Chave de identificação de Mosquitos Psorophora
A proposta deste artigo é de oferecer uma chave de identificação simplificada para os mosquitos Psorophora que ocorrem no Brasil. Trata-se de uma chave informal, sem o uso de análise de órgãos genitais, e com algumas liberdades que não poderiam ser tomadas em chaves acadêmicas. Portanto, deve ser encarada como uma chave menos precisa e incompleta, que deve ser complementada com chaves de identificação formais sempre que possível. Muitos não poderão ser identificados, mesmo com fotos de boa qualidade. Veja o artigo principal sobre estes mosquitos no website aqui.
Psorophora é um importante gênero da subfamília Culicinae, tribo Aedini, são conhecidas 28 espécies com ocorrência no Brasil (26 pela listagem oficial do CTFB), distribuídos em 3 subgêneros, Psorophora (8 espécies), Janthinosoma (15 espécies) e Grabhamia (5 espécies). Curiosamente os três subgêneros são bastante diferentes entre si. São mosquitos vorazes e com hematofagia agressiva, picada dolorosa, atacando predominantemente durante o dia.
Segue a lista de espécies brasileiras:
- Psorophora (Grabhamia) cingulata (Fabricius,
1805)
- Psorophora (Grabhamia) confinnis (Lynch-Arribálzaga,
1891)
- Psorophora (Grabhamia) dimidiata Cerqueira,
1943
- Psorophora (Grabhamia) paulli Paterson &
Shannon, 1927
- Psorophora (Grabhamia) varinervis Edwards,
1922
- Psorophora (Janthinosoma) albigenu (Peryassu,
1908)
- Psorophora (Janthinosoma) albipes (Theobald,
1907)
- Psorophora (Janthinosoma) amazonica Cerqueira,
1960
- Psorophora (Janthinosoma) champerico (Dyar
& Knab, 1906)
- Psorophora (Janthinosoma) circumflava Cerqueira,
1943
- Psorophora (Janthinosoma) cyanescens (Coquillett, 1902)
- Psorophora (Janthinosoma) discrucians (Walker,
1856)
- Psorophora (Janthinosoma) ferox (von
Humboldt, 1819)
- Psorophora (Janthinosoma) forceps Cerqueira,
1939
- Psorophora (Janthinosoma) horrida (Dyar
& Knab, 1908)
- Psorophora (Janthinosoma) johnstonii (Grabham,
1905)
- Psorophora (Janthinosoma) lanei Shannon
& Cerqueira, 1943
- Psorophora (Janthinosoma) lutzii (Theobald,
1901)
- Psorophora (Janthinosoma) pseudomelanota Barata
& Cotrim, 1971
- Psorophora (Janthinosoma) varipes (Coquillett,
1904)
- Psorophora (Psorophora) ciliata (Fabricius,
1794)
- Psorophora (Psorophora) cilipes (Fabricius,
1805)
- Psorophora (Psorophora) holmbergii Lynch-Arribálzaga,
1891
- Psorophora (Psorophora) howardii Coquillett,
1901
- Psorophora (Psorophora) lineata (Humboldt,
1819)
- Psorophora (Psorophora) pallescens Edwards, 1922
- Psorophora (Psorophora) pilipes (Macquart,
1834)
- Psorophora (Psorophora) saeva Dyar
& Knab, 1906
Os mosquitos do subgênero Psorophora são bem avantajados e robustos, os maiores mosquitos hematófagos conhecidos no Brasil pertencem a este grupo. Corpo com escamas claras e escuras, mas não metálicas. Pernas com escamas e cerdas eretas e salientes, conferindo um aspecto hirsuto.
A etapa inicial é identificar as três espécies com os tarsos escuros, sem marcações claras, Ps. cilipes, Ps lineata e Ps. saeva.
Ps. cilipes possui escamas brancas abundantes e uniformes na pleura, conferindo aspecto hirsuto. Ampla distribuição, do Panamá ao sul do Brasil.
Psorophora (Psorophora) cilipes, fotografada em Villanueva, Casanare, Colômbia. Foto de Wilson Lombana Riaño.
Psorophora (Psorophora) cilipes, fotografada em Rio Branco, Acre. Foto de Isaac Oliveira.
Psorophora (Psorophora) cilipes, fotografada em Kourou, Cayenne, Guiana Francesa. Foto de Elendil Cocchi.
Ps. saeva e Ps. lineata são quase indistinguíveis, eram consideradas sinônimas até a pouco tempo. Possuem escamas mais escassas e agrupadas na pleura. Ampla distribuição, do México à Argentina.
Psorophora (Psorophora) saeva, fotografada em Miguel Pereira, RJ. Foto de Diego Lavinas Vieira.
Psorophora (Psorophora) sp. (saeva ou lineata), fotografada em Santa Cruz Cabrália, BA. Foto de Geovane Siqueira.
As demais espécies do subgênero possuem pelo menos algumas marcações tarsais brancas.
Ps. ciliata é de fácil identificação, possui um escudo com faixa central de escamas claras e douradas. Ampla distribuição, do sul do Canadá até Argentina. Ps. pallescens não consta em listagens oficiais de fauna do Brasil, mas existem registros no iNaturalist. Também possui a faixa dourada mediana no escudo, mas as asas mostram escamas claras (asas totalmente negras na outra espécie). Encontrado no Paraguai, Argentina e Bolívia.
Psorophora (Psorophora) ciliata durante hematofagia, fotografado no Paraguai. Foto de O. Rodriguez (PyBio).
Psorophora (Psorophora) pallescens, fotografado em Porto Murtinho, MS. Foto de Thomaz Ricardo Favreto Sinani.
Ps. holmbergii possui escudo com faixa central de escamas escuras e bronzeadas. Seu abdomen exibe escamas brancas. Tarsos com anéis basais brancos nos três primeiros segmentos, maiores nas últimas pernas. A distribuição também é distinta, é encontrado no Paraguai, Uruguai, Argentina e Brasil.
Ps. howardii também possui escudo com faixa central de escamas escuras e bronzeadas. Mas seu abdomen mostra escamas azul metálicas. Tarso I amarelado na base, escuro no ápice. II e III escuros com anéis amarelados indistintos. Ampla distribuição, do EUA ao norte da América do Sul.
Psorophora (Psorophora) howardii, fotografada em Durham, Carolina do Norte, EUA. Foto de Robert Meehan.
Psorophora (Psorophora) holmbergii, fotografada em La Plata, Buenos Aires, Argentina. Foto de Pedro Joaquin Soto.
Ps. pilipes é uma espécie enigmática, nem ao menos é citada em listagens oficiais de espécies, ou em chaves acadêmicas. Algumas fontes sugerem que se trata de um erro de identificação, na realidade um sabetino (Trichoprosopon longipes). Desta forma, não será incluída aqui.
O subgênero Janthinosoma são os mais belos e coloridos dentre os Psorophora, inclui mosquitos de porte pequeno a médio, aspecto global escuro, muitos com escamas violáceas e com reflexo metálico. Também possui escamas eretas nas pernas, principalmente posterior, mas menos exacerbado do que os do subgênero Psorophora.
Inicialmente, duas espécies podem ser separadas das demais por possuirem todos os tarsos de cor escura. A distinção entre eles é pela cor do escudo. Ps. lanei possui escudo com faixa central negra, e laterais de cor amarelo-ouro. É encontrado no Brasil (MT) e Bolívia. Ps. cyanescens possui o escudo todo amarelado. Ampla distribuição, é encontrado dos EUA até Argentina (sem registro pela listagem oficial da fauna do Brasil, mas incluído em algumas chaves).
Psorophora (Janthinosoma) cyanescens, fotografada em Nashville, Tennessee, EUA. Foto de TNGardener.
O próximo passo é observar o V tarso da perna posterior, as seguintes espécies possuem o tarso ao menos em parte preto:
Duas espécies quase indistinguíveis são Ps. varipes e Ps. albigenu, muitas chaves as consideram sinônimas. Possuem o escudo com uma faixa larga escura central, e faixas amareladas laterais. O tarso posterior IV é inteiramente branco, o tarso V pode ser branco de um dos lados. Ampla distribuição, dos EUA a Argentina.
Psorophora (Janthinosoma) sp. (albigenu/varipes), fotografada em Cassilândia, MS. Foto de Vinícius Souza.
Psorophora (Janthinosoma) varipes, fotografada em Santa María Tonameca, Oaxaca, México. Foto de dl3137162.
Ps. discrucians possui escudo de cor bronze no centro e amareladas ou esbranquiçadas dos lados. Tarso posterior IV e V escuros (raramente escamas claras num dos lados, no IV basal e todo V). É encontrada no Brasil, Venezuela, Bolívia e Argentina.
Psorophora (Janthinosoma) discrucians, fotografada em Santo Tomé, Santa Fe, Argentina. Foto de Eduardo Luis Beltrocco.
Psorophora (Janthinosoma) discrucians, fotografada em Santa Fe, Santa Fe, Argentina. Foto de Gustavo Fernando Durán.
Ps. johnstonii possui escudo com escamas esbranquiçadas. Tarso posterior IV e V escuros (raramente escamas claras num dos lados, no IV basal e todo V). Encontrada no Caribe e América Central.
Psorophora (Janthinosoma) johnstonii, fotografada em Holguín, Cuba. Foto de Francisco Rodriguez.
Ps. pseudomelanota possui escudo uniforme de cor verde acobreado, lembrando bastante Ps. ferox. Tarso posterior IV escuro, tarso V quase totalmente branco, somente o ápice escuro. Pouca informação disponível, ocorre no RJ.
As demais espécies possuem o tarso V posterior totalmente branco.
Dentre elas, Ps. ferox é de fácil identificação, por possuir o escudo com uma mistura de escamas claras e escuras. Ampla distribuição, é encontrada dos EUA até Argentina.
Fêmea de Psorophora (Janthinosoma) ferox, foto de César Favacho.
Psorophora (Janthinosoma) ferox fotografado em Brasília, DF. Foto de Amaro Alves.
As demais espécies são parecidas, de difícil diferenciação, todas mostram um escudo com uma larga faixa escura central.
Destes, Ps. circumflava é a única espécie com as articulações fêmuro-tibiais sem mancha prateada. Encontrada na Bolívia.
Das demais, Ps. champerico pode ser separada por apresentar o lobo médio do escutelo amarelado. Encontrada dos EUA até Venezuela. Ps. horrida é uma espécie comum norte-americana, considerada sinônima por alguns, com pouca informação sobre a ocorrência no nosso país.
Psorophora (Janthinosoma) champerico, fotografada em Mazatlán, Sinaloa, México. Foto de Francisco Farriols Sarabia.
Psorophora (Janthinosoma) horrida, fotografada em Missouri, EUA. Foto de Lee Elliott.
A identificação das demais cinco espécies é mais difícil, baseada no comprimento da probóscide e cor do tórus.
Possuem probóscide igual ou mais curta do que o fêmur anterior Ps. lutzi e Ps. forceps. Ps. lutzi tem toro marrom, ampla distribuição, é encontrada do México à Argentina. Ps. forceps tem o toro amarelado, encontrado somente no Brasil (RJ e SP).
Psorophora (Janthinosoma) forceps, fotografado em Novo Mundo, MT. Foto cortesia de Sidnei Dantas.
Macho de Psorophora (Janthinosoma) lutzii, foto de César Favacho.
Possuem probóscide mais longa do que o fêmur anterior Ps. albipes e Ps. amazonica. São espécies quase idênticas, com diferenças sutis na coloração das cerdas laterais do escudo. Ps. albipes tem ampla distribuição, do sul dos EUA até Argentina. Ps. amazonica é uma espécie obscura, com pouca informação disponível.
Psorophora (Janthinosoma) albipes, fotografadas em Alta Floresta, MT e Santa Tereza, ES. Fotos de Sidnei Dantas e Danilo Pacheco Cordeiro.
O último subgênero, Grabhamia, são mosquitos de porte médio e coloração fosca, escura e acinzentada. Possuem anéias claros nos fêmures e probóscide, sendo frequentemente confundidos com Coquillettidia (a distinção pode ser feita pela extremidade do abdômen, dentre outras características: pontuda no Grabhamia e romba no Coquillettidia). São 5 espécies brasileiras, parecidas e de difícil diferenciação.
Duas espécies possuem asas totalmente escuras, Ps. cingulata e Ps. dimidiata. São diferenciadas pelo aspecto do abdômen e probóscide, no abdômen do primeiro, há áreas claras ápico-laterais que não se unem na porção mediana do segmento, sua probóscide tem um largo anel claro (ampla distribuição, América Central a Argentina). No segundo, as faixas claras abdominais são completas, apicalmente, sua probóscide é preta (Bolívia).
Psorophora (Grabhamia) cingulata, fotografada em Alta Floresta, MT. Fotos de Richard C. Hoyer.
Psorophora (Grabhamia) cingulata., fotografada no Campus da Universidade Federal do Acre, em Rio Branco, AC. Foto cortesia do Prof. Edson Guilherme (UFAC).
Três espécies possuem asas com escamas claras e escuras, detalhes das pernas, probóscide e escudo permitem sua diferenciação.
Ps. varinervis e Ps paulli possuem tarso posterior I escuro somente com anel branco basal. O primeiro tem o escudo com escamas douradas curtas, probóscide amarelada e escura nas extremidades (ocorre na Bolívia, Paraguai, Uruguai, Argentina e Brasil - RS), o segundo tem o escudo escuro com desenhos claros, probóscide escura com grande anel branco (norte da Argentina).
Psorophora (Grabhamia) varinervis, fotografada em San Juan, Bolívia. Fotos de Kozue Kawakami.
Psorophora (Grabhamia) paulli, fotografada em Parnamirim, RN. Fotos cortesia de Yby Natureza.
Ps. confinnis possui tarso posterior I com, além da marcação clara basal, um anel mediano da mesma cor. Probóscide amarelada e escura nas extremidades (EUA a Argentina).
Psorophora (Grabhamia) confinnis, fotografada em Oaxaca, México. Foto de Emmanuel Guevara Lazcano.
Este artigo só foi possível com a colaboração de diversos amigos e colegas, aos quais somos muito gratos. Agradecimentos aos fotógrafos Diego Lavinas Vieira e Amaro Alves, aos zoólogos César Favacho (veja seu álbum Flickr
aqui ),
Danilo Pacheco Cordeiro, Prof. Edson Guilherme (Universidade Federal do Acre), Ulf Drechsel (Paraguai,
Paraguay Biodiversidad ),
Richard C. Hoyer (Líder Sênior do Grupo de Observação de Pássaros WINGS. Visite seu Blog aqui ) e aos colaboradores do iNaturalist Ísis Meri Medri, Sidnei Dantas, Vinícius Souza, Elendil Cocchi, Isaac Oliveira, Robert Meehan, Pedro Joaquin Soto, Thomaz Ricardo Favreto Sinani, Yby Natureza, TNGardener, dl3137162, Francisco Rodriguez, Eduardo Luis Beltrocco, Gustavo Fernando Durán, Francisco Farriols Sarabia, Lee Elliott, Emmanuel Guevara Lazcano, Kozue Kawakami e Wilson Rombana Riaño pela cessão das suas fotos para o artigo.
As fotografias
de Richard Hoyer, e também dos colaboradores do iNaturalist Ísis
Meri Medri, Edson Guilherme, Sidnei Dantas, Elendil Cocchi, Robert
Meehan, Pedro Joaquin Soto, Thomaz Ricardo Favreto Sinani, TNGardener, dl3137162, Francisco
Rodriguez, Eduardo Luis Beltrocco, Yby Natureza, Gustavo Fernando Durán, Francisco
Farriols Sarabia, Lee Elliott, Emmanuel Guevara Lazcano, Kozue
Kawakami e Wilson Rombana Riaño estão licenciadas sob uma licença Creative Commons. As
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Artigo publicado em 02/09/2024, última atualização em 04/11/2024.