Artigo abordando as principais doenças que podem acometer as partes moles das Ampulárias
Artigo publicado em 10/08/2019, última edição em 01/06/2024
Ampulária Pomacea diffusa flutuando no aquário. Um sinal de alerta, mas um achado bem comum e geralmente sem importância. Foto de Juliana Jara.
Doenças de Ampulárias - Tecidos Moles
Há poucas
informações sobre doenças de Ampulárias (Pomacea diffusa) na internet, e
praticamente nenhuma em literatura científica. Este artigo é uma tentativa de
compilar as diversas condições patológicas que podem acometer estes animais,
como diagnosticá-las, e, se possível, tratá-las. Muitas condições são graves e
letais, e a maior parte dos tratamentos são baseados em experiências empíricas limitadas
de aquaristas, com elevadas taxas de insucesso. Assim, certamente este será um
artigo em constante revisão e evolução, contribuições com imagens e informações
serão sempre bem-vindas.
Por um
motivo não muito claro, as Ampulárias podem ficar imóveis e retraídas dentro da
sua concha por um período longo, boiando na superfície da água, ou paradas no
fundo do aquário. Pode ser uma reação a um estresse ambiental, ou a alguma
doença. Mas na maioria das vezes o animal volta à atividade sem uma aparente
explicação para o motivo deste período de latência. Sempre vale a pena realizar
o teste de retirar o caramujo da água e deixa-lo alguns minutos em um local
úmido, para excluir algumas condições graves (veja adiante). Muitas vezes, somente esta retirada da água (permitindo a renovação do estoque de ar) pode recuperar o animal.
Uma dúvida
muito comum com estas Ampulárias imóveis é se o caramujo ainda está vivo, ou já
morreu. Se o opérculo está entreaberto, ou as partes moles já se mostram
irregulares e com alteração de cor, é quase certo que o animal já morreu. Se
não, uma boa dica é simplesmente verificar se o caramujo está com um forte cheiro
podre. Estes animais têm o tecido bastante flácido e decompõem rapidamente
depois de mortos. O cheiro é realmente muito forte e desagradável, e impregna
qualquer local em que o tecido apodrecido entre em contato. Sugere-se fazer isso
num lugar ventilado, e usar luvas descartáveis, senão seus dedos ficarão com um
cheiro ruim por muito tempo!
Ampulária Pomacea canaliculata flutuando e inativa na primeira imagem. Um achado comum e que gera preocupação, mas houve recuperação e atividade normal após alguns dias. A segunda imagem mostra uma P. flagellata flutuando morta, havia morrido há alguns dias. Fotos de Stijn Guesquiere.
Banho de ar
Recentemente, várias postagens na internet descrevem tratamentos baseados em simplesmente retirar as Ampulárias da água, e deixá-las emersas por algum tempo. O tratamento faz sentido, baseado no fato destes animais respirarem essencialmente ar, e suportarem prolongados períodos fora da água, desde que mantida a humidade. Vivendo em aquários, Ampulárias doentes e enfraquecidas podem ter dificuldade em se mover para a superfície, para renovar seu estoque de ar. O tratamento consiste em simplesmente retirar o animal doente da água e manter em um recipiente com um pano ou papel toalha encharcado em água, dando oportunidade para que ele "respire" normalmente. A duração é de 10-15 minutos, e pode ser feito várias vezes ao longo do dia. Pode ser feito como tratamento auxiliar em qualquer doença, e mesmo em Ampulárias inativas ou muito idosas.
Um lembrete também quando se usa um aquário-hospital para tratamento de qualquer doença de Ampulárias. Deve-se manter o nível de água baixo, para minimizar o esforço do caramujo em subir até a superfície para respirar.
Vídeo demonstrando a técnica de "Banho de Ar", publicado com a permissão da autora, a criadora norte-americana de Ampulárias, Lavnyia (Lav´s Snails).
Perda de tentáculos
Se as Ampulárias
são mantidas com peixes, é uma condição quase inevitável. Os finos tentáculos
em movimento lembram deliciosos vermes, e são rapidamente devorados pelos
peixes, especialmente se forem peixes belicosos como tetras e barbos.
Felizmente a capacidade regenerativa de caramujos é muito grande, e estas
perdas são curadas com o crescimento de novos tentáculos. Apesar dos caramujos terem
a habilidade de fazer isso repetidamente, não é um processo inócuo, os tentáculos
regenerados costumam ser mais curtos, e todo o processo leva a uma menor
atividade da Ampulária. Representa um estresse e sofrimento para o caramujo,
que pode comprometer a saúde global do animal a longo prazo, devendo ser
evitado. Caramujos mantidos com peixes podem mudar seu comportamento, e mantêm
os tentáculos parcialmente retraídos, ou ocultos embaixo da concha.
Ampulárias conseguem regenerar completamente olhos amputados. Existe um trabalho científico demonstrando regeneração completa em um período de 25 dias.
Ampulária com os tentáculos cefálicos predados, o caramujo foi recém adquirido, era mantido com peixes agressivos na loja de aquarismo. A sequência de fotos mostra a regeneração dos tentáculos. Vídeo e fotos cortesia de Eric Dilley.
Ferimentos no corpo e pé
Assim como
os tentáculos, a maior parte do pé do caramujo também pode ser regenerado,
embora represente uma agressão maior para o animal. Causas comuns são ataques
de peixes, ferimentos com aquecedores, e aspiração pelo filtro (veja o artigo Ampulárias sendo sugadas por filtros). O ideal é que o caramujo seja separado e bem alimentado, para
acelerar sua recuperação.
Ao contrário
do pé, o restante do corpo das Ampulárias é bastante sensível e frágil,
felizmente é quase todo envolvido na concha protetora. Pode haver problemas em
conchas quebradas, expondo as partes moles do animal. A gravidade do ferimento
irá depender muito do local envolvido, a anatomia interna destes animais é
bastante complexa, mas os órgãos mais vitais tendem a ficar localizados mais
profundamente dentro da concha.
Ferimento no pé de uma Pomacea diffusa, provável acidente com filtro. A sequência de fotos mostra a regeneração do pé. Fotos de Kauê Braga.
Ferimento no pé de uma Pomacea diffusa, acidente com aquecedor. A segunda foto mostra a recuperação completa após 19 dias. Fotos cortesia de Jeanne Swanstrom.
Ferimento no pé de uma Pomacea diffusa, houve perda de toda a parte média e posterior do pé, com destacamento do opérculo. A ampulária foi criada separadamente, com acesso a ar e alimentos. A sequência de fotos mostra sua recuperação praticamente completa. Fotos cortesia de Jess Peck.
Um tipo especial de ferimento no pé é uma perfuração na sua região central. É descrito como um surgimento espontâneo, sem uma causa evidente. A principal hipótese envolve uma rotura muscular no local onde está inserido o opérculo, diametralmente oposto ao buraco no pé. Talvez o caramujo tenha tentado fechar o opérculo de forma forçada, por exemplo, com um grânulo de cascalho interposto entre a concha e o opérculo. Por um motivo incerto, é um ferimento grave, e com alta mortalidade.
Ferimento central no pé de uma Pomacea diffusa, fotos cortesia de Leah Miramontes. O caramujo morreu algum tempo após as fotos.
Ferimento central no pé, note a correspondência na posição da inserção do opérculo. Fotos cortesia de Kaitlyn Rutman Hilaski.
Ferimento central no pé, foto cortesia de Tim Kilian. Este caramujo também morreu algum tempo após as fotos.
Tentáculos ou sifões deformados
Tentáculos podem ser bifurcados, ramificados ou supranumerários, mais comumente de causa hereditária. Não costumam causar grandes consequências na vida do caramujo. Algum dano no tentáculo (como cistos) durante o seu crescimento pode levar a uma bifurcação adquirida. Nestes casos, se este tentáculo for devorado por algum peixe, o novo tentáculo cresce normalmente.
Sifões bifurcados também são comuns, e geralmente sem grandes consequências. Em especial, se o sifão for mais dobrado, ou com dificuldade em se estender totalmente, o caramujo pode ter maior dificuldade em respirar o ar, e talvez precise de um maior espaço acima da linha d´água para respirar.
Outras condições genéticas e congênitas podem acontecer, mas são bem mais raras. Destacamos algumas em um artigo específico, veja Ampulárias Xifópagas e Quimeras Genéticas.
Ampulária com algumas anomalias congênitas, note que há quatro olhos (ao invés de dois) e quatro tentáculos cefálicos (ao invés de dois), um deles bifurcado. Apesar das anomalias, o caramujo vive normalmente. Imagens cedidas por Natália Aratanha.
Pomacea diffusa com anomalias congênitas. Sifão deformado na primeira foto, dificultando a respiração aérea. Tentáculo bifurcado na segunda imagem. Fotos de Terri Bryant.
Pomacea diffusa com sifão bifurcado, foto cortesia de Andrew Schwab.
Pomacea diffusa com sifão bifurcado, fotos cortesia de Ana Eulália.
Ampulária Pomacea diffusa com tentáculos cefálicos deformados. Fotos cortesia de Karen McKown.
Masculinização de fêmeas, Imposexo
Ampulárias fêmeas possuem um complexo copulatório rudimentar, que pode se desenvolver, levando à masculinização. Chamado de Imposexo, frequentemente é confundido com uma mudança verdadeira de sexo, o assunto é mais bem abordado no nosso artigo sobre Sexagem, que pode ser visto aqui.
Fêmea de Pomacea diffusa com masculinização. Três fotos do mesmo caramujo, o primeiro botando ovos, e o último numa tentativa de cópula, exibindo seu complexo peniano. A diferença de tempo entre a primeira e terceira foto é de pouco mais de um mês. Fotos cortesia de Lauren Hermann.
Micoses e Oomicoses (Doença do algodão)
Infecções
fúngicas profundas têm um aspecto bem típico, inicia-se com uma perda da coloração no pé,
que progride para manchas mais claras ou escuras (melanizadas). Infelizmente não há tratamento, já que
todas as medicações antifúngicas para peixes de aquário contêm substâncias
químicas tóxicas para caramujos. O animal doente deve ser separado, para evitar
contágio dos outros caramujos. Reduzir a temperatura da água para 17 a 20o C
parece facilitar a recuperação do animal, mas a taxa de sobrevivência é muito
baixa.
Muitas infecções que popularmente são chamados de "micoses" em aquariofilia não são infecções por fungos. Por exemplo, é bastante comum em aquários a Saprolegnia, lembrando tufos de algodão de cor branca ou acinzentada, em restos de alimentos em decomposição, troncos sem tratamento adequado, e eventualmente como doença de peixes (Doença do Algodão) e outros animais aquáticos. São chamadas de Oomicoses, por serem causadas por organismos do filo Oomycota, um grupo de taxonomia bastante confusa, inicialmente eram classificados como fungos, depois como protozoários, atualmente considera-se como sendo próximos a diatomáceas e algas marrons.
Embora bastante raro, pode acometer ampulárias e outros caramujos. Trata-se de uma infecção superficial, muitas vezes oportunista e secundária, sobreposta a ferimentos ou outras infecções bacterianas, geralmente em animais já doentes e debilitados. Há casos mais raros de infecções profundas e sistêmicas também. É uma doença de altíssima mortalidade em peixes, ainda maior em caramujos, pela dificuldade de tratamento. Muitas medicações que poderiam ser usadas (como banhos de formaldeído, verde malaquita ou azul de metileno) são sabidamente tóxicas para caramujos.
Pomacea flagellata com infecção fúngica, note as manchas claras no pé e corpo. Havia uma tendência à expansão nas margens das manchas, e cura na porção central. Muitos caramujos acometidos morreram. Foto de Stijn Guesquiere.
Pomacea diffusa
com Doença do Algodão, note as estruturas cotonosas na cabeça do animal, e a destruição de um dos tentáculos cefálicos. Fotos de Amanda Donegá.
Doença do Algodão em Pomacea diffusa, um caso bastante grave. Fotos cortesia de Amy Peters.
Doença do Algodão em Pomacea diffusa, na segunda foto, o animal fora d´água durante um banho de ar. Depois de separado em um aquário-hospital, a ampulária ativamente destacou a porção acometida do seu pé, usando a borda da concha. Fotos cortesia de Katie Ravenwood.
Evolução com recuperação da mesma Pomacea diffusa das fotos anteriores, com regeneração do pé. As duas primeiras fotos com cerca de 10 e 14 dias após a excisão, ainda sem conseguir se apoiar. As duas seguintes a cerca de 1 mês após a excisão, já com regeneração parcial do pé. A última após 6 semanas, já caminhando sobre o vidro. Fotos cortesia de Katie Ravenwood.
Verrugas, cistos e tumores
Mais comum
em indivíduos velhos de Pomacea canaliculata, são caroços e verrugas que podem
aparecer no pé, face e tentáculos. Seu tamanho varia do quase imperceptível ao
de uma cabeça de alfinete, e os maiores nos tentáculos podem causar dobras e
deformidades. Apesar do aspecto desagradável, não parece ser transmissível, nem
causar grandes consequências à saúde do animal.
Cistos
lembram verrugas, mas neste caso há um objeto central na região elevada. São
visíveis como esferas escuras no meio do tecido acometido, de natureza
desconhecida. Costumam desaparecer sem tratamento. Podem surgir após infecções
fúngicas e micobacterioses, sugerindo que possam se tratar de granulomas. Não parecem ser
contagiosos, e não há aparente repercussão na saúde do animal.
Pústulas são mais preocupantes, tratam-se de pequenas formações preenchidas por material purulento. Há descrição em diversas infecções bacterianas, micobacterioses e por protozoários, muitas vezes com quadros graves e de elevada mortalidade. Em Ampulárias
selvagens coletadas, vermes digênicos podem também formar pequenos cistos preenchidos
por pus, especialmente no pé do caramujo, representando as
cercárias que serão eliminadas. Neste caso, geralmente o estado geral do animal é preservado.
Os tumores
vêm em diferentes formas, desde pequenas nodulações a grandes massas internas
calcificadas. Sua causa é desconhecida, alguns atribuem a uma degeneração
genética por excesso de cruzamentos consanguíneos. Talvez por isso, são mais
frequentes em algumas variedades selecionadas de cor, como os Púrpuras e
Vermelhos, muitas vezes associadas a outras desordens genéticas, como a Síndrome
da Concha Fina. Não são perceptíveis, exceto se muito grandes, desta forma nem
são diagnosticados ou tratados. Eventualmente um tumor calcificado pode ser
identificado no processo de limpeza da concha para guardá-la como lembrança, quando
um pedaço grande de material ósseo sai da concha depois das partes moles
estarem decompostas.
Assim como em seres humanos, estes tumores têm gravidade e agressividade variáveis, o mais comum é que sejam tumores benignos de crescimento lento, onde o caramujo convive com a tumoração sem causar grandes consequências. Mas há relatos também de tumores mais agressivos e de crescimento rápido, levando o animal a morte num período curto de tempo. Há algumas descrições de tumores com diagnóstico histológico em Pomacea maculata, papilomas epidermais e adenomas do trato digestivo.
Pomacea diffusa idosa com verrugas nos tentáculos, causando deformidades. Cerca de um ano de idade, faleceu duas semanas após estas fotos. Fotos de Cathy Flanagan.
Pomacea diffusa com cistos nos tentáculos. Foto de Amy Lynn.
Pomacea canaliculata com nódulos na pele (1) e sifão (2), afetando o funcionamento deste último. Foto de Stijn Guesquiere.
Ampulária Pomacea diffusa doente, com nódulos no seu pé. O animal morreu alguns dias depois destas fotos. Imagens de Aline Bernal Stefani.
Pomacea diffusa com pequenas nodulações ou cistos no seu pé. Fotos de Terri Bryant.
Pomacea diffusa com pequenas pústulas no corpo, o caramujo morreu pouco após estas fotos. Imagens cortesia de Angela Harrison.
Dois exemplares de Pomacea canaliculata
encontrados em St. Marys, Camden County, Georgia, EUA. Em meio ao tecido dos pés dos animais, foram encontradas estas estruturas calcificadas. Curiosamente, ambas não apresentavam opérculo. Fotos de Bill
Frank.
Pomacea diffusa com cerca de um ano de idade e um tumor no seu pé. Este tumor mostrou crescimento rápido, e a ampulária morreu cerca de duas semanas após a detecção. Fotos de Mariana Milhomem.
Tumor de partes moles em Pomacea diffusa com
cerca de dois anos de idade. Localizado junto ao pênis, com crescimento
lento e progressivo, a ampulária morreu cerca de quatro meses após o
surgimento. O caramujo interrompeu seu crescimento após o
desenvolvimento do tumor. Fotos e vídeo cortesia de Kacie Cozy Buchanan.
Tumor de partes moles em Pomacea diffusa com mais de dois anos de idade, localizado junto ao complexo peniano. Este tumor desapareceu subitamente, talvez uma torção do pedículo e desprendimento. Vídeo e fotos cortesia de Deb Dyer.
Edema
Ampulárias possuem um tecido bastante frouxo e friável no seu corpo, qualquer distúrbio no equilíbrio de fluidos corporais vai levar a uma retenção líquida e inchaço. Isso é mais comum em caramujos mais velhos ou debilitados, com uma capacidade mais limitada de osmo-regulação. Este excesso de volume no corpo da Ampulária faz com que ele não caiba mais na concha, “transbordando” para fora, e não permitindo o fechamento pelo opérculo. Um local mais fácil desse inchaço ser visto é no seu pé, que fica com um aspecto deformado e com a margem ondulada. Pode levar a dificuldades na sua locomoção. Nos casos mais graves, o inchaço se estende para a cavidade do manto, comprometendo a função respiratória. Frequentemente há um aumento na secreção de muco, que pode ser uma tentativa de eliminar o excesso de água.
Possui várias causas, talvez possa ser considerado um sintoma inespecífico de várias condições diferentes, ao invés de uma doença. A primeira causa que deve ser excluída é uma intoxicação, ou condições químicas inadequadas de água (nitrogenados, por exemplo), em especial se há mais de um caramujo acometido. Testes devem ser realizados, e TPAs.
Enquanto muitos caramujos morrem, outros permanecem em condições relativamente estáveis, melhorando depois de algum tempo sem uma clara explicação. Recomenda-se isolar o animal enquanto isso, para evitar um eventual contágio dos outros habitantes, mas também para proteger o caramujo vulnerável do ataque dos outros habitantes do tanque. Não há tratamento específico, lembrando que estes animais são bastante sensíveis a sais, qualquer tentativa de tratamento baseado em alterações osmolares da água deve ser feito com muito cuidado. Algumas descrições em fóruns de caracóis mencionam o uso de anti-inflamatórios, como óleo de castor, mas a experiência é bem limitada.
Ampulária doente, com acentuado edema. Note como ela não consegue retrair-se totalmente para o interior da concha, devido ao aumento volumétrico. Vídeo cortesia de Meg Lo.
Edema em Ampulária. Nas primeiras fotos, após uma fertilização líquida em um aquário plantado, o animal tornou-se letárgico, boiando e eliminando muco. Note o inchaço, não conseguindo fechar a concha com o opérculo. As últimas fotos mostram a mesma ampulária, depois de recuperada. O caramujo foi separado em um outro aquário para tratamento, com troca d´água e separado dos outros habitantes, com recuperação completa. Fotos de Telma Perrotta de Campos.
Ampulária com acentuado edema, causa desconhecida. Houve recuperação completa após TPA. Fotos cortesia de Julia Emily.
Ampulária com acentuado edema, simulando destacamento do manto. Houve recuperação completa (segunda foto). Fotos cortesia de Megan Bourg.
Intoxicações
Ampulárias são bastante sensíveis a produtos químicos, muitos deles usados rotineiramente em aquarismo para tratamento de doenças ou ajustes de parâmetros químicos da água. O princípio básico de qualquer tratamento medicamentoso em peixes é matar o germe, e não ter efeitos adversos no peixe. Ou seja, é baseada na diferença de metabolismo entre o peixe e o agente que causa a doença. O problema é que o metabolismo de moluscos é muito mais próximo de vários destes germes (por exemplo, vermes) do que dos peixes hospedeiros. Via de regra, tratamentos para verminoses de peixes irão matar os moluscos também. Assim, sugere-se separar moluscos ornamentais do aquário sempre que for feito qualquer tratamento de doenças no aquário.
Alguns exemplos de substâncias sabidamente tóxicas para caramujos são:
Verde malaquita (usado no tratamento de íctio, fungos e veludo / oodinose).
Vários pesticidas organofosforados como formaldeído, metrifonato, triclorfon, diclorvos, usados para tratamento de verminoses e crustáceos parasitas.
Metaldeído, um moluscida.
Medicamentos contendo cobre, para tratamento de infecções fúngicas e protozoários.
Óxido de Di N Butil estanho, um vermífugo.
Lembrando também que moluscos são bastante sensíveis a substâncias químicas como cloro, cloraminas, fluorinas, metais pesados, etc. O cobre presente em encanamentos também pode ser bastante tóxico para estes seres. Por outro lado, comparado a peixes ornamentais, são mais resistentes à intoxicação com amônia, nitrito e nitrato.
Atrofia do pé
Em condições de doença, é comum moluscos gastrópodes catabolizarem proteínas do seu pé muscular, levando a atrofia. É uma condição bastante conhecida em criações de Abalones, onde é chamada de "foot withering syndrome".
Pé retraído e encolhido é um sinal de alerta, mais frequente em condições de estresse grave, por exemplo por inanição. É comum em Ampulárias mantidas em aquários sem alimentação adequada por um período prolongado. Se a inanição persistir, os danos nos órgãos internos serão irreversíveis, levando à morte. Se detectado a tempo, a maioria dos caramujos terá recuperação completa, após uma a duas semanas de alimentação abundante e adequada. Se o animal continua a exibir uma retração no pé, sem melhora, é um dos sinais indicando uma lesão permanente, com morte iminente.
Mais raramente, um pé retraído pode ser um sinal de alguma malformação, ou tumores internos com um caráter retrátil, mas via de regra este diagnóstico não pode ser feito com o caramujo vivo.
Provável atrofia do pé em uma Pomacea diffusa. Fotos cortesia de Hannah Warzecha Seitz.
Para a segunda parte do artigo, com créditos fotográficos e agradecimentos, clique aqui.