Égla
– Aegla strinatii
Nome
em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água
doce
Nome em inglês: -
Nome científico: Aegla strinatii Türkay, 1972
Origem:
Somente no município de Eldorado, sul de SP, Brasil
Tamanho:
carapaça com comprimento de até 2,6 cm
Temperatura: 17-23° C
pH: sem dados
Dureza: sem dados
Reprodução: especializada,
todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: pacífico
Importante!!
O Aegla strinatii
é uma espécie ameaçada, apesar de não
constar no Livro Vermelho do MMA/IBAMA. Estima-se a população total desta espécie de Égla em somente 2500
indivíduos, distribuídos em uma área geográfica de 500 km2,
felizmente dentro de uma APA. Uma proposta de
revisão do Livro Vermelho publicada em 2012 a classifica como EN (“Em perigo”) - EN B2ab(iii).
Desta forma, esta espécie não pode e
não deve ser coletada na natureza, ou mantida em cativeiro. A ficha desta espécie consta nesta seção não como um
“caresheet” para a sua criação em aquários, mas sim como um repositório de
informações sobre esta espécie, tão rara e preciosa.
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Apresentação
Églas são crustáceos
dulcícolas únicos, exercendo um grande fascínio tanto para zoólogos quanto para
aquaristas amadores. Algumas espécies são criadas já há algum tempo nos nossos
países vizinhos, relativamente populares como animais de aquário na Argentina,
Chile e Uruguai. Alguns aquaristas do sul do Brasil também têm criado estes
crustáceos com sucesso.
Entretanto, os
Églas têm algumas peculiaridades ecológicas que os tornam bem vulneráveis a perturbações
ambientais, especialmente à degradação por ação humana. Vivem principalmente em
rios límpidos, em áreas bem oxigenadas mais próximas às suas nascentes. Habitam
nichos relativamente estáveis, não possuindo mecanismos de adaptação para
mudanças repentinas no seu habitat. Possui reprodução abreviada, os filhotes
não passam por uma fase larvar natante, desta forma possuindo uma capacidade de
dispersão ambiental bastante limitada.
Por tudo isto, os
Églas têm um endemismo muito grande, com muitas espécies habitando áreas
geográficas bastante restritas, algumas delas só sendo encontradas nas suas
localidades-tipo. É o caso do Aegla strinatii,
uma espécie cavernícola facultativa, encontrada somente no Parque Estadual de
Jacupiranga, Alto Ribeira, Eldorado (sul de SP). Até hoje, esta espécie
só foi identificada em três locais dentro do parque.
Apesar de serem muitas vezes
referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra
infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero
atual, Aegla, exclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da
América do Sul, com próximo de 60 espécies
brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécies neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma
única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.
Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle, uma das três Hespérides, donas do
jardim dos pomos de ouro, situado no extremo ocidental do mundo. E strinatii é uma homenagem ao bioespeleólogo
suíço Pierre Strinati, que coletou o primeiro espécime em 1968.
Origem
Églas são crustáceos com
distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes
dulcícolas das regiões temperadas do continente.
O Aegla strinatii tem uma distribuição
geográfica muito restrita, sendo encontrado somente em três localidades, com
uma área de ocupação estimada em menos de 500 km2, população de
adultos estimada em menos de 2500 indivíduos (2007), com declínio contínuo da
qualidade do habitat.
A. strinatii é endêmica do município de Eldorado, região
sul de SP, próximo à divisa com PR. Ocorre no interior do Parque Estadual de Jacupiranga, Alto Ribeira, uma APA. Foi
primeiramente descrita no Rio das Ostras, formador da Gruta da Tapagem,
popularmente conhecida como Caverna do Diabo. Dois outros focos de ocorrência
no próprio Rio Ribeira de Iguape, e também recentemente na Caverna do Rolado,
dentro do mesmo núcleo espeleológico.
É considerada uma
espécie Troglófila, com populações auto-sustentáveis identificadas dentro e
fora de cavernas, com trânsito livre entre estes dois ambientes.
Distribuição geográfica de Aegla strinatii. Imagem
original Google Maps; dados de Bond-Buckup G. 2003.
Aparência
Lembra
bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente
e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa
análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen
relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O
próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa
visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos
quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob
o abdômen e não possui função locomotora.
- Rostro curto, triangular e largo na base, carenado em todo seu comprimento
- Espinho ântero-lateral da carapaça não alcançando a base da córnea
- Carapaça deprimida
- Lobos protogástricos presentes, às vezes obsoletos
- Linha dorsal transversa muito sinuosa
- Ângulo látero-dorsal da segunda pleura inerme
- Crista palmar mais disciforme na quela menor do macho, mais retangular na quela maior
- Dedo móvel do quelípodo sem lobo
- Margem interna da face ventral do ísquio apenas com dois tubérculos, um distal, outro proximal, e entre eles tubérculos escamiformes
Aegla strinatti, fotografada na caverna do Núcleo dos Caboclos, em Iporanga, SP (PETAR, Vale do Ribeira). Fotos gentilmente cedidas por Foca Afonso.
Parâmetros
de Água
No seu
ambiente natural vivem em riachos de baixa temperatura, dentro e fora das
cavernas. Poucos dados existem sobre os demais parâmetros físico-químicos. Como
outras Églas, demandam também alta taxa de oxigenação, e são bem sensíveis a
compostos nitrogenados.
Dimorfismo Sexual
Bem demarcado, machos são maiores
e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais
desenvolvidos.
Reprodução
Mostram um padrão reprodutivo descontínuo e sazonal, reproduzem-se uma vez ao ano. Acasalam no verão, produzem ovos no
outono/inverno (Maio a Setembro), e o cuidado parental se dá na primavera. É o
padrão habitualmente encontrado em espécies de Aegla, de acordo com a variação de latitude e clima.
Produzem até 325 ovos de cada vez
(média de 186), com um tempo de incubação bastante prolongado, de cerca de três
meses. Produzem ovos de grandes dimensões (1 a 1,4 mm), apresentam desenvolvimento
pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo.
Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao
adulto.
Provavelmente esta espécie tem cuidado
parental, mas existem poucos dados.
Comportamento
Hábitos noturnos, passando o dia entocado, saindo somente à
noite para se alimentar. Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros
animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação
completa da carapaça.
Sua longevidade é
estimada em cerca de 34 meses.
Alimentação
Poucos dados existem, possivelmente são
onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em decomposição,
vegetal e animal.
Bibliografia:
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Trichodactylidae) from the Jacupiranga State Park, South of São Paulo State,
Brazil.
Nauplius
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Agradecimentos especiais ao Prof. Dr. Sergio Luiz de Siqueira Bueno
(LEEUSP – Laboratório de Estudo dos Eglídeos da USP), pela cessão da
foto para o artigo, agradecemos também a Sérgio Schwarz da Rocha, autor da foto original. Agradecimentos também a Foca Afonso, por permitir o uso das suas fotos.
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