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"Michaelthelphusa"  
Artigo publicado em 20/06/2022, última edição em 06/09/2023  

Caranguejo de Água Doce – Michaelthelphusa

 

 

 

Nome em português: Caranguejo de água doce, Caranguejo de rio, Guajá 
Nome em inglês: -
Nome científicoMichaelthelphusa Magalhães, 2017

Origem: Noroeste do Pará
Tamanho: carapaça com largura de até 5,3 cm
Temperatura: 25-34° C

pH: espécies foram coletadas tanto em locais de pH alto quanto baixo

Dureza: espécies foram coletadas tanto em locais de dureza alta quanto baixa
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

 

Existem duas famílias de caranguejos de água doce no Brasil: Trichodactylidae e Pseudothelphusidae. O número total de pseudotelfusídeos existentes é maior (em torno de 300, contra cerca de 50 tricodactilídeos), mas no Brasil são bem mais raros, representados por atualmente 27 espécies. São caranguejos tipicamente encontrados em regiões montanhosas, sendo descritos do norte do México ao Brasil, bastante numerosos ao longo da cadeia montanhosa dos Andes. Porém, no Brasil, ocorrem quase exclusivamente na região da Bacia Amazônica. O gênero Michaelthelphusa pertence a esta família.

Pseudotelfusídeos têm um alto grau de endemismo, ocorrendo em áreas geográficas pequenas com pouca sobreposição entre as espécies. É o caso do Michaelthelphusa tuerkayi, uma espécie encontrada na região noroeste do Pará.

Devido à sua abundância, estes animais são importante componente da cadeia trófica de ambientes dulcícolas. Comestíveis, são também relevante fonte de alimentação para populações ribeirinhas e indígenas. Embora sejam comuns na Bacia Amazônica, raramente são vistos no comércio aquarístico, por serem agressivos e sem muito apelo estético.


            Etimologia: Michaelthelphusa tuerkayi é uma homenagem ao eminente zoólogo alemão Prof. Dr. Michael TürkayThelphusa é um gênero europeu de caranguejos de água doce da família Potamonautidae, um sufixo comum em caranguejos de água doce. 

  



Origem

Michaelthelphusa tuerkayi só é conhecida da sua localidade tipo, no Rio Tapajós em Itaituba (PA), entre Buburé e São Luiz do Tapajós. Foram encontrados entre e sob rochas submersas, no próprio Rio Tapajós, em leito rochoso e de águas claras, local raso e com pouca correnteza.
Exemplares de caranguejos do mesmo gênero (espécie ainda não descrita) foram coletados na Floresta Nacional do Tapajós, em duas localidades: Igarapé da Onça, afluente do rio Curuá-Una, e Igarapé do Branco, na drenagem do rio Tapajós.
                 No Rio Tapajos ocorre também outra espécie de Pseudothelphusidae, o Brasiliothelphusa tapajosense, mas ocupando outro nicho ecológico, de substrato barrento, no curso mais baixo do rio.

Assim como os demais membros da família, devem ter hábitos noturnos, semiterrestres, muitas vezes avistados caminhando em locais secos, mas sempre próximos aos rios. Escavam pequenas tocas no solo, sob pedras em solo úmido da floresta.


 

 

Distribuição geográfica dos Michaelthelphusa. Imagem original Google Maps; dados de Magalhães 2017 e Magalhães et al. 2021.




Aparência

 

Cefalotórax de altura média, elipsóide, com a margem anterior mais larga. Olhos pequenos, antenas curtas. Grandes quelípodos, discretamente assimétricos. Pernas dispostas lateralmente.

Pseudotelfusídeos podem ser diferenciados dos tricodactilídeos por dois detalhes: dáctilos com espinhos (ao invés de pelos), e segundo maxilópode. Dentro da família, a identificação dos diferentes gêneros e espécies é bastante difícil, baseada essencialmente na morfologia do gonópodo (apêndice sexual masculino). Exemplares fêmeas e juvenis não podem ser identificados com segurança além do gênero. Isto explica a grande confusão existente entre as diversas espécies, espécies descritas sendo consideradas sinonímias, e espécies previamente consideradas não-válidas sendo re-validadas. Obviamente isto também torna a identificação destas espécies extremamente difícil para o leigo.

Dentre os Pseudotelfusídeos brasileiros, a identificação do Michaelthelphusa tuerkayi é praticamente impossível para o leigo, sem a análise do gonópodo. Margens da carapaça com diminutos dentes e aspecto serrilhado. Possuem a margem superior da região frontal lisa, fortemente angulada, discretamente convexa. Margem inferior carinada. Fraca pubescência na região pterigostomial, somente margeando a região bucal.

Carapaça de cor castanho-avermelhada, pernas ambulatórias castanho-claras, quelípodos beges.


 



Michaelthelphusa sp., exemplar da Floresta Nacional do Tapajós, foto extraída de Magalhães C. et al. 2021.




Parâmetros de Água

 

Michaelthelphusa tuerkayi foi coletada no próprio Rio Tapajós, um rio de águas claras, pH e dureza mais elevadas. A nova espécie do gênero foi encontrada em um igarapé de águas negras, bastante ácidas e moles. São espécies tropicais, preferindo temperaturas mais altas.

 


Habitat do Michaelthelphusa sp., Igarapé da Onça, Floresta Nacional do Tapajós, foto extraída de Magalhães C. et al. 2021.



Dimorfismo Sexual

 

Como todo caranguejo, pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, o macho possui abdômen estreito, e a fêmea, abdômen largo, onde fixa seus ovos. Quelas costumam ser mais desenvolvidas e assimétricas nos machos.



Reprodução

Todo seu ciclo de vida se dá em água doce. Seu padrão reprodutivo é semelhante aos tricodactilídeos, com poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto.

Não há dados sobre período reprodutivo, número ou dimensão dos ovos. Há cuidado parental, alguns exemplares fêmeas coletadas de M. tuerkayi carregavam jovens protegidos na sua cavidade esternoabdominal. 



Comportamento

 

Os pseudotelfusídeos são caranguejos semi-terrestres. Não necessitam vir à superfície para respirar, mas preferem habitats onde possam encontrar terra firme para procurar alimentos e construir suas tocas. Relatos de criação em cativeiro destes caranguejos são quase inexistentes, toleram a manutenção submersa em aquários, mas possivelmente seriam mais bem acomodados em aquaterrários. Fugas são bastante frequentes, o tanque deverá ser sempre mantido bem tampado.

Agressivos e territoriais, frequentemente mostram quelas amputadas na natureza. Porém, há relatos de criação bem sucedida com peixes pequenos, inclusive de fundo. Pequenos invertebrados bentônicos fazem parte da sua dieta, como caramujos, e serão rapidamente predados. Plantas tenras também são devoradas avidamente. Por serem escavadores, não são indicados para tanques com substrato fértil, ou com layout ornamental. Hábitos noturnos, costumam ficar entocados até anoitecer.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.


 

Alimentação

 

Poucos dados existem quanto aos hábitos alimentares dos pseudotelfusídeos. Sabe-se que são onívoros, pouco seletivos, se alimentando de plantas mortas, carcaças de animais e caçando pequenos invertebrados.

 

 
 

 

Bibliografia:

  • Magalhães C. Famílias Pseudothelphusidae e Trichodactylidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Magalhães C. 1986. Revisão taxonômica dos caranguejos de água doce brasileiros da família Pseudothelphusidae (Crustacea, Decapoda). Amazoniana, 9(4): 609-636.
  • Magalhães C. 2017. A new genus and species of freshwater crab (Decapoda, Pseudothelphusidae) from the Tapajós River, a southern tributary of the Amazon River in Brazil. Crustaceana 90(7-10): 1015-1025.
  • Magalhães C, Brito LS, Vaz LJ, Fugimura MMS. Capítulo 18 - Crustáceos decápodes da Floresta Nacional do Tapajós e da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. In: Biodiversidade na Floresta Nacional do Tapajós e na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. / Org: Carlos Rodrigo Brocardo, Leandro Lacerda Giacomin. Santarém, Pará: UFOPA, 2021. 441 p. : il.


Agradecemos a Jairo Maldonado (Colômbia) por valiosas informações sobre a manutenção em aquários.


 As fotografias extraídas de Magalhães C. e colaboradores (UFOPA 2021) estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons 
 
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