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Experimentos de Dissolução de Conchas
 
Algumas experiências para avaliar a composição e pigmentação de conchas de Ampulárias

Experimentos de Dissolução de Conchas


No nosso website existem duas matérias abordando a composição, estrutura e pigmentação das conchas de Ampulárias:


Embora muitas informações tenham sido extraídas de artigos e livros científicos, alguns dados são suposições baseadas na observação de aquaristas, como a localização exata das faixas pigmentadas em conchas de Ampulárias.

Existem várias fontes na internet afirmando que as faixas estão localizadas no periostraco, como ocorre em algumas espécies de caracóis terrestres. Outros sites mencionam a pigmentação nas camadas minerais mais externas da concha, ou seja, no ostraco.


Como argumentado nos dois artigos do nosso portal, acreditamos que as faixas pigmentadas não se localizam nem no periostraco, nem no ostraco, mas sim nas camadas externas do hipostraco, adjacente ao ostraco.

Encontrei alguns artigos mencionando brevemente os experimentos propostos a seguir, com dissolução seletiva do periostraco e das camadas minerais da concha, e resolvi pôr à prova a nossa hipótese.






Coletei algumas conchas vazias de Pomacea no lago Guaíba, RS, em uma viagem recente. As duas conchas usadas no experimento estão na foto acima. Medem cerca de 5 cm, relativamente íntegras, foram lavadas para retirar sujeira aderida e sedimento do seu interior. Cada uma delas será usada em um experimento.






Dissolução do periostraco


A concha identificada como “A” terá seu periostraco dissolvido usando-se uma solução de alvejante (água sanitária). Em um pequeno recipiente plástico, coloquei a concha em uma solução de “cândida” (hipoclorito de sódio), na diluição de 50% (foto acima, à direita). Esta diluição é sugerida por colecionadores de conchas, para esta finalidade. A concha foi mantida nesta solução por 24 horas, com dissolução total do periostraco. O peristraco é uma fina membrana proteinácea, que é totalmente removida com o alvejante.









Nas duas fotos acima, a concha com o periostraco removido. Note a mudança na coloração, sem a membrana de cor acastanhada transparente recobrindo a concha. Por outro lado, note que as faixas claramente permanecem na concha, provando que elas não estão localizadas no periostraco. A foto abaixo mostra a concha contra a luz, perto de uma janela.




Dissolução das porções minerais da concha


A concha identificada como “B” terá seu componente mineral dissolvido usando-se um ácido. Em um pequeno aquário, coloquei a concha em uma solução de vinagre de cozinha comum (ácido acético), na diluição de 50%. Na realidade, a solução acabou se mostrando muito forte, em algumas horas a concha estava praticamente toda dissolvida, não sendo possível a documentação fotográfica do processo.


Abaixo, a imagem do periostraco remanescente dentro da água. É uma fina membrana orgânica, parece um filme de verniz mantendo o formato negativo da concha. Note a transparência, o desenho atrás foi colocado de propósito para demonstrar este fato. Note também que o periostraco tem uma cor homogênea, sem faixas. Novamente, é demonstrado que as faixas escuras das Ampulárias não estão localizadas no periostraco.





Havia algum material mineral remanescente perto da face apical da concha, que pode ser visto abaixo. Entretanto, note que não há pigmentação, demonstrando que o material mineral (ostraco) em contato com o periostraco não é pigmentado. Compare com a foto da mesma concha, antes da dissolução.







Dissolução gradual mineral externa da concha


A mesma concha que teve seu periostraco removido será utilizada numa terceira experiência. Usei esmalte de unha para recobrir toda a sua superfície interna, protegendo-a da dissolução ácida. Propositalmente foi escolhida uma cor forte. Desta forma, a dissolução na solução ácida irá ocorrer somente de fora para dentro. A concha com o esmalte pode ser vista na primeira imagem abaixo. Na segunda imagem, o periostraco do experimento anterior seco e colabado, fora d´água.






Em um pequeno aquário, a concha foi submersa em uma solução de ácido acético em 15%. Em cerca de 12 horas, houve dissolução das camadas mais externas da concha, ao final, o esmalte colorido era visível através da concha translúcida. Abaixo, a concha após as primeiras horas de imersão, sem mudança aparente.






As fotos abaixo mostram a dissolução gradual das camadas minerais externas pelo ácido. A imagem acima não mostra alterações visíveis, porque a primeira camada a ser dissolvida é o ostraco, translúcido e não-pigmentado. Note que as faixas não se alteram nestas primeiras horas, provando que a pigmentação não está localizada nas camadas minerais mais externas. Pelo contrário, após algumas horas, as faixas estão mais evidentes, porque não estão mais cobertas pelo ostraco (primeira foto da sequência abaixo). Com o passar das horas, as faixas começam a desaparecer, primeira junto aos giros apicais, e depois no corpo da concha.






As duas fotos abaixo mostram o aspecto final da concha, já praticamente sem faixas, e com o esmalte colorido visível através do hipostraco translúcido. Depois destas fotos, a concha começou a se desfazer na solução.
Um efeito bem interessante, inesperado mas fácil de se explicar, é este belíssimo aspecto nacarado da concha (é difícil demonstrar nas fotos, pode ser mais bem visto na região superior direita, na segunda imagem). Depois que o ostraco se foi, a camada mineral remanescente é de hipostraco. E lembrando que a estrutura cristalina das duas camadas é diferente, embora ambas constituídas de carbonato de cálcio. O ostraco tem estrutura de colunas perpendiculares à superfície da concha, enquanto o hipostraco é formado de lamelas paralelas e sobrepostas, o que causa difração da luz e confere o belo efeito iridescente às pérolas e madrepérolas. Embora as Ampulárias não tenham este aspecto nacarado nas suas conchas, esta concha adquiriu esta linda aparência após a dissolução das suas camadas externas.






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