Nome em português: Camarão de água-doce.
Nome em inglês: -
Nome científico: Macrobrachium
iheringi (Ortmann, 1897)
Origem:
Brasil, continental
Tamanho: machos adultos chegam a 9 cm
Temperatura da água: 18-22° C
pH: indiferente
Dureza: indiferente
Reprodução:
especializada, em água doce
Comportamento: agressividade intermediária
Dificuldade: fácil
Apresentação
O Macrobrachium iheringi é uma espécie de camarão continental
encontrada somente no Brasil. Mostra uma aparência típica de um “Pitu”, ou
seja, possui grandes e robustas quelas, de aspecto agressivo. Porém, sua
distribuição é continental, e tem reprodução especializada, com todo ciclo
reprodutivo em água doce. Desta forma, é um excelente exemplo de que nem sempre
funciona aquela regra de que “Pitus” são todos animais de rios costeiros, com
reprodução primitiva.
Análises genéticas recentes mostram
que esta espécie é muito próxima filogeneticamente ao Cryphiops brasiliensis, sugerindo, inclusive, que este camarão se
trate também de um Macrobrachium.
Etimologia: Macrobrachium vem do grego makros
(longo, grande) e brakhion (braço); iheringi é uma homenagem ao conceituado zoólogo
e médico de origem alemã naturalizado brasileiro Hermann von Ihering (1850~1930),
que coletou e cedeu o espécime-tipo ao Dr. Arnold E. Ortmann em 1897.
Macrobrachium iheringi, fotografado na Serra do Japi, Jundiaí, SP. Fotos de Guendo Sumiyori.
Distribuição geográfica de Macrobrachium iheringi. Imagem
original Google Maps; dados de Melo GAS 2003 e demais referências.
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Origem
Esta
espécie de camarão é endêmica do Brasil, encontrado em riachos continentais das
regiões sudeste e centro-oeste do país. Ocorrem nos estados do Espírito Santo,
Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Há relatos mal documentados
de coletas também em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Encontrado principalmente em
riachos e córregos, em meio à vegetação marginal.
Macrobrachium iheringi, fotografados na Serra do Japi, Jundiaí, SP. Fotos de Walther Ishikawa.
Aparência
São camarões de pequeno/médio porte, machos atingindo 9,2 cm, e fêmeas 7,0
cm. Possuem um aspecto bem semelhante a outros “pitus”, com corpo robusto e
alongado, grandes garras. Porém, ao contrário destes, possuem uma carapaça rugosa,
principalmente nas regiões anterolaterais.
Um aspecto bem típico deste camarão é o comprimento relativamente curto
do abdômen em relação ao cefalotórax, conferindo um aspecto atarracado.
Camarões menores são translúcidos, mas com o crescimento
desenvolvem uma cor mais escura, acastanhada.
Podem ser confundidos com o M. potiuna
e o M. brasiliense, todos com distribuição continental, aspecto bem semelhante
do rostro, e aspecto rugoso. A distinção pode ser feita principalmente pelo
aspecto mais intumescido das quelas, e proporção dos segmentos dos quelípodos.
Rostro: Alto e quase reto, extremidade ligeiramente voltada para
cima, não alcança o fim do escafocerito. Margem superior convexa com 6~9 dentes
distribuídos uniformemente, 1 ou 2 atrás da órbita. Margem inferior com 1~3
dentes.
Quelípodos dos machos: Iguais na forma, mas assimétricos no tamanho.
Dáctilo um pouco mais curtos do que a palma, com numerosos pequenos espínulos. Palma
e carpo grossos e intumescidos. Carpo tão longo quanto o mero, e com forte constrição
na base.
Macrobrachium iheringi fotografado no Sítio Barrocada, São Paulo, SP. Foto de Luciano Bernardes.
Parâmetros
de Água
Baseado em alguns
locais de coleta, parece preferir águas mais frescas, com temperatura entre 18
e 22°C, pH e
dureza menos críticos.
Macrobrachium iheringi macho, fotografado na Serra do Japi, Jundiaí, SP. Fotos de Claudia Yoshida.
Dimorfismo Sexual
Bem demarcado, machos são maiores e mais robustos, com garras mais
desenvolvidas. Também podem ser diferenciados pela análise dos órgãos
sexuais, mas isto é bem difícil em animais vivos.
Reprodução
O Macrobrachium
iheringi tem reprodução
especializada, geram poucos ovos de grandes dimensões, de 55 a 139 ovos de cor
vermelho brilhante e aspecto oval, medindo cerca de 2,2x1,7 mm de diâmetros.
Têm todo seu ciclo de vida em água doce, não necessitando de água salobra.
Período reprodutivo no verão.
A eclosão
dos ovos é gradual, demorando cerca de 4~5 dias. Nascem como larvas de 4,7 mm,
passam por duas fases de zoea até se
tornarem megalopa, e então juvenis
(duração de 2,8 dias, 4,5 dias e 7,5 dias).
Embora
sejam zoea, mostram um comportamento
bentônico desde que nascem, se agarrando em estruturas do substrato. Zoea I tem olhos sésseis, e zoea II, olhos pedunculados. Durante a
fase de zoea e megalopa não se alimentam, consumindo nutrientes de seu saco
vitelínico. Juvenis aceitam alimentação inerte.
Macrobrachium iheringi, juvenis fotografados na Serra do Japi, Jundiaí, SP. Fotos de Walther Ishikawa.
Comportamento
É uma espécie
ativa, possuem uma agressividade intermediária, não são totalmente inofensivos
como os “Fantasmas”, mas também não são agressivos como os grandes “Pitús”. Não
há experiência na manutenção em aquários, imagina-se que seja semelhante ao M. potiuna, podem ser mantidos em
pequenos grupos, desde que se forneçam tocas e esconderijos, e em tanques
maiores.
Macrobrachium iheringi, fotografados na Serra do Japi, Jundiaí, SP. Fotos de Walther Ishikawa.
Alimentação
Onívoros, não são
nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a
ração dos peixes. Filhotes tendem a se alimentar mais de algas e restos
vegetais.
Bibliografia:
- Melo GAS. Manual de
Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora
Loyola, 2003.
- Ortmann AE. 1894. Os Camarões
de Água Doce da América do Sul. Rev. Mus.
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- Sampaio
SR, Nagata JK, Lopes OL, Masunari S. Camarões de águas continentais (Crustacea,
Caridea) da Bacia do Atlântico oriental paranaense, com chave de identificação
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- Pileggi LG, Mantelatto FL. Molecular phylogeny of the freshwater prawn
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relationships among selected American species. Invertebrate Systematics 24(2) 194–208. 2010.
- Pileggi LG, Magalhaes C, Bond-Buckup G, Mantelatto FL. New records and
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- Lobão VL, Musto MRZN,
Rojas NET, Lace M, Magalhães MFS. Estudo
populacional de Macrobrachium iheringi
(Ortmann, 1897) (Decapoda, Palaemonidae) do rio Buava - SP. Boletim do Instituto de Pesca, 13: 37-43. 1986.
- Bueno SLS, Rodrigues
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(Decapoda, Palaemonidae), reared in the laboratory. Crustaceana, 68: 665-686. 1995.
- Fransozo A, Rodrigues
FD, Freire FAM, Costa RC. Reproductive biology of the freshwater prawn Macrobrachium iheringi (Ortmann, 1987)
(Decapoda: Caridea: Palaemonidae) in the Botucatu region, São Paulo, Brazil. Nauplius, 12(2): 119-126. 2004.
- Nogueira CS, Perroca JF, Piantkoski EL, Costa RC, Taddei FG,
Fransozo A. Relative growth and population dynamics of Macrobrachium iheringi
(Decapoda, Palaemonidae). Pap. Avulsos Zool. 2019; 59: e20195908.
Agradecimentos especiais à Dra. Claudia Yoshida, a Luciano Bernardes e Guendo Sumiyori pela cessão
das fotos para o artigo.
As fotografias de Walther Ishikawa, Luciano Bernardes (iNaturalist) e Guendo Sumiyori (iNaturalist) estão licenciadas sob uma Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
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