Ampulária morta ao ser sugada por um filtro. Neste caso, a animal foi sugado pela porção superior do filtro, próximo ao cabo de força, um local totalmete inesperado para este acidente. Imagens gentilmente cedidas por Omar Hmoud.
Ampulárias sendo sugadas por filtros
Um problema grave e relativamente comum que pode
acontecer em aquários com caramujos é a aspiração de parte do corpo destes
animais pela entrada do filtro. O bocal por onde entra a água de qualquer
filtro de aquário (hang-on, canisters, filtros internos, entradas de
powerheads) apresenta uma ameaça para muitos gastrópodes. O problema não se
limita às ampulárias, estes mecanismos são um assassino frequente e causa de
lesões graves não apenas para caramujos de água doce, mas também muitos
gastrópodes marinhos, como lesmas-do-mar e aplísias. Qualquer gastrópode com um
pé que possa se estender em espaços pequenos está em risco quando colocado em
um tanque com um tubo de entrada do filtro, mesmo quando uma tampa protetora de
plástico é usada para evitar que os peixes se machuquem. Pequenos gastrópodes
podem ficar presos facilmente, incapazes de se afastar da sucção. Os
gastrópodes maiores podem tentar comer os detritos que se acumulam na entrada
do filtro e acidentalmente seu pé ou boca podem escorregar através das fendas
do plástico. Como agravante, o ferimento e a própria sucção podem criar
problemas circulatórios que resultam em inchaço do pé, prendendo o animal.
Prevenção
Em aquários com estes invertebrados, o ideal é
que todas as entradas de filtro sejam protegidas não apenas com aquela tampa de
plástico que já é vendida com o filtro, mas também com uma proteção adicional
de algum material poroso. Muitos utilizam uma fina camada de esponja ou outro
material filtrante (perlon, tule), mas o problema é que estes materiais com
poros muito finos tendem a acumular sujeira muito facilmente, e entupir. Por
este motivo, algumas coberturas de esponja vendidas para aquários de camarões
são desproporcionalmente grandes, com o intuito de retardar sua obstrução por
detritos. Uma alternativa são as peças com telas de metal usadas para cobrir
ralos e saídas de torneiras, especialmente para animais menores (veja
observação adiante). Independente do material, ele deve cobrir toda a entrada do
filtro. E deve ter um ajuste suficientemente apertado para que seja difícil de
retirar, ou deve ser fixado de alguma outra forma, por exemplo, com uma faixa
de borracha. Não use arames, lembrando que o ferro se oxida, e o cobre é
extremamente tóxico para invertebrados.
Percebam que a peça de plástico que cobre a
entrada do filtro (que já vem com o filtro) tem uma forma alongada e com
fendas. O objetivo é aumentar a área através da qual os detritos teriam que
passar antes de entrar no cano do filtro propriamente dito. Sempre que possível,
o material poroso deve ser colocado sobre a peça protetora da entrada do
filtro, e não diretamente sobre seu bocal estreito. Isto porque, em gastrópodes
de maiores dimensões, o grande pé pode recobrir toda a área do bocal de entrada
do filtro, com ou sem a proteção extra. Neste caso, a sucção vai prender o
animal, mesmo com a proteção adicional.
Outra opção interessante é usar um FBF (filtro
biológico de fundo, aquele das placas sobre o substrato), um sistema antigo e
controverso de filtragem, cada vez menos utilizado, mas que não teria este
perigo de sucção.
A remoção de caramujos que ficaram presos
Ampulárias muitas vezes sobrevivem ao ficarem
presos, mas podem ser mortos no processo de remoção, se manuseados incorretamente.
As seguintes informações sobre a remoção de gastrópodes presos são aplicáveis
tanto para os animais de água doce como para os moluscos marinhos.
1. Não entre em pânico. Os gastrópodes têm um
tecido macio e frouxo, e um desequilíbrio no sistema circulatório pode causar
distorções extremas de tamanho, as porções presas do pé ou outros tecidos moles
podem dobrar, triplicar ou mesmo quadruplicar em volume quando a circulação é
comprometida, devido à compressão do corpo do animal combinada com a sucção do filtro.
Só porque o animal parece completamente inchado e deformado não significa que a
lesão é grave, e também não significa que o caramujo não terá uma recuperação
rápida e completa. Em Ampulárias, Physas
e muitas espécies marinhas, as áreas inchadas podem ficar azuis. Isto não é
descoloração, é porque estes caramujos têm hemocianina em seu sangue, um
composto que faz a cor do sangue variar de azul a transparente, dependendo de quão
oxigenado ele está. Planorbídeos (“Ramshorns”) maiores têm hemoglobina em vez
de hemocianina em seu sangue, desta forma, as áreas inchadas provavelmente
estarão arroxeadas.
2. Não tente libertar o caramujo puxando-o. O
tecido inchado estará friável e mais frágil, fazer isso pode levar o tecido a
ser rasgado ou arrancado, resultando em grave sangramento. Em vez disso,
desligue o filtro e remova a parte do filtro que o animal está preso.
Dependendo do modelo de filtro, talvez você precise remover todo o filtro junto
com o caramujo. Se não houver outros seres no aquário que possam assediar o
caramujo, ele pode permanecer no próprio tanque por um tempo. Caso contrário,
separe-o em um recipiente com água do tanque, ainda com a peça do filtro preso
a ele. No que diz respeito aos gastrópodes marinhos, se o animal for de alguma
espécie que produza substâncias químicas que possam ter um efeito prejudicial
sobre os demais habitantes se libertado na água, retire o animal para outro
recipiente como precaução.
3. Se você não conseguir ver como o caramujo está
preso, aguarde a melhora do inchaço antes de tentar ajudá-lo. Especialmente
para grandes gastrópodes, tentar libertá-lo quando você não pode ter uma visão
clara do problema irá aumentar a chance de mais lesões. O edema não vai
regredir imediatamente, mas sem a sucção do filtro o inchaço vai melhorar num
período de 2 a 3 horas, às vezes mais tempo. É melhor permitir que o inchaço
reduza o tanto quanto possível antes de tentar qualquer outra ação. Se houver
uma mudança visível após 15 minutos e o caramujo continuar ativo, aguarde mais
15 minutos e verifique novamente até que o inchaço tenha atingido um mínimo. Muitas
vezes a espera é tudo que é necessário para o caramujo libertar-se sem ajuda.
4. Enquanto espera o inchaço regredir, talvez
você possa ir procurando as ferramentas que você pode precisar no caso do
caramujo não conseguir libertar-se. Uma vez que o período de espera pode ser de
horas, isso pode ser tempo suficiente para correr para alguma loja se estiver
faltando alguma coisa. As ferramentas mais importantes são uma lanterna forte
ou outra fonte de luz e um alicate de corte pequeno. Não use tesouras, facas,
serras ou qualquer outra ferramenta cortante - estes podem levar o plástico a
quebrar de forma imprevisível. O melhor é que o alicate tenha as lâminas o
menor possível, mas os cabos mais longos permitirão um controle melhor do
procedimento. Joalheiros usam frequentemente alicates bem pequenos, assim,
estas ferramentas podem ser encontradas em lojas de artesanato. Lojas de
eletrônicos podem ou não ter alicates que sejam estreitos o suficiente para
caber nas fendas de uma cobertura de entrada do filtro. Mesmo se as lâminas
caibam completamente nos entalhes para cortar as barras individuais do
plástico, alicates do tipo cortadores de unha são ainda mais úteis para escavar
lentamente através do plástico e conseguir o mesmo resultado. Ter uma segunda
pessoa à disposição para ajudar a operação final também é interessante, uma vez
que você pode precisar de iluminação em um ângulo diferente ou um segundo par
de mãos para segurar o caramujo e/ou a entrada do filtro. Isto é especialmente
verdadeiro para os gastrópodes grandes que podem não ser cooperativos e tentar
escapar das suas mãos.
5. Não execute a operação final no aquário.
Ferramentas como alicates podem ter graxa nas suas juntas e não devem entrar em
contato com a água do tanque principal. Se o animal precisa permanecer
submerso, ele deve estar em um recipiente com água do tanque que deverá ser
jogado fora uma vez terminado. Corte a proteção do filtro lentamente, uma
pequena peça de cada vez e começando da extremidade aberta para evitar que a
peça plástica solte lascas ou rache de forma inesperada. Fazendo desta forma,
isto irá destruir completamente a sua entrada de filtro, mas minimizar o torque
sobre áreas próximas ao local onde o caramujo está preso. Se a proteção do
filtro é grande e pesada, pode ser melhor primeiro cortar fora tudo, exceto a
área ao redor do caramujo, para conseguir uma melhor visão e planejar o que
precisa ser cortado a seguir. Quando você tiver acesso fácil, tente fazer
cortes sucessivos removendo as barras de plástico que estão prendendo o animal,
mas faça os cortes o mais longe possível do tecido do caramujo para a sua
segurança.
6. Se o tecido do caramujo estiver inchado ao
ponto de estar "segurando" uma ou mais barras de plástico, não tente
se livrar delas imediatamente. Quando o resto da proteção de plástico tiver
sido removido, a redução da pressão irá permitir que o inchaço regrida
completamente. Mesmo que algumas barras de plástico sejam deixadas, eles vão se
soltar uma vez que o inchaço tenha desaparecido por completo.
Após a remoção
O caramujo deve ser examinado com cuidado,
procurando por ferimentos. Sua concha deve ser examinada também, pelo risco de
rachaduras. O pé de gastrópodes é uma estrutura essencialmente muscular, irá se
regenerar quase que por completo. Dependendo da fauna do aquário principal,
talvez seja necessário separar o animal em outro aquário, até sua recuperação
completa. Via de regra, não são necessários medicamentos, somente o cuidado com
a qualidade da água e alimentação. Obviamente, o acidente deve servir como um
alerta, toda a filtragem do aquário deve ser repensada, para que o problema não
se repita.
Ferimento no pé de uma Pomacea diffusa, provável acidente com filtro. A sequência de fotos mostra a regeneração do pé. Fotos de Kauê Braga.
Agradecimentos a Stijn Ghesquiere, responsável pelo portal applesnail.net , este artigo é baseado em um tópico fixo no fórum deste portal. Agradecemos também aos aquaristas Omar Hmoud e Kauê Braga por nos permitir usar suas fotos.