Caramujos Doryssa
Doryssa H. Adams & A. Adams, 1854 é um gênero de caramujos de água doce que é encontrado
na região Norte da América do Sul, no Brasil são registradas cerca de 37
espécies, habitando os rios da Bacia Amazônica.
Imagens aquáticas do Rio Xingú, no Pará, mostrando Doryssa starski (rugosos) e Doryssa heathi (lisos). Imagens gentilmente cedidas por Dr. Peter Petersen.
Doryssa sp. (inconspicua?), fotografado na Ilha Ariosto, Rio Teles Pires, em Alta Floresta, MT. Foto de Sidnei Dantas.
Taxonomia e Distribuição
Até pouco tempo atrás eram classificados na família Pleuroceridae,
mas análises moleculares recentes utilizando o gene mitocondrial 16S (incluindo a espécie brasileira Doryssa consolidata) situaram
este gênero na família Pachychilidae, uma grande família monofilética de
espécies essencialmente de água doce, encontrados em climas tropicais do
hemisfério Sul, ao qual pertencem também os Tylomelania.
Porém, ainda hoje os Pachychilidae são caramujos muito pouco estudados,
relativos à sua taxonomia, filogenia, biologia e ecologia. Na região
neotropical, são descritos seis gêneros e mais de 140 espécies e subespécies,
mas o único gênero que ocorre no Brasil é o Doryssa.
Este gênero é encontrado também na Guiana Francesa, Suriname e Venezuela.
Doryssa cachoeirae (Baker,
1913), lectótipo coletado por F. Baker no Rio Jari (PA/AP). Exemplar da
Coleção Malacológica da Academia de Ciências naturais, Filadélfia, EUA.
Veja o link ao final do artigo.
Doryssa globosa (Baker, 1913), holotipo coletado por F.
Baker no Igarapé de Paituná, próximo de Monte Alegre, Fazenda Ponto,
PA. Exemplar da Coleção Malacológica da Academia de Ciências naturais,
Filadélfia, EUA. Veja o link ao final do artigo.
Doryssa heathi (Baker,
1914), holotipo coletado por F. Baker no Rio Iriri, afluente do Rio
Xingú, PA. Exemplar da Coleção Malacológica da Academia de Ciências
naturais, Filadélfia, EUA. Veja o link ao final do artigo.
Doryssa iheringi (Baker, 1913), holotipo coletado por F. Baker na Cachoeira de Santo Antonio, Rio Jari, PA. Exemplar da Coleção Malacológica da Academia de Ciências naturais, Filadélfia, EUA. Veja o link ao final do artigo.
Doryssa jaryensis (Pilsbry in Baker, 1931), lectotipo coletado por F. Baker na Cachoeira de Santo Antonio, Rio Jari, PA. Exemplar da Coleção Malacológica da Academia de Ciências naturais, Filadélfia, EUA. Veja o link ao final do artigo.
Doryssa millepunctata (Tryon,
1865), lectotipo, identificado somente como "Amazonas". Esta espécie
ocorre no Brasil (PA) e possivelmente no Peru. Exemplar da Coleção Malacológica da
Academia de Ciências naturais, Filadélfia, EUA. Veja o link ao final do
artigo.
Doryssa devians Brot, 1874, a maior espécie do gênero. Lectotipo identificado como Doryssa rex regina, coletado por F. Baker na Cachoeira de Santo Antonio, Rio Jari, PA. Exemplar da Coleção Malacológica da Academia de Ciências naturais, Filadélfia, EUA. Veja o link ao final do artigo.
Doryssa devians Brot, 1874. Lectotipo identificado como Doryssa rex, coletado por F. Baker na Cachoeira de Santo Antonio, Rio Jari, PA. Exemplar da Coleção Malacológica da Academia de Ciências naturais, Filadélfia, EUA. Veja o link ao final do artigo.
Doryssa starksi (Baker, 1913), holotipo coletado por F. Baker no
Rio Iriri, afluente do Rio Xingú, PA. Exemplar da Coleção Malacológica
da Academia de Ciências naturais, Filadélfia, EUA. Veja o link ao final
do artigo.
Doryssa sulcata (Baker,
1913), holotipo coletado por F. Baker no Rio Jari, PA. Exemplar da
Coleção Malacológica da Academia de Ciências naturais, Filadélfia, EUA.
Veja o link ao final do artigo.
Doryssa tapajozensis (Pilsbry
in Baker, 1913), lectotipo coletado por F. Baker no Rio Jamanxim,
afluente do Rio Tapajós, PA. Exemplar da Coleção Malacológica da
Academia de Ciências naturais, Filadélfia, EUA. Veja o link ao final do
artigo.
Doryssa tucunareensis (Baker,
1913), lectotipo coletado por F. Baker em Tucunaré, Rio Jamanxim, PA.
Exemplar da Coleção Malacológica da Academia de Ciências naturais,
Filadélfia, EUA. Veja o link ao final do artigo.
Morfologia Há alguma variação nas espécies, mas geralmente têm uma
concha cônica e turriforme, espessa, fortemente esculturada com costelas, nódulos
e retângulos sobressalentes, cristas axiais e espirais, muitas vezes com ápice
erodido. Porém, existem espécies de conchas mais subglobosas ou fusiformes, e espécies
com a concha lisa (veja fotos acima). Em geral não há entalhe sifonal. Coloração
variável, esverdeada, amarelada, acastanhada, até uma cor escura e enegrecida. Dimensões
variáveis, de alguns centímetros a mais de 7,5 cm (Doryssa devians). As conchas podem lembrar muito os Tiarídeos, não
sendo possível em muitos casos distingui-los baseado somente em critérios
conquiliológicos. Porém, as partes moles são claramente distintas.
A cabeça e pé mostram uma coloração marrom escura homogênea,
exceto por raras e esparsas áreas mais claras. Cabeça protrusa, com uma tromba
grande e acuminada, margem anterior achatada. Sulco genital lateral na região
cefálica. Possuem a borda do manto lisa, ao contrário dos Thiaridae (Melanoides e Aylacostoma) que mostram papilas ou tentáculos nesta região. Tentáculos
cefálicos são longos e grossos, também distinta dos Tiarídeos. Os pequenos olhos
escuros não são visíveis externamente, mas situam-se na base dos tentáculos
cefálicos, semelhante aos Tiarídeos, mas ocultos pelo omatoforo (Tiarídeos não
possuem omatoforos). Pé de tamanho médio. Opérculo circular e córneo,
multiespiral com núcleo central ou subcentral, outra característica típica da
família.
Doryssa hohenackeri, foto de Olivier Gargominy (Muséum national d´Histoire naturelle - Service du Patrimoine Naturel, França). Imagem disponibilizada pelo portal INPN (link ao final do artigo).
Quatro espécies de Doryssa coletadas na Venezuela, pelo usuário "Veronidae" (Wikimedia Commons). Doryssa consolidata e Doryssa atra coletadas no Rio Ventuari. As quatro espécies também são encontradas no Brasil.
Doryssa cf. starski, fotografadas em Volta Grande, no baixo Rio Xingú, Altamira, PA, local de leito rochoso e alta correnteza. Na segunda foto, na superfície inferior de um conglomerado de rochas, junto a esponjas. O rio onde foi feito o registro ao fundo. Fotos gentilmente cedidas por Dr. Nathan L. Lujan.
Provável Doryssa hohenackeri fotografadas na Guiana Francesa, fotos gentilmente cedidas por Gregory Quartarollo (Guyane Wild Fish Association).
Habitat São encontrados habitando rios e riachos, geralmente de maior
correnteza. São particularmente numerosos no Rio Xingú e seus tributários, é o táxon
mais abundante na parte média do Rio Xingu, onde há registros de até 1555 ind./m2.
São locais de correnteza, águas claras e ligeiramente ácidas (pH 6,2-7,0), com
altas concentrações de oxigênio dissolvido e poucas fontes de material orgânico.
Nos rios, preferem suas margens, com águas mornas e alta densidade de limo nas superfícies
rochosas, dos quais se alimentam.
Doryssa sp., fotografado no Amapá. Imagem gentilmente cedida por Flávio Mendes.
Doryssa sp. com conchas incrustadas por esponjas de água doce. Fotos de Fernando Barletta, gentilmente cedidas por Ulisses Pinheiro e Celina Martins (UFPE).
Reprodução São caramujos dióicos, com fertilização interna. Os Pachychilidae
podem ser ovíparos ou ovovivíparos (e algumas espécies asiáticas vivíparas), não
há informações específicas sobre os Doryssa.
Doryssa hohenackeri fotografadas na Guiana Francesa, esta espécie também é encontrada no Brasil. Primeira foto em Remire-Montjoly, Cayenne (foto da Dra. Ombeline Sculfort), as demais em Saül, Saint-Laurent-du-Maroni (fotos de Julien Renoult).
Caramujos Doryssa, provavelmente duas espécies, coletadas no Rio Amapá Grande, afluente do Rio Flexal, AP. Fotos gentilmente cedidas por Daniel Pereira da Costa.
Bibliografia adicional:
- Simone LRL. 2006. Land and Freshwater Molluscs of Brazil. EGB, Fapesp. São Paulo, Brazil. 390 pp.
- Simone LRL. Phylogenetic analyses of
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Zoologia. 2001; 36 (2): 147–263.
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Doutorado. Faculdade de Matemática e Ciências Naturais da Universidade
Humboldt de Berlim. 2009.
- Bouchet
P, Rocroi J-P, Frýda J, Hausdorf B, Ponder W, Valdés Á, Warén A.
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- Köhler F, Glaubrecht M.
Uncovering an overlooked radiation: molecular phylogeny and biogeography
of Madagascar’s endemic river snails (Caenogastropoda:
Pachychilidae: Madagasikara gen.
nov.). Biological Journal of
the Linnean Society. 2010; 99: 867-894.
- Mansur MCD, Santos CP dos, Pereira D, Paz ICP, Zurita
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no Brasil: Biologia, Prevenção e Controle. Porto Alegre, RS: Redes Editora, 2012, 412 p.
- Correia
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- Jesus AJS, Costa TCPN, Camargo M. Registros de moluscos Gastropoda
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- Baker F. The Land and
Fresh-Water Mollusks of the Stanford Expedition to Brazil. Proceedings of the Academy of Natural Sciences of Philadelphia. 1913; 65(3): 618-672.
- Cuezzo MG, Gregoric DEG, Pointier JP, Vázquez AA, Ituarte C, Mansur MCD, Arruda JO, Barker GM, Santos SB, Ovando XMC, Lacerda LEM, Fernandez MA, Thiengo SC, Mattos AC, Silva EF, Berning MI, Collado GA, Miyahira IC, Antoniazzi TN, Pimpão DM, Damborenea C. Chapter 11 - Phylum Mollusca. In: Thorp and Covich's Freshwater Invertebrates (Fourth Edition), Editors: D. Christopher Rogers, Cristina Damborenea, James Thorp. Academic Press, 2020. p. 261-430.
Agradecimentos aos colegas biólogos Flávio Mendes, Dr. Nathan K. Lujan (American Museum of Natural History) e Dr. Peter Petersen (Dinamarca, veja sua página Amazonas ), Gregory Quartarollo ( Guyane Wild Fish Association ), também a Fernando Barletta, Prof. Ulisses Pinheiro e Celina Martins (UFPE), Daniel Pereira da Costa, e aos colaboradores do iNaturalist Sidnei Dantas, Dra. Ombeline Sculfort (França, French National Center of Scientific Research) e Julien Renoult, e também a Olivier Gargominy (Muséum national d´Histoire naturelle - Service du Patrimoine Naturel, França) pela cessão das fotos. Vejam também a Coleção Malacológica da Academia de Ciências Naturais, Filadélfia, aqui . Os lectotipos e holotipos da expedição do Dr. Fred Baker realizada ao Brasil em 1913, responsável pela descrição de muitas das espécies conhecidas de Doryssa (fotos acima) estão depositadas nesta coleção.
As fotografias da Coleção Malacológica da Academia de Ciências Naturais, Filadélfia, Veronidae (Wikimedia Commons), Sidnei Dantas (iNaturalist), Ombeline Sculfort (iNaturalist), Julien Renoult (iNaturalist) e a foto de Olivier Gargominy (disponibilizado pelo portal INPN - Inventaire National du Patrimoine Naturel (veja link aqui ) estão licenciadas sob uma Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
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