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"Aegla strinatii"  
Artigo publicado em 11/11/2013, última edição em 21/04/2023  



Égla – Aegla strinatii

 

Nome em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água doce
Nome em inglês: -
Nome científico: Aegla strinatii Türkay, 1972

Origem: Somente no município de Eldorado, sul de SP, Brasil

Tamanho: carapaça com comprimento de até 2,6 cm
Temperatura: 17-23° C
pH: sem dados

Dureza: sem dados
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: pacífico


 

 

Importante!!

  

O Aegla strinatii é uma espécie ameaçada, apesar de não constar no Livro Vermelho do MMA/IBAMA. Estima-se a população total desta espécie de Égla em somente 2500 indivíduos, distribuídos em uma área geográfica de 500 km2, felizmente dentro de uma APA. Uma proposta de revisão do Livro Vermelho publicada em 2012 a classifica como EN (“Em perigo”) - EN B2ab(iii).

            Desta forma, esta espécie não pode e não deve ser coletada na natureza, ou mantida em cativeiro.

            A ficha desta espécie consta nesta seção não como um “caresheet” para a sua criação em aquários, mas sim como um repositório de informações sobre esta espécie, tão rara e preciosa.


 
 

Apresentação

 

Églas são crustáceos dulcícolas únicos, exercendo um grande fascínio tanto para zoólogos quanto para aquaristas amadores. Algumas espécies são criadas já há algum tempo nos nossos países vizinhos, relativamente populares como animais de aquário na Argentina, Chile e Uruguai. Alguns aquaristas do sul do Brasil também têm criado estes crustáceos com sucesso.

Entretanto, os Églas têm algumas peculiaridades ecológicas que os tornam bem vulneráveis a perturbações ambientais, especialmente à degradação por ação humana. Vivem principalmente em rios límpidos, em áreas bem oxigenadas mais próximas às suas nascentes. Habitam nichos relativamente estáveis, não possuindo mecanismos de adaptação para mudanças repentinas no seu habitat. Possui reprodução abreviada, os filhotes não passam por uma fase larvar natante, desta forma possuindo uma capacidade de dispersão ambiental bastante limitada.

Por tudo isto, os Églas têm um endemismo muito grande, com muitas espécies habitando áreas geográficas bastante restritas, algumas delas só sendo encontradas nas suas localidades-tipo. É o caso do Aegla strinatii, uma espécie cavernícola facultativa, encontrada somente no Parque Estadual de Jacupiranga, Alto Ribeira, Eldorado (sul de SP). Até hoje, esta espécie só foi identificada em três locais dentro do parque.

Apesar de serem muitas vezes referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero atual, Aegla, exclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da América do Sul, com próximo de 60 espécies brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécie neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.

Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle, uma das três Hespérides, donas do jardim dos pomos de ouro, situado no extremo ocidental do mundo. E strinatii é uma homenagem ao bioespeleólogo suíço Pierre Strinati, que coletou o primeiro espécime em 1968.

 

Origem

            Églas são crustáceos com distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes dulcícolas das regiões temperadas do continente.

O Aegla strinatii tem uma distribuição geográfica muito restrita, sendo encontrado somente em três localidades, com uma área de ocupação estimada em menos de 500 km2, população de adultos estimada em menos de 2500 indivíduos (2007), com declínio contínuo da qualidade do habitat.

A. strinatii é endêmica do município de Eldorado, região sul de SP, próximo à divisa com PR. Ocorre no interior do Parque Estadual de Jacupiranga, Alto Ribeira, uma APA. Foi primeiramente descrita no Rio das Ostras, formador da Gruta da Tapagem, popularmente conhecida como Caverna do Diabo. Dois outros focos de ocorrência no próprio Rio Ribeira de Iguape, e também recentemente na Caverna do Rolado, dentro do mesmo núcleo espeleológico.

É considerada uma espécie Troglófila, com populações auto-sustentáveis identificadas dentro e fora de cavernas, com trânsito livre entre estes dois ambientes.



Distribuição geográfica de Aegla strinatii. Imagem original Google Maps; dados de Bond-Buckup G. 2003.

 

Aparência

 

Lembra bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob o abdômen e não possui função locomotora.


  • Rostro curto, triangular e largo na base, carenado em todo seu comprimento
  • Espinho ântero-lateral da carapaça não alcançando a base da córnea
  • Carapaça deprimida
  • Lobos protogástricos presentes, às vezes obsoletos
  • Linha dorsal transversa muito sinuosa
  • Ângulo látero-dorsal da segunda pleura inerme
  • Crista palmar mais disciforme na quela menor do macho, mais retangular na quela maior 
  • Dedo móvel do quelípodo sem lobo 
  • Margem interna da face ventral do ísquio apenas com dois tubérculos, um distal, outro proximal, e entre eles tubérculos escamiformes


 




Aegla strinatti, fotografada na caverna do Núcleo dos Caboclos, em Iporanga, SP (PETAR, Vale do Ribeira). Fotos gentilmente cedidas por Foca Afonso.



Parâmetros de Água

 

No seu ambiente natural vivem em riachos de baixa temperatura, dentro e fora das cavernas. Poucos dados existem sobre os demais parâmetros físico-químicos. Como outras Églas, demandam também alta taxa de oxigenação, e são bem sensíveis a compostos nitrogenados.

 

Dimorfismo Sexual

 

Bem demarcado, machos são maiores e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais desenvolvidos.


Reprodução

Mostram um padrão reprodutivo descontínuo e sazonal, reproduzem-se uma vez ao ano. Acasalam no verão, produzem ovos no outono/inverno (Maio a Setembro), e o cuidado parental se dá na primavera. É o padrão habitualmente encontrado em espécies de Aegla, de acordo com a variação de latitude e clima.

Produzem até 325 ovos de cada vez (média de 186), com um tempo de incubação bastante prolongado, de cerca de três meses. Produzem ovos de grandes dimensões (1 a 1,4 mm), apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto.

Provavelmente esta espécie tem cuidado parental, mas existem poucos dados.

 

Comportamento

 

Hábitos noturnos, passando o dia entocado, saindo somente à noite para se alimentar. Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.

Sua longevidade é estimada em cerca de 34 meses.

 

Alimentação

 

Poucos dados existem, possivelmente são onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em decomposição, vegetal e animal.

 

 

 

Bibliografia:

  • Bond-Buckup G. Família Aeglidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Martin, J.W. & Abele, L.G. 1988. External morphology of the genus Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae). Smithsonian Contributions to Zoology 453: 1-46.
  • Bond-Buckup G, Buckup L.1994. A família Aeglidae (Crustacea, Decapoda, Anomura). Arch. Zool., São Paulo, 2 (4): 159-346.
  • Tudge CC. Endemic and enigmatic: the reproductive biology of Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae) with observations on sperm structure. Memoirs of Museum Victoria 60(1): 63–70 (2003).
  • Rocha SS. Biologia reprodutiva, estrutura e dinâmica populacional e avaliação do grau de risco de extinção de Aegla strinatii Türkay, 1972 (Crustacea, Decapoda, Aeglidae). Dissertação (Doutor em Ciências, área de Zoologia) – Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007.
  • Rocha SS, Bueno SLS. Extension of the known distribution of Aegla strinatii Türkay, 1972 and a checklist of decapod crustaceans (Aeglidae, Palaemonidae and Trichodactylidae) from the Jacupiranga State Park, South of São Paulo State, Brazil. Nauplius 19(2): 163-167, 2011.
  • Rocha SS, Shimizu RM, Bueno SLS. Reproductive Biology in Females of Aegla strinatii (Decapoda: Anomura: Aeglidae). Journal of Crustacean Biology 30(4):589-596. 2010.
  • Greco LSL, Viau V, Lavolpe M, Bond-Buckup G, Rodriguez EM. Juvenile Hatching and Maternal Care in Aegla uruguayana (Anomura, Aeglidae). Journal of Crustacean Biology Vol. 24, No. 2 (May, 2004), pp. 309-313.
  • Machado ABM, Drummond GM, Paglia AP. Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção - 1.ed. - Brasília, DF : MMA; Belo Horizonte, MG : Fundação Biodiversitas, 2008. 2v. (1420 p.): il. - (Biodiversidade; 19).
  • Subirá RJ, Souza ECF, Guidorizzi CE, Almeida MP, Almeida JB, Martins DS. Avaliação Científica do Risco de Extinção da Fauna Brasileira – Resultados Alcançados em 2012. Biodiversidade Brasileira, 2(2), 17-24, 2012.
  • Santos S, Bond-Buckup G, Gonçalves AS, Bartholomei-Santos ML, Buckup L, Jara CG. Diversity and conservation status of Aegla spp. (Anomura, Aeglidae): an update. Nauplius. 2017; 25: e2017011.

 

Agradecimentos especiais ao Prof. Dr. Sergio Luiz de Siqueira Bueno (LEEUSP – Laboratório de Estudo dos Eglídeos da USP), pela cessão da foto para o artigo, agradecemos também a Sérgio Schwarz da Rocha, autor da foto original. Agradecimentos também a Foca Afonso, por permitir o uso das suas fotos.

 
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