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Rotíferos  
Artigo publicado em 24/12/2012, última edição em 20/11/2023  



Rotíferos


            Outro grupo de organismos aquáticos que não se espera que estejam no nosso website são os Rotíferos. Os Rotíferos estão entre os menores animais metazoários (animais multicelulares com o corpo organizado em órgãos e sistemas, como nós), medindo até cerca de 0,7 mm, possuindo somente cerca de 1000 células no seu corpo. Embora simples, possuem cérebro, estômago, sistema excretório e reprodutor. É um fato bizarro que um organismo complexo assim seja tão pequeno, não raramente menor ainda do que outros organismos unicelulares com os quais dividem seu habitat.

Embora pouco conhecidos por nós, aquaristas (justamente pelo seu pequeno tamanho), os Rotíferos são bastante estudados por microscopistas, e mesmo por amadores com microscópios caseiros. É um dos animais mais fascinantes de serem observados, com seus corpos transparentes, movimentos complexos e variados estilos de vida. Talvez sua característica mais marcante, motivo pela qual foram chamados de “wheel animals” (“animais-roda”) pelos primeiros microscopistas, é a sua “corona” de cílios circundando dois lobos, que, com seu rápido movimento, dá a nítida impressão de rodas em rotação. Quando está fixo, este movimento gera uma corrente de água que traz alimentos à sua boca. Quando se destaca do substrato e nada, as coroas atuam como hélices propulsoras duplas. Inclusive, seu nome vem daí (do latim: rota = rotação; ferre = possuir).

Rotíferos têm uma característica extraordinária, eles exibem o que é chamado de constância celular, que é um crescimento baseado não em divisão celular, mas no crescimento volumétrico da própria célula. Rotíferos passam toda sua vida, desde o nascimento até sua morte, com o mesmo número de células no seu corpo.

São, na sua maioria, habitantes de água doce (menos de 5% são marinhos), em geral invisíveis a olho nu mas bastante numerosos, com um importante papel ecológico no processo de purificação da água, filtrando partículas em suspensão, além do seu papel fundamental na cadeia alimentar, servindo de alimento a diversas espécies de peixes e outros animais. Muitas espécies são criadas como alimentos vivos.

A taxonomia atual agrupa os Rotíferos no clado Syndermata, que recentemente incorporou os vermes acantocéfalos:

  • Classe Seisonidea: pequeno grupo encontrado em brânquias de um crustáceo marinho, Nebalia.
  • Classe Bdelloidea: rotíferos flácidos, alongados e de vida livre. O grupo mais comum em água doce.
  • Classe Monogononta: o maior grupo em número de espécies, inclui formas natantes livres e formas sésseis. Inclui as formas coloniais descritas abaixo.
  • Filo Acanthocephala: diminutos vermes parasitas.


Bom, depois desta longa introdução, finalmente a explicação de Rotíferos estarem neste artigo: existem alguns Rotíferos coloniais que formam belas estruturas que podem ser vistas a olho nu. Este será o foco principal deste artigo. Somente duas famílias de rotíferos são coloniais, Conochilidae e Flosculariidae:



Flosculariidae

            

Colônias de rotíferos deste grupo formam pequenas esferas esbranquiçadas de aspecto “peludo” medindo até alguns centímetros, aderidas a plantas aquáticas e demais objetos submersos. Lembram um delicado “dente-de-leão” em miniatura, seu nome vem do latim floscule (pequena flor). Das 2000 espécies de Rotíferos conhecidos, somente 25 são coloniais, são sete gêneros, a mais comum pertence ao gênero Sinantherina, outro gênero relativamente comum é o Lacinularia, ambas com registros no Brasil.

Um aspecto bastante interessante destes Rotíferos é o fato deles serem muito pouco predados. Como mencionado, Rotíferos são alimentos bastante apreciados por peixes e outros animais aquáticos, uma forma colonial de maiores dimensões seria um petisco vulnerável e bastante apetitoso. Por um mecanismo não esclarecido, estas colônias são muito pouco palatáveis, os peixes abocanham as colônias, mas terminam por cuspi-las, e invertebrados predadores também rejeitam estas espécies.


Colônia de Lacinularia, surgiu em um aquário em Belém, PA. Foto gentilmente cedidas por César Favacho.





Colônia de Sinantherina socialis crescendo sobre ramos de Myriophyllum, fotografada em um aquário, colônia coletada no lago Engelermeer, ao norte de ’s-Hertogenbosch, Holanda (Países Baixos). Fotos cortesia de Peter H. van Bragt.



Colônias de Lacinularia flosculosa, fotografadas em uma lagoa dos Países Baixos. Fotos gentilmente cedidas por Willem Kolvoort.


Conochilidae

            

A família Conochilidae possui somente um gênero, Conochilus, com quatro espécies. Duas delas formas pequenas colônias constituídas somente por um adulto e 1 ou 2 juvenis. As outras duas (C. hippocrepis e C. unicornis) formam colônias planctônicas, constituídas por indivíduos fixos na região basal, englobados numa matriz gelatinosa, e as coroas expostas na periferia. Podem conter de 2 a 200 indivíduos. A colônia mede em média 1,8 mm, sendo assim visíveis a olho nu. Nadam de forma desordenada, impulsionadas pelos movimentos ciliares de seus indivíduos.  




Colônia de rotíferos Conochilus fotografado em um aquário em São Paulo, SP (Inicialmente foi determinado erroneamente, o vídeo permanece como Sinantherina, mas é um erro). 
Fotos e vídeos cortesia de Fernando Barletta.






Bdeloídeos


            Os Rotíferos Bdeloídeos são os mais comuns em água doce, mas invisíveis a olho nu pelas suas diminutas dimensões. São brevemente mencionados aqui porque frequentemente são criados por aquaristas como alimentos vivos. 

Seu nome vem do grego βδελλα, bdella, "sanguessuga", e refere-se ao seu movimento de contração-extensão ao caminhar, idêntico a estes vermes. Só existem indivíduos do sexo feminino, e reproduzem-se por partenogênese. Outra característica marcante dos Bdeloídeos é o fato de conseguem sobreviver longos períodos (até centenas de anos) em um estado dormente de desidratação ou congelamento, chamado de criptobiose.




Bibliografia

  • https://www.earthlife.net/
  • Felix A, Stevens ME, Wallace RL. Unpalatability of a Colonial Rotifer, Sinantherina socialis, to Small Zooplanktivorous Fishes. Invertebrate Biology, Vol. 114, No. 2 (Spring, 1995), pp. 139-144.
  • Walsh EJ, Salazar M, Remirez J, Moldes O, Wallace RL. Predation by invertebrate predators on the colonial rotifer Sinantherina socialis. Invertebrate Biology, (2006). 125: 325–335.
  • http://www.ucmp.berkeley.edu/phyla/rotifera/rotifera.html
  • http://rotifera.hausdernatur.at/
  • Wallace RL. 1987. Coloniality in the phylum Rotifera, Hydrobiologia. 147: 141-155.
  • Soares FS, Tundisi JG, Matsumura-Tundisi T. Checklist de Rotifera de água doce do Estado de São Paulo, Brasil. Biota Neotrop. 2011 Dec; 11(Suppl 1): 515-539.
  • Paggi SBJ, Wallace R, Fontaneto D, Marinone MC. Chapter 8 - Phylum Rotifera, in: Thorp and Covich's Freshwater Invertebrates (Fourth Edition). Editor(s): D. Christopher Rogers, Cristina Damborenea, James Thorp. Academic Press, 2020, p. 145-200. 




Agradecimentos ao colega aquarista Fernando Barletta, ao zoólogo César Favacho e aos fotógrafos Peter H. van Bragt ( Fundação Anemoon ) e Willem Kolvoort ( De Onderwaterfotografie van Willem Kolvoort  ), ambos dos Países Baixos, pelo uso do material fotográfico.


 As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciadas sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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