
Chave de identificação de Mosquitos do gênero Trichoprosopon e gêneros próximos
A proposta deste artigo é de oferecer uma chave de identificação simplificada para os grandes mosquitos sabetinos do gênero Trichopropsopon e próximos, encontrados no Brasil. Trata-se de uma chave informal, sem o uso de análise de órgãos genitais, e com algumas liberdades que não poderiam ser tomadas em chaves acadêmicas. Portanto, deve ser encarada como uma chave menos precisa e incompleta, que deve ser complementada com chaves de identificação formais sempre que possível. Muitos não poderão ser identificados, mesmo com fotos de boa qualidade. Veja o artigo principal sobre estes mosquitos no website aqui.
Há 9 espécies de Trichopropsopon assinaladas no Brasil. Alguns outros gêneros parecidos, que previamente eram classificados neste gênero, são Isostomyia (3 espécies), Johnbelkinia (3 espécies), Runchomyia (7 espécies em dois subgêneros) e Shannoniana (2 espécies). Sugere-se seguir a ordem de identificação seguinte, identificando-se ou excluindo-se a espécie inicial, e seguindo para a próxima:
Gênero Shannoniana:
As duas espécies do gênero Shannoniana são de identificação simples por possuírem um largo anel branco além do meio na tíbia posterior. São os únicos sabetinos com esta característica.
Shannoniana fluviatilis (Theobald, 1903) (Nicarágua, Guatemala, Guianas, BR)
Shannoniana schedocyclia Dyar & Knab, 1908 (Nicarágua, Guatemala, BR)
- Tarsos posteriores com manchas brancas basais

Shannoniana fluviatilis, fotografado em Pueblo Rico, Risaralda, Colômbia. Note o anel branco nas tíbias posteriores. Foto cortesia de Andrew Rivera.
Gênero Johnbelkinia:
As duas espécies do gênero Johnbelkinia são de identificação relativamente simples, possuem tarsos médios e posteriores com marcações brancas (a tíbia posterior é escura, o que auxilia na diferenciação de alguns Trichopropsopon). Duas espécies com escamas eretas nas pernas, principalmente nos tarsos posteriores, conferindo um aspecto hirsuto. A probóscide é longa e reta. São mosquitos escuros com colorido metálico.
Johnbelkinia leucopus (Dyar & Knab, 1906) (Nicarágua, Panamá, Perú)
- Tarsos posteriores brancos na metade distal de IV e V
- Tarso posterior não ciliado
- Escudo marrom fosco ou fracamente iridescente, em cobre, bronze, dourado, verde, azul ou púrpura
Johnbelkinia longipes (Fabricius, 1805) (Cuba, Nicarágua, Guatemala, Trinidade, Guianas, Venezuela, Colômbia, Brasil - AM, PA, RO, MT)
- Tarsos posteriores brancos na metade distal de IV e todo V
- Tarso posterior fortemente ciliado
- Escudo marrom fosco ou fracamente iridescente, em cobre, bronze, dourado, verde, azul ou púrpura
Johnbelkinia ulopus (Dyar & Knab, 1906) (México ao Brasil, AM, PA, BA, MT)
- Sinônimo de J. longipes?
- Escudo moderadamente iridescente, em azul, verde, amarelo, púrpura

Johnbelkinia longipes, fotografado em Loreto, Peru. Foto cortesia de Luis Felipe Teixeira.

Sabetino Johnbelkinia longipes, fotografado em Tarauacá, AC. Note a longa probóscide. Fotos gentilmente cedidas por Isaac Oliveira.

Johnbelkinia longipes, fotografado em Golfitos, Puntarena, Costa Rica. Foto cortesia de Richard Hoyer.
Gênero Trichoprosopon:
O gênero Trichopropsopon contém espécies sem e com marcações brancas nos tarsos, e sem e com marcações brancas nas tíbias posteriores. São sabetinos grandes e de colorido metálico, com probóscide do comprimento do fêmur anterior, um pouco curva. É um dos poucos sabetinos com evidente dimorfismo sexual, machos com antenas plumosas e palpos longos. Listamos as espécies começando por aquelas cinco com marcações brancas nas pernas:
As duas primeiras espécies são as mais comuns, ambas com ampla distribuição e simpátricas. Embora tenham diferenças marcantes, não podem ser vistas claramente por fotos, exceto o comprimento da probóscide e palpos. Há sutis diferenças também na coloração.
Trichoprosopon digitatum Rondani, 1848 (extenso, América Central ao Paraguai)
- Tarsos médios e posteriores com marcações brancas variáveis, podem estar ausentes nos posteriores, e médio V
- Tíbia posterior com marca branca basal (raramente ausente)
- Palpo 1/6 da probóscide
- Duas subespécies (digitatum e townsendi), sutis diferenças nos clípeos
- Coloração: ocipício escuro com tom azulado-prateado acima, mento branco. Lobo pronotal escuro com tom azulado acima, prateado abaixo. Mesonoto escuro, lobo médio do escutelo azul-pavão. Pleura prateada exceto na porção superior do pronoto posterior onde é violáceo e abaixo onde é creme. Abdômen escuro com brilhos verde e azul-violáceo no dorso, ventre prateado, com brilho dourado claro.
Trichoprosopon compressum Lutz, 1905 (Panamá, Venezuela, Colômbia, BR, Paraguai)
- Tarsos médios brancos de II à base de V
- Tarsos posteriores brancos do ápice de III a V
- Tíbia posterior com marca branca basal
- Fêmur médio mais curto do que anterior
- Palpo 1/5 da probóscide
- Duas subespécies (compressum e mogilasium), sutis diferenças nos clípeos
- Coloração: ocipício escuro com tom prateado acima, mento branco-prateado. Lobo pronotal escuro acima, prateado abaixo. Mesonoto escuro, escutelo azul-verde. Pleura e pós-noto posterior prateados. Abdômen escuro com brilho azul-esverdeado no dorso, ventre prateado.
Trichoprosopon obscurum Lane & Cerqueira, 1942 (RJ)
- Mesmo complexo de espécies do T. compressum
- Tarsos médios brancos de II a V
- Tarsos posteriores brancos do ápice de III a V
- Fêmur médio mais longo do que anterior
- Palpo 1/4 da probóscide
- Pronoto escuro acima, prata abaixo
- Mesonoto escuro
- Tórax alongado e subtriangular lateralmente
Trichoprosopon soaresi Lane & Cerqueira, 1942 (ES, SP)
- Muito parecido com T. compressum
- Tarsos médios brancos de II a IV
- Tarsos posteriores brancos do ápice de III a V
- Tíbia posterior com marca branca basal
- Pronoto posterior prateado
Trichoprosopon lampropus (Howard, Dyar & Knab, 1913) (Panamá)
- Tarsos médios brancos do ápice de II e todo III e IV


Trichoprosopon digitatum, fotografado em San Ramón, Alajuela, Costa Rica. Fotos de Roberto E. Llanos-Romero.



Trichoprosopon digitatum, fotografado em Belém, PA. Macho na primeira foto, é um dos poucos sabetinos com evidente dimorfismo. Fotos de César Favacho.

Trichoprosopon digitatum, fotografado em Golfito, Puntarenas, Costa Rica. Foto de Andrew Rivera.
Trichoprosopon compressum, fotografado em Golfito, Puntarenas, Costa Rica. Note a probóscide mais curta. Fotos de Andrew Rivera.
Trichoprosopon compressum, fotografado em Sarapiquí, Heredia, Costa Rica. Foto de Chloe and Trevor Van Loon.


Trichoprosopon lampropus, fotografado em Alajuela, Grecia, Costa Rica. Fotos de Antoine Lantin.


Trichoprosopon soaresi, fotografado em Petrópolis, RJ. Fotos de Anderson Rabello Pereira.
Todas as demais espécies do artigo com tarsos pretos
As quatro espécies restantes do gênero Trichopropsopon (complexo Pallidiventer) podem ser separadas das espécies remanescentes pela probóscide curta, do comprimento ou mais curtas do que o fêmur anterior. São espécies bastante parecidas, com sutis diferenças destacadas adiante:
Trichoprosopon pallidiventer (Lutz, 1905) (Colômbia, Bolívia, Argentina, SP)
- Probóscide mais curta do que o fêmur anterior
- Palpo 1/4 da probóscide
- Antena 2/3 probóscide
- Ocipício com escamas com reflexos metálicos, branco no mento
- Mesonoto escuro, escutelo azul metálico, escamas metálicas azul-pavão na região pré-escutelar
- Cores abdominais separadas lateralmente por incisões triangulares apicais
Trichoprosopon brevipes (Costa Lima, 1931) (RJ)
- Parecido com T. pallidiventer (mesmo complexo), diferenças:
- Probóscide do comprimento do fêmur anterior
- Palpo <1/4 da probóscide
- Comprimento do fêmur-tíbia da perna posterior > soma total dos tarsos
Trichoprosopon castroi Lane & Cerqueira, 1942 (RJ, SP, PR, SC)
- Parecido com T. pallidiventer (mesmo complexo), diferenças:
- Probóscide do comprimento do fêmur anterior
- Palpo 1/5 da probóscide
- Mesonoto marrom escuro, opaco
- Tíbia anterior 0,8x fêmur anterior
Trichoprosopon similis Lane & Cerqueira, 1942 (SP, PR, SC)
- Parecido com T. pallidiventer (mesmo complexo), diferenças:
- Probóscide do comprimento do fêmur anterior
- Palpo 1/5 da probóscide
- Mesonoto marrom escuro, escamas metálicas verde-azuladas na região pré-escutelar
- Tíbia anterior discretamente < fêmur anterior


Trichoprosopon pallidiventer, fotografado em Jardín, Antioquia, Colômbia. Fotos de Daniel Mesa.
Gênero Isostomyia:
O gênero Isostomyia contém três espécies brasileiras, todas sem marcações brancas nas pernas, e probóscide longa. O aspecto opaco e sem brilhos metálicos do ocipício pode auxiliar na separação das demais espécies de pernas escuras.
Isostomyia
espini (Martini, 1914) (Panamá)
- Probóscide mais longa do que o fêmur anterior, discretamente inflado na ponta
- Palpo <1/7 da probóscide
- Antena quase do comprimento da probóscide
- Ocipício com escamas escuras da
mesma cor do mesonoto
- Lobo pronotal escuro
- Cores abdominais separadas lateralmente, o preto invadindo o branco principalmente a partir do IV segmento ao ápice, mas diminuindo distalmente
- Espécie pequena
Isostomyia
lunata (Theobald, 1901) (Trinidade, Venezuela, Argentina, RJ)
- Probóscide mais longa do que o fêmur anterior, fina e curva
- Palpo <1/8 da probóscide
- Antena 2/3 probóscide
- Ocipício com escamas escuras da mesma cor do mesonoto
- Lobo pronotal escuro acima, prateado dos lados e abaixo
- Cores abdominais separadas lateralmente, o branco invadindo o preto e formando marcas distais arredondadas, mais pronunciadas nos segmentos III a V
- Espécie maior
Isostomyia
paranensis (Brèthes, 1910)
- Probóscide mais longa do que o fêmur anterior
- Antena >1/2 probóscide
- Sinônimo de I. lunata?

Isostomyia lunata, fotografado em São Paulo, SP. Foto de gutomag.
Gênero Runchomyia:
O gênero Runchomyia contém sete espécies brasileiras, todas sem marcações brancas nas pernas, e probóscide longa. São duas do subgênero Ctenogoeldia e cinco do subgênero Runchomyia, muito sutis diferenças na anatomia dos adultos, somente a presença de brilho prateado na base do lobo médio do escutelo no primeiro subgênero. Em relação às demais espécies com pernas pretas, a probóscide longa e brilho metálico no ocipício podem auxiliar na identificação.
Runchomyia (Ctenogoeldia) magna (Theobald, 1905) (Guatemala, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Venezuela, Bolívia, PA)
- Probóscide mais longa do que o fêmur anterior, discretamente inflado na ponta
- Palpo 1/8 da probóscide
- Antena 2/3 probóscide
- Ocipício preto com mancha arredondada prata no meio
- Lobo médio do escutelo com forte brilho prateado
- Cores abdominais separadas lateralmente por incisões centrais arredondadas brancas
Runchomyia (Ctenogoeldia) walcotti Lane &
Cerqueira, 1942 (BA)
- Tíbia posterior com mancha amarela mediana
- Probóscide mais longa do que o fêmur anterior, fino e curvado
- Palpo?
- Antena pouco mais de 1/2 probóscide
- Ocipício completamente prateado
- Lobo médio do escutelo com forte brilho prateado
- Cores abdominais separadas lateralmente por incisões basais brancas
Runchomyia (Runchomyia) cerqueirai Stone, 1944 (BA, ES, RJ, SP)
- Probóscide mais longa do que o fêmur anterior, fina
- Palpo 1/8 da probóscide
- Antena 1/2 probóscide
- Ocipício escuro com brilhos metálicos, azulados e prateados
- Lobo médio do escutelo sem prateado
- Pronoto posterior prateado
- Cores abdominais separadas lateralmente por incisões arredondadas
- Scutellum with bright peacock blue scale
Runchomyia (Runchomyia) humboldti Lane & Cerqueira, 1942 (RJ, SP, PR)
- Probóscide mais longa do que o fêmur anterior
- Palpo 1/8 da probóscide
- Antena um pouco <2/3 probóscide
- Ocipício escuro com reflexos azulados ou prateados
- Lobo médio do escutelo sem prateado
- Pronoto posterior prateado
- Cores abdominais separadas lateralmente por incisões arredondadas
- Scutellum concolorous with mesonotum, sometimes even darker
Runchomyia (Runchomyia) frontosa (Theobald, 1903) (Trinidade, Guiana, Guiana Francesa, BR)
- Probóscide mais longa do que o fêmur anterior
- Palpo 1/8 da probóscide
- Antena um pouco >1/2 probóscide
- Ocipício escuro com reflexos prateados, violáceos ou azulados
- Pronoto prateado com brilho violáceo
- Lobo médio do escutelo sem prateado
- Cores abdominais separadas lateralmente por linha reta
Runchomyia (Runchomyia) reversa Lane &
Cerqueira, 1942 (Paraguai, GO, BA, RJ, SP, PR, SC)
- Parecido com T. frontosa, diferenças:
- Antena <1/2 probóscide
- Ocipício escuro com reflexos prateados ou azulados
- Pronoto posterior violáceo com brilho dourado
- Cores abdominais separadas lateralmente por incisões basais triangulares
Runchomyia (Runchomyia) theobaldi (Lane &
Cerqueira, 1942) (Trinidade, RJ)
- Parecido com T. frontosa e reversa, diferenças:
- Pronoto posterior violáceo escuro
- Cores abdominais separadas lateralmente por incisões apicais triangulares
Bibliografia:
- Consoli RAGB, Oliveira RL de. Principais Mosquitos de Importância Sanitária no Brasil. Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, 1994 - 225 páginas.
- Segura MNO, Castro FC. Atlas de Culicídeos na Amazônia Brasileira: características específicas de insetos hematófagos da família Culicidae. Belém: Agência Brasileira; Instituto Evandro Chagas; 2007. 67p.
- Mosquito Genera Identification Key – Southern Command Area of Responsibility. Army Public Health Center, U.S. Army Medical Department. 2016.
- J Lane. Neotropical Culicidae, Volume I & II. University of São Paulo, Brazil. Lane J. 1953.
- Darsie RF Jr. 1985. Mosquitoes of Argentina. Part I. Keys for identification of adult females and fourth stage larvae in English and Spanish (Diptera, Culicidae). Mosq Syst 17: 153-253.
- Lane J, Cerqueira N. (1942) Os sabetíneos
da América (Diptera, Culicidae). Archivos de Zoologia 3: 473-849.
- Zavortink TJ. Mosquito studies (Diptera: Culicidae). XXXV. The genus new Sabethine genus Johnbelkinia and a preliminary reclassification of the composite genus Trichoprosopon. Contrib. Am. Entomol. Inst. (Ann. Arbor.), v. 17, n. 1, p. 1-61, 1979.
- Zavortink TJ. 1981. Species complexes in the genus Thichoprosopon.
Mosquito Systematics. 13 (1): 82-85.
- Uribe-Soto S, Suaza-Vasco JD. El género
neotropical Trichoprosopon Theobald 1901 (Díptera: Culicidae) en Colombia:
registros de distribución e importancia médica. Rev. acad. colomb.
cienc. exact. fis. nat. 2021 Sep; 45(176): 638-650.
Este artigo só foi possível com a colaboração de diversos amigos e colegas, aos quais somos muito gratos. Agradecimentos ao fotógrafo César Favacho (veja seu álbum Flickr aqui) e aos colaboradores do iNaturalist Andrew Rivera, Luis Felipe Teixeira, Isaac Oliveira, Richard Hoyer, Chloe and Trevor Van Loon, Roberto E. Llanos-Romero, Antoine Lantin, Anderson Rabello Pereira, gutomag, Daniel Mesa, pela cessão das suas fotos para o artigo.
As fotografias dos colaboradores do iNaturalist César Favacho, Andrew Rivera, Luis Felipe Teixeira, Richard Hoyer, Chloe and Trevor Van Loon, Roberto E. Llanos-Romero, Antoine Lantin, gutomag, Daniel Mesa, estão licenciadas sob uma licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.