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Vermes 1  
Artigo publicado em 14/01/2012, última edição em 04/08/2023  



Verminhos no aquário... devo me preocupar??

 

           Uma dúvida muito freqüente, recorrente em fóruns de aquarismo, é sobre a identificação de pequenos vermes no aquário. O primeiro pensamento que vem à mente é a de que seja um parasita intestinal dos peixes que foi eliminado junto com as fezes. Ou a de um animal que de alguma forma vai transmitir doenças a nós, aquaristas.

            Na realidade, todo aquário tem uma fauna “invisível”, de pequenos animais vivendo abaixo do substrato, dentro dos filtros, nas folhas e raízes de plantas, na superfície de pedras e troncos, e mesmo na coluna d´água. São importantíssimos no equilíbrio biológico do aquário, em especial no papel de decomposição e reciclagem de nutrientes. E os vermes são um dos componentes mais comuns e numerosos desta comunidade.

Entretanto, a detecção de um excesso destes animais é um sinal de alerta, indica um acúmulo de matéria orgânica, seja por superpopulação, alimentação excessiva ou filtragem insuficiente.

Geralmente são introduzidos junto com plantas, sendo com freqüência detectados durante a ciclagem, enquanto o equilíbrio biológico ainda não foi plenamente atingido. Em aquários estabilizados podem ser vistos em pequeno número, principalmente durante TPAs, quando o substrato é revolvido, ou imediatamente após a limpeza do filtro.

            Com raríssimas exceções, não causam doenças, e não são prejudiciais aos peixes, plantas, ou ao aquarista. As duas grandes exceções serão abordadas em artigos específicos, que são as  Planárias  e as  Sanguessugas . Outro grupo que ganhou um artigo próprio são os  Nemertinos , por serem muito confundidos com as Planárias. Sugerimos a leitura também destes artigos, já que uma situação comum em aquários é a explosão populacional de Microturbelários, um tipo de Planária.




Oligoquetas tubificídeos (Naididae). Fotos de Marne Campos.



Verme Oligoqueta Dero, note a extremidade caudal expandida. Foto de Walther Ishikawa.



Vermes oligoquetas em um aquário de camarões Caridina, geralmente ficam ocultos, mas foram à superfície alimentar-se de uma ecdise de camarão. Fazem parte da fauna normal de aquários, não são prejudiciais. Vídeo cortesia de Fábio F. Murakami.


 

Taxonomia

 

É interessante lembrar que o termo “verme” se refere a um grupo taxonômico obsoleto. Na classificação original de Lineu, ele designava verme como sendo todo invertebrado que não pertencia ao grupo dos artrópodes. É uma palavra que continua sendo usado informalmente, para todo animal alongado e/ou achatado, sem esqueleto interno ou externo, e sem membros.

O grupo inclui uma grande variedade de animais que têm estes traços em comum, mas pertencem a filos completamente distintos. Mesmo entre os animais corriqueiramente chamados de vermes, podem pertencer a grupos bem distantes filogeneticamente. Comparando uma planária, um Tubifex e um microverme, a distância filogenética entre eles é tão grande quanto entre um camarão e um caramujo.

Para complicar mais ainda, numa designação mais informal, o termo “verme” pode incluir também larvas de insetos, e até alguns vertebrados. Uma dúvida bastante comum entre aquaristas é a respeito do Bloodworm (“Verme-sangue”, numa tradução literal), um popular alimento vivo, que na realidade não é um verme verdadeiro, mas sim a larva de um mosquito. Outra confusão frequente (novamente devido ao nome enganador) é a Lernaea, um crustáceo ectoparasita comum em Kinguios, chamado popularmente de "Verme-âncora".

             Vermes são encontrados nos mais variados habitats, terrestres, marinhos, dulcícolas, muitas espécies sendo parasitas. Dentre aqueles de vida livre, que podem dar as caras nos nossos aquários, três filos importantes são os Anelídeos (poliquetas, oligoquetas, sanguessugas, etc), os Platelmintos (planárias e outros) e os Nematóides. Devido à sua importância, como vermes não inócuos à população do aquário, as  Planárias  e  Sanguessugas  serão abordadas em artigos específicos.

             Além de detalhes da morfologia do seu corpo, estes principais vermes  podem ser diferenciados de forma relativamente fácil através da forma como caminham. Oligoquetas caminham como minhocas (que também é um oligoqueta), ou seja, através de uma combinação de movimentos serpiginosos, serpentiformes, e de contração e extensão peristáltica do seu corpo. Sanguessugas usam basicamente seus dois anéis de sucção nas duas extremidades do seu corpo, inicialmente apoiam-se no disco na extremidade caudal, esticam seu corpo, "tateando" com sua cabeça um ponto de apóio, quando o encontram, fixam-se, soltam sua extremidade caudal e se contraem, como uma mola. É descrito como em "mede-palmos", semelhante a algumas lagartas. Planárias deslizam através da superfície onde caminham usando seus cílios microscópicos, parecem deslizar de uma forma bastante semelhante a caramujos:



                A forma do nado pode ajudar também na diferenciação, especialmente das Planárias. Estes vermes chatos não têm capacidade de nado, se ficarem à meia-água, ficam passivamente ao sabor da correnteza, afundando lentamente. Todos os outros vermes ao menos tentarão nadar com movimentos serpentiformes e ondulatórios. Os Oligoquetas têm um nado mais ordenado, costumam nadar mantendo a cabeça relativamente fixa, como uma serpente. E nadam impulsionados para frente, ao contrário dos Nematóides, que se movem lateralmente. Alguns oligoquetas podem ter também um nado helicoidal, em um trajeto semelhante a uma mola. Em relação às Sanguessugas, há espécies que nadam (como Barbronia), e outras não (como Helobdella). Outras ainda nadam somente quando juvenis. Quando nadam, os fazem de forma semelhante aos oligoquetas.




Oligoqueta, provavelmente Dero (Aulophoruse Éolosomata em um aquário. Foto de Walther Ishikawa.


Os três vermes comuns em Aquário: Oligoquetas, Éolosomatas e Nematóides


Vermes Oligoquetas


O filo dos Anelídeos compreende os vermes segmentados, com cerca de 17.000 espécies vivendo em ambientes terrestres, marinhos e de água doce. São tradicionalmente divididos em três grupos, Oligoquetas, Poliquetas e Sanguessugas, e é esta classificação que usaremos aqui. Mas recentes análises cladísticas demonstram que a classificação é um pouco mais complexa, as Sanguessugas sendo um sub-grupo dos Oligoquetas, e os Oligoquetas um sub-grupo das Poliquetas. Análises recentes também validaram os Éosolomatas como uma terceira classe, Aphanoneura. Branchiobdellida (diminutos ectocomensais de crustáceos, principalmente lagostins) também ganhou status de classe, mas não são encontrados na América do Sul.  




Grandes minhocas aquáticas


A minhoca comum é o Oligoqueta mais conhecido, possuem corpo cilíndrico segmentados e poucas cerdas. Dois terços das cerca de 5000 espécies de Oligoquetas pertencem ao grupo dos "Megadrila" (Crassiclitellata), de maiores dimensões, e essencialmente terrestres. Este grupo possui representantes aquáticos ou semi-aquáticos, chamados de Aquamegadrili (em oposição a Terrimegadrili). Com alguma frequência, grandes vermes oligoquetas podem ser encontrados em aquários, quando se desmonta o substrato de um plantado, ou dentro de filtros, correspondendo a estes vermes Aquamegadrili. 

Um mito bastante difundido entre aquaristas é a de que são realmente minhocas terrestres, introduzidos inadvertidamente com alguma planta ou substrato fértil. Trata-se de um engano, já que minhocas comuns respiram ar através da sua pele (respiração cutânea), e morrem depois de pouco tempo submersas. Inclusive, este é o motivo das minhocas saírem da terra depois de chuvas, quando o solo fica encharcado, podendo morrer afogadas. Este mito é reforçado pelo fato das minhocas terrestres se enterrarem no substrato quando introduzidos no aquário (por exemplo, para alimentação de jumbos), mas trata-se de um reflexo, eles morrem em meio ao substrato pouco tempo depois.

As espécies grandes mais comuns são a Minhoca-dos-arrozais (gênero Eukerria, família Ocnerodrilidae. 13 espécies, a mais comum é E. saltensis), uma espécie semi-aquática de até 10 cm, de corpo claro e amarelado, praga de arrozais e outras plantações, espécie nativa mas presente como invasor em vários países, e a exótica holártica "California Blackworm" (Lumbriculus variegatus, família Lumbriculidae), também de até 10 cm, de cor castanho-avermelhada escura. Oficialmente há registros somente em MG, mas provavelmente a distribuição é bem mais ampla, foram provavelmente introduzidos no país como isca de pesca. A família Ocnerodrilidae possui outros representantes aquáticos no Brasil, como as Kerriona, um pouco menores (5,5 cm), já foram coletadas em fitotelmata de bromélias.

Também há registros no Brasil de outras espécies grandes, mas de reconhecimento mais fácil: Haplotaxis adeochaeta (Haplotaxidae), endêmica do Rio Paraná e La Plata, chamado de Falso-górdio, finos e bastante longos, cor creme, lembrando nematomorfos, mas de corpo segmentado. Criodrilus lacuum (Criodrilidae), até 32 cm, cor olivácea ou acastanhada com tons amarelados ou avermelhados. Corpo de secção trapezoidal, clitelo grande e com projeções, muitos com a cabeça destacada, lembrando um pouco uma serpente. Eiseniella tetraedra (Lumbricidae), até 8 cm, acastanhado, secção quadrangular para trás do clitelo. A família Almidae também possui representantes semi-aquáticos, mas estes não suportam submersão total, permanecendo com sua extremidade caudal emersa para respirar.     






Grandes oligoquetas (o maior media 5,7 cm) encontrados dentro de um filtro interno de aquário. Muitas vezes estes vermes são confundidos com minhocas terrestres. Fotos de Walther Ishikawa.


Oligoquetas aquáticos, encontrados em um recipiente ao ar livre com água de chuva acumulada, em Paty do Alferes, RJ. Vídeo cortesia de Maria Clara Lameira.


Grandes oligoquetas medindo cerca de 10 cm, encontrado debaixo de uma pedra submersa em um riacho próximo à Cachoeira do Pé Vermelho, em Águas da Prata, SP. Talvez um Eukerria. Fotos de Walther Ishikawa.


Provável Haplotaxis aedeochaeta, encontrado em um aquário de camarões ornamentais em Igarapé, Belo Horizonte, MG. Foto e vídeo cortesia de Felipe Brandão.



Oligoquetas aquáticos pequenos


A maioria dos Oligoquetas de água doce são bem menores, medindo de 1 milímetro a poucos centímetros, e são chamados genericamente de "Microdrila", com cerca de 13 famílias, 7 ocorrendo no Brasil. Todas são aquáticas, com exceção da Enchytraeidae, que inclui a Enquitréia (Enchytraeus albidus) e Verme Grindal (Enchytraeus buchholzi). De longe, a família mais importante é Naididae (antigo Tubificidae, ainda são chamados informalmente de "vermes tubificídeos"), as demais cinco famílias só possuem uma espécie ocorrendo no Brasil (Narapidae, Alluroididae e as já citadas Lumbriculidae e Haplotaxidae) ou duas espécies (Opistocystidae).

São seres essencialmente bentônicos, movendo-se no substrato como minhocas, ou nadam à meia-água com movimentos serpentiformes. Sua cor é variável, desde animais brancos ou incolores até de cores avermelhadas e escuras. Embora numericamente mais comuns, muitos destes oligoquetas mal são visíveis a olho nu, como os Pristina

Não representam qualquer perigo aos animais do aquário (somente duas espécies encontradas no Brasil são parasitas, de moluscos ou anuros, são descritas adiante), muito menos a humanos. Entretanto, por serem animais detritívoros, a presença de um grande número destes vermes indica excesso de matéria orgânica. Alguns chamam estes vermes de "detritus worms" ou "threadworms". São hermafroditas, com alta fecundidade, se reproduzindo rapidamente quando há alimento disponível. São tolerantes à poluição, e suportam também algum grau de salinidade. Há espécies que vivem em associação com esponjas de água doce, e outras são comensais de insetos e moluscos aquáticos. 





Oligoqueta Pristina sp., uma das espécies mais comuns, mas de diminutas dimensões. Este exemplar media cerca de 1,5~2,0 mm. Note a grande probóscide. Fotos gentilmente cedidas por Natalia Cristina Venancio.




Oligoquetas tubificídeos. Fotos cedidas por Marne Campos.



Close de Oligoquetas tubificídeos (Limnodrilus?). Notem o corpo segmentado do verme, e o tubo digestivo visível no interior do seu corpo. Fotos de Marne Campos.


            Examinando-os com uma câmera macro, ou num microscópio, alguns sinais característicos podem ser vistos, que permitem sua correta identificação. Possuem o corpo longo e cilíndrico, como os nematóides, mas têm aspecto segmentado, com múltiplos anéis (o nome anelídeo vem daí). É só imaginar uma minhoca (que também é um oligoqueta) em miniatura. Algumas finas cerdas (setae) podem ser vistas (oligoqueta significa poucas cerdas, assim como poliqueta significa muitas cerdas), um sinal bastante útil na diferenciação com outros vermes. Geralmente têm o corpo liso, mas alguns possuem papilas e secreções que formam uma carapaça de matéria orgânica (como Slavina e Stephensoniana). Diferente das planárias, possuem um tubo digestivo, com boca e ânus, geralmente visível através do seu corpo translúcido. Alguns possuem probóscide, como Pristina e Stylaria.

            Muitas vezes diferenciá-los de nematóides a olho nu pode ser bastante difícil. Como já foi mencionado, uma dica é seu padrão de nado, embora ondulatório como os nematóides, oligoquetas têm um nado mais ordenado, costumam nadar mantendo a cabeça relativamente fixa, como uma serpente. E nadam impulsionados para frente, ao contrário dos nematóides, que se movem lateralmente. Alguns oligoquetas podem ter também um nado helicoidal, em um trajeto semelhante a uma mola.




Oligoqueta Dero sp. Finas cerdas e corpo segmentado são visíveis. Este gênero possui a extremidade caudal abaulada e nodular, com pequenas projeções correspondendo às brânquias, que podem se abrir como um leque. Foto de Walther Ishikawa.




Oligoqueta Dero sp. coletado juntamente com ampulárias Asolene, em Foz do Iguaçu, PR. Fotos de Walther Ishikawa.



Oligoqueta Dero sp., estes vídeos mostram bem o padrão de locomoção e nado destes vermes. Microturbelários também são visíveis nos vídeos, assim como em algumas fotos acima. Vídeos de Walther Ishikawa.



            Um dos gêneros mais comuns em aquários (além de serem comuns, são relativamente grandes, de até 3 cm) é o Dero. São facilmente reconhecidos por terem a sua extremidade caudal expandida (exceto o subgênero Allodero), com uma fossa branquial, onde há guelras de morfologia variável. Algumas espécies são encontradas exclusivamente em fitotelmata de bromélias, como o Dero (Aulophorus) superterrenus. Estes vermes utilizam rãs para se moverem de uma bromélia a outra, ficando agarrados a seu tegumento. Finalmente, existe uma curiosa espécie brasileira, Dero (Allodero) lutzi, que é um endoparasita do trato urinário de rãs. 




Oligoquetas Dero (Aulophorus) superterrenus coletadas nos fitotelmata de bromélias, em Ubatuba, SP e Bertioga, SP, suas brânquias anais no detalhe. Esta espécie usa anfíbios para se dispersar para uma nova bromélia. Na segunda foto também são visíveis larvas de mosquito Microculex. Fotos de Walther Ishikawa.




Oligoqueta Dero sp. no aquário, seu típico padrão de locomoção e nado podem ser bem vistos neste vídeo. Vídeos gentilmente cedido por Cindy Lopislazuli.




Um gênero de verme oligoqueta que é visto com alguma frequência em aquários, e pode gerar curiosidade devido ao aspecto da sua extremidade caudal, até confundidos com Hidras ou Poliquetas, é o Dero (Aulophorus). Muitos constroem tocas tubulares com muco e sedimento, semi-enterrados no substrato, como os Tubifex. Porém, são menores, de cor rosa mais clara, e não realizam os típicos movimentos serpentiformes para manter a circulação de água. Sua cabeça fica no fundo da toca, e sua cauda fica exposta, onde muitas espécies mostram uma pequena coroa de brânquias, semelhante a pequenos tentáculos. A espécie mais comum é Aulophorus furcatus, cosmopolita, medindo até cerca de 30 mm. São comuns em águas estagnadas e ricas em macrófitas, diretamente expostas ao sol.

Assim como os Tubifex, alguns aquaristas criam estes e outros oligoquetas como alimentos vivos, mantendo colônias sobre substratos vegetais em decomposição, como casca de melancia e folhas de alface. Chamados popularmente de Microfex, possuem taxa reprodutiva muito elevada, com rendimento superior aos Tubifex. Porém, são muito sensíveis à hipóxia, necessitando aeração constante e TPAs frequentes no recipiente de criação.









 


 


Vermes Dero (Aulophorus) furcatus em um aquário de invertebrados. As imagens mostram bem a coroa de brânquias tentaculares na extremidade anal do animal. Fotos e vídeos gentilmente cedidos por Leandro Crespo.





Dero (Aulophorus) furcatus, surgiram num galho submerso em um aquário de invertebrados. Fotos de Walther Ishikawa.







 
Grande colônia de vermes oligoquetas que se desenvolveram no substrato de um aquário. Fotos gentilmente cedidas por Thiago Oliveira.







Grande colônia de vermes oligoquetas, talvez Dero (Allodero) fotografados em um aquário de invertebrados. Fotos e vídeos gentilmente cedidas por Alexandre Souza Martins.




 
Ainda dentro do gênero Dero, vale menção também o Dero (Aulophorus) vaga. Entre as diversas espécies de oligoquetas Dero, muitas constroem tocas fixas no substrato, de muco e sedimentos. E algumas constroem tocas móveis, semelhante a tocas de Tricópteros, a espécie mais comum é a cosmopolita Dero (Aulophorus) vaga. São comuns associadas a macrófitas flutuantes Lemna, usando fragmentos destas plantas como material para as tocas. Caminham arrastando sua toca, colocando sua extremidade cefálica para fora. A extremidade caudal da toca também é aberta, eventualmente pode ser vista a fossa branquial típica deste subgênero.



Dero vaga na superfície de um lago, fotografadas em Los Angeles County, California EUA. Foto de Chris Mallory (iNaturalist, Licença Creative Commons).



Dero vaga, filmados em um aquário, exemplares coletados em Aracaju (SE) e Ribeira do pombal (BA), vídeos cortesia de Miguel Macedo Luz Vieira.



Tubifex


Um oligoqueta comumente visto no aquarismo é o Tubifex (Tubifex tubifex), que constrói tocas tubulares com muco e sedimento. Além desta espécie, muitas outras próximas da mesma família são chamadas popularmente de Tubifex, como o Limnodrilus hoffmeisteri. Podem ser vistos formando colônias aos milhares, semi-enterrados no substrato de rios poluídos. Sua cabeça fica no fundo da toca, e sua cauda fica exposta, em contínua movimentação a fim de gerar fluxo de água. Possui cor vermelha por possuir eritrocruorina, uma proteína semelhante à hemoglobina, o que permite viver em ambientes com baixa oxigenação. Muito resistentes, podem viver em esgotos e águas sulfurosas. Até a algum tempo era muito utilizado como alimento vivo, mas estão cada vez mais em desuso. Por serem coletados em ambientes sujos, podem carrear diversos patógenos, como o Myxobolus cerebralis.

 









Vermes Tubifex. Fotos e vídeo gentilmente cedidos por Frau-Doktor.



Vermes Tubifex filmados em um chorume, em São Francisco do Sul, SC. Vídeo gentilmente cedido por Elias Amorim.





Colônia de vermes Tubifex, fotografado em um lago temporário em St. Joan les Fonts, Girona, Espanha. Imagem gentilmente cedida por RCG Zootecnia Domestica (Licença Creative Commons BY SA 3.0). O artigo original da imagem pode ser visto 
aqui .



Vermes Tubifex em um aquário de invertebrados. Vídeo gentilmente cedido por Cláudio Moreira.







Vermes oligoquetas (talvez Aulodrilus) em um terreno alagado em Ubatuba, SP. Fotos e vídeos de Walther Ishikawa.




Naididae Branchiura sowerbyi, fotografados em um córrego em Monongalia County, West Virginia, EUA. Interessante espécie, medindo até 15 cm, possui brânquias filamentosas nos últimos segmentos, vive enterrado no substrato com a porção posterior exposta. Espécie asiática, mas com registros no Brasil. Foto de Chungler (iNaturalist, Licença Creative Commons).




Chaetogaster limnaei limnaei

 

Dentre os Oligoquetas Naidídeos, uma espécie tem particular interesse para nós, aquaristas que criam invertebrados dulcícolas: o Chaetogaster limnaei limnaei. Esta espécie cosmopolita infesta inúmeras espécies de caramujos de água doce, tanto pulmonados (BiomphalariaPhysaPseudosuccinea, etc) quanto prosobrânquios (Melanoides, etc). São bastante numerosos em Biomphalarias. Curiosamente, não são encontradas em Pomacea.

São pequenos vermes alongados e translúcidos. Analisando-os com um microscópio, setae são visíveis somente na sua região ventral, daí seu nome. Reproduz-se essencialmente por paratomia, reprodução assexuada onde novos organismos se desenvolvem até haver divisão em dois ou mais indivíduos. Vive na superfície do caramujo, como um organismo ecto-comensal, especialmente na cavidade do manto e cavidade pulmonar, e se fixa ao hospedeiro através de uma ventosa caudal e quatro feixes de cerdas. Podem ser bastante numerosos, havendo registros de até 70 vermes/caramujo. São sensíveis a temperaturas elevadas, com acentuada redução na taxa de reprodução acima de 24º C. Por este motivo, são bastante raros em aquários tropicais.

Estes vermes flexionam seus corpos procurando seus alimentos, são um dos únicos Oligoquetas carnívoros, caçando micro-organismos aquáticos, como protozoários e rotíferos, mas alimentam-se também de diatomáceas e outras algas, além de detritos. Acredita-se que estes vermes colonizam os caramujos buscando refúgio nas suas conchas, e se alimentando de restos de alimentos deixados pelo caramujo. Desde a década de 40, estes vermes são bastante estudados por parasitologistas, porque observou-se que eles também predavam miracídeos e cercarias de vermes trematóides, inclusive o Schistosoma mansoni.

Como dito, a maioria dos autores considera estes vermes como sendo comensais, porque se beneficia da relação com seu hospedeiro sem prejudicá-lo. Outros autores sugerem um papel protetor destes vermes de infecção por trematóides, desta forma, classificando-os como mutualistas, ou seja, com efeitos positivos recíprocos entre o verme e o caramujo. Entretanto, alguns poucos trabalhos tem sugerido também um potencial efeito negativo da presença destes vermes, especialmente quando presentes em grande número. Physas com superinfecção tendiam a procurar menos alimentos, cresciam mais lentamente e tinham menor fecundidade.

Existe outra sub-espécie, C. limnaei vaghini, com comportamento distinto e endoparasita, habitando o sistema renal do hospedeiro, e se alimentando de células renais. Alguns autores defendem que se trata de duas espécies distintas, baseado em análises genéticas.





Chaetogaster limnaei limnaei sobre o caramujo Biomphalaria glabrata. Fotos gentilmente cedidas pelo Dr. Pedro Luiz Silva Pinto (Núcleo de Enteroparasitas - Instituto Adolfo Lutz).




Chaetogaster limnaei limnaei coletados sobre o caramujo Bithynia tentaculata em uma lagoa da Holanda. A primeira imagem mostra um pequeno Copépode que acabou de ser ingerido. A segunda mostra um verme alongado, em processo de reprodução por paratomia. Fotos gentilmente cedidas por Jaap Cost Budde.






 

Veja a segunda parte do artigo  aqui , juntamente com a Bibliografia, créditos fotográficos e agradecimentos.

 
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