Aratu-marinheiro
– Aratus pisonii
Nome em
português: Aratu-marinheiro, Aratu-da-pedra,
Aratupeba, Aratupinima.
Nome em inglês: Mangrove-tree
crab
Nome científico: Aratus pisonii
(H. Milne Edwards, 1837)
Origem:
Américas, costa atlântica e pacífica
Tamanho: carapaça com largura de 2,6 cm
Temperatura: 23-31° C
Salinidade: tolerante a variações
Reprodução: parcialmente
abreviada, mas necessita de água salobra para as larvas
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil
Apresentação
Aratu é o nome popular de
diversos caranguejos semi-terrestres do mangue, principalmente da família dos
sesarmídeos. Geralmente se refere a duas espécies, Aratus pisonii e Goniopsis
cruentata.
O
Aratus pisonii é a única espécie do
gênero, um grapsídeo da sub-família Sesarminae, filogeneticamente muito próximo
dos Armases. É um pequeno caranguejo
muito comum e numeroso no manguezal, de hábitos arborícolas, passando quase a
totalidade do seu tempo emerso, escalando e correndo rapidamente nos troncos
das árvores do manguezal.
Etimologia: Aratus vem do termo tupi ara’tu,
uma denominação genérica dos pequenos caranguejos semi-terrestres achatados do
mangue; pisonii é uma homenagem a Guilherme Piso
(1611-1678), médico e naturalista holandês (também conhecido como Willem Piso, Pison ou Pies, ou como assinava sua obra em latim - Guilielmi Pisoni). Escreveu com Georg
Marggraf a importante obra naturalista Historia Naturalis Brasiliae.
Aratus pisonii, fotografado em um mangue de São Francisco do Sul, SC. Foto cedida por Germano
Woehl Jr. (Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade).
Distribuição geográfica de Aratus pisonii. Imagem
original Google Maps; dados de Melo GAS 1996.
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Origem e habitat
Habita manguezais e áreas
adjacentes das zonas tropicais e subtropicais das Américas, tanto na sua face
atlântica quanto pacífica. As espécies das duas costas mostram discretas
diferenças, especialmente na morfologia das larvas, alguns autores sugerem que
se trate de duas espécies diferentes. Na costa atlântica é encontrado desde o
sul da Flórida (EUA) até o estado de Santa Catarina, sul do Brasil. Na costa
pacífica, ocorre desde o México até o Peru. Alguns relatos questionáveis de
coletas na costa do Chile.
É um
caranguejo praticamente terrestre, habitando áreas marginais adjacentes a
estuários. São encontrados desde o
supralitoral à copa das árvores manglares. Arbóreo, são numerosos em troncos e raízes
das arvores do mangue, além de fendas nas rochas e solo. Eurihalinos, podem ser
encontrados também mais longe do litoral, junto a rios costeiros.
Aratus pisonii em um tronco de árvore, fotografado em Guaratuba, PR. Estas fotos demonstram bem o caáter arborícola desta espécie. Fotos cedida por Carlos A. P. Parchen.
Aparência
São
caranguejos achatados de pequeno porte, carapaça trapezoidal, menos quadrada do
que outras espécies próximas, com a margem anterior bem mais alargada. Grandes
olhos protrusos nas bordas laterais da margem anterior, permitindo um amplo
campo de visão. Carapaça lisa e brilhante, com margens laterais lisas, sem dentes ou espinhos, além do orbital externo. Porção externa da região branquial com estrias oblíquas.
Garras simétricas. Pernas dispostas lateralmente, achatadas, um sinal bastante útil na identificação do Aratus pisonii
é o fato de terem os dedos das pernas ambulatórias bastante curtos, uma
adaptação ao seu modo de vida arborícola.
A coloração global é parda acinzentada, podendo ter ricas padronagens
visando camuflagem.
Juvenis de Aratus pisonii, fotografados em um estuário de São Luís, MA. Estes animais estavam em fendas de rochas e no solo, e não nas árvores, o que costuma ocorrer com os juvenis desta espécie. Dividiam o habitat com Armases angustipes, que pode ser visto na primeira foto. Fotos de Walther Ishikawa.
Dimorfismo Sexual
Como quase todos os caranguejos,
a distinção pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, que fica
dobrado sobre a porção ventral da carapaça. Fêmeas possuem o abdômen largo,
onde incubam seus ovos. Nos machos, o abdômen é estreito.
Aratus pisonii, exemplar norte-americano fotografado na Ilha Chokoloskee, Collier County
(Florida). Foto gentilmente cedida pelo fotógrafo Alan Cressler, a primeira imagem do artigo também é de sua autoria.
Aratu-marinheiro, fotografado em um mangue de Natal, RN. Foto cedida por Hector Barrabin.
Reprodução
São caranguejos de vida curta,
não ultrapassando um a dois anos de longevidade na natureza. Prolíficos, têm
estratégia reprodutiva do tipo “r”, crescem rapidamente, e atingem maturidade
sexual precocemente, em menos de um ano. Otimiza o esforço reprodutivo durante
a época reprodutiva, com múltiplas posturas, sem cópulas adicionais.
Seu ciclo de vida é muito
semelhante ao de outros crustáceos semi-terrestres estuarinos. Durante a
estação reprodutiva, estes caranguejos lançam milhares de larvas na água
durante a maré cheia. Estas são levadas pela correnteza até o mar, onde
permanecem por semanas até retornarem para o estuário.
Reproduz-se continuamente ao
longo do ano, exceto em meses frios em climas temperados. Pico reprodutivo em
Fevereiro e Março. Possuem um padrão intermediário de reprodução, parcialmente
abreviado. Produz ovos pequenos, medindo 0,3 mm, média de 9.000 ovos por
postura, num número que pode chegar a 20 mil ovos. Zoea I mede 0,7 mm de comprimento.
As larvas são planctônicas,
nascem como zoea de vida livre,
passando por até quatro estágios larvares, além da megalopa (pós-larva), por um
período de cerca de 19 dias até o estágio de megalopa. Alguns trabalhos descrevem um número variável de estágios
de zoea, de dois a quatro estágios, independente
de condições ambientais.
Em laboratório, viu-se que as
larvas se desenvolvem numa salinidade alta, semelhante ao mar, de cerca de 34%o.
As larvas são carnívoras, podendo ser alimentadas com náuplios de Artemia em cativeiro.
Um fato interessante é que, sendo
arborícolas, todo o cortejo e cópula também ocorre sobre as árvores.
Aratus pisonii,
dois exemplares fotografados em Ponta do Sul, PR, mostrando variações na sua coloração. Fotos de Dorival de Arruda Moura Neto.
Aratus pisonii,
fêmea ovada, fotografado em Guaratiba, RJ. Fotos de Walther Ishikawa.
Comportamento
Animais arborícolas, passam boa parte do seu tempo no tronco e copa de
árvores do mangue. Muitos o consideram o único caranguejo marinho
verdadeiramente arborícola, habitando até a copa das árvores e se alimentando de folhas frescas. Compartilham algumas características em comum com outras espécies arborícolas não-aparentadas (evolução convergente): carapaça achatada, própodos longos e dedos curtos nas pernas, além de carapaça triangular e esterno invaginado.
Há uma estratificação por idade, animais juvenis
tendem a ficar em locais mais baixos do tronco, ou entre folhas caídas no solo.
Os juvenis constroem tocas no solo onde se refugiam,
ou aproveitam tocas de Uca e Ucides.
São mais sensíveis a temperaturas
baixas do que outras espécies, em temperaturas mais baixas, se tornam menos
ativos, se entocando e ficando imóveis em fendas de árvores. Sua longevidade é estimada em cerca de dois anos.
Aratus pisonii, exemplar em tronco de árvore. Fotos de Mário Celso Micaeli.
Alimentação
São onívoros,
mas sua base alimentar é constituída quase que exclusivamente por folhas de
árvores do mangue, polpa de
árvores, além de algas e restos de animais presos às raízes, sendo considerado
um onívoro oportunista. Consomem
também esporadicamente insetos e outros pequenos animais.
Em cativeiro, necessitam de um balanço adequado
entre Fósforo e Cálcio, com predomínio deste último. Muitos criadores fornecem
suplementos de cálcio, como alimentos para répteis e comprimidos mastigáveis de
uso humano. É conveniente também evitar um excesso de proteínas na dieta,
mantendo uma dieta básica de vegetais. Outros alimentos não recomendados são o
espinafre (rico em ácido oxálico) e salsinha (alto teor de ácido prússico,
bastante tóxico para os caranguejos).
Aratus pisonii, fotografado em um manguezal de uma ilha de Paraty-Mirim, Paraty, RJ. Fotos cedidas por Myriam Vandenberghe.
Pequeno Aratus pisonii, foto de Rodrigo Valença Cruz.
Manutenção em
Aquaterrários
É uma espécie quase totalmente terrestre,
necessitando uma área seca predominante, e uma área aquática. Embora tolerem
uma ampla faixa de salinidade, necessitam de água salobra para uma manutenção
saudável a longo prazo.
O substrato é indiferente,
mas é preferível algum material que permita aos animais cavarem suas tocas.
Pelo seu hábito de escalar
objetos, é aconselhável que haja pedras, troncos e outros objetos no terrário. São exímios escaladores, o tanque deve ser
sempre mantido bem tampado, para evitar fugas. Pelo mesmo motivo, deve-se
atentar a troncos e outros objetos que possam ser usados como apoio pelos
animais para fugas. Consegue escalar até os cabos elétricos de filtros, uma
sugestão é ocluir bem qualquer pequena fresta na tampa do paludário por onde
estes fios adentram o tanque, por exemplo, com massas ou papel alumínio.
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-
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Vogt G. A compilation of longevity data in decapod
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Agradecimentos aos colegas Alan Cressler (EUA), Germano Woehl Jr. ( Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade ), Carlos A. P. Parchen, Hector Barrabin, Dorival de Arruda Moura Neto, Mário Celso Micaeli, Rodrigo Valença Cruz e Myriam Vandenberghe (Bélgica) pela cessão das fotos para o artigo.
As fotografias
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