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"Trich. rionovoensis"  
Artigo publicado em 19/10/2020, última edição em 21/01/2024  





Caranguejo de Água Doce – Trichodactylus rionovoensis
 

Nome em português: Caranguejo de água doce, Caranguejo de rio, Goiaúna, Guaiaúna.
Nome em inglês: -
Nome científico: Trichodactylus rionovoensis Bott, 1969

Origem: sudeste e sul do Brasil, norte da Argentina
Tamanho: carapaça com largura de 2 cm
Temperatura: 20-28° C
pH: indiferente

Dureza: indiferente
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

 

Os Trichodactylus são os caranguejos dulcícolas mais comuns fora da bacia amazônica, são pequenos caranguejos totalmente aquáticos, de hábitos noturnos. Embora comuns, raramente são vistos no comércio aquarístico.

Devido à sua abundância, estes animais são importante componente da cadeia trófica de ambientes dulcícolas. Comestíveis, são também relevante fonte de alimentação para populações ribeirinhas.

O Trichodactylus rionovoensis foi originalmente descrita em 1969 como uma subespécie do T. fluviatilis, a partir de exemplares coletados no Rio Novo, nordeste de SC, próximo de Joinville. Sua validade foi questionada desde então, a maioria dos autores nem ao menos considerando-a como sendo uma subespécie válida. Análises morfológicas e moleculares (16S e COI) realizadas pela Dra. Edvanda Andrade Souza de Carvalho, na sua tese publicada em 2018 revalidaram e elevaram o seu estado para espécie válida. Este mesmo trabalho identificou uma espécie nova, próxima, provisoriamente chamada de sp. n. 8, que decidimos por ora incluir neste artigo. Exemplares argentinos não foram incluídos nas análises moleculares, mantivemos a identificação presuntiva de T. rionovoensis.   

     Etimologia: Trichodactylus vem do grego thríks (cabelo) e daktulos (dedo); rionovoensis significa morador de Rio Novo, o rio onde foi coletado o espécime-tipo.

 


Origem

            Distribuição na Bacia do Paraná e Atlântico Sudeste, nas regiões costeiras do Sul e Sudeste do Brasil, encontrado nos estados de SP, PR, SC e RS, predominando no bioma da quase extinta Mata Atlântica. Encontrado também no norte da Argentina, em Misiones.

Vivem em riachos límpidos, geralmente montanhosos. Podem ser encontrados também em lagoas e represas. Vive entre rochas ou vegetação aquática.


 

Distribuição geográfica de Trichodactylus rionovoensis. Imagem original Google Maps; dados de Carvalho EAS, 2013.


Aparência

 

Cefalotórax de altura média, arredondado. Olhos pequenos, antenas curtas. Grandes quelípodos, assimétricos nos machos. Pernas dispostas lateralmente. Geralmente de cor marrom-avermelhada.

Existem duas famílias de caranguejos de água doce no Brasil: Trichodactylidae e Pseudothelphusidae. Os primeiros podem identificados por dois detalhes: dáctilos com pêlos (ao invés de espinhos, daí seu nome), e segundo maxilópode. Dentro da família, os Trichodactylus podem ser identificados baseados na forma do abdômen (segmentação de todos os somitos, sem fusão), e a escassez de dentes na margem da carapaça (até 5).

O T. rionovoensis era inicialmente considerado uma subespécie do T. fluviatilis, espécie que pensava-se ter uma ampla distribuição, caracteristicamente identificada pela borda ântero-lateral lisa da carapaça (às vezes com 1~3 entalhes, ou no máximo com 1 dente).

A distinção com o T. fluviatilis não é fácil, além do gonópodo típico, algumas características peculiares do T. rionovoensis são as suas menores dimensões, sua carapaça arredondada, convexa e lisa, onde se destaca somente a depressão central em H. Margem lateral completamente lisa e carenada. Margem frontal superior quase reta e lisa, inclinada para baixo. As quelas são menos robustas, com dedos mais curtos e com poucos dentes.

Em relação à espécie próxima Trichodactylus sp. n. 8, a distinção é ainda mais difícil. Esta espécie não tem as margens da carapaça carenadas, e o sulco gástrico mediano em forma de "H" é pouco visível.




Aspecto da borda ântero-lateral da carapaça: Trichodactylus dentatus com três dentes, os dois primeiros próximos entre si e um pouco afastados do terceiro, este sempre menor e às vezes vestigial; Trichodactylus petropolitanus com três dentes equidistantes; Trichodactylus fluviatilis com borda lisa, às vezes com um a três entalhes, ou no máximo um dente. Fotos de Carlos Magno e Walther Ishikawa.





Trichodactylus sp. n. 8, fêmea, animal fotografado em Corupá (SC), Rota das Cachoeiras. Imagens cedidas por Camilo Fontana, assim como a primeira foto do artigo.



Trichodactylus sp. n. 8, animal também fotografado em um riacho da Serra do Mar, em Corupá (SC). Imagem cedida por Germano Woehl Jr. (Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade).



Parâmetros de Água

 

É uma espécie robusta, bastante tolerante quanto às condições da água, mas se desenvolve melhor entre 20 e 28° C, pH e dureza indiferentes.

 

Dimorfismo Sexual

 

Como todo caranguejo, pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, o macho possui abdômen estreito, e a fêmea, abdômen largo, onde fixa seus ovos. Machos adultos também possuem garras maiores e mais robustas, uma delas mais desenvolvida (heteroquelia).







Trichodactylus
rionovoensis, fotografado em Guaramirim (SC). Imagens gentilmente cedidas por André Müller.



Reprodução

Todo seu ciclo de vida se dá em água doce. A reprodução ocorre nos meses mais quentes e chuvosos do ano.

Produzem poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto. Por vários dias, os jovens são protegidos e carregados pelas fêmeas sob o abdome, caracterizando cuidado parental.


 

Trichodactylus cf. rionovoensisfotografado em Dos de Mayo, Misiones, Argentina. Foto cortesia de Matias Silvera e Jhon Mongelos.



Comportamento

 

São animais totalmente aquáticos, não necessitando vir à superfície para respirar. Porém, suportam algum tempo fora d´água, principalmente se houver umidade. Fugas são bastante frequentes, o aquário deverá ser sempre mantido bem tampado.

Não são agressivos, porém possuem garras potentes, e acidentes podem ocorrer. Existem diversos relatos de sucesso na manutenção destes animais em aquários comunitários, sem agressividade com peixes e camarões. Invertebrados bentônicos fazem parte da sua dieta, assim, deve-se atentar somente à presença de caramujos ornamentais, que serão rapidamente predados. Pelo mesmo motivo, caranguejos muito pequenos (da mesma, ou outra espécie) correm riscos de predação. Plantas tenras podem ser devoradas também.

Não são animais muito ativos, têm movimentação lenta, sempre que possível preferindo ficar imóveis. Por serem escavadores, não são indicados para tanques com substrato fértil, ou com layout ornamental. Adultos têm hábitos noturnos, e costumam ficar entocados até anoitecer, jovens são mais ativos durante o dia.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.











Trichodactylus
rionovoensis, fotografado em Guaramirim (SC). Imagens gentilmente cedidas por André Müller.


 

Alimentação

 

Não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a ração dos peixes. Como mencionado, caçam ativamente caramujos e outros pequenos invertebrados, e podem se alimentar também de plantas com folhas tenras.

 


Bibliografia:

  • Magalhães C. Famílias Pseudothelphusidae e Trichodactylidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Carvalho EAS de. Variabilidade genética e morfológica em populações de Trichodactylus fluviatilis Latreille, 1828 (Brachyura, Trichodactylidae). Dissertação (Mestrado em Ciências, Área de Biologia Comparada), Faculdade de Folosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP. 2013.
  • Carvalho EAS de. Sistemática e revisão taxonômica dos caranguejos de água doce do gênero Trichodactylus Latreille, 1828 (Decapoda: Trichodactylidae) [tese]. Ribeirão Preto: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto; 2018.
  • Bott R. (1969) Die Süßwasserkrabben Süd-Amerikas und ihre Stammesgeschichte. Eine Revision der Trichodactylidae und der Pseudothelphusidae östlich der Anden (Crustacea, Decapoda). Abhandlungen der Senckenbergischen Naturforschenden Gesellschaft 518: 1–94.
  • Morrone JJ, Lopretto EC. Distributional patterns of freshwater Decapoda (Crustacea: Malocostraca) in southern America: a panbiogeographic approach. Journal of Biogeography, v. 21, n. 2, p. 97-109, 1994.

 

 

 

Agradecimentos aos colegas André Müller, Camilo Fontana, Germano Woehl Jr. ( Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade ), Carlos Magno, Matias Silvera (Paraguai) e Jhon Mongelos (Paraguai) pela cessão das fotos para o artigo.

 
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