- - Planeta Invertebrados Brasil -

Nome Comum: Neocaridina Híbrido / Camarão Chocolate
Nome Científico: Neocaridina davidi x Neocaridina palmata
Origem: -
Tamanho macho/fêmea: 2.0 / 2.5 cm
Têmperatura da água: 22º - 28 °C
Parâmetros da água: pH 7.0 - 7.4
Taxa de reprodução: Geralmente estéreis
Comportamento: Pacífico
Dificuldade: Muito Fácil

Híbridos são cruzamentos de duas espécies diferentes de plantas ou animais, um exemplo comum entre os animais é a Mula, resultante do cruzamento de um Jumento e uma Égua. Com a popularização da criação de diversas espécies de camarões-anões, começaram a surgir inúmeros relatos de híbridos. No Brasil, a disponibilidade de espécies é menor, assim, o único camarão híbrido encontrado com certa frequência é o cruzamento de “Red Cherry” (Neocaridina davidi) com o “Blue Pearl” (Neocaridina palmata).

Muitos aquaristas dedicados à criação de camarões são contra estas hibridizações, da mesma forma que criadores de cães com pedigree são contra a mistura de raças distintas gerando “vira-latas”. Não há problema algum com estes camarões híbridos em si, mas é importante sabermos que são híbridos, geralmente são produtos de cruzamentos acidentais e indesejados. Especialmente porque muitas lojas vendem estes camarões como uma nova variedade, eventualmente até por preços superiores ao “Red Cherry” ou “Blue Pearl”. E este fato é ainda mais grave, se lembrarmos que estes híbridos são estéreis. Uma confusão muito comum é estes híbridos serem identificados como formas selvagens do N. davidi ou N. palmata, por serem parecidos superficialmente com estes camarões selvagens. E também devido a um erro conceitual bastante comum entre aquaristas:

O nosso colega e colaborador Mustafa Ucozler (administrador do Portal Petshrimp) tem um artigo bem interessante onde ele aborda esta questão (veja o artigo aqui ). Existem inúmeros relatos na internet de “Red Cherry” “revertendo” à sua coloração selvagem. Em outras palavras, estes aquaristas encontram inexplicavelmente alguns camarões de cor clara ou marrom na sua criação de “Red Cherry”. A explicação mais frequente é que de tempos em tempos ocorre uma “regressão genética” espontânea, ou seja, plantéis de “Red Cherry” de cor vermelha irão produzir em algum momento filhotes com padrão de cor selvagem, de forma natural e inevitável.

O Camarão “Red Cherry” é uma mutação de cor vermelha do camarão Neocaridina davidi, que foi selecionado através de criações seletivas. Mutações são aleatórias, e eventos incomuns. Desta forma, estas mutações de cor são extremamente raras na natureza, ocorrem esporadicamente em grandes populações, mas são naturalmente eliminadas, porque animais com estas cores chamativas são mais predados do que a população geral.

As mutações reversas ocorrem, também chamadas de retromutações, mas são muito, muito raras. No nosso caso, para um “Red Cherry” “regredir" à forma selvagem, seria necessária uma nova mutação espontânea (o que já é um evento raríssimo), e acometendo exatamente aquele gene responsável pela coloração vermelha do camarão. Ou seja, a chance deste evento é de “um em um milhão”. Outro mecanismo seria uma nova mutação que, independente do mecanismo, gerasse o fenótipo original pré-mutação. Ou seja, uma segunda mutação que cancelasse os efeitos da primeira. Uma nova proteína inibindo a coloração vermelha, etc. Este mecanismo (mutação supressora) é um pouco mais comum do que o primeiro (reversão verdadeira), mas mesmo assim é um evento extremamente raro.

Mustafa Ucozler faz uma comparação bem interessante e divertida no seu artigo: Este evento seria semelhante a uma criação de Poodles gerar espontaneamente um cão parecido com um Lobo!

Camarões selvagens Neocaridina palmata (primeira foto, de Chris Lukhaup) e Neocaridina davidi (segunda foto, de Xema Romero Leon).

Até agora falamos de Hibridização Interespecífica (ou seja, entre duas espécies diferentes). Porém, também é considerado híbrido o cruzamento de duas sub-espécies, como entre um Cão (Canis lupus familiaris) e Lobo (Canis lupus lupus), neste caso, produzindo descendentes férteis. Cruzamentos de raças diferentes não é considerado hibridização, como entre duas raças de cães. Mas o aspecto de um camarão resultante do cruzamento de duas variedades distintas da mesma espécie (raças) pode ser muito parecido com estes camarões híbridos.

Com a maior disponibilidade de variedades de camarões ornamentais no Brasil, em breve serão muito frequentes os cruzamentos de raças diferentes, como entre o “Red Cherry” e “Yellow” (ambos N. davidi). Precisamos estar cientes deste fato, porque, ao contrário dos híbridos N. davidi x palmata, estes camarões misturados são férteis. E o fenótipo destes camarões é mais heterogêneo, podem ter um aspecto avermelhado, mas produzir filhotes com aspecto distinto nas gerações seguintes.

Neocaridina híbrido, filhotes em diferentes idades, mostrando a alteração na sua cor. Fotos de Fábio Galvão de Freitas.

Sua sexagem pode ser feita da mesma forma que outros camarões ornamentais: As fêmeas são maiores que os machos, têm uma coloração mais escura, e também têm um ventre mais baixo e abaulado. O único sinal que não pode ser utilizado é a “sela” da fêmea, por serem animais estéreis. Um aspecto interessante é que podem ser mantidos com outras espécies de Neocaridina, como o “Red Cherry” ou “Blue Pearl”. isto porque, por serem estéreis, obviamente não vai haver hibridização.

Agradecimentos especiais aos colegas aquaristas Fábio Galvão de Freitas, pela cessão das fotos para o artigo, e a Mustafa Ucozler (EUA), por valiosas informações. Mustafa é o responsável pelo conceituadíssimo portal de Camarões Ornamentais Petshrimp .