INÍCIO ARTIGOS ESPÉCIES GALERIA SOBRE EQUIPE PARCEIROS CONTATO
 
 
    Espécies
 
"Aegla franciscana"  
Artigo publicado em 26/01/2018, última edição em 17/04/2023  



Égla – Aegla franciscana

 

Nome em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água doce, Scrabei
Nome em inglês: -
Nome científico: Aegla franciscana Buckup & Rossi, 1977

Origem: Brasil, sudeste de SC e nordeste do RS

Tamanho: carapaça com comprimento de até 2,3 cm
Temperatura: 3-12° C
pH: 6.2~6.5

Dureza: alta
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce

Comportamento: pacífico


 

Importante!!

 

Aegla franciscana é uma espécie listada como “pouco preocupante” (LC) na relação das espécies em risco de extinção publicado pelo Ministério do Meio Ambiente e IBAMA (2014), assim como na na revisão de 2017 (Santos et al.). Porém, a re-avaliação feita pela Sociedade Brasileira de Carcinologia (2016) lista esta espécie como "dados insuficientes" (DD), devido a dúvidas sobre seu status taxonômico, e pela acentuação recente da degradação ambiental na sua área de ocorrência. Desta forma, embora formalmente sua coleta e manutenção em cativeiro não sejam proibidas por lei, sugere-se fortemente evitá-las.


 

  
 

Apresentação

 

Apesar de serem muitas vezes referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero atual, Aegla, exclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da América do Sul, com próximo de 60 espécies brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécies  neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.

Não são muito populares no Brasil como animais de aquário, mas em outros países (como na Argentina) são criados há algum tempo com sucesso.

      Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle, uma das três Hespérides, donas do jardim dos pomos de ouro, situado no extremo ocidental do mundo. E franciscana tem origem na sua localidade típica, São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul.

 





Aegla franciscana, fotografadas em Timbé do Sul, SC.A primeira foto mostra bem a margem posterior da aréola divergente. Fotos gentilmente cedidas por Jefferson Souza da Luz.


 

Origem

            Églas são crustáceos com distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes dulcícolas das regiões temperadas do continente, o que explica sua baixa tolerância ao calor. Vivem em riachos límpidos de leito rochoso, geralmente montanhosos, alguns também em lagoas e represas.

            O Aegla franciscana é uma espécie encontrada somente no Brasil, nas regiões sudeste do estado de Santa Catarina e nordeste do Rio Grande do Sul . Englobam as bacias dos rios Uruguai (rios Apuaê-Inhandava e Pelotas), e sistema Atlântico-Sul (Caí, Sinos, Antas, Taquari-Tainhas, Tramandaí e Mampituba).

          Trabalhos recentes usando biologia molecular mostram origem parafilética desta espécie, sugerindo que se trate de mais de uma espécie.




Distribuição geográfica de Aegla franciscana. Imagem original Google Maps; dados de Bond-Buckup G. 2003 e Bond-Buckup G, et al. 1994.

 

Aparência

 

Lembra bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob o abdômen e não possui função locomotora.


  • Rostro curto, triangular, elevado na região proximal, carena pouco nítida no terço distal
  • Espinho ântero-lateral da carapaça ultrapassando a base da córnea
  • Margem posterior da aréola divergente, sendo uma característica típica da espécie
  • Lobos protogástricos ausentes
  • Ângulo látero-dorsal da segunda pleura com espinho de dimensões reduzidas
  • Crista palmar sub-rctangular e modesta, sua margem com três a quatro lobos com pequenos espinhos apiciais
  • Dedo móvel do quelípodo com lobo
  • Margem interna da face ventral do ísquio possui um espinho distal e até dois tubérculos



 



Curso d´água onde foram localizados as Aegla franciscana, setor Amola Faca, Timbé do Sul, SC. Vale do Rio Araranguá. Imagens gentilmente cedidas por Jefferson Souza da Luz.


Parâmetros de Água

 

Habitam ambientes bastante estáveis, são bem sensíveis a variações e condições inadequadas de água. Um aspecto bastante importante é sua sensibilidade a altas temperaturas, uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. Somente como exemplo, o Aegla laevis sobrevive por 30 minutos a 28º C, e por 20 minutos a 31º C.

Por viverem em água corrente e fria, demandam também alta taxa de oxigenação, sugerindo-se superdimensionar a filtragem e circulação de água no tanque. Alguns trabalhos sugerem que o habitat desta espécie tenda a ter valores de pH mais baixos. Como os demais crustáceos, são bem sensíveis a compostos nitrogenados, assim como a metais.

 

Dimorfismo Sexual

 

Bem demarcado, machos são maiores e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais desenvolvidos.

 




Aegla franciscana,
fotografada no curso d´água, foto de
Jefferson Souza da Luz.




Reprodução


            Possuem ciclos anuais de reprodução, acasalando no verão e com um pico reprodutivo durante os meses de temperatura mais fria (outono-inverno).

            Em Aeglas, existe um claro padrão latitudinal para fecundidade e tamanho dos ovos, em que os animais em latitudes mais altas produzem mais ovos de menores dimensões, enquanto que menos ovos de maiores dimensões são produzidos em latitudes mais baixas. Também exite uma variação no período reprodutivo, espécies de clima frio reproduzem-se ao longo de todo o ano, enquanto espécies de clima subtropical mostram reprodução na estação fria. É um padrão oposto ao encontrado em espécies decápodes marinhos.

         Produzem poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. O número médio de ovos é 123. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto. É quase certo que esta espécie tenha também cuidado parental, mas não existem ainda informações.


Comportamento

 

São animais totalmente aquáticos, devem ser criados em aquários, não necessitando de uma porção emersa.

Apesar das grandes garras, não são animais agressivos, podendo ser mantidos com peixes ou com outros Aeglas, independente do sexo. Comportamento gregário, em especial animais juvenis. Hábitos noturnos, passando o dia entocado, saindo à noite para se alimentar.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.

 


Alimentação

 

Não é exigente quanto à alimentação, na natureza são onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em decomposição, vegetal e animal.

 

 

Bibliografia:
  • Bond-Buckup G. Família Aeglidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Bond-Buckup G, Buckup L.1994. A família Aeglidae (Crustacea, Decapoda, Anomura). Arch. Zool., São Paulo, 2 (4): 159-346.
  • Martin, J.W. & Abele, L.G. 1988. External morphology of the genus Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae). Smithsonian Contributions to Zoology 453: 1-46.
  • Buckup L, Rossi A. O gênero Aegla no Rio Grande do Sul, Brasil (Crustácea, Decapoda, Anomura, Aeglidae). Rev. bras. Biol., 37:879-92, 1977.  
  • Tudge CC. Endemic and enigmatic: the reproductive biology of Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae) with observations on sperm structure. Memoirs of Museum Victoria 60(1): 63–70 (2003).
  • Pérez-Losada M, Bond-Buckup G, Jara CG, Crandall KA. Molecular systematics and biogeography of the southern South american freshwater "crabs" Aegla (decapoda: Anomura: Aeglidae) using multiple heuristic tree search approaches. Syst Biol. 2004 Oct; 53(5):767-80.
  • Santos S, Bond-Buckup G, Pérez-Losada M, Jara CG, Crandall KA, Buckup L. 2010. New records and description of a new species of Aeglidae (Crustacea, Anomura) from river basins in Southern Brazil. Nauplius 18: 79-86.
  • Gonçalves RS, Castiglioni DS, Bond-Buckup G. Ecologia populacional de Aegla franciscana (Crustacea, Decapoda, Anomura) em São Francisco de Paula, RS, Brasil. Iheringia, Sér. Zool. 2006 Mar; 96(1): 109-114.
  • Santos S, Bond-Buckup G, Gonçalves AS, Bartholomei-Santos ML, Buckup L, Jara CG. Diversity and conservation status of Aegla spp. (Anomura, Aeglidae): an update. Nauplius. 2017; 25: e2017011.
  • Bueno SLS, Santos S, Rocha SS, Gomes KM, Mossolin EC, Mantelatto FL. 2016. Avaliação dos Eglídeos (Decapoda: Aeglidae). Cap. 2: p. 35-63. In: Pinheiro, M. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS, Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 466 p.




Agradecemos o amigo Jefferson Souza da Luz pela cessão de fotos para o artigo.  
« Voltar  
 

Planeta Invertebrados Brasil - © 2024 Todos os direitos reservados

Desenvolvimento de sites: GV8 SITES & SISTEMAS