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Dicas na Alimentação das Ampulárias
 
S. Ghesquiere, W. Ishikawa e C. Moreira


Alimentação das Ampulárias


Ampulárias são animais de fácil manutenção que vivem bem em um aquário comum ou em um lago ornamental. Eles podem conviver com a maioria das espécies de peixes ornamentais e podem ser usadas para manter o aquário limpo de algas. Nem todas as espécies de Ampulárias são uma boa opção para os aquários, pois o apetite voraz de muitas espécies por vegetação aquática geralmente não é desejado, e, por terem um metabolismo bastante ativo com grande produção de fezes, em especial os caramujos maiores podem causar problemas com a qualidade da água em tanques pequenos.


O objetivo deste artigo é fornecer um guia sólido para todos que mantêm esses caramujos e evitar os equívocos e armadilhas mais comuns relacionados à sua alimentação.  




Ampulárias se alimentando na superfície da água. Foto de Cláudio Moreira.



Necessidades específicas


A maioria das Ampulárias selvagens são comedores de plantas vorazes (herbívoras ou macrofitófagas) que devoram uma grande variedade de vegetação. Em cativeiro, eles se dão bem com vegetais comuns em combinação com comida de peixe.


Infelizmente, muitas espécies têm um grande apetite por vegetação aquática e as algas não são seu alimento preferido. Quase todas as espécies selvagens se encaixam neste perfil. Nesses casos, esses animais podem reduzir a vegetação aquática muito rapidamente. Eles podem arruinar um belo aquário plantado em dias.





Ampulária selvagem Pomacea canaliculata se alimentando de vegetação em aquário, fotos de Terri Bryant.



No entanto, felizmente nem toda Ampulária possui este mesmo apetite, é justamente uma das únicas espécies conhecidas (Pomacea diffusa, veja mais informações da espécie aqui) sem este perfil de alimentação que foi selecionada para o aquarismo. É praticamente impossível achar esta espécie na natureza (exceto em alguns locais da Bacia Amazônica), logo, pode-se dizer que toda Ampulária coletada na natureza deve ser de uma espécie comedora de plantas. A única exceção é a Pomacea scalaris, que pode ser encontrada em alguns estados, maiores informações podem ser vistas neste artigo. Deve-se enfatizar neste contexto que a identificação das espécies de ampularídeos pode ser muito difícil, muitas espécies são muito semelhantes na aparência.



Ampulária selvagem Pomacea maculata se alimentando de vegetação, animal invasor fotografado em Far West Volusia County, Florida, EUA. Foto de Bill Frank.



Novamente enfatizando que praticamente todas as Ampulárias vendidas em lojas são da mesma espécie, Pomacea diffusa. Eventualmente ela pode ser vendida com outros nomes, como Aruá, Caramujo Maçã, Caramujo Marfim e Corbícula. Este último nome é um erro, na realidade Corbícula é o nome de um molusco bivalve, maiores informações podem ser vistas aqui. Geralmente ela tem cor amarela, mas outras variedades de cor estão começando a ficar mais disponíveis (azul, verde, roxa, branca, etc. veja um artigo específico neste link). As cores não são úteis para determinar as espécies, pois ocorrem muitas variações dentro de uma única espécie. Exemplos disso podem ser vistos também em Ampulárias selvagens, como a Pomacea canaliculata. Veja aqui. Se você não conseguir descobrir qual espécie você tem, é uma boa idéia verificar se elas comem suas plantas antes de colocar várias dessas criaturas em seu aquário.


 

A Pomacea diffusa (e a P. scalaris) prefere plantas mortas e podres ao invés das plantas verdes frescas. Ocasionalmente, eles comem a vegetação mais macia. As Ampulárias Pomacea diffusa são, portanto, uma boa escolha para um aquário que tenha uma bela coleção de plantas aquáticas. Mais ainda, eles tendem a morrer de fome no meio da vegetação, se você não lhes fornecer comida suficiente.




Pomacea diffusa
se alimentando de algas no vidro do aquário. A sua rádula é bem visível neste vídeo, gentilmente cedido por Rildo Melo.



As Ampulárias Pomacea diffusa aceitam muito bem todos os tipos de alimentos para peixes, e pode ser útil experimentar alguns vegetais macios como complementação. Um tipo interessante de ração para peixes são os comprimidos para peixes herbívoros e comedores de algas, mas outros tipos também servem. Se você preferir manter as despesas com alimentação baixas, basta comprar comida para peixes de lago. Eles vêm em grande quantidade por um preço relativamente baixo e tem uma grande vantagem: ele continua flutuando, o que não causa uma bagunça no fundo do seu aquário e o alimento restante pode ser removido facilmente. Embora o alimento flutuante possa parecer um pouco estranho para os caramujos, as Ampulárias sabem muito bem como lidar com isso: eles vão para a superfície e formam um funil com o pé, no qual deixam a água da superfície fluir (alimentação pedal, como pode ser visto neste artigo). A comida na superfície flutua em direção ao animal e fica presa nesse funil, para então ser consumida pela Ampulária.


As demais espécies de Ampulárias selvagens (muitas espécies, as mais comuns são Pomacea canaliculata, P. maculata, P. lineata e as Asolene) são menos seletivas na escolha de alimentos e devoram todo tipo de vegetação. Para manter esses caramujos saudáveis, alimente-os regularmente com vegetais. Podem ser folhas, como alface, couve, rúcula, grama comum do jardim, etc. Verdura e legumes podem ser oferecidas, cruas ou cozidas (pepino, abobrinha, pequenos pedaços de cenoura, feijão verde cozido), mas cuidado para não haver sobras e comprometer a qualidade da água. Uma dica é usar um espeto de churrasco para fixar os alimentos. Comida comum de peixe também são bem aceitos.


Importante: Sempre lave muito bem os vegetais se não tiver certeza de que eles são provenientes de uma fazenda orgânica. Os vegetais devem estar livres de pesticidas e moluscidas. Você provavelmente não sentirá nada quando comer vegetais com alguns resíduos desses produtos, mas os caracóis podem ser prejudicados!

 


Ampulárias se alimentando na superfície da água. Foto de Cláudio Moreira.



Outros tipos de alimentos


Além de vegetais e ração de peixe, as Ampulárias também comem todos os outros tipos de alimento, se disponíveis. Não recusam carne moída, peixes, camarões e outros alimentos congelados, e até insetos mortos. Até mesmo peixes ornamentais mortos e outras Ampulárias mortas são rapidamente devoradas, o que explica alguns relatos de “predação” de peixes por Ampulárias. Na verdade, até existem alguns relatos de predação entre Ampulárias (isso foi relatado para Pomacea canaliculata e Marisa cornuarietis), mas não de peixes. Atuam como faxineiros, isso os torna também uma boa opção para limpeza de tanques.



Pomacea diffusa alimentando-se de um Kinguio morto. Estes caramujos não atacam peixes vivos, mas rapidamente irão se alimentar de carcaças de peixes mortos. Foto de Marco Antônio Francisco.



As Ampulárias comem vegetação microscópica (biofilme de algas) que cresce em pedras, troncos e no vidro do aquário, mas não são tão eficazes como algueiros, quando comparados com Ottos, Neritinas e Camarões Amano. Existem relatos de que elas comem até as famigeradas Algas Peteca, veja este artigo



Ampulária se alimentando de alga peteca. Foto de Leonardo Carvalho.



Devoram caramujos menores, como planorbídeos e Physas, assim como seus ovos. Alimentam-se também de Hydras e Planárias.


Alimentos deixados parcialmente acima da linha d'água também são consumidos, alguns aquaristas até colocam alimentos propositalmente nesta posição. É em parte por causa desse comportamento (deixar a água para buscar comida) que os torna um problema nos campos de arroz da Ásia e do Havaí, onde se alimentam das culturas de arroz jovens.




Ampulárias se alimentando na superfície da água. Note o funil formado pelo pé. Foto de Cláudio Moreira.

 


Quanta comida?


O que melhor funciona é a tentativa e erro: basta ver quanto eles comem diariamente e fornecer essa quantidade todos os dias. Esta seria uma abordagem útil se não fosse o fato de muitas espécies de Ampulárias tenderem a ser menos ativos periodicamente, ter uma estivação no tempo seco ou hibernação durante o inverno. A última situação é a forma mais comum de inatividade em Ampulárias que são mantidos em cativeiro, especialmente em tanques sem aquecimento. Durante esse período de inatividade, a quantidade de alimento de que eles precisam diminui, enquanto na primavera e no verão a quantidade de energia necessária aumenta, quando eles se tornam ativos e começam com seus esforços de reprodução (produção de ovos).


Essas diferenças sazonais nos níveis de atividade são induzidas principalmente pela temperatura, o que também significa que essa variação sazonal diminui, mas não necessariamente desaparece, quando a temperatura é mantida constante ao longo do ano.


Uma abordagem alimentar melhor seria, portanto, variar a quantidade de comida: menos comida no outono e inverno, enquanto aumenta a quantidade deixando ad libidum (comida o máximo que eles podem comer) na primavera e no verão.





Ampulárias se alimentando na superfície da água. Note novamente os funis formados pelos pés dos animais. Fotos de Cláudio Moreira.



Cálcio


Um dos problemas de saúde mais comuns em Ampulárias criadas em aquários é a deterioração das suas conchas, com afilamento e formação de buracos. Trata-se de uma condição complexa, envolvendo múltiplos fatores como pH e dureza da água, substratos abrasivos, etc. (veja mais informações aqui). Mas um dos fatores mais importantes é o aporte de Cálcio na alimentação. O Cálcio participa de inúmeros processos fisiológicos, como contração muscular e impulsos nervosos, mas em moluscos o aporte precisa ser ainda maior, por causa da sua concha. O principal componente das conchas dos moluscos é o Carbonato de Cálcio. A produção de uma concha saudável durante o crescimento da Ampulária, e o eventual reparo em caso de fratura ou erosão, vão depender de uma alimentação rica em Cálcio.


Deve-se incluir alimentos que tenham bastante Cálcio, como folhas e verduras de cor verde escura (couve, rúcula, agrião, manjericão, acelga, brócolis). Sempre dê preferência a estes alimentos crus. Grãos são muito ricos em Cálcio também (soja ou tofu, feijão branco, milho, grão-de-bico, chia, quinoa), mas difíceis de serem oferecidos, assim como o ovo. Uma opção é incorporá-los em biscoitos caseiros feitos especialmente para este fim. Queijo fresco também é uma ótima opção.





Ampulária se alimentando de um comprimido mastigável de Carbonato de Cálcio, para uso humano. Imagem cedida pela aquarista Stephanie Maks.



Uma excelente fonte de Cálcio também é o próprio Carbonato de Cálcio, na forma de conchas de moluscos. Aragonita (usada em aquários marinhos), conchas quebradas ou inteiras podem ser colocadas diretamente no aquário, ou misturadas no substrato. Lembrando que eles elevam o pH e dureza, o que geralmente é benéfico para as Ampulárias. Casca de ovos é uma opção, mas a sua composição química (também Carbonato de Cálcio, mas na forma de Calcita) a torna mais estável e menos solúvel, assim, é menos aproveitada pelo animal. Osso de siba verdadeiro é uma ótima alternativa, mas tomem cuidado que muitas vezes blocos sintéticos de cálcio (novamente calcita) são vendidos como osso de siba em lojas de pássaros. Gesso não é uma boa opção, por se tratar de Sulfato de Cálcio. Blocos de cálcio para répteis também são feitos de gesso.


A melhor maneira de se oferecer Carbonato de Cálcio é na forma de medicamentos para uso humano, pastilhas mastigáveis feitas de pó de conchas de ostras. Pode ser comprado em farmácias, é uma opção mais cara, mas mais eficaz, que deve ser lembrada em situações de emergência (por exemplo, tratamento de fraturas de conchas). A pastilha se dissolve num pó fino quando submersa, deixando a água turva por alguns minutos. Uma dica é colocar a pastilha sobre um pratinho ou placa de petri, para que o pó não afunde entre os grãos do substrato.      

 



Ampulárias se alimentando na superfície da água. Foto de Cláudio Moreira.



Opinião de Cláudio Moreira (RJ), criador comercial de Ampulárias coloridas


Respondendo à dúvida de muitos, eu já tenho as Ampulárias diffusas, já há muito tempo, e percebi ao longo dessa jornada, para elas crescerem e se reproduzirem, eu dou para elas, uma ração em pó, dessas para criação de peixes como Tilápias, de tanque. Essa ração em pó é a base principal aqui em casa, servindo para os meus peixes e atualmente está servindo na diversificação das comidas dos meus camarões. Essa ração é difícil encontrar um local que a tenha. Podemos encontrá-la em casas que vendem sacas de rações para lagos. E compro dela em pó. E ela tem 55% de proteína. Não sei se necessitam de tanta proteína, mas sei que se adaptaram muito bem, e já as tenho há muitos anos assim.


Num processo de Alimentação Pedal Superficial, elas chegam na superfície, praticamente todas, e fazem aquela festa, em tentar pegar o máximo de ração. Só pesquisar na Internet. Ração em pó para peixe, com 55% de proteína. Quanto a outros tipos de alimentos... não dou verduras, legumes, nada disso. Às vezes, ultimamente, muito raro, jogo umas rações de fundo. Que estou vendo que gostam muito. Que pode ser a ração de Peixes de fundo pra carnívoros, crustáceos... aí vai da disponibilidade de cada um.


Bom, é isso pessoal. Não tem segredo. Sem mistérios.






Ampulárias se alimentando da ração de peixes de tanques. Fotos de Cláudio Moreira.




Este artigo tem como base um texto extraído do portal applesnail.net , possivelmente o melhor banco de dados de Ampulárias que existe na internet. Agradecimentos a Stijn Ghesquiere, responsável pelo portal, por permitir o uso do material. Informações adicionais foram introduzidas por Walther Ishikawa, como a suplementação de Cálcio. Finalmente, algumas dicas práticas de alimentação foram complementadas por Cláudio Moreira, criador de Ampulárias ornamentais do RJ, com uma vasta experiência na criação destes animais, ao qual somos bastante gratos. A maioria das fotos do artigo são cedidas pelo Cláudio. Agradecemos também a Bill Frank ( Jacksonville Shell Club ), aos aquaristas Leonardo Carvalho, Rildo Melo, Marco Antônio Francisco, Terri Bryant (EUA) e Stephanie Maks (EUA) por nos cederem o vídeo e fotos que enriqueceram o artigo.



Artigo publicado em 24/01/2020, última edição em 21/02/2020.
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