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Camarão Red Cherry  
Artigo publicado em 10/01/2012, última atualização em 24/01/2022  


Nome comum: Camarão "Red Cherry" / Red Cherry Shrimp
Nome Científico: Neocaridina davidi Bouvier 1904
Origem: Ásia
Tamanho macho/fêmea: 2.0 / 2.5 cm
Temperatura da água: 20º - 30°C
pH ideal: 6.8 - 7.4
GH ideal: 
4 - 7

KH ideal: 2 - 5
TDS: 200 - 300
Taxa de reprodução: Alta
Comportamento: Pacífico
Dificuldade: Fácil


Visão global

O Red Cherry é sem dúvida o camarão ornamental mais popular de todos, devido à sua beleza, fácil reprodução, bem como sua capacidade de viver em vários parâmetros diferentes de água. A maioria dos aficionados por camarão começa com esta espécie devido aos seus poucos requisitos e também para aprender sobre camarões anões de maneira geral. Depois de adquirir experiência no hobby através da criação do Red Cherry, a maioria dos hobistas cria espécies mais difíceis, como Tiger e o Red Crystal. Outros nomes para esta espécie são Cherry, Cherry Red ou mesmo camarão Cereja, a sigla RCS significa simplesmente Red Cherry Shrimp. 


Um camarão para iniciantes

Eu recomendo fortemente que todo recém-chegado ao hobby de criação de camarão de água doce comece com o Red Cherry. Este camarão vai lhe ensinar muito, e os erros provocados, inclusive a morte de camarões, podem ser superados devido à sua grande capacidade de reproduzir. Você também não vai querer cometer erros com outras espécies mais caras. Os camarões Red Cherry são os camarões mais baratos no hobby.

 


Taxonomia

Há décadas este camarão tem sido criado por aquaristas orientais como controlador de algas, e após a seleção de formas coloridas (como o Red Cherry), passou a ser uma das espécies ornamentais mais extensamente criadas no mundo, mesmo nunca se sabendo exatamente qual era a sua espécie.


Em 1999, foram detectadas grandes populações estabelecidas em diversos riachos e lagos de ilhas havaianas, todas originárias de animais introduzidos no país como alimento vivo de peixes e iscas de pesca. Estes espécimes foram analisados pelo Dr. Englund e Dr. Cai, e identificados como Neocaridina denticulata sinensis (Kemp 1913). Muitas fontes desatualizadas na internet ainda usam esta identificação para o Red Cherry.


Em 2002 o carcinologista chinês Dr. Liang descreve uma nova espécie, Neocaridina heteropoda, separando-a de N. denticulata devido ao seu pronunciado dimorfismo sexual. Dois anos depois publica uma revisão sobre os Atyideos de água doce da China, onde considera as espécies N. denticulata sinensis e Caridina davidi Bouvier, 1904 como sendo sinônimos de N. heteropoda. Com isso, o Red Cherry passou a ser classificado como Neocaridina heteropoda Liang, 2002.


Em paralelo, houve também uma revisão da taxonomia do Caridina davidi. Em sua revisão do gênero Neocaridina em 1996, Dr. Cai transfere C. davidi ao gênero Neocaridina, considerando-a uma subespécie de N. denticulata (N. denticulata davidi). Porém, diversos autores (como Dr. Klotz) consideram espécies distintas, baseadas nas suas marcadas diferenças morfológicas. Desta forma, a maioria dos autores considera Neocaridina davidi como espécie distinta e válida.


Voltando ao N. heteropoda, em 2007 Dr. Shih e Dr. Cai declaram que C. davidi deveria ser o sinônimo sênior, tendo prioridade sobre N. heteropoda, por ter sido descrito previamente (artigo 23 do ICZN). Desta forma, atualmente o Red Cherry é classificado como Neocaridina davidi Bouvier, 1904. Alguns pesquisadores (como o Dr. Klotz) compararam diversos Hong Kong Blue e Red Cherry criados em aquários com o material tipo de N. davidi depositado no Museu de História Natural de Paris, confirmando a identificação.


Análises genéticas realizadas em 2014 com DNA mitocondrial demonstraram uma proximidade filogenética muito grande entre o N. davidi e N. palmata, explicando o encontro de híbridos dentre estas duas espécies, eventualmente férteis.




Aspecto

Neocaridina davidi é um camarão anão, as fêmeas atingem uma dimensão máxima de 40 mm (dimensão média de 25 mm para fêmeas e 20 mm para machos).

Seu rostro é delgado, comprimento médio, não ultrapassando a extremidade distal do terceiro segmento antenal. 9~22 dentes dorsais, 2~3 destes atrás da margem posterior da cavidade orbital. 1~9 dentes ventrais. Carapaça sem espinho supraorbital, com espinho antenal bem desenvolvido e um pequeno espinho no ângulo pterigostomial. Dois detalhes permitem a diferenciação dos Neocaridina dos Caridina: presença de endópodo no primeiro pleópodo, e o aspecto do appendix masculina no segundo pleópodo.



Macho e fêmea de "Red Cherry".

 


Origem e Habitat

A forma selvagem deste camarão tem uma ampla distribuição geográfica no Sul da China, Taiwan, Japão, Coréia e Vietnã. Bastante adaptável, habitam locais variados, encontrados em pequenos córregos montanhosos, canais agrícolas, riachos, lagos e represas, mais comuns em habitats de leito rochoso e vegetação densa. São ambientes de clima temperado, com a temperatura caindo para 0°C no inverno e podendo ultrapassar 30°C no verão. Muitos dos seus biótipos mostram congelamento da sua superfície no rigoroso inverno. Esta plasticidade explica a sua resistência a parâmetros variáveis em cativeiro.


Desde a década de 90 é usada em aquarismo, inicialmente em Taiwan, depois se espalhando por toda a China, e posteriormente Japão. Este uso é anterior ao desenvolvimento de formas ornamentais, no início era utilizado como controlador de algas (semelhante ao Amano), ou como alimento vivo. O Japão importava grande quantidade desta espécie também como isca de pesca. A variedade Red Cherry foi desenvolvida por reprodução seletiva por criadores de Taiwan, e disponibilizado no ocidente pela primeira vez por um importador alemão em 2002.


Já é identificado em algumas localidades como espécie invasora, em todos os casos decorrentes de uma liberação acidental ou intencional de indivíduos de aquário. Há registros de múltiplos focos de introdução no continente chinês, além da sua área nativa de ocorrência. Desde 1999 é encontrado em grande número no Havaí, em lagos de O'ahu, e em rios e canais de Nu'uanu Ho'omaluhia. Desde 2004 é encontrado no Lago Biwa, o maior lago de água doce do Japão, em Honshu. Na Europa já está presente como invasor, principalmente em locais onde há água aquecida, como próximo a usinas termonucleares (desde 2003 no Rio Oder, Polônia, e desde 2013 no Rio Erft, Alemanha) e em fontes termais de Miskolc, Hungria (desde 2017). 



Parâmetros da água

Muito robusto, o camarão Red Cherry pode tolerar diferentes parâmetros de água. Podem ser criados em uma faixa de pH de 6,0 a 8,0 (ideal entre 7,0 e 7,4), tanto água mole quanto dura, temperaturas de 22ºC a 29ºC e em diversos substratos. Via de regra, o Red Cherry pode viver na maioria dos aquários de água doce que não contenham predadores, mas se a idéia é reproduzi-los, o melhor é um tanque monoespécie. Algumas pessoas já mantiveram esta espécie até em lagos e em aquários sem filtros, mas não é recomendável. Em outras palavras o Red Cherry é o camarão mais resistente para aquários de água doce.



Alimentação


A alimentação dos camarões Red Cherry também é muito fácil, não são nada exigentes, aceitando virtualmente qualquer tipo de alimento para peixes ou camarões ornamentais. Eles comem qualquer ração industrial para peixes ou camarões, além de espinafre, abobrinha, algas, minhocas, e muito mais.

   

Observar os camarões se alimentando dá uma boa idéia sobre a sua saúde, além, é claro, deles estarem se reproduzindo bem. Se uma colônia de Red Cherry é saudável, então os animais irão correr para a comida e saltar todos uns sobre os outros na tentativa de agarrar um pedacinho, quase como formigas. E se você encontrar bebês, este é um sinal de que as coisas estão indo muito bem. Camarões se alimentando sem entusiasmo e constantemente se escondendo é um indicador de que as coisas não vão muito bem. 


O melhor é alimentá-los uma vez por dia. Apenas uma quantidade de alimento que o camarão pode terminar no prazo de 2-3 horas, no máximo. Não é bom alimentá-los em excesso, deixando sobras de comida no aquário por muito tempo. Superalimentação (overfeeding) é uma conhecida causa de morte e também pode causar deterioração da qualidade da água. Lembre-se que os camarões são necrófagos por natureza. Eles comem tudo o que encontrar e não são acostumados a uma fonte de alimento constante (24/7). Não alimentar por um ou dois dias não irá prejudicá-los em nada. Pode ser interessante periodicamente deixar de alimentá-los por alguns dias para deixar os camarões limparem as sobras no aquário, e manter o aquário limpo.

 

Um detalhe importante a ser lembrado é que a cor vermelha desta variedade de camarão é devido a um pigmento lipídico intracelular, e é necessário que o camarão tenha uma dieta balanceada para sua síntese. Particularmente, os carotenóides são importantes, e podem ser fornecidos por cenouras, pimentão vermelho, Cyclops, bem como rações industriais ricos em carotenóides. Se, apesar de uma alimentação adequada, estes camarões não apresentarem uma cor vermelha, é um sinal de que os parâmetros ambientais podem estar inadequados.




Ovos em estágio avançado de desenvolviemnto, com olhos visíveis.



Bebê "Red Cherry".



Reprodução

Diferente dos Caridina e camarões palaemonídeos (como os Macrobrachium), todos os Neocaridina têm uma forma completamente suprimida de reprodução, os ovos são grandes, e não há fase planctônica, as larvas já nascem numa forma bentônica. 


O camarão Red Cherry é extremamente prolífico, o que significa que eles se reproduzem rapidamente e praticamente todo o dia. Uma colônia saudável se multiplica rapidamente e as fêmeas estarão constantemente grávidas.


O ovário está localizado na região dorsal da fêmea, na região dorsal da transição entre o cefalotórax e abdômen, em forma de “sela”. É aqui que a maturação dos ovos ocorre. Com os ovos maduros, ocorre uma muda (ecdise) pré-acasalamento, e a provável liberação de ferormônios na coluna d´água, atraindo camarões machos sexualmente maduros. Ocorre um "nado nupcial", onde os machos procuram freneticamente as fêmeas, mas apenas um deles irá fecundar a fêmea. Todo o processo (muda e cópula) dura menos de 10 segundos. Durante a cópula o casal fica ventre-a-ventre, e o macho deposita o saco de esperma usando seu appendix masculina na abertura genital feminina, que se localiza entre as pernas ambulatórias (pereiópodes).


A expulsão dos ovos para fora da abertura genital ocorre de poucos minutos a algumas horas mais tarde. Neste meio tempo, ocorre também a dissolução do revestimento do saco seminal, permitindo a fertilização. Os ovos são fertilizados quando são eliminados pela fêmea, ao se dirigirem para a câmara incubadora ventral, formada pelos pleópodes e o crescimento das pleuras abdominais. No dia seguinte após a cópula, a fêmea é vista carregando ovos fertilizados. Os ovos são fixos aos pleópodes com uma substância pegajosa, incubados na câmara até a eclosão. Durante a incubação, a fêmea assegura a oxigenação adequada dos ovos, com movimentação rítmica dos pleópodes, e limpa os ovos usando o quinto par de pernas ambulatórias. Também elimina ovos não fertilizados ou mortos.


São ovos grandes, de forma ovalada, com cor variando de esverdeado a amarelado, medindo em média 1,2 mm ao final da gestação. Tipicamente a gestação dura de 15 a 45 dias até a eclosão dos ovos. Os ovos vão se tornando mais claros e translúcidos à medida que se desenvolvem. A melhor maneira de saber se os ovos estão prestes a eclodirem é pelo aparecimento de um par de olhos escuros no interior de cada ovo. Outra maneira de saber é pelo aparecimento de uma nova sela enquanto a fêmea ainda possui ovos. O surgimento da sela é a indicação de que a fêmea está se preparando para ter um novo conjunto de ovos e que os seus ovos antigos estão perto de eclodirem.


Os filhotes recém-nascidos parecem pequenas miniaturas dos pais, medindo em média 2,3 mm, transparentes, acinzentados e quase invisíveis a olho nu. A prole varia de 20 a 50 filhotes, maior quanto maior a fêmea. Larvas se tornam juvenis em 60 dias, ainda indiferenciados sexualmente. Juvenis demoram 15 dias para maturidade sexual. Fêmeas maduras são identificadas pela presença da sela alaranjada. Duas semanas após o nascimento, os filhotes já vão se tornando mais e mais pigmentados.


A longevidade desta espécie é de cerca de 1,5 anos.



Sexagem

A sexagem do Red Cherry é muito fácil. As fêmeas são fáceis de identificar, sendo maiores que os machos, e com uma coloração vermelha muito mais escura e intensa. As fêmeas também têm a região ventral do abdômen expandido e curvado, formando a câmara de incubação dos ovos. Nas fotos podem ser vistas como o macho é menor, tem pouca pigmentação vermelha, e a região ventral abdominal é uma linha reta sem nenhuma curvatura.


As fêmeas também têm uma “sela” que é o nome comum para os ovos que ainda estão nos ovários, situado na região posterior do cefalotórax, e transição com o abdômen. É assim chamado devido à semelhança com uma sela de cavalo. A maioria dessas selas é de cor amarela, porém também pode ser verde. As selas são um sinal de maturidade sexual, sinal de que logo ela terá seus ovos fecundados.


Não há uma boa explicação para a cor dos ovos serem verde ao invés de amarela. Os Neocardina davidi selvagens têm uma sela verde, a mesma expressão genética deve estar se manifestando na cor dos ovos. Os ovos do Red Cherry são na maior parte das vezes amarelas, mas podem ser verdes também. Se a sela está verde, os ovos serão verdes, e vice-versa. Não há diferença entre ter ovos de cor verde ou amarela, em termos de qualidade da prole, e também não é um indicador de saúde. Nesta página podem ser vistos exemplos de diferentes cores de selas e ovos no Red Cherry.



Fêmea com sela amarela.



Fêmea com sela verde.

 

Fêmea com ovos verdes.


 

Bibliografia adicional:

  • Klotz W, Miesen FW, Hüllen S, Herder F. Two Asian fresh water shrimp species found in a thermally polluted stream system in North Rhine-Westphalia, Germany. Aquatic Invasions (2013) Volume 8, Issue 3: 333–339.
  • Barbier C. Crevettes d´eau douce en aquariophilie: exemple de maintenance de la Neocaridina heteropoda pour les débutantes. Thèse d´exercice, Médicine vétérinaire, Toulouse 3, 2010, 100p.
  • Nur FAH, Christianus A. 2013. Breeding and Life Cycle of Neocaridina denticulata sinensis (Kemp, 1918). Asian Journal of Animal and Veterinary Advances, 8: 108-115.
  • Klotz W, von Rintelen T. 2014. To “bee” or not to be—on some Ornamental Shrimp from Guangdong Province, Southern China and Hong Kong SAR, with Descriptions of Three New Species. Zootaxa. 3889(2): 151–184.
  • Weiperth A, Gábris V, Danyik T, Farkas A, Kuříková P, Kouba A, Patoka J. Occurrence of non-native red cherry shrimp in European temperate waterbodies: A case study from Hungary. Knowl. Manag. Aquat. Ecosyst. 2019420, 9.
  • Jabłońska A, Mamos T, Gruszka P, Szlauer-Łukaszewska A, Grabowski M. 2018. First record and DNA barcodes of the aquarium shrimp, Neocaridina davidi, in Central Europe from thermally polluted River Oder canal, Poland. Knowl Manag Aquat Ecosyst 419: 14.





Tradução e adaptação: Guilherme Anjos, atualizado por Walther Ishikawa  
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