Da esquerda para a direita: Asolene spixi, dois híbridos, e Marisa cornuarietis. Foto de Terri Bryant.
Hibridização de Ampulárias Asolene spixi x Marisa cornuarietis
Hibridização entre espécies diferentes de Ampulárias são muito raras, exceto entre P. maculata e P. canaliculata. Alguns
criadores até tentaram cruzar sem sucesso a Pomacea diffusa
com outras espécies maiores, como a Pomacea
canaliculata, objetivando-se conseguir variedades maiores e mais robustas,
mas que não atacassem plantas. A cópula entre espécies diferentes
é relativamente comum, mas geralmente não produzem descendentes. Eventualmente
pode ocorrer oviposição, mas sem viabilidade.
Cópulas entre espécies diferentes de Ampularídeos. Na primeira imagem, Pomacea scalaris
e P. diffusa, foto de Gustavo Adolfo Domínguez. Na segunda, Marisa cornuarietis
e P. flagellata, foto de Stijn Guesquiere.
Apresentamos
aqui o relato dos dois únicos casos conhecidos de uma provável hibridização bem documentada, entre as
Ampulárias Asolene spixi e Marisa cornuarietis, pelas colegas norte-americanas Terri Bryant,
em 2005 (EUA), e Maggie Christine em 2023 (Canadá). Embora relativamente próximas, trata-se de duas ampulárias de gêneros diferentes!
Embora estas
espécies não sejam comuns no mercado de animais ornamentais no Brasil, ambas
são espécies que ocorrem no nosso país, e relativamente populares em aquariofilia
de outros países. Atualmente o comércio interestadual de ambas espécies está proibido em vários estados
americanos, assim como sua criação em estados específicos, porque as duas ocorrem como espécies invasoras nos EUA.
Morfologicamente
as duas espécies são bem diferentes, a Asolene
spixi lembra bastante uma pequena ampulária comum, com faixas longitudinais
na concha globosa. Porém, diferente das Pomaceas,
ela deposita ovos aquáticos. A Marisa
é maior, e tem a concha achatada lembrando um Planorbídeo, por isso é chamada
de “Giant Ramshorn”. Também deposita ovos aquáticos. Apesar de serem bastante
diferentes na forma da concha, são filogeneticamente próximos, pertencendo ambas
ao Clado Marisa.
Asolene spixi, foto de Terri Bryant.
Marisa cornuarietis, fotos de Terri Bryant.
No primeiro relato de Terri Bryant, ambas as espécies
eram criadas em um pequeno aquário contendo somente estas duas espécies de
Ampularídeos. As desovas ocorreram em um vaso de cerâmica no interior do
aquário. Alguns episódios de cópulas foram observados, sempre com o macho Asolene e fêmea Marisa.
Marisa cornuarietis e Asolene spixi no aquário (não é o mesmo aquário onde surgiram os híbridos), foto de Terri Bryant.
No total
foram cerca de uma dúzia de híbridos, de uma ou duas posturas. Dimensões intermediárias entre as duas
espécies, com a concha relativamente globosa como o Asolene, mas com o ápice achatado, lembrando o Marisa. As faixas eram mais finas do que ambas as espécies.
Não há confirmação (dissecção ou análise molecular) da hibridização, a suspeita é baseada somente em aspetos conquiliológicos.
Asolene spixi (primeiro exemplar, à esquerda) e dois híbridos. Foto de Terri Bryant.
Híbridos filhotes, foto de Terri Bryant.
Close dos híbridos, note o ápice achatado. Fotos de Terri Bryant.
Híbridos já crescidos, fotos de Terri Bryant.
Detalhes do opérculo, corpo e pés. Fotos de Terri Bryant.
Não
produziram descendentes, possivelmente eram estéreis, o que habitualmente é
observado em híbridos. Um dos animais mostrou também deformidades, com uma
bifidez na região bucal, e tentáculos supranumerários, o que também é relativamente comum em híbridos.
Um dos híbridos com deformidades na primeira foto, e filhotes normais na segunda. Fotos de Terri Bryant.
No segundo relato de Maggie Christine, o caramujo foi adquirido como sendo Pomacea diffusa, ou seja, não há maiores informações sobre os pais ou a origem. A suspeita surgiu devido ao crescimento e aspecto do animal, concha com espira mais baixa, tendendo a um aspecto mais planispiral, faixas grossas. Trata-se de um macho, o corpo mostra uma pigmentação acinzentada. Convive em um aquário com outros ampularídeos, inclusive Asolene. Curiosamente o caramujo não ataca plantas, e mostra certo grau de agressividade na interação com os demais caramujos, com frequentes cópulas.
Provável híbrido Marisa cornuarietis x Asolene spixi, fotos de Maggie Christie.
Comparação entre o caramujo híbrido e uma Asolene spixi recém resgatada. Fotos cortesia de Maggie Christie.
Bibliografia adicional:
- Matsukura K, Okuda M, Cazzaniga NJ, Wada T. 2013. Genetic exchange between two freshwater apple snails, Pomacea canaliculata and Pomacea maculata invading East and Southeast Asia. Biol. Invasions15: 2039-2048.
- Glasheen PM, Burks RL, Campos SR, Hayes KA. First evidence of introgressive hybridization of apple snails (Pomacea spp.) in their native range, Journal of Molluscan Studies, Volume 86, Issue 2, May 2020, Pages 96–103.
Agradecimentos às aquaristas Terri Bryant (EUA) e Maggie Christine (Canadá) por permitir o uso do seu material no nosso site. Agradecemos também a Stijn Ghesquiere (applesnail.net) e ao aquarista argentino
Gustavo
Adolfo Domínguez pelas fotos adicionais.
Artigo publicado em 20/11/2013, última atualização em 18/08/2023