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Mosquitos Aedini 2 |
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Artigo publicado em 02/03/2021, última edição em 06/10/2024 |
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Mosquitos Aedini (2)
Merece menção também o Ochlerotatus taeniorhynchus (Wiedemann, 1821), uma espécie característica do litoral cujas larvas se desenvolvem em água salobra, com ampla distribuição nas duas costas americanas, desde o Norte dos EUA (Nova Hampshire) até o sul do Brasil na Costa Atlântica, e Califórnia até o Peru na Costa Pacífica. Seus criadouros são sempre as coleções líquidas transitórias no solo, dotadas de certo grau de salinidade, como poças d'água, valas de drenagem, alagadiços e charcos de água salobra. Muito eclético, voraz e oportunista, com predileção pelo sangue de mamíferos de grande porte, mas pode se alimentar até de sangue de répteis. Pica indiscriminadamente de dia e à noite, mas aumenta sua atividade hematofágica nos crepúsculos.
Doenças humanas: É considerado vetor de Dirofilaria immitis, filarídeo de canídeos e felinos ("dog heartworm"), que, raramente, atinge o homem.
Aedes (Ochlerotatus) taeniorhynchus, uma espécie litorânea que depende de água salobra, seu aspecto lembra bastante os Aedes. Note a típica faixa branca mediana na probóscide, muito útil na sua identificação. Exemplar norte-americano, foto gentilmente cedida por Bryan E. Reynolds.
Aedes (Ochlerotatus) taeniorhynchus, casal fotografado em Ilhéus, BA. Fotos cortesia de Paulo S. P. Paiva.
Aedes (Ochlerotatus) taeniorhynchus, dois exemplares centro-americanos fotografados em Río Cañas Abajo, Juana Días, Porto Rico. Fotos de Bill Lucas.
Outra espécie que se destaca é o Ochlerotatus albifasciatus (Macquart, 1838), com ampla distribuição geográfica nas regiões austrais da América do Sul (Bolívia, S e SE do Brasil, Uruguai, Chile e Argentina), sendo um mosquito bastante adaptado a climas frios (no Equador, é apelidado de "mosquito frozen"), um dos poucos mosquitos encontrados até a Terra do Fogo. É o mosquito mais comum na região de Buenos Aires. Reproduz-se tipicamente em criadouros temporários no solo, depressões em terrenos planos, com água doce ou salobra. São comuns em áreas que sofrem alagamentos, com explosões populacionais nos meses chuvosos. Os ovos permanecem viáveis por seis meses em dessecação. Tem preferências crepusculares. São bastante agressivos, atacando animais e o homem com grande voracidade, sendo considerada uma das espécies que causam maior incômodo às populações destes locais. Adultos possuem a região dorsal da cabeça branca, daí seu nome. A região escutelar é escura, com três faixas longitudinais mal definidas de cor bronzeadas e douradas. Tarsômeros anteriores com anel claro basal pouco acentuado, os demais totalmente escuros. Abdômen com manchas de escamas claras basolaterais, e linha longitudinal dorsal.
Doenças humanas: Embora não seja associado a enfermidades humanas, é o principal vetor do vírus WEE (encefalite equina do oeste).
Aedes (Ochlerotatus) albifasciatus, o primeiro exemplar argentino fotografado em Almagro, CABA, foto gentilmente cedida por Gustavo Fernando Brahamian,, e o segundo chileno fotografado em Linares, Maule, foto cortesia de Claudio Maureira.
Haemagogus
Haemagogus é um gênero restrito ao Novo Mundo, e quase todas as espécies são Neotropicais, 11 espécies assinaladas no Brasil. São dois subgêneros, adultos com aspecto bastante distinto: as espécies do subgênero Haemagogus (9 espécies) estão entre os mais bonitos Culicinae. Seu corpo é recoberto de escamas de cores variadas e de reflexo metálico (azulado, esverdeado, violáceo, prateado). Parecem ser os culicíneos mais próximos, filogeneticamente, dos Sabethini, tribo que inclui os mosquitos de coloridos e brilhos mais intensos. As duas espécies do subgênero Conopostegus eram previamente classificadas como Aedes (no subgênero Finlaya), possuem o corpo e pernas pretas com faixas brancas, muito parecidos com o Aedes aegypti, com os quais são frequentemente confundidos. Doenças humanas: Além da Dengue e Malária, outra doença transmitida por mosquitos culicídeos é a Febre Amarela, também uma arbovirose (um acrônimo, de “arthropod borne virus”). Desde 1942 a Febre Amarela é considerada erradicada em áreas urbanas do Brasil, em parte devido a uma eficiente campanha de vacinação para as pessoas que visitam áreas endêmicas. Nas cidades, o vetor da Febre Amarela é o Aedes aegypti. Nas áreas endêmicas, o vírus ocorre em animais portadores (principalmente macacos cebídeos), a transmissão se dá pela picada de um mosquito silvestre que previamente picara estes hospedeiros animais, o mais comum (vetor primário) é o gênero Haemagogus, mas outro gênero importante, secundário, é o Sabethes.
Ao contrário do Aedes e outros mosquitos, a transmissão vertical do vírus em mosquitos desempenha um importante papel na manutenção do reservatório viral silvestre. Diferentemente do que muitos acreditam, os mosquitos são os verdadeiros reservatórios do vírus ao passo que macacos são fontes de infecção para mosquitos apenas durante alguns dias. Depois de picados por um vetor infectado com o vírus, ou estes mamíferos morrem ou se tornam imunes a novas infecções. Desta forma, os macacos, quando infectados, podem transmitir o vírus para mosquitos que os picarem por apenas três a cinco dias, período da viremia. São os mosquitos que mantêm o vírus no ambiente silvestre, até mesmo na ausência de macacos infectados. As três espécies mais importantes como vetores são Hg. (Hg.) janthinomys, Hg. (Hg.) albomaculatus e Hg. (Con.) leucocelaenus.
Ovos: Seus ovos, muito resistentes à dessecação, são colocados, isoladamente, em substratos úmidos de recipientes naturais. A eclosão se dá na época mais chuvosa do ano, quando os ovos de cada espécie parecem ter respostas diferentes aos estímulos externos para eclosão (número de contatos com a água), de maneira que as primeiras chuvas favorecem o aparecimento das larvas de alguns Haemagogus, enquanto outras de suas espécies nascerão quando a estação chuvosa já estiver plenamente estabelecida. Larvas: Têm um aspecto bastante parecido com os Aedes. Adultos: São mosquitos de escudo revestido de escamas coloridas em tons de verde, azul, cobre, bronze ou cores semelhantes, mas com forte brilho metálico. Lembram os sabetinos, dos quais são parentes próximos. A extremidade do abdômen é inclinado diagonalmente. Habitat: Os criadouros preferidos dos Haemagogus são, decididamente, os buracos ou ocos de árvores. Podem ser encontrados criando-se, com muito menor frequência, em cascas de frutas e internódio de bambu. Sua presença está vinculada à existência desses criadouros, o que torna os Haemagogus restritos às florestas e, no máximo, à sua vizinhança. São muito mais frequentes nas copas das árvores, onde se alimentam principalmente do sangue de macacos. Comportamento: São mosquitos essencialmente diurnos e silvestres.
Haemagogus (Conopostegus) leucocelaenus, note a semelhança com os Aedes. Fotos de Genílton Vieira (Instituto Oswaldo Cruz).
Larvas e pupas de Haemagogus (Conopostegus) leucocelaenus. Fotos de Max Malmann.
Haemagogus (Haemagogus) janthinomys, macho. Foto de Josué Damacena (Instituto Oswaldo Cruz).
Haemagogus (Haemagogus) spegazzinii. Fotos de Cássio L. S. Inacio.
Haemagogus (Haemagogus) spegazzinii, fotografado em Córdoba, Argentina. Foto cortesia de Andrea Aristides Cocucci.
Haemagogus (Haemagogus) janthinomys, fotografado em São Paulo, SP. Fotos de Bruno Magalhães Nakazato.
Haemagogus (Haemagogus) sp., fotografado em Sento Sé, BA. Fotos de Ben Phalan.
Psorophora Psorophora é um gênero restrito ao Novo Mundo, o gênero é composto por três subgêneros com características distintas. Aqueles do subgênero Psorophora são mosquitos bastante robustos, os maiores mosquitos hematófagos do Brasil pertencem a este gênero. Veja uma chave de identificação simplificada do gênero aqui .
Doenças humanas: Ps. ferox (subgênero Janthinosoma) têm sido encontrada naturalmente infectada com arbovírus causadores de encefalites, como a Encefalite Venezuelana, e o vírus da Febre Amarela. Também têm sido encontrada portando ovos de Dermatobia hominis, causadora da berne.
Larvas: As larvas deste gênero foram pouco estudadas, as informações são bastante escassas. Larvas do subgênero Psorophora são bem grandes, e tipicamente possuem cabeça quadrada e achatada, com antenas curtas. São predadoras vorazes, alimentando-se de larvas de outros mosquitos e outros invertebrados, ou agindo como canibais. Bastante diferentes do subgênero Janthinosoma, com cabeça ovalada, antenas longas e sifão bulboso e robusto. Adultos: Subgênero Psorophora: mosquitos muito grandes, corpo com escamas claras e escuras, mas não metálicas. Pernas com escamas e cerdas salientes, dando um aspecto hirsuto. Subgênero Grabhamia: porte médio, coloração fosca, escura e acinzentada. Subgênero Janthinosoma: pequeno a médio porte, aspecto escuro, abdomen e muitas vezes o tórax ornamentado com escamas violáceas e com reflexo metálico. Seu abdômen termina numa ponta. Habitat: Seus ovos são muito resistentes à dessecação, são depositados isoladamente e fora da água. Criam-se em coleções líquidas no solo, de preferência, aqueles de caráter temporário. Ou seja, muitos têm ciclos anuais dependente da estação de chuvas. Comportamento: São extremamente vorazes, de grande agressividade e picada muito dolorosa, e atacam preponderantemente de dia. São essencialmente exófilos, zoofílicos e oportunistas, e podem atacar o homem, muitas vezes em grande número.
Fêmea de Psorophora (Janthinosoma) ferox, note o aspecto iridescente, o subgênero Janthinosoma são os mais coloridos e bonitos dos Psorophora. Veja também que esta espécie pode pousar com uma postura similar aos Sabetinos, com as pernas posteriores elevadas. Foto de César Favacho.
Psorophora (Janthinosoma) ferox durante hematofagia, fotografado em uma área rural de Brasília, DF. Foto de Amaro Alves.
Provável larva de Psorophora (Janthinosoma), coletado em uma casca de côco, em Goiânia, GO. Note o sifão grosso e bulboso. Fotos de Max Malmann.
Psorophora (Janthinosoma) ferox durante hematofagia, e seus ovos. Fotografados em Vinhedo, SP. Fotos de Walther Ishikawa.
Psorophora (Janthinosoma) forceps, fotografadas em Alta Floresta, MT e Santa Tereza, ES. Fotos de Sidnei Dantas e Danilo Pacheco Cordeiro.
Macho de Psorophora (Janthinosoma) lutzii, foto de César Favacho.
Psorophora (Janthinosoma) sp. (albigenu/varipes), fotografada em Cassilândia, MS. Foto de Vinícius Souza.
Psorophora (Psorophora) ciliata durante hematofagia, fotografado no Paraguai. Note o grande porte do mosquito, são chamados em inglês de Gallinipper. Foto de O. Rodriguez (PyBio).
Psorophora (Psorophora) ciliata, fotografado em Mercer County, New Jersey, EUA. Note a típica cabeça quadrada. Na segunda foto, predando uma larva de Aedes vexans. Fotos gentilmente cedidas por Ary Faraji.
Psorophora (Psorophora) saeva, fotografada em Miguel Pereira, RJ. É uma das espécies mais comuns do subgênero no Brasil, note as grandes dimensões do mosquito. Foto de Diego Lavinas Vieira.
Psorophora (Grabhamia) sp., fotografada em Alta Floresta, MT. Fotos de Richard C. Hoyer.
Psorophora (Grabhamia) sp., fotografada no Campus da Universidade Federal do Acre, em Rio Branco, AC. Foto cortesia do Prof. Edson Guilherme (UFAC).
A principal fonte bibliográfica deste artigo foi o livro Principais Mosquitos de Importância Sanitária no Brasil. Rotraut A. G. B. Consoli & Ricardo L. de Oliveira Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1994. 228 p. O livro pode ser baixado gratuitamente através do link aqui
Este artigo só foi possível com a colaboração de diversos amigos e colegas, aos quais somos muito gratos. Agradecimentos ao professor Ademir Heleno A. Rocha, aos fotógrafos Igor Arusa, Sonia Furtado, Diego Lavinas Vieira, Amaro Alves, Cássio L. S. Inacio e Paulo Marcos Mattes, aos zoólogos Daniel Ramos, Max Malmann, César Favacho (veja seu álbum Flickr aqui ), Marcos Teixeira de Freitas, Bruno Magalhães Nakazato, Kennedy Borges, Danilo Pacheco Cordeiro, Ailton Lobo, Genílton Vieira e Josué Damacena (Instituto Oswaldo Cruz), Prof. Edson Guilherme (Universidade Federal do Acre), Bryan E. Reynolds (EUA, "The Butterflies of the World Foundation", veja seu álbum Flickr aqui ), Ary Faraji (EUA, Diretor do Salt Lake City Mosquito Abatement District), Ulf Drechsel (Paraguai, Paraguay Biodiversidad ), Flávia Montagner ( Entomológica ), Richard C. Hoyer (Líder Sênior do Grupo de Observação de Pássaros WINGS. Visite seu Blog aqui ) e aos colaboradores do iNaturalist Liam Wolff, Giff Beaton, Franklin Howley-Dumit Serulle, Max G.W. Verheij, Giovanni Ramón, Ben Phalan, Bill Lucas, Juliana Lins, Sidnei Dantas, Vinícius Souza, Paulo S. P. Paiva, Carlos Hartur Ribeiro Noia, Andrea Aristides Cocucci, André Nogueira, Guilherme Cameis Freda, Antonio Teleginski pela cessão das suas fotos para o artigo.
As fotografias de Walther Ishikawa, Bryan E. Reynolds, Richard Hoyer, Daniel Ramos e Instituto Oswaldo Cruz, e também dos colaboradores do iNaturalist Liam Wolff, Giff Beaton, Franklin Howley-Dumit Serulle, Max G.W. Verheij, Giovanni Ramón, Ben Phalan, Edson Guilherme, Sidnei Dantas, Bill Lucas, Andrea Aristides Cocucci, André Nogueira, Guilherme Cameis Freda, Antonio Teleginski, estão licenciadas sob uma licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
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