INÍCIO ARTIGOS ESPÉCIES GALERIA SOBRE EQUIPE PARCEIROS CONTATO
 
 
    Espécies
 
"Pomacea papyracea"  
Artigo publicado em 17/10/2015, última edição em 09/12/2023  

Pomacea (Pomacea) papyracea

Spix, in Wagner, 1827





A Pomacea papyracea é uma espécie bastante peculiar e interessante de Ampulária, é a única espécie conhecida perfeitamente adaptada às condições de águas pretas e extremamente ácidas da bacia Amazônica. É encontrado em locais onde o pH pode chegar a 4,0, coexistindo somente com uma pequena Lapa também adaptada a estes habitats ácidos, Gundlachia bakeri. Como ela sobrevive nestes locais extremamente inóspitos para moluscos? Sua concha possui uma composição essencialmente protéica, com pouco material mineral associado, translúcida e flexível. Seus ovos também não são calcificados.

 

Outro detalhe interessante desta espécie é que algumas análises moleculares recentes baseadas em 5 genes (nucleares e mitocondriais) o situam numa posição mais basal e afastada em relação às demais Pomacea, talvez até um gênero distinto, o que poderia explicar estas características bastante distintas das demais Ampulárias.

 




Pomacea papyracea, foto de Kenneth Hayes.


Concha: Conchas globosas, bastante leves, de consistência frágil e flexível, daí seu nome cientifico ("semelhante a papel"). Ápice geralmente desgastado, mas preservado em espécimes vivos. A maioria possui entre quatro e cinco voltas; as suturas são rasas, mas evidentes. Superfície externa lisa. Abertura ovalada com dois terços do tamanho do comprimento da concha. Medem até 67 mm de altura, mas há alguns relatos mencionando espécimes maiores, de até 110 mm.


Conchas de cor preta, algumas vezes marrom escura com manchas radiais de diferentes tons de coloração. Além da Pomacea urceus, é a única Pomacea que nunca apresenta faixas. Estas conchas são compostas essencialmente de matéria orgânica (concholina), com somente 13~18% de carbonato de cálcio. Seu periostraco também é bastante espesso.


 





Pomacea papyracea, coletada no curso médio do Rio Madeira, AM. Fotos de Daniel Mansur Pimpão, primeira imagem extraída de Pimpão DM. MMA 2007 (7a referência).




Conchas de Pomacea papyracea, fotografadas no acervo do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP). Note o aspecto deformado e enrugado das conchas, decorrente da desidratação, nestas conchas com pouco componente mineral. São finas e quebradiças depois de secas. A imagem da esquerda da segunda foto mostra a concha iluminada por detrás. Fotos de Walther Ishikawa.




Reprodução: Ocorre somente nos meses de fevereiro e março, durante o período de cheia das águas, onde há alta umidade do ar, próximo da saturação. Depositam seus ovos logo acima da linha d´água, aderidas em caules de árvores parcialmente submersas, nos igapós. São grandes ovos de cor branca/creme, medindo 4~5 mm, não-calcificados e cobertos por uma membrana elástica. Os cachos têm entre 250~1000 ovos poliembriônicos (1 a 4 embriões de diferentes tamanhos), ovos esférios e separados entre si. Os ovos são muito mais sensíveis à dissecação do que outras Pomacea. Oviposição muito menos frequente que outras espécies, difícil criação em cativeiro.




Pomacea papyracea em oviposição, fotografada em Novo Airão, AM. Foto cortesia de edu_bal (iNaturalist). 






Concha de Pomacea papyracea, incrustada pela esponja Metania fittkaui, fotos de Daniel Mansur Pimpão, extraídas de Pimpão DM. MMA 2007 (7a referência).


Alimentação e Comportamento: os dados são bastante escassos, há alguns relatos de populações da Guiana passando por estivação, quando se enterram na lama, de forma semelhante à P. urceus. São alimentos frequentes do Gavião Caramujeiro.


Pomacea papyracea, fotografa no Rio Negro, em Novo Airão, AM. Foto cortesia de Karina Hilliard.




Distribuição geográfica de Pomacea papyracea no Brasil. Imagem original Google Maps; dados das referências bibliográficas abaixo.



Habitat e distribuição:

Pomacea papyracea é encontrada principalmente nas Bacias Amazônica e Orinoco, além de focos no nordeste brasileiro. Nestes primeiros, ocupam ambientes de águas pretas, como o Rio Negro e seus afluentes, com pH bastante ácido e baixa condutividade. Por este motivo, são ambientes bastante pobres em malacofauna, muitas vezes esta é a única espécie de Pomacea encontrada. Por exemplo, no lago Tupé e no rio Negro, próximo à praia do Tupé, os valores de pH são sempre inferiores a 6,0, com médias dentro da faixa de pH 4,0. Também são locais pobres em cálcio, com concentrações próximas a 0,3mg/l.



No Brasil ocorre no estado do AM, além de focos na BA, PE e PI. Encontrado também na Venezuela, Peru, Suriname, Guiana e Guiana Francesa.





 

 









Bibliografia adicional:
  • Simone LRL. 2006. Land and Freshwater Molluscs of Brazil. EGB, Fapesp. São Paulo, Brazil. 390 pp.
  • Alderson EG. Studies in Ampullaria. W. Heffer & Sons, Cambridge 1925.
  • Hayes K. A., Cowie R. H. & Thiengo S. C. (2009). A global phylogeny of apple snails: Gondwanan origin, generic relationships, and the influence of outgroup choice (Caenogastropoda: Ampullariidae). Biological Journal of the Linnean Society 98(1): 61-76.
  • Cowie RH, Thiengo SC. (2003): The apple snails of the Americas (Mollusca: Gastropoda: Ampullariidae: Asolene, Felipponea, Marisa, Pomacea, Pomella): a nomenclatural and type catalog. Malacologia, 45: 41-100.
  • Hayes KA, Burks RL, Castro-Vazquez A, Darby PC, Heras H, Martín PR, Qiu JW, Thiengo SC, Vega IA, Wada T, Yusa Y, Burela S, Cadierno MP, Cueto JA, Dellagnola FA, Dreon MS, Frassa MV, Giraud-Billoud M, Godoy MS, Ituarte S, Koch E, Matsukura K, Pasquevich MY, Rodriguez C, Saveanu L, Seuffert ME, Strong EE, Sun J, Tamburi NE, Tiecher MJ, Turner RL, Valentine-Darby PL, Cowie RH. Insights from an Integrated View of the Biology of Apple Snails (Caenogastropoda: Ampullariidae). Malacologia, 2015, 58(1-2): 245-302.
  • Pimpão DM, Martins DS. Moluscos de água doce do Tupé, Manaus, AM, Brasil. In: Biotupé: Meio Físico, Diversidade Biológica e Sociocultural do Baixo Rio Negro, Amazônia Central volume 2. Santos-Silva EM, Scudeller VV. (Orgs.), UEA Edições, Manaus, 2009.
  • Pimpão DM. Moluscos. In Biodiversidade do Médio Madeira: bases científicas para propostas de conservação (Py-Daniel LR, Deus CP, Henriques AL, Pimpão DM, Ribeiro OM. orgs). MMA/MCT/INPA, Manaus 2007, cap. 6, p. 69-81.
  • Junk WJ. The Central Amazon Floodplain: Ecology of a Pulsing System. Springer Science & Business Media, 2013, 528 p.
  • http://www.conchasbrasil.org.br/
  • Lasso CA, Martínez-Escarbassiere R, Capelo JC, Morales-Betancourt MA, Sánchez-Maya A. 2009. Lista de los moluscos (Gastropoda-Bivalvia) dulceacuícolas y estuarinos de la cuenca del Orinoco (Venezuela). Biota Colombiana 10(1-2): 63-74.
  • Sant'Anna BS, Hattori GY (Ed.) Amazonian Apple Snails (Animal Science, Issues and Research) Nova Science Publishers, Inc. (2017) 170p.
  • Pain T. Pomacea (Ampullariidae) of British Guiana. Proc. Malac. Soc. London, 28:63-74, 1950.
 

 

 

Agradecimentos ao Dr. Daniel Mansur Pimpão assim como ao MMA (Ministério do Meio Ambiente) por permitir o uso do material material fotográfico de sua publicação. Agradecemos também ao zoólogo Dr. Kenneth Hayes, ao fotógrafo e naturalista Hermit (veja seu website de biodiversidade,  Biodiversus ), e aos colaboradores do iNaturalist edu_bal (Argentina) e Karina Hilliard pelo uso das suas fotos no artigo. Finalmente, somos gratos ao Prof. Luiz Simone (MZUSP) pelo apoio e auxílio nas fotos das conchas do museu.


A fotografia de Kenneth Hayesedu_bal (iNaturalist) e Karina Hilliard (iNaturalist) estão licencidas sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
« Voltar  
 

Planeta Invertebrados Brasil - © 2024 Todos os direitos reservados

Desenvolvimento de sites: GV8 SITES & SISTEMAS