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"Prionothelphusa eliasi"  
Artigo publicado em 27/02/2021, última edição em 06/09/2023  


Caranguejo de Água Doce – Prionothelphusa eliasi

 

 

 

Nome em português: Caranguejo de água doce, Caranguejo de rio, Guajá 
Nome em inglês: -
Nome científicoPrionothelphusa eliasi Rodríguez, 1980

Origem: Norte e Noroeste da América do Sul
Tamanho: carapaça com largura de até 4,2 cm
Temperatura: 25-34° C

pH: ácido

Dureza: baixa
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

 

Existem duas famílias de caranguejos de água doce no Brasil: Trichodactylidae e Pseudothelphusidae. O número total de pseudotelfusídeos existentes é maior (em torno de 300, contra cerca de 50 tricodactilídeos), mas no Brasil são bem mais raros, representados por atualmente 27 espécies. São caranguejos tipicamente encontrados em regiões montanhosas, sendo descritos do norte do México ao Brasil, bastante numerosos ao longo da cadeia montanhosa dos Andes. Porém, no Brasil, ocorrem quase exclusivamente na região da Bacia Amazônica. O gênero monoespecífico Prionothelphusa pertence a esta família.

Pseudotelfusídeos têm um alto grau de endemismo, ocorrendo em áreas geográficas pequenas com pouca sobreposição entre as espécies. É o caso do Prionothelphusa eliasi, uma espécie encontrada na região da fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela.

Devido à sua abundância, estes animais são importante componente da cadeia trófica de ambientes dulcícolas. Comestíveis, são também relevante fonte de alimentação para populações ribeirinhas e indígenas. Embora sejam comuns na Bacia Amazônica, raramente são vistos no comércio aquarístico, por serem agressivos e sem muito apelo estético.


            Etimologia: Prionothelphusa tem origem no grego priön (serra), talvez uma alusão aos pequenos dentes na margem da carapaça. Thelphusa é um gênero europeu de caranguejos de água doce da família Potamonautidae. E eliasi é uma homenagem ao naturalista venezuelano Elias Rodriguez. 

  



Origem

Prionothelphusa eliasi é encontrada numa área bastante restrita, próximo à fronteira entre o Brasil, Venezuela e Colômbia. No nosso país, há registro somente nesta região fronteiriça, no estado do Amazonas, encontrados no Rio Uaupés, tributário da margem direita do Rio Negro. Habitam também a bacia do Rio Orinoco.

Não há dados ecológicos específicos sobre o tipo de habitat, possivelmente ocorrem nos pequenos igarapés da floresta de terra firme. Assim como os demais membros da família, devem ter hábitos noturnos, muitas vezes avistados caminhando em locais secos, mas sempre próximos aos rios. Escavam pequenas tocas no solo, sob pedras em solo úmido da floresta.


 

 

Distribuição geográfica do Prionothelphusa eliasi. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 2003, Pedraza-Mendoza 2015, Campos MR 2014, e demais referências abaixo.




Aparência

 

Cefalotórax de altura média, elipsóide, com a margem anterior mais larga. Olhos pequenos, antenas curtas. Grandes quelípodos, discretamente assimétricos. Pernas dispostas lateralmente.

Pseudotelfusídeos podem ser diferenciados dos tricodactilídeos por dois detalhes: dáctilos com espinhos (ao invés de pelos), e segundo maxilópode. Dentro da família, a identificação dos diferentes gêneros e espécies é bastante difícil, baseada essencialmente na morfologia do gonópodo (apêndice sexual masculino). Exemplares fêmeas e juvenis não podem ser identificados com segurança além do gênero. Isto explica a grande confusão existente entre as diversas espécies, espécies descritas sendo consideradas sinonímias, e espécies previamente consideradas não-válidas sendo re-validadas. Obviamente isto também torna a identificação destas espécies extremamente difícil para o leigo.

Dentre os Pseudotelfusídeos brasileiros, a identificação do Prionothelphusa eliasi é praticamente impossível para o leigo, sem a análise do gonópodo. Uma recente tese do Dr. Pedraza-Mendoza (2015) descreve alguns sinais auxiliares, mas cuja acurácia ainda não é claramente estabelecida. Algumas espécies de descrição mais recente não eram contempladas. Estes sinais auxiliares que podem ajudar são:

  • Margem lateral da carapaça interrompida anteriormente por um entalhe pouco profundo, chamado de "entalhe pós-orbital" (nas espécies brasileiras, este achado está presente também somente no Brasiliothelphusa tapajoense Microthelphusa lipkei). 
  • O contorno inferior da órbita é retilíneo (nas espécies brasileiras, presente somente em Brasiliothelphusa tapajoense e nos Microthelphusa).
  • A fossa antenular é estreita (nas espécies brasileiras, presente somente em Fredius fittkauiF. reflexifronsF. ykaa e Microthelphusa lipkei).
  • Porção média da superfície lateral do dedo móvel da quela possui uma carena, nas espécies brasileiras, característica presente somente em Fredius denticulatusF. fittkaui e F. reflexifrons.
  • Vale menção que, destas outras espécies, a única cuja distribuição geográfica se sobrepõe é o Fredius fittkaui.
  • Outros sinais podem ser usados para diferenciação destas espécies, por exemplo, nos Fredius os dentes do mero das pernas ambulatórias e rica pubescência na região pterigostomial, e para os Microthelphusa o dente orbital interno pequeno (veja os artigos específicos).  

A tese descreve diversos outros sinais, mas de avaliação difícil para o não-especialista. Para maiores informações, sugerimos a leitura da tese (veja bibliografia).   

Carapaça de cor castanho-avermelhada, pernas ambulatórias castanho-claras, quelípodos beges.


 




Prionothelphusa eliasi, fotos gentilmente cedidas por Martha H R de Campos.




Parâmetros de Água

 

São animais encontrados em águas negras, bastante ácidas e moles. É uma espécie tropical, preferindo temperaturas mais altas.

 


Dimorfismo Sexual

 

Como todo caranguejo, pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, o macho possui abdômen estreito, e a fêmea, abdômen largo, onde fixa seus ovos. Quelas costumam ser mais desenvolvidas e assimétricas nos machos.



Reprodução

Todo seu ciclo de vida se dá em água doce. Seu padrão reprodutivo é semelhante aos tricodactilídeos, com poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto.

Não há dados sobre período reprodutivo, número ou dimensão dos ovos. Provavelmente há cuidado parental, os jovens protegidos e carregados pelas fêmeas sob o abdome após o nascimento. 



Comportamento

 

Os pseudotelfusídeos são caranguejos semi-terrestres. Não necessitam vir à superfície para respirar, mas preferem habitats onde possam encontrar terra firme para procurar alimentos e construir suas tocas. Relatos de criação em cativeiro destes caranguejos são quase inexistentes, toleram a manutenção submersa em aquários, mas possivelmente seriam mais bem acomodados em aquaterrários. Fugas são bastante frequentes, o tanque deverá ser sempre mantido bem tampado.

Agressivos e territoriais, frequentemente mostram quelas amputadas na natureza. Porém, há relatos de criação bem sucedida com peixes pequenos, inclusive de fundo. Pequenos invertebrados bentônicos fazem parte da sua dieta, como caramujos, e serão rapidamente predados. Plantas tenras também são devoradas avidamente. Por serem escavadores, não são indicados para tanques com substrato fértil, ou com layout ornamental. Hábitos noturnos, costumam ficar entocados até anoitecer.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.


 

Alimentação

 

Poucos dados existem quanto aos hábitos alimentares dos pseudotelfusídeos. Sabe-se que são onívoros, pouco seletivos, se alimentando de plantas mortas, carcaças de animais e caçando pequenos invertebrados.

 

 
 

 

Bibliografia:

  • Magalhães C. Famílias Pseudothelphusidae e Trichodactylidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Rodrígues G, Magalhães C. Recent advances in the biology of the Neotropical freshwater crab family Pseudothelphusidae (Crustacea, Decapoda, Brachyura). Rev. Bras. Zool. 2005 June; 22(2): 354-365.
  • Magalhães C. 1986. Revisão taxonômica dos caranguejos de água doce brasileiros da família Pseudothelphusidae (Crustacea, Decapoda). Amazoniana, 9(4): 609-636.
  • Wehrtmann IS, Magalhães C, Hernáez P, Mantelatto FL. Offspring production in three freshwater crab species (Brachyura: Pseudothelphusidae) from the Amazon region and Central America. Zoologia 27 (6): 965–972, December, 2010.
  • Pedraza-Mendoza ME. Morfologia, taxonomia e análise cladística da tribo Kingsleyini Bott, 1970 (Crustacea: Decapoda: Pseudothelphusidae). Tese (Doutorado em Sistemática, Taxonomia Animal e Biodiversidade) - Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015.
  • Rodríguez G. 1982. Faune Tropicale 22 - Les crabes d’eau douce d’Amerique. Famille des Pseudothelphusidae. ORSTOM, Paris. 224pp.
  • Campos MR. (2005) Freshwater crabs from Colombia. A taxonomic and distributional study. Academia Colombiana de Ciencias Exactas Físicas y Naturales, Bogotá. Col. Jorge Álvarez Lleras No. 24, 363 pp.
  • Campos MR. Crustáceos decápodos de agua dulce de Colombia. 2014. Biblioteca José Jerónimo Triana No. 27. Universidad Nacional de Colombia. Facultad de Ciencias, Instituto de Ciencias Naturales, Bogotá D.C., Colombia. 692 pp.



Somos muito gratos à bióloga colombiana Prof. Martha Helena Rocha de Campos que gentilmente nos cedeu algumas fotos para ilustrar nosso artigo. Agradecemos também a Jairo Maldonado (Colômbia) por valiosas informações sobre a manutenção em aquários.
 
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