Nome
em português: Camarão de água doce, Camarão de rio
Nome
em inglês: -
Nome científico: Macrobrachium inpa Kensley & Walker,
1982
Origem:
Bacia Amazônica
Tamanho: até 8 cm
Temperatura da água: 24-30° C
pH: ácido
Dureza: baixa
Reprodução: especializada, todo
o ciclo em água doce
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil
Apresentação
O Macrobrachium inpa é uma espécie amazônica de camarão
de água doce, bastante comum nos riachos e igarapés da região. É identificado
com relativa facilidade, devido à típica faixa longitudinal clara na região
dorsal.
Análises genéticas recentes (2010) mostram uma proximidade
filogenética grande das espécies tipicamente encontradas na Bacia Amazônica,
com o M. ferreirai, M. inpa, M. depressimanum, M.
aracamuni, M. nattereri e M. brasiliense formando um clado comum.
Etimologia: Macrobrachium vem do grego makros
(longo, grande) e brakhion (braço); seu
nome específico é o acrônimo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), de Manaus.
Distribuição geográfica de Macrobrachium inpa. Imagem
original Google Maps; dados de Melo GAS 2003.
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Origem
É uma espécie tipicamente
amazônica, sendo encontrada na Costa Rica, Venezuela, Trindade, Guiana, Guiana
Francesa, Suriname, Brasil (somente no estado do Amazonas) e Bolívia. Embora não haja registro oficial, são encontrados também no Peru (fotos). Da mesma forma, no Brasil devem ocorrer em outros estados que englobam rios da bacia amazônica, como Acre, Rondônia, Roraima, Pará e Mato Grosso (veja um dos registros adiante). Adaptáveis, são encontradas tanto
em sistemas de águas pretas quanto claras, embora sejam mais comuns em florestas
alagadas, em pequenos igarapés e córregos permanentes de terras mais altas, vivendo
em meio à serrapilheira depositada no substrato.
Macrobrachium inpa, camarões fotografados na Reserva Natural Regional de Trésor, Roura, Guiana Francesa. A última imagem mostra um animal parasitado por um isópode. Fotos cortesia de Johan Chevalier.
Aparência
São camarões de médio porte, comprimento total de até cerca de 8 cm. Embora pequenos, possuem garras robustas,
de aspecto agressivo. Carapaça lisa,
mas quelípodos recobertos de pequenos espinhos.
Coloração marrom-acastanhada a
preto-arroxeado escuro. Possui uma típica faixa larga longitudinal de cor
rosa-salmão na região dorsal, se estendendo desde o rostro, carapaça e abdômen.
Esta faixa é cortada transversalmente por algumas faixas estreitas de cor rosa,
na margem anterior da carapaça, articulação carapaça-abdômen, e 3º segmento
abdominal. As quelas têm a ponta dos dedos de cor clara, faixas escuras na base
dos dedos, palma proximal, porções proximal e distal do carpo e mero. Seis
faixas escuras estreitas nas pernas ambulatórias.
Rostro: Mais curto do que a carapaça, quase alcançando o final do
escafocerito, com forte carena lateral. Margem superior com 9~10 dentes, os
primeiros 3 ou 4 antes da órbita. Margem inferior com 1~3 dentes.
Quelípodos dos machos: Grandes e fortes, recoberto por pequenos
espinhos, maiores nas faces superior e mesial, iguais na forma e desiguais no tamanho.
Dedos com metade do comprimento da palma, esta inflada. Carpo com 3/4 do
comprimento da palma, proximalmente estreito, distalmente alargado. Mero com 3/4
do comprimento do carpo. Ísquio com 3/4 do comprimento do mero.
Macrobrachium inpa, animais importados do Peru. Fotos de Yuri Karavanskii.
Parâmetros
de Água
São mais comuns em
sistemas de águas negras, de pH bastante baixo e águas moles. Porém, ocorrem
também em locais de águas brancas, mais duras e de pH elevado. Habitam a Bacia Amazônica,
de clima tropical e temperatura elevada. O pH nos locais de coleta variou de
3,5~7,0, e a temperatura de 24~30º C.
Dois exemplares de Macrobrachium inpa, coletados em Manaus, AM. Fotos de James Bessa e Mateus Silva.
Dimorfismo Sexual
As fêmeas tendem a ser menores, com garras também menores. Fêmeas
possuem pleuras abdominais arqueadas e alongadas, formando uma câmara de
incubação. Também podem ser diferenciados pela análise dos órgãos sexuais, mas
isto é bem difícil em animais vivos.
Macrobrachium inpa, animais importados do Peru. Fotos de Yuri Karavanskii.
Reprodução
Tem padrão
reprodutivo do tipo abreviado, fêmeas coletadas carregam ovos grandes
(2,4 x 1,7 mm) em pequeno número, até 30 ovos de cor vermelho-escuro. São
descritos 3 estágios larvais, mas bentônicos desde o nascimento, sendo portanto considerados decapoditos. Medem cerca de 3 mm quando nascem, e o tempo de desenvolvimento larval é de cerca de 10 dias.
Assim como
as demais espécies da região, provavelmente apresentam um pico de desova em
janeiro e fevereiro, coincidindo com a maior pluviosidade na região amazônica. Fêmeas
ovígeras só são encontradas com a subida das águas.
A fêmea passa por uma muda
pré-acasalamento, e logo após o macho deposita seu espermatóforo. Após a
ecdise, a fêmea libera os ovos, que são fertilizados e se alojam nos pleópodes.
Macrobrachium inpa, filhotes nascidos em cativeiro. Fotos de Yuri Karavanskii.
Comportamento
Agressivo, provavelmente
não pode ser mantido com peixes ou outros animais. Tornam-se vulneráveis após a
ecdise, enquanto seu exoesqueleto ainda não está totalmente solidificado.
Assim como os
demais Macrobrachium agressivos, os camarões
juvenis são menos agressivos, porém, com seu crescimento, deve-se acentuar sua
agressividade e seu comportamento canibal. Populações adultas mantidas juntas
por muito tempo se devoram progressivamente, ou indivíduos dominantes se
alimentando dos menores, ou animais (mesmo grandes) sendo devorados após a
muda.
Macrobrachium cf. inpa,
fotografados em Barra dos Garças, MT. Se confirmado, representa uma expansão na distribuição geográfica desta espécie. Note os grandes ovos, indicando
reprodução especializada. Fotos gentilmente cedidas por Caio
Koppenhagen.
Macrobrachium cf. inpa, fotografados em Santarém, PA, outro registro além dos limites conhecidos de distribuição desta espécie. Fotos gentilmente cedidas por Roxanne Lazarus.
Alimentação
Onívoros e pouco
seletivos, embora com maiores tendências carnívoras. São predadores de camarões
menores, este sendo um componente importante na sua dieta.
Bibliografia:
- Melo GAS. Manual de
Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora
Loyola, 2003.
- Kensley B, Walker I. Palaemonid
shrimps from the Amazon basin, Brazil (Crustacea: Decapoda: Natantia).
Smithsonian Contributions to Zoology, 1982, 362, 1-36.
- Pileggi LG, Mantelatto FL. Molecular phylogeny of the freshwater prawn
genus Macrobrachium (Decapoda, Palaemonidae), with emphasis on the
relationships among selected American species. Invertebrate Systematics 24(2) 194–208. 2010.
- García-Dávila CR, Alcantára
FB, Vasquez ER, Chujandama MS. Biologia reprodutiva do camarão Macrobrachium brasiliense (Heller, 1862)
(Crustacea: Decapoda: Palaemonidae) em igarapés de terra firme da Amazônia
Peruana. Acta Amazonica. 30(4)
653-664. 2000.
- Cleto Filho SEN, Walker I. Efeitos
da ocupação urbana sobre a macrofauna de invertebrados aquáticos de um igarapé
da cidade de Manaus/AM – Amazônia Central. Acta
Amazonica. 31(1) 69-89. 2001.
- Magalhães C. Abbreviated larval development of Macrobrachium inpa Kensley and Walker, 1982 (Crustacea: Decapoda: Palaemonidae) from an Amazon Basin forest stream, Brazil, reared in the laboratory. Nauplius, 24: e2016009.
- Pileggi LG (2009) Sistemática filogenética dos camarões do gênero Macrobrachium Bate, 1868 do Brasil: análises filogenéticas e moleculares. Tese, Doutor em Ciências, área: Biologia Comparada. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil.
- Almeida LO. Estrutura populacional das espécies de camarões (Crustacea: Decapoda) dos igarapés do Campus da Universidade Federal do Amazonas, Manaus. 2010. Iniciação Científica (Graduando em Ciências Naturais) - Universidade Federal do Amazonas, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
- Chevalier J, Clavier S. (2020) Les crevettes de la réserve naturelle régionale Trésor: rapport de mission et perspectives – Rapport d’étude, 32 p.
Agradecimentos especiais aos aquaristas Mateus Silva, Caio Koppenhagen, James Bessa, Yuri Karavanskii (Ucrânia), aos zoólogos Dr. Johan Chevalier (Guiana Francesa) e Roxanne Lazarus (Austrália) por nos permitir usar suas fotos no artigo.
As fotografias de Roxanne Lazarus (iNaturalist) estão licenciadas sob uma Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu copyright pertencendo aos respectivos autores.
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