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"Goyazana castelnaui"  
Artigo publicado em 25/09/2020, última edição em 17/07/2022  



Nome em português: Caranguejo de água doce, Caranguejo vermelho.
Nome em inglês: -
Nome científico: Goyazana castelnaui H. Milne-Edwards, 1853

Origem: Brasil, Centro e Leste
Tamanho: carapaça com largura de 5,1 cm
Temperatura: 20-28° C
pH: indiferente

Dureza: indiferente
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

 

É uma espécie muito próxima do Dilocarcinus pagei, inclusive até pouco tempo atrás era classificada neste gênero. Também são pequenos caranguejos aquáticos, com coloração avermelhada.

Etimologia: Goyazana diz respeito ao estado brasileiro de Goiás; castelnaui é uma homenagem ao explorador francês François Louis Nompar de Caumont LaPorte, comte de Castelnau (1810-1880).


 



Goyazana castelnaui, coletado no Rio São Pedro, Ouricuri, PE. Foto gentilmente cedida por Francisco Ronaldo Vieira Freita.



Origem


Espécie endêmica brasileira, possui ampla distribuição na região central e leste do país. É encontrado nas bacias Amazônica (alto Xingu e Araguaia-Tocantins), dos rios Paraguai, São Francisco e alto Paraná, além das bacias costeiras do Maranhão e Sergipe. Ocorre nos estados do Pará, Maranhão, Tocantins, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Piauí.

Espécie típica de rios de planalto, mas vivem em variados corpos d´água, riachos, lagos e represas, e também em terrenos que sofrem inundação periódica. No Piauí foram encontradas em lagoas temporárias, e em Pernambuco em tributárias temporárias do São Francisco, demonstrando a grande capacidade adaptativa desta espécie.


 


Distribuição geográfica de Goyazana castelnaui. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 2003 e demais referências.






Goyazana castelnaui, fotografados à noite, nas margens do Rio São Pedro, Ouricuri, PE. Fotos gentilmente cedidas por Francisco Ronaldo Vieira Freita.



Aparência

 

Muito parecido com o Dilocarcinus pagei, praticamente indistinguíveis numa visão dorsal. Mas sua carapaça é menos avermelhada, em tons de vinho, e o abdômen de adultos têm uma cor vinho intensa.

Cefalotórax de altura média, arredondado e convexo. Olhos pequenos, antenas curtas, margem frontal lisa e bilobada. Grandes quelípodos, assimétricos nos machos, pernas dispostas lateralmente.

Existem duas famílias de caranguejos de água doce no Brasil: Trichodactylidae e Pseudothelphusidae. Os primeiros podem identificados por dois detalhes: dáctilos com pêlos (ao invés de espinhos, daí seu nome), e segundo maxilópode. 

Dentro da família, existem diversos caranguejos que historicamente eram classificados como Dilocarcinus, e posteriormente separados em outros gêneros, GoyazanaFredilocarcinusMoreirocarcinus Poppiana, baseados principalmente no aspecto do gonópodo. Quase todos são praticamente idênticos numa visão dorsal, indistinguíveis para o leigo (com poucas exceções, como P. dentata). Todos possuem carapaça suborbicular, convexa, com região frontal bilobada e lisa (exceto P. dentata). Margem ântero-lateral com seis a sete dentes agudos, além do dente orbital (poucas exceções, como F. apyratii com 6, e M. laevifrons com 7-8). Algumas fontes citam menos dentes no G. castelnaui, cinco a sete, e uma carapaça mais arredondada numa visão dorsal.

As chaves de identificação mais usadas (como do Dr. Gustavo Melo e Thorp & Covich) baseiam-se no fato do Goyazana não apresentar fusão dos somitos abdominais (exceto em algumas fêmeas de maior tamanho) para diferenciá-los de outros gêneros. Porém, pelo menos a população de Pernambuco mostra extensa fusão dos segmentos abdominais, com aspecto muito semelhante ao Dilocarcinus pagei, a diferenciação só sendo possível através da análise do gonópodo. Felizmente não há muita sobreposição na distribuição geográfica dessas duas espécies, somente em MT e SP. Há maior sobreposição com o D. septemdentatus, mas geralmente a distinção é fácil baseada na coloração.

A diferenciação com a outra espécie de Goyazana (G. rotundicauda), pode ser feita pela forma do abdômen nos machos, triangular no castelnaui e arredondada no rotundicauda.









Goyazana castelnaui,
fotografado em Campo Formoso, BA. Fotos de Ben Phalan (iNaturalist, Licença Creative Commons).






Detalhes do
Goyazana castelnaui de Campo Formoso, BA. Fotos de Ben Phalan (iNaturalist, Licença Creative Commons).



Goyazana castelnaui, coletado no Rio São Pedro, Ouricuri, PE. Foto gentilmente cedida por Francisco Ronaldo Vieira Freita.



Goyazana castelnaui, comparação da anatomia do abdômens de machos. Dois primeiros exemplares coletados em Ouricuri, PE, com fusão dos somitos (fotos de Francisco Ronaldo Vieira Freita). Terceiro exemplar coletado em Paulino Nves, MA, com anatomia típica, sem fusão dos somitos (foto extraída de Andrade KSP, et al, Nauplius 2018 - Licença Creative Commons, veja o artigo original  aqui ).



Parâmetros de Água

 

É uma espécie robusta, bastante tolerante quanto às condições da água, sendo encontrada até em corpos d´água temporários no semiárido nordestino. A temperatura média no local de coleta em Pernambuco foi de 27° C. Os demais parâmetros parecem ser indiferentes, como pH e dureza.

 



Dimorfismo Sexual

 

Como todo caranguejo, pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, o macho possui abdômen estreito, e a fêmea, abdômen largo, onde fixa seus ovos. Os machos também têm maiores dimensões, garras mais desenvolvidas e assimétricas.






Duas fêmeas de Goyazana castelnaui, imagens ventrais. Coletadas em Ouricuri, PE. Fotos gentilmente cedidas por Francisco Ronaldo Vieira Freita.



Reprodução

Vivem em águas continentais, todo seu ciclo de vida se dá em água doce. As informações sobre esta espécie são bastante escassas, possivelmente apresentam um padrão reprodutivo similar aos Dilocarcinus, com desenvolvimento direto e cuidado parental. A fecundidade média é de 221 ovos, o número máximo chegando a 287 (população de Pernambuco).

Há variação na descrição do período reprodutivo, com um padrão sazonal e pico entre Setembro e Dezembro em alguns locais, e um período reprodutivo continuo em outros.



 


Goyazana castelnaui, exemplares coletados no Rio São Pedro, Ouricuri, PE. Foto gentilmente cedida por Francisco Ronaldo Vieira Freita.



Comportamento

 

Embora sejam animais aquáticos, tem hábitos anfíbios, suportando algum tempo fora d´água, principalmente se houver umidade. Fugas são bastante frequentes, o aquário deverá ser sempre mantido bem tampado.

São agressivos, não sendo recomendada a sua manutenção com outros animais. Plantas tenras costumam ser devoradas também. Adultos são escavadores, não são indicados para tanques com substrato fértil, ou com layout ornamental. Têm hábitos noturnos, e costumam ficar entocados até anoitecer.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.


 


Goyazana castelnaui, coletado no Rio São Pedro, Ouricuri, PE. Foto extraída de Freita FRV et al, Panajas  2018 (Licença Creative Commons, veja o artigo original  aqui ).




Alimentação

 

São onívoros, com importante componente vegetal na dieta. Não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a ração dos peixes. Caçam pequenos invertebrados, e podem se alimentar também de plantas com folhas tenras.




Bibliografia:

  • Magalhães C. Famílias Pseudothdphusidae e Trichodactylidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Lima Júnior TB, Carvalho JB, Santos JN, Cruz AC, Leite, JRSA. Novas ocorrências de Goyazana castelnaui (H. Milne-Edwards, 1853) (Crustácea, Brachiura, Trichodactylidae), para o estado do Piauí, Brasil. Boletim do Laboratório de Hidrobiologia, 21:31-34. 2008.
  • Magalhães C, Türkay M. Taxonomy of the Neotropical freshwater crab family Trichodactylidae. III. The genera Fredilocarcinus and Goyazana (Crustacea: Decapoda: Brachyura). Senckenbergiana Biologica, 75(1/2): 131-142, 1996.
  • Almeida PRS, da Silva LN, Shinozaki-Mendes RA. (2020) Reproductive biology of the freshwater crab Goyazana castelnaui (Brachyura: Trichodactylidae) in a semiarid region of Brazil, Invertebrate Reproduction & Development, 64:1, 1-9.
  • da Silva LN, Almeida PRS, Shinozaki-Mendes RA. Dimorfismo sexual e alometria ontogenética em Goyazana castelnaui (Crustacea, Brachyura). Iheringia, Sér. Zool. 2018; 108: e2018008.
  • Freita FRV, Santana NN, Landim FGS, Peixoto BMJ, Pinheiro AP. 2013. Ocorrência de Goyazana castelnaui (H. Milne-Edwards, 1853) (Crustacea: Decapoda: Trichodactylidae) na região semi-árida do estado de Pernambuco, Brasil. Pan-American Journal of Aquatic Sciences , 8: 358-360.
  • Freita FRV. Biologia reprodutiva e populacional de Goyazana castelnaui (Decapoda: Trichodactylidae) no Rio São Pedro, Ouricuri - PE (Brasil). 2013. Tese (Mestrado em Ciências Biológicas) - Universidade Regional do Cariri (URCA), Crato.
  • Almeida PRS. Biologia reprodutiva do caranguejo Goyazana castelnaui H. Milne- Edwards, 1853 (Crustacea: Trichodactylidae) no semiárido pernambucano. 2016. 145 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Recursos Pesqueiros e Aquicultura) - Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.
  • Andrade KSP, Araújo MSLC, Nunes JLS. Extension range of four species of freshwater crabs (Decapoda: Trichodactylidae) in the state of Maranhão, Northeastern Brazil. Nauplius. 2018; 26: e2018034.
  • Rogers DC, Magalhães C, Peralta M, Ribeiro FB, Bond-Buckup G, Price WW, Guerrero-Kommritz J, Mantelatto FL, Bueno A, Camacho AI, González ER, Jara CG, Pedraza M, Pedraza-Lara C, Latorre ER, Santos S. Chapter 23 - Phylum Arthropoda: Crustacea: Malacostraca. In: Thorp and Covich's Freshwater Invertebrates (Fourth Edition), Editors: D. Christopher Rogers, Cristina Damborenea, James Thorp. Academic Press, 2020. p. 809-986.
 

Agradecimentos ao biólogo Dr. Francisco Ronaldo Vieira Freita e ao fotógrafo Ben Phalan por nos permitir usar suas fotos no artigo, e valiosas informações.


As fotografias de Ben Phalan (iNaturalist) e aquelas extraídas de Freita FRV, et al, PANAJAS 2013 e Andrade KSP et al. Nauplius 2018 estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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