Sarará, fotografado nas praias de Mosqueiro, margens do Rio Amazonas, PA. Foto cedida por Breno Peck.
Sarará – Armases benedicti
Nome em
português: Sarará, Almofada, Aratu
Nome em inglês: Fatfinger Marsh Crab
Nome científico: Armases benedicti (Rathbun, 1897)
Origem: Américas, costa atlântica tropical
Tamanho: carapaça com largura de 1,8 cm
Temperatura: 25-35° C
Salinidade: baixa
Reprodução: parcialmente
abreviada, mas necessita de água salobra para as larvas
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil
Apresentação
O Armases benedicti é um pequeno
caranguejo semi-terrestre conhecido como “Sarará”, habitante das margens dos
rios próximos ao Delta do Rio Amazonas. É a espécie de Armases mais bem adaptada à vida continental, suportando longos
períodos emerso, e sendo encontrado em ambientes bastante longe do litoral.
Constrói suas tocas nas margens de riachos de água doce, ou salobra de baixa
salinidade, só dependendo de água salobra para a reprodução.
O gênero Armases foi criado
em 1992, a partir da sub-classificação do gênero Sesarma, na ocasião um grupo bastante heterogêneo contendo mais de
125 espécies. Existem três espécies de Armases brasileiros: A. angustipes, A. benedicti e A. rubripes.
Destes, o Armases benedicti é a espécie com distribuição mais restrita no Brasil,
sendo encontrado somente na foz do Amazonas, em AP e PA.
Etimologia: A palavra Armases é
uma “brincadeira” com Sesarma, é um
anagrama, praticamente a mesma palavra escrita de trás para frente; benedicti
é uma homenagem ao eminente carcinologista norte-americano James Everard
Benedict (1854 – 1940).
Distribuição geográfica de Armases benedicti. Imagem
original Google Maps; dados de Melo GAS 1996.
|
Origem e habitat
É encontrado em áreas estuarinas
das zonas tropicais da costa atlântica das Américas, na Flórida, Golfo do México, e na América do Sul desde Venezuela até o
norte do Brasil, estados de Amapá e Pará. No Brasil, habita margens de riachos
e rios próximos ao delta do Rio Amazonas, em ambientes mais longe do litoral,
de água doce ou baixa salinidade, onde são bastante numerosos. Alguns
questionáveis relatos de coleta em outros estados, como Bahia e Rio de Janeiro.
É um
caranguejo praticamente terrestre, passando boa parte do período emerso.
Constrói suas tocas em barrancos marginais destes rios, sendo encontrado também
sob troncos e pedras.
Armases benedicti, fotografado em Saint-Laurent-du-Maroni, Guiana Francesa. Fotos de Julien Bonnaud.
Aparência
São caranguejos achatados de porte médio, carapaça quadrada, um pouco
mais larga do que comprida, e pernas dispostas lateralmente. Olhos nas bordas
ântero-laterais da carapaça, pedunculados mas curtos. Coloração em tons
acastanhados ou avermelhados. Muitos têm as garras com uma cor vermelha.
Podem ser confundidos com outras espécies de Aratus (Goniopsis, Sesarma, Aratus). Podem ser diferenciadas dos Sesarmas pelo aspecto nodulado das
garras, sem crista dorsal. A diferenciação com os outros Armases é fácil nos machos adultos, devido ao dedo
inflado da garra. Um detalhe bastante útil é o aspecto típico dos dedos das
quelas, com amplo hiato basal. Também possuem o mero das pernas alargados, com aspecto em "remos".
Sarará, fotografado próximo ao delta do Rio Parnaíba, PA. Note o hiato basal na quela. Foto cedida por Carlos Eduardo Ribeiro.
Dimorfismo Sexual
Como quase todos os caranguejos,
a distinção pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, que fica
dobrado sobre a porção ventral da carapaça. Fêmeas possuem o abdômen largo,
onde incubam seus ovos. Nos machos, o abdômen é estreito.
Há também um nítido dimorfismo
nas garras, machos adultos têm o dedo móvel bastante inflado na metade
proximal, além de terem granulações grosseiras ao longo de toda a quela. Machos
adultos também possuem garras maiores e mais robustas.
Sarará, fotografado próximo ao manguezal de Bragança (PA). Fotos cedidas por Daniela Torres.
Reprodução
O Armases benedicti depende de água salgada para
sua reprodução. Seu ciclo de vida é muito semelhante ao de outros crustáceos
semi-terrestres estuarinos. Durante a estação reprodutiva, estes caranguejos
lançam milhares de larvas na água, estas são levadas pela correnteza até áreas
de maior salinidade, onde permanecem por semanas até retornarem para os riachos.
É
uma espécie com um padrão reprodutivo parcialmente abreviado, composto de
quatro estágios larvares planctônicos (zoea)
além do megalopa. O único trabalho sobre a sua reprodução em laboratório
descreve todo o desenvolvimento larvar em água salobra de média salinidade,
15%o. O tempo de desenvolvimento larvar é de cerca
de 26 dias até o estágio juvenil. As larvas são carnívoras, podendo ser
alimentadas com náuplios de Artemia
em cativeiro.
Armases benedicti, fotografados em Abaetetuba, Pará. Fotos
gentilmente cedidas por Ademir Heleno A. Rocha.
Comportamento
São animais sociais, vivendo em numerosas colônias.
São mais ativos à noite. Tornam-se vulneráveis após a ecdise, quando permanecem
entocados, até a solidificação completa da carapaça.
Armases benedicti, fotografados em Abaetetuba, Pará. Fotos
gentilmente cedidas por Ademir Heleno A. Rocha.
Alimentação
São onívoros, mas sua base alimentar é
constituída quase que exclusivamente por folhas de árvores, sendo assim
classificados como herbívoros funcionais. Consomem também insetos e outros
pequenos animais.
Em cativeiro, necessitam de um balanço
adequado entre Fósforo e Cálcio, com predomínio deste último. Muitos criadores
fornecem suplementos de cálcio, como alimentos para répteis, ou pastilhas para
uso humano. É conveniente também evitar um excesso de proteínas na dieta,
mantendo uma dieta básica de vegetais. Outros alimentos não recomendados são o
espinafre (rico em ácido oxálico) e salsinha (alto teor de ácido prússico,
bastante tóxico para os caranguejos).
Pequeno filhote de Sarará, "surgiu" no filtro externo de um aquário em Belém (PA), provavelmente introduzido junto com alguma planta ornamental. Fotos de Anderson Souza.
Manutenção em
Aquaterrários
É uma das espécies de sesarmídeos mais bem
adaptada à vida terrestre, ficando praticamente todo o tempo emerso. Desta
forma, pode ser mantido em terrários somente com um pequeno recipiente com
água. Ao contrário de outras espécies, esta água pode ser doce, sem prejuízo na
qualidade de vida destes animais. Porém, pode ser mantido também em aquaterrários
salobros oligohalinos, sem problema algum. Por se tratar de uma espécie
tropical, prefere temperaturas mais elevadas.
O substrato é indiferente,
mas é preferível algum material que permita aos animais cavarem suas tocas.
Bibliografia:
- Melo GAS. Manual de
Identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São Paulo:
Plêiade/FAPESP Ed., 1996, 604p.
- Abele LG. 1992. A review of the grapsid crab genus Sesarma
(Crustacea: Decapoda: Grapsidae) in America, with the description of a new
genus. Smithson. Contr. Zool.
527:1-60.
- Lima
JF, Abrunhosa F. The complete larval development of Armases benedicti (Rathbun) (Decapoda, Sesarmidae), from the Amazon
region, reared in the laboratory. Rev.
Bras. Zool. 2006 June; 23(2): 460-470.
- Garcia JS, Aparicio GKS, da Silva TC, Lima JF. Dieta natural de Armases benedicti Rathbun, 1897
(Brachyura, Sersamidae) na foz do Rio Amazonas. Congresso Brasileiro sobre
crustáceos, 2008, Gramado RS.
- Ribeiro ASS. A fauna silvestre e o
homem ribeirinho: interações nos agroecossistemas amazônicos. Tese de Doutorado em
Ciências Agrárias, Universidade Federal Rural da Amazônia, 184p. 2010.
- Costa-Neto EM. Restrições e
preferências alimentares em comunidades de pescadores do município de Conde,
estado da Bahia, Brasil. Rev. Nutr.,
Campinas, 13(2): 117-126, maio/ago., 2000.
Agradecimentos ao professor Ademir Heleno A. Rocha (veja seu blog aqui ), aos aquaristas Carlos Eduardo Ribeiro e Anderson Souza, à professora e bióloga Daniela Torres ( Lela Orca ), e aos colegas Breno Peck (veja sua galeria de fotos do Flickr aqui ) e Julien Bonnaud (Guiana, visite sua galeria aqui ) pela cessão das fotos para o artigo.
|