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"Macrobrachium brasiliense"  
Artigo publicado em 10/01/2012, última edição em 31/10/2021  

Macrobrachium brasiliense


Macrobrachium veredensis



 

Nome em português: Pitu, Camarão de água-doce.
Nome em inglês: -

Nome científico: Macrobrachium brasiliense (Heller, 1862)

Origem: América do Sul, continental
Tamanho: machos adultos chegam a 10 cm
Temperatura da água: 25-30° C
pH: indiferente
Dureza: indiferente

Reprodução: especializada, em água doce
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

            O Macrobrachium brasiliense é uma espécie de camarão dulcícola bem peculiar. Mostra uma aparência típica de um “Pitu”, ou seja, é um grande camarão agressivo de garras robustas. Porém, sua distribuição é continental, e tem reprodução especializada, com todo ciclo reprodutivo em água doce. Desta forma, é um excelente exemplo de que nem sempre funciona aquela regra de que “Pitus” são todos animais de rios costeiros, com reprodução primitiva.

Justamente pela possibilidade de reprodução em aquários, é uma espécie que eventualmente é disponibilizada como camarão ornamental, em especial no mercado internacional, apesar da sua agressividade. São geralmente juvenis com ricas padronagens de cor e garras vermelhas, importadas do Peru.

Porém, não é uma espécie que tenha outros interesses comerciais, não é usada na alimentação humana, exceto por algumas populações indígenas, como os yanomamis (onde é conhecido como Shuhu).


Análises genéticas recentes (2010) mostram uma proximidade filogenética grande das espécies tipicamente encontradas na Bacia Amazônica, com o M. ferreiraiM. inpaM. depressimanumM. aracamuniM. nattereri e M. brasiliense formando um clado comum. Recentemente foi descrita uma nova espécie críptica da população de afluentes do Rio São Francisco em Minas Gerais, Macrobrachium veredensis. Não podem ser diferenciados por características morfológicas, somente moleculares. 


            Etimologia: Macrobrachium vem do grego makros (longo, grande) e brakhion (braço); brasiliense significa nativo do Brasil.








Macrobrachium cf. brasiliense, fotografado no Pantanal, em Nobres, MT. Fotos de Marcelo Melo.



 




Macrobrachium brasiliense, animais ornamentais no aquarismo alemão, importados do Peru como "Red Claw Macro". Fotos de Chris Lukhaup.




Origem

Este camarão é encontrado em praticamente toda a região tropical e subtropical da América do Sul, dos países do extremo norte do continente ao Sul do Brasil. Há registros de ocorrência na Venezuela, Colômbia, Guiana e Guiana Francesa, Suriname, Equador e Peru, além do Brasil.  

Vive em variados ambientes, desde lagos e represas até várzeas e rios com correnteza, de variados substratos. Podem ser coletados em águas negras ácidas da floresta amazônica, ricas em material orgânico húmico, de baixo pH (até 5.6). Tolerante a variadas temperaturas, são coletados em locais cuja temperatura pode ser desde 18 até 31º C. É um dos poucos palaemonídeos a serem encontrados em grandes altitudes, há registros de coletas acima de 1100 metros acima do nível do mar.




Macrobrachium brasiliense, fotografado no Pantanal. Foto de Marcelo Krause.














Macrobrachium brasiliense fotografado no Parque Estadual Cristalino, em Alta Floresta (MT). Em algumas imagens podem ser vistos também caramujos Aylacostoma, e um Corydora. Fotos de Richard C. Hoyer.





 

Aparência

 

São camarões de médio a grande porte, machos atingindo 10 cm, e fêmeas 7 cm. Possuem um aspecto bem semelhante a outros “pitus”, com corpo robusto e alongado, grandes garras. Porém, ao contrário destes, possuem uma carapaça áspera, com finas espinulações.

Camarões menores são translúcidos, vermelho-pálido até incolor, mas com o crescimento desenvolvem uma cor café escura, quase negra, eventualmente vermelho-tijolo. Fêmeas têm uma faixa de cor amarelo clara, longitudinal e irregular na região dorsal mediana, desde o cefalotórax até o abdômen.

Um achado bem característico desta espécie é a proporção entre os segmentos da “mão” do quelípodo, machos adultos possuem os dedos bem mais curtos do que a palma, numa proporção de 1,5~2,0 (palma/dáctilo). Não é exclusivo desta espécie, mas auxilia bastante na sua identificação.

Há dois morfotipos nos machos adultos, "Açu", com características sexuais mais demarcadas, quelas mais desenvolvidas, maiores dimensões e cor mais escura, e "Mirim", menor, mais claro e com características sexuais menos demarcadas. Os nomes têm origem no Tupi-Guarani, e significam respectivamente Grande e Pequeno.


Filogeneticamente são muito próximos do Macrobrachium nattereri, uma espécie da Bacia Amazônica, adultos destas duas espécies são muito parecidos, e de difícil distinção. Análises genéticas (16S rDNA) colocam estas duas espécies como irmãs. Pode ser confundido também com o M. ferreirai, e o M. aracamuni


Rostro: Reto e um pouco alto, do comprimento aproximado do escafocerito. Margem superior com 8~11 dentes distribuídos uniformemente, 1 ou 2 atrás da órbita. Margem inferior com 2~3 dentes.

Quelípodos dos machos: Longos e relativamente grossos, discreta assimetria, com finos espinhos. Dedo bem mais curto do que o restante do própodo, numa proporção de 1,5~2,0 (palma/dáctilo).







Macrobrachium brasiliense, macho adulto, na última foto o quelípodo maior e o rostro são bem visíveis. O dedo móvel (dáctilo) está quebrado na extremidade. Mesmo assim, na imagem fica clara a grande desproporção entre os dedos e palma. Os finos espinhos também são visíveis. Imagens cedidas por Rony Suzuki.




Macrobrachium brasiliense, macho adulto, visão superior. A assimetria das garras do macho é bem vista nesta foto, assim como a forma do telso. Imagens cedidas por Rony Suzuki.

 


Macrobrachium brasiliense, macho adulto. Note o aspecto do rostro. Imagem cedida por Rony Suzuki.

 




Macrobrachium brasiliense, fêmea adulta. Este exemplar possui a típica faixa clara na região dorsal. Note também as garras menores e simétricas. Imagens gentilmente cedidas por Rony Suzuki.



 

Parâmetros de Água

 

Devido à sua distribuição bem ampla, vivendo em variados ambientes, é uma espécie bastante tolerante quanto às condições da água. Se desenvolve melhor entre 25 e 30°C, pH e dureza menos críticos.






Macrobrachium brasiliensis, fotografado na Guiana Francesa, onde não há registro oficial da espécie. Fotos cortesia de Johan Chevalier.



Dimorfismo Sexual

Bem demarcado, machos são bem maiores e mais robustos, com garras mais desenvolvidas. Fêmeas também têm uma típica faixa de cor amarelo clara, longitudinal e irregular na região dorsal mediana, desde o cefaolotórax até o abdômen. Também podem ser diferenciados pela análise dos órgãos sexuais, mas isto é bem difícil em animais vivos.





Macrobrachium brasiliense, fêmea juvenil, animal coletado em Marília, SP. Foto de Walther Ishikawa.






Reprodução

Por ter reprodução especializada, o Macrobrachium brasiliense pode ser facilmente reproduzido em aquários. Geram poucos ovos de grandes dimensões, de 15 a 170 ovos medindo cerca de 2,0 mm de diâmetro, de cor alaranjada. Têm todo seu ciclo de vida em água doce, não necessitando de água salobra. Período reprodutivo no verão, em épocas chuvosas.

O tempo de desenvolvimento dos ovos é longo, cerca de 7 semanas. Os filhotes já nascem bem desenvolvidos, camarões miniatura medindo cerca de 7 mm. Têm comportamento bentônico, passando a maior parte do tempo no substrato (ao invés de formas larvares natantes das espécies de reprodução primitiva). Desde o nascimento já aceitam alimentação inerte, o que leva a uma alta taxa de sobrevivência da prole, mesmo em aquários domésticos.

Na natureza, há uma desproporção de machos e fêmeas, estas últimas mais numerosas numa proporção de 3:1. Alguns autores acreditam que possa haver reversão sexual nesta espécie de camarão.




Macrobrachium brasiliense, juvenil. Imagem gentilmente cedida por Caio Sampaio.

 

Macrobrachium brasiliense, juvenil, close da carapaça e rostro. Imagem cedida por Caio Sampaio. Note o rostro curto, com dentes de distribuição regular, somente 1~2 atrás da órbita.

 


Macrobrachium brasiliense, juvenil, mostrando as quelas. Veja como a desproporção dos dedos em relação à palma é menos evidente em exemplares juvenis. Imagem cedida por Caio Sampaio.





Comportamento

Agressivo, comportamento que se acentua com o crescimento do animal. Não pode ser mantido com peixes ou outros animais. Predam os peixes, principalmente durante a noite, quando estes dormem. Por outro lado, tornam-se vulneráveis após a ecdise, enquanto seu exoesqueleto ainda não está totalmente solidificado.

Tem também um comportamento canibal, populações adultas mantidas juntas por muito tempo se devoram progressivamente, ou indivíduos dominantes se alimentando dos menores, ou animais (mesmo grandes) sendo devorados após a muda. Desta forma, idealmente recomenda-se a manutenção de um único animal adulto em um tanque dedicado.

São animais de hábitos noturnos, ficando entocados durante o dia, principalmente os adultos.








Macrobrachium brasiliense fotografado na Gruta Azul, em Cocalinho (MT). Fotos de Cristiano Oliveira.



Alimentação

Não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a ração dos peixes. Caçam ativamente outros animais, inclusive outros camarões, e destroem também plantas ornamentais.

 


 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Mantelatto FLM, Barbosa LR. Population structure and relative growth of freshwater prawn Macrobrachium brasiliense (Decapoda, Palaemonidae) from São Paulo State, Brazil. Acta Limnol. Bras., 17(3):245-255, 2005.
  • Vasquez E, Chujandama M, García C, Alcântara F. Caracterización del Hábitat del Camarón Macrobrachium brasiliense en Ambientes Acuáticos de la Carretera Iquitos-Nauta. Folia Amazónica Vol. 10 (1-2) – 2000.
  • Pimentel FR. Taxonomia dos Camarões de Água Doce (Crustacea: Decapoda: Palaemonidae, Euryrhynchidae, Sergestidae) da Amazônia Oriental: Estados do Amapá e Pará. Dissertação (Mestrado). MCT/INPA, Manaus, 2003.
  • Garcia-DÁvila CR, Magalhães C. Revisão taxonômica dos camarões de água doce (Crustacea: Decapoda: Palaemonidae, Sergestidae) da Amazônia Peruana. Acta Amazônica 33(4): 663-686.
  • Valencia DM, Campos MR. Freshwater prawns of the genus Macrobrachium Bate, 1868 (Crustacea: Decapoda: Palaemonidae) of Colômbia. Zootaxa 1456: 1–44 (2007).
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  • Pantaleão JAF, Gregati RA, Taddei FG, Costa RC. Morphology of the first larval stage of Macrobrachium brasiliense (Heller, 1862) (Caridea: Palaemonidae). Nauplius 19(1): 79-85, 2011.
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  • Acosta OEB. Bioecología del camarón de río amazónico Macrobrachium brasiliense. Tesis, Licenciatura en Ciencias Biológicas. Facultad de Ciencias Exactas y Naturales, Pontificia Universidad Católica del Ecuador. Quito, 2015.
  • Pileggi LG (2009) Sistemática filogenética dos camarões do gênera Macrobrachium Bate, 1868 do Brasil: análises filogenéticas e moleculares. Tese, Doutor em Ciências, área: Biologia Comparada. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil.
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  • Mesquita ER. Análises morfológicas e moleculares do camarão Macrobrachium brasiliense (Heller, 1862) (Crustacea, Palaemonidae) ao longo de sua distribuição. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto.
  • Nogueira CS, Pantaleão JAF, Almeida AC, Costa RC. Male morphotypes of the freshwater prawn Macrobrachium brasiliense (Decapoda: Caridea: Palaemonidae). Invertebr Biol. 2020; 139:e12279.
  • Rossi N, Magalhães C, Mesquita ER, Mantelatto FL. 2020, Uncovering a hidden diversity: a new species of freshwater shrimp Macrobrachium (Decapoda: Caridea: Palaemonidae) from Neotropical region (Brazil) revealed by morphological review and mitochondrial genes analyses. Zootaxa, v. 4732, n. 1, p. 177–195.  


 

Agradecimentos especiais aos colegas aquaristas Rony Suzuki, Caio Sampaio, Dr. Johan Chevalier (Guiana Francesa), aos fotógrafos Marcelo Krause (seu website pode ser visto do  aqui ) e Cristiano Oliveira, ao ictiólogo Dr. Marcelo Melo, e também ao colega norte-americano Richard C. Hoyer pela cessão das fotos para o artigo. Richard é Líder Sênior do Grupo de Observação de Pássaros WINGS. Visite seu Blog  aqui .



A fotografia de Walther Ishikawa está licenciada sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
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