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"Plesiophysa"  
Artigo publicado em 15/02/2018, última atualização em 10/03/2024  


Plesiophysa guadeloupensis, exemplar coletado no Rio de Janeiro. Foto extraída de M.A. Fernandes et al. 2006. Licença Creative Commons.


Caramujo Plesiophysa

 

Plesiophysa Fischer, 1883

 

 

O Plesiophysa é um pequeno caramujo de água doce com uma morfologia bem interessante, lembrando bastante um Physa. Daí seu nome, do grego plesio = próximo. O primeiro exemplar coletado nas Antilhas em 1841 foi inicialmente descrito como uma nova espécie de Physa. Quando foi proposto o novo gênero, em 1883, foi considerado um subgênero de Bulinus (Bulinidae), depois em 1939 o gênero foi transferido para Planorbidae, baseado em características da rádula, representando uma subfamília própria, Plesiophysinae. Atualmente retornou à família Bulinidae, sendo o único gênero da família encontrado no Novo Mundo. 

 

Trata-se de um gênero neotropical, contendo cinco ou seis espécies, duas encontradas no Brasil:

 

  • Plesiophysa guadeloupensis (P. ornata é um sinônimo menor, provavelmente P. hubendicki também) – Brasil (MA, RN, PB, PE, SE, BA, ES, RJ, MG, GO), Guadalupe, Porto Rico e República Dominicana
  • Plesiophysa dolichomastix – Brasil (Santa Rosa, GO)

 

 

 

Concha de Plesiophysa guadeloupensis, exemplar da Coleção de Moluscos do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. Foto extraída de S.R. Gomes et al. 2016. Licença Creative Commons.




Concha de 
Plesiophysa sp., exemplar encontrado na Gruta da Machadinha, Toca de Candeias, BA. Foto extraída de R. B. Salvador et al. 2023. Licença Creative Commons.



Sua concha mede até 9 mm, lembra bastante um Physa, sendo sinistrógira, de aspecto oval e alongado, alguns o descrevem como “fisóide”. Porém, seus giros se expandem rapidamente, com o giro externo desproporcionalmente inflado, suturas profundas e espira achatada. Abertura bastante ampla, oval-alongada. Coloração âmbar translucida a marrom escuro. Concha áspera, com finas estrias espirais e linhas de crescimento perpendiculares, conferindo um aspecto reticulado tênue. O periostraco possui pelos curtos quando jovem, permanecendo alguns residuais nos adultos, em locais com menos abrasão. Não possuem opérculo.

 

O corpo é semelhante aos demais planorbóides, com tentáculos cefálicos finos e longos, pé oblanceolato, presença de grande pseudobrânquia. Hemolinfa incolor. Corpo de cor cinza claro, exceto a cabeça e eixo dos tentáculos, que são bastante pigmentados. O teto da cavidade pulmonar é pigmentado de forma irregular, visível através da concha transparente, com aspecto de manchas claras não pigmentadas sobre um fundo escuro. A borda do manto é fina, sem as projeções típicas dos Physa.

 



Cápsulas de ovos de Plesiophysa guadeloupensis, em folhas de plantas aquáticas. Foto extraída de M.A. Fernandes et al. 2006. Licença Creative Commons.



É um caramujo típico do semi-árido nordestino, onde é encontrado em lagoas efêmeras, que sofrem dessecação completa periodicamente. Existem alguns dados ambientais (como na PB e RJ), mostrando que preferem locais quentes (27 a 30º C), com ampla variação de pH (6.2 a 7.8), dureza e oxigenação. Nestes locais, em períodos de chuva, muitas vezes são a fauna bentônica predominante (chegando a 21% em um trabalho na caatinga de PB). Provavelmente têm alguma forma de diapausa para as épocas secas, mas ainda é desconhecido. São hermafroditas, quando criados em aquários reproduzem-se de forma semelhante aos planorbídeos, depositando ovos agrupados em uma cápsula em forma de um disco achatado suboval, sobre plantas aquáticas e outros substratos. Alimentam-se de algas e vegetais em decomposição, em cativeiro, podem receber alface desidratada.

 


Plesiophysa coletadas em Umarizal, RN. Fotos cortesia de Laura Cavalcante.




 

Importante!!

 

            O P. dolichomastix, que só é encontrada em Santa Rosa, Goiás, é uma espécie ameaçada, listada como “criticamente em perigo” (CR) na relação das espécies em risco de extinção, recém revisada e publicado pelo Ministério do Meio Ambiente e IBAMA (2014). Desta forma, sua coleta e manutenção em cativeiro são proibidas por lei.


 

 

 

Referências:

  • Simone LRL. 2006. Land and freshwater molluscs of Brazil. São Paulo, SP: FAPESP, 390 p.
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  • Paraense WL. Plesiophysa guadeloupensis ("Fischer" Mazé, 1883). Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 2003 June; 98(4): 519-521. 
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  • Gomes SR, Fernandez MA, Silva EF, Lima AC, Thiengo SC. A Coleção de Moluscos do Instituto Oswaldo Cruz: melhorias em diversidade e infraestrutura ao longo dos últimos anos. Arq. Ciên. Mar, Fortaleza, 2016, 49 (suplemento): 60-68.
  • Souza AHFF, Abílio FJP. Zoobentos de duas lagoas intermitentes da caatinga paraibana e as influências do ciclo hidrológico. Revista de Biologia e Ciências da Terra. Suplemento Especial - Número 1 - 2º Semestre 2006. 146-164.
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  • Santos DPN. Macroinvertebrados bentônicos do sedimento litorâneo de ambientes aquáticos do semi-árido paraibano, nordeste do Brasil; Trabalho de Conclusão de Curso; (Graduação em Ciências Biológicas) - Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, Paraíba. 2009.
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  • Salvador RB, Silva FS, Bichuette ME. (2023). Taxonomic study on a collection of terrestrial and freshwater gastropods from caves in Bahia state, Brazil, with the description of a new species. Folia Malacologica. 31(1): 48–60. 



 As fotografias de Laura Cavalcante (iNaturalist), M. A. Fernandes e cols. (2006), S. R. Gomes e cols. (2016) e R. B. Salvador e cols. (2023) estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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