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"Mikrotrich. panoplus"  
Artigo publicado em 11/04/2014, última edição em 02/03/2024  



Caranguejo de Água Doce – Mikrotrichodactylus panoplus

 

Nome em português: Caranguejo de água doce.
Nome em inglês: -
Nome científicoMikrotrichodactylus panoplus (von Martens, 1869)

Origem: Sul da América do Sul
Tamanho: carapaça com largura de até 2,8 cm
Temperatura: 15-25° C
pH: neutra para alcalina

Dureza: moderadamente dura
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

 

O Mikrotrichodactylus panoplus é um pequeno caranguejo dulcícola aquático, de hábitos noturnos, bastante comum em lagoas e riachos dos estados do Sul do Brasil.

Até muito recentemente, estes pequenos caranguejos eram classificados juntamente com os Trichodactylus. Há muito tempo alguns autores defendiam a classificação deste e de outros pequenos Trichodactylus como um grupo taxonômico distinto, baseado em uma série de detalhes anatômicos peculiares, no gênero Mikrotrichodactylus.

           Publicado em 2013 e 2018, a Dra. Edvanda Andrade Souza de Carvalho realizou um interessante trabalho nas suas teses de mestrado e doutorado, realizando análises morfológicas e genéticas (16S e COI) em um grande número de espécimes de Trichodactylus, com alguns resultados bastante interessantes. 146 espécimes foram analisados morfologicamente, e 43 geneticamente. Este trabalho demonstrou a validade dos Mikrotrichodactylus, que formavam um clado bem definido, e com distância significativa dos grandes Trichodactylus.

 

            Etimologia: Mikrotrichodactylus vem do grego mikro (pequeno), thríks (cabelo) e daktulos (dedo); panoplus tem origem grega, é um termo usado para descrever o conjunto completo de peças de uma armadura, de πάν (pan, tudo) + ὅπλον (oplos, armamento defensivo).

 

 


Mikrotrichodactylus panoplus, fotografado em Arroyo Perucho Verna, Entre Ríos, Argentina. Fotos cortesia de Nacho Barragan.  



Origem

            Espécie sul-americana, com distribuição mais restrita no Brasil (estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, questionável em São Paulo), Uruguai e Argentina, abrangendo as bacias costeiras do sul do Brasil e Uruguai, e as bacias dos Rios Uruguai e La Plata.

Vivem em riachos, rios e banhados. São bem comuns em meio à vegetação aquática destes locais, e também em meio às folhas mortas depositadas ao fundo.




Distribuição geográfica de Mikrotrichodactylus panoplus. Imagem original Google Maps; dados de Bond-Buckup G. 2003.




 

Aparência

 

Cefalotórax de altura média a baixa, de forma arredondada, superfície irregular. Região frontal plana. Olhos pequenos, antenas curtas. Quelípodos de tamanho médio, maiores e assimétricos nos machos. Pernas dispostas lateralmente. Geralmente de cor acastanhada ou esverdeada clara. Costumam ter finas cerdas na carapaça e pernas.

Segmentos abdominais sem fusão, em ambos os sexos. O padrão de dentes na margem da carapaça é típico, e auxilia bastante sua identificação. Têm cinco dentes grandes, similares e triangulares, eqüidistantes entre si. Dois últimos dentes situados na margem póstero-lateral.

Possui uma carapaça mais convexa e menos demarcada do que o M. borellianus.




Mikrotrichodactylus panoplus, macho coletado no Rio Cuareim, Uruguai. Imagens gentilmente cedidas por Edward D. Burress.


 

Parâmetros de Água

 

Baseados nos sítios de coleta, os parâmetros de água incluem um pH entre 6.5 e 8.4, água moderadamente dura e temperatura entre 15 e 29° C.

 

Dimorfismo Sexual

 

Como todo caranguejo, pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, o macho possui abdômen estreito, e a fêmea, abdômen largo, onde fixa seus ovos. Machos adultos também possuem garras maiores e mais robustas, uma delas mais desenvolvida (heteroquelia).

Machos são maiores, atingindo até 2,8 cm de largura de carapaça. As fêmeas medem até 2,4 cm.




Reprodução

Todo seu ciclo de vida se dá em água doce. Produzem poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto.

 




Mikrotrichodactylus panoplus, obtido junto com plantas aquáticas ornamentais compradas, em Porto Alegre, RS. Note que há algumas pernas esquerdas mutiladas. Fotos de Alice Gonçalves dos Passos. A primeira foto do artigo também é do mesmo animal.





Mikrotrichodactylus panoplus, o mesmo animal das fotos acima, após algumas ecdises, mostrando a regeneração das pernas. Na segunda imagem também é possível perceber as pequenas dimensões desta espécie. Fotos de Alice Gonçalves dos Passos.


Comportamento

 

São animais aquáticos, não necessitando vir à superfície para respirar. Porém habitam locais rasos, sendo vistos também em ambientes emersos próximo da água. Desta forma, fugas são bastante frequentes, o aquário deverá ser sempre mantido bem tampado. Têm hábitos noturnos, especialmente os adultos, e costumam ficar entocados até anoitecer.

São pequenos e pacíficos, com relatos de sucesso na manutenção destes animais em aquários comunitários. Pelas suas pequenas dimensões, deve-se atentar somente ao risco de predação por outros animais. Pode se alimentar de plantas com folhas mais tenras.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.

 




Mikrotrichodactylus panoplus em um aquário comunitário. Foto e vídeo cortesia de Alice Gonçalves dos Passos.



Alimentação

 

Não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a ração dos peixes. Sua dieta preferencial é herbívora-detritívora. Pelas suas pequenas dimensões, geralmente não oferecem risco a outros animais.

 

 

 

Bibliografia:

  • Magalhães C. Famílias Pseudothelphusidae e Trichodactylidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
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  • Zimmermann BL, Aued AW, Machado S, Manfio D, Scarton LP, Santos S. Behavioral repertory of Trichodactylus panoplus (Crustacea: Trichodactylidae) under laboratory conditions. Zoologia (Curitiba, Impr.) 2009, vol.26, n.1, pp. 5-11.
  • Burress ED, Gangloff MM, Siefferman L. Trophic analysis of two subtropical South American freshwater crabs using stable isotope ratios. Hydrobiologia (2013) 702:5–13.
  • Dalosto MM, Zimmermann ZL, Santos S. Diferenças no ritmo metabólico e atividade como estratégias de compartilhamento de nicho em três espécies de decápodos de águas continentais do Sul do Brasil. Anais do IX Congresso de Ecologia do Brasil, 2009, São Lourenço, MG.
  • Boos H, Buckup GB, Buckup L, Araujo PB, Magalhães C, Almerão MP, Santos RA, Mantelatto FL. Checklist of the Crustacea from the state of Santa Catarina, Brazil. Check List (2012) 8(6):1020-1046.
  • BL Zimmermann, CS Dambros, S Santos. Association of microhabitat variables with the abundance and distribution of two neotropical freshwater decapods (Anomura: Brachyura). Journal of Crustacean Biology 36 (2), 198-204.
  • Carvalho EAS de. Sistemática e revisão taxonômica dos caranguejos de água doce do gênero Trichodactylus Latreille, 1828 (Decapoda: Trichodactylidae) [tese]. Ribeirão Preto: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto; 2018.




Agradecimentos à colega aquarista Alice Gonçalves dos Passos, ao zoólogo americano Edward D. Burress e ao colaborador do iNaturalist Nacho Barragan (Argentina) pela cessão das fotos para o artigo.
 
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