dana, 1852)
Origem: Indo-Pacífico
Tamanho: machos adultos chegam a 12 cm
Temperatura da água: 25-30°C
pH: 7.0-7.8
Dureza: indiferente
Salinidade: média a alta
Reprodução: primitiva, necessita de água salobra para as larvas
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil
Apresentação
Em 2001,
foram coletados camarões na região estuarina da Bacia Amazônica, no Rio Caeté (Pará),
juntamente com M. amazonicum e M. acanthurus, que pareciam ser de outra
espécie. Análises genéticas destes espécimes revelaram um fato surpreendente, que
se tratava de uma espécie exótica do Indo-Pacífico, Macrobrachium equidens.
É a segunda espécie
exótica de Macrobrachium detectada na
Amazônia Brasileira, a primeira é o Camarão-da-Malásia (M. rosenbergii), extensamente criada na região para consumo humano.
Etimologia: Macrobrachium vem
do grego makros (longo, grande) e brakhion (braço); equidens tem
origem no latim aequus (igual) e dens (dente), possivelmente uma alusão
aos dentes rostrais distribuídos de forma regular.
Distribuição geográfica de Macrobrachium equidens. Imagem
original Google Maps; dados de Maciel CR et al. 2011 e Gomes JN et al. 2014.
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Origem
É
uma espécie com ampla distribuição no Indo-Pacífico, sendo encontrada desde a
África do Sul e Índia ao oeste, até sul da China ao norte e Fiji ao leste. Desde
1982, ocorre como espécie exótica na costa atlântica oriental (Oeste da
África), pela primeira vez na Nigéria, possivelmente introduzida através de
água de lastro de navios.
No Brasil, já foi
identificado em duas localidades do nordeste do Pará: Estuário do Rio Caeté e
adjacências (como o Córrego Taici, um canal que conecta este rio e o Rio Taperaçu),
no município de Bragança, e também no rio Patal, município de Augusto Corrêa (somente
juvenis). Nesta primeira localidade, responde por 20% do total de Macrobrachium amostradas, mostrando que
a população local de M. equidens é
bem estabelecida, com alta probabilidade de colonização permanente.
A análise de sequenciamento
de DNA (gene Citocromo Oxidase I) mostrou similaridade da população brasileira
com aquela de Taiwan, Austrália, Filipinas e Índia. Porém, esta mesma análise
mostrou que a população de Cingapura tem um padrão genético bastante
divergente, fato já demonstrado em outros trabalhos, sugerindo que se trate de um complexo de espécies crípticas.
É uma espécie eurihalina,
prefere água salobra, mas pode ser eventualmente coletado no mar. Mais comum nos
níveis baixo e médio de estuários, ocasionalmente corrente acima, no limite
superior da influência da maré. Sua dependência reprodutiva a água salobra dificulta
o estabelecimento de populações continentais, longe da costa.
Não se sabe qual foi a
via de introdução desta espécie no Brasil. Embora haja similaridade genética
com populações asiáticas, notou-se uma divergência genética relativamente alta
(3%), sugerindo que a espécie já tenha sido introduzida há algum tempo, e que
não o tenha sido através de água de lastro de navios ou introdução acidental
com outras espécies (como o M.
rosenbergii). Considerando-se a localização geográfica na costa brasileira,
e à tolerância das larvas à salinidade do mar, outra hipótese interessante é a
dispersão de larvas da Nigéria através do Oceano Atlântico, pela Corrente
Sul-Equatorial, fato já documentado em outras espécies marinhas.
Macrobrachium equidens, close no rostro, exemplar de Taiwan. Foto de Zhang Daqing.
Aparência
Possuem um aspecto bem semelhante a outros Macrobrachium de
grande porte, com corpo liso, e grandes garras. Machos adultos medem até 12 cm,
enquanto fêmeas medem até 9 cm. Os espécimes brasileiros tinham menores
dimensões, machos até 6,8 cm e fêmeas até 6,4 cm.
Indivíduos adultos mostram corpo opaco de aspecto marmóreo, cor marrom
avermelhada nas quelas, e pernas ambulatórias com um belo aspecto zebrado, em
vermelho, preto e branco. Porém, todos os indivíduos coletados no Brasil
mostravam aspecto de sub-adultos, com corpo transparente, com tênues tons avermelhados,
articulações das quelas com aspecto marmóreo com grandes manchas irregulares
marrom-alaranjadas, e manchas menores marrom-avermelhadas e marrom-amareladas
claras. Pernas ambulatórias com tons avermelhados nas articulações.
O fato dos espécimes
brasileiros terem menores dimensões e aspecto de sub-adultos reflete
provavelmente que esta espécie ainda se apresenta em processo de adaptação ao
novo ambiente.
Telso com dois pares de espinhos dorsais. Extremidade posterior do telso
com região mediana aguda e dois pares de espinhos laterais, os internos ultrapassando
a extremidade do telso.
Rostro: Longo, discreta curvatura superior, alcançando ou ultrapassando o
escafocerito. Margem superior com 9~12 dentes, os proximais distribuídos de
forma uniforme, os 2~4 primeiros antes da órbita, e os dentes distais mais
espaçados entre si. Margem inferior com 4~7 dentes.
Quelípodos dos machos: Garras simétricas. Longos e
finos, com pequenos espinhos difusos. Mero mais longo do que a porção anterior
do escafocerito. Palma discretamente mais longa do que dedos. Carpo 1,5 vezes o
comprimento da palma e 1,7 vezes o comprimento do mero. Dátilos com uma
pubescência evidente.
Diferenciação de espécies nativas simpátricas:
O Macrobrachium equidens lembra bastante o Macrobrachium acanthurus, espécie nativa. Tanto
o M. equidens quanto o M. acanthurus têm pubescência recobrindo
ambos os dedos das quelas, o que não ocorre no M. amazonicum. Geralmente o rostro do M. equidens apresenta três dentes pós-orbitais, enquanto o M. acanthurus mostra somente dois (alguns
espécimes de M. equidens podem ter somente
dois dentes). O quelípodo do M. equidens
é mais fino do que o do M. acanthurus,
e o padrão de dentes nos dedos é distinto nas duas espécies. A coloração é
distinto, mesmo em sub-adultos (especialmente nas articulações), o M. equidens tem tons marrom-alaranjados,
enquanto o M. acanthurus é
esverdeado.
A distinção do M. equidens com o M.
amazonicum é mais fácil, baseado no aspecto do rostro: M. amazonicum com rostro alongado, enquanto M. equidens tem um rostro do mesmo comprimento ou um pouco mais
longo do que o escafocerito. O aspecto do telso também é distinto, no M. amazonicum ele é pontudo, com
espinhos curtos que não ultrapassam sua extremidade, enquanto no M. equidens os espinhos são longos e ultrapassam
a extremidade do telso.
Macrobrachium equidens, exemplar indiano. Foto de Chris Lukhaup.
Parâmetros de Água
É uma espécie robusta, eurihalina,
tolerante a uma ampla faixa de salinidade, de água doce (0) a marinha (40), e
ocorre nos níveis baixo e médio de estuários, ocasionalmente corrente acima, no
limite superior do limite da influência da maré. É tolerante também a algum
grau de poluição, sendo encontrado na Ásia em locais degradados por ação
antrópica. Ou seja, é uma espécie com grande capacidade de adaptação a novos
ambientes, e um potencial invasor significativo.
No Brasil, uma maior
densidade populacional foi registrada durante a estação de secas (entre Janeiro
e Junho), onde a salinidade da água é maior, sugerindo uma preferência desta
espécie a maiores salinidades, em cerca de 25%o. Nestes mesmos locais, a
temperatura variou entre 25~30ºC. O pH no local foi de 7.0 a 7.8.
Dimorfismo Sexual
Bem demarcado, as fêmeas são menores, com garras também menos
desenvolvidas. Fêmeas possuem pleuras abdominais arqueadas e alongadas,
formando uma câmara de incubação. Também podem ser diferenciados pela análise
dos órgãos sexuais, mas isto é bem difícil em animais vivos.
Reprodução
O Macrobrachium equidens é uma
espécie com reprodução primitiva, gerando ovos pequenos e em grande número, dos
quais nascem formas planctônicas de nado livre. As formas larvares dependem de
água salobra para seu adequado desenvolvimento, o que limita sua
reprodução em cativeiro. Porém, das espécies com este padrão reprodutivo,
parece ser de fácil criação.
Uma fêmea em boas condições produz até 8200 ovos (nos espécimes brasileiros,
até 3700 ovos, com uma média de 1800 ovos), medindo em média 0,7 mm, de cor
marrom-escuro. Os ovos clareiam ao longo do seu desenvolvimento, atingindo
0,9 mm próximo da eclosão.
A fêmea passa por uma muda pré-acasalamento, e logo após o macho
deposita seu espermatóforo. A fêmea libera os ovos, que são fertilizados e se
alojam nos pleópodes. Com os ovos fecundados, as fêmeas migram em direção ao
litoral. Após uma incubação de cerca de três semanas, as larvas são liberadas.
As larvas nascem como zoea de vida livre, com cerca
de 2 mm, passando por cerca de onze estágios larvares. Na primeira fase
larvar não se alimentam, consumindo nutrientes de seu saco vitelínico. Passam
então por uma fase carnívora, se alimentando de zooplancton, que é onde reside
a dificuldade na criação em aquários. Nesta fase são alimentadas com
náuplios de Artemia. Mais adiante, podem receber alimentos inertes
ricos em proteína. Demoram cerca de 43 dias ate se tornarem pós-larvas
medindo 5,3 mm.
O desenvolvimento das larvas é possível em diversos valores de
salinidade, mas parece ser otimizado em salinidades mais elevadas (34%o). A salinidade
mínima é de 24%o.
A reprodução é contínua
ao longo do ano, mas com pico nas estações secas (Outubro a Novembro no foco de
ocorrência brasileiro).
Comportamento
Agressivo, em especial os camarões maiores, porém em menor grau do que
outros grandes Macrobrachium, com alguns relatos no exterior de
manutenção em aquários comunitários.
Predam os peixes, principalmente durante a noite, quando estes dormem.
Por outro lado, tornam-se vulneráveis após a ecdise, enquanto seu exoesqueleto
ainda não está totalmente solidificado.
Com seu crescimento, acentua-se sua agressividade e seu comportamento
canibal. Populações adultas mantidas juntas por muito tempo se devoram
progressivamente, ou indivíduos dominantes se alimentando dos menores, ou
animais (mesmo grandes) sendo devorados após a muda.
Desta forma, idealmente recomenda-se a manutenção de um único animal
adulto em um tanque dedicado.
Alimentação
São essencialmente carnívoros na natureza, mas não muito exigentes,
comendo desde algas, animais mortos a ração dos peixes. Caçam ativamente outros
animais, inclusive outros camarões, e destroem também plantas ornamentais. A
falta de proteína animal na dieta acentua seu comportamento agressivo.
Bibliografia:
- Maciel CR, Quadros ML, Abrunhosa F, Bastos S, Schneider
H, Sampaio I. Occurrence of the Indo-Pacific freshwater prawn Macrobrachium equidens Dana 1852
(Decapoda, Palaemonidae) on the coast of Brazilian Amazonia, with notes on its
reproductive biology. An. Acad. Bras.
Ciênc. 2011, vol.83, n.2, pp. 533-544.
- Gomes JN, Abrunhosa FA, Costa AK, Maciel CR. Feeding and larval growth of an exotic freshwater prawn Macrobrachium equidens (Decapoda:
Palaemonidae), from Northeastern Pará, Amazon Region. An. Acad. Bras. Ciênc. 2014 Sep; 86(3): 1525-1536.
- Shy JY, Yu HP. 1990. Morphological observation on the larval
development of Macrobrachium equidens
(Crustacea: Decapoda: Palaemonidae). J.
Fish. Soc. Taiwan, 17(3): 185-197.
- Liu MY, Cai YX, Tzeng CS. 2007. Molecular systematics
of the freshwater prawn genus Macrobrachium
Bate, 1868 (Crustacea: Decapoda: Palaemonidae) inferred from mtDNA sequences,
with emphasis on East Asian species. Zoological
Studies 46: 272-289.
Agradecimentos ao Taiwan Biodiversity Information Facility (TaiBIF) pelo uso da foto (Licença Creative Commons).
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