Sandy Brolowski e Martin Kruck - Artigo descrevendo a reprodução em cativeiro do camarão filtrador "Atya gabonensis".
Atya
gabonensis – Relatório de Reprodução
Prólogo:
Há algum tempo nós nos fizemos o ambicioso desafio de reproduzir em
cativeiro o camarão Atya gabonensis,
com o objetivo de que isto possa ser o primeiro passo para impedir que estes animais
sejam coletados na natureza. Sabe-se que você precisa suplantar três dificuldades
para o sucesso na reprodução:
Encontrar um casal,
Conseguir passar pelo prolongado estágio larval,
Transferir os filhotes de camarão para a água doce, e fazê-los crescer ali.
A reprodução deste camarão é um pouco trabalhosa. Que este fato não impeça, entretanto,
ninguém de tentar!
O objetivo deste registro é oferecer a qualquer pessoa interessada em reproduzir
este fascinante camarão diretrizes para se guiarem – afinal de contas, não há
nenhum segredo. Usamos todas as marcas comerciais que mencionamos neste
relatório, no entanto, há naturalmente muitas outras marcas que são tão boas e
adequadas quanto.
Este relatório foi escrito em combinação com o nosso vídeo de reprodução. Nós
observamos uma imensa quantidade de detalhes, que descrevê-los todos iria além
do âmbito deste relatório. Assim, por favor, assista também o nosso vídeo e acompanhe
o desenvolvimento das larvas.
Divirta-se com a leitura, e boa sorte na sua tentativa de criação!
Preparação:
Antes de qualquer coisa, você vai precisar de um aquário. No nosso
caso, usamos um tanque de 60 litros da marca Juwel. Talvez alguma experiência
futura mostre a viabilidade de um tanque menor. É indispensável um aquecedor,
um termômetro e uma bomba de ar. Diferente do método para a reprodução de Caridina japonica, a bomba de ar não é
apenas usada para aeração, mas no filtro biológico de fundo. Sem um filtro, é
quase impossível manter o ambiente aquático em condições estáveis. Usamos o
substrato para camarões da Dennerle. Na nossa experiência, os melhores
resultados foram obtidos com fitoplâncton vivo como alimento, bem como
Liquizell e, mais adiante, algum alimento um pouco mais sólido, como por
exemplo, alimento fluido para Artêmia da JBL. Sal marinho - Reef Salt da Aqua
Medic - foi usado para preparar a água salobra. No nosso caso, optamos por uma salinidade
de 28 g/l, ou seja, um pouco mais baixa do que a concentração da água do mar.
Nós monitoramos os parâmetros com testes rápidos em fita da Oase uma vez por
semana. Os parâmetros foram constantes: pH 7.6-8.0, GH de 21, KH de 10-15, NO2
e NO3 zerados.
O tanque de água salobra deve ciclar por umas boas quatro semanas. O
fotoperíodo é de 11 horas por dia. Durante este tempo, as bactérias e algas benéficas
podem se desenvolver.
Reprodução:
Depois de concluído os preparativos, e o tanque já ciclado, estamos
prontos para ir à luta. Nós sifonamos as larvas do aquário de água doce, e passamos
para o aquário com água salobra.
Imediatamente após as larvas serem transferidas para o tanque de água salobra,
você pode iniciar a alimentação. Durante as primeiras três semanas, nós os
alimentamos com fitoplâncton quase que exclusivamente, quatro vezes por dia, a
quantidade de acordo com o nosso feeling.
A melhor forma de você dosar o fitoplâncton é com uma pipeta. Mesmo alimentando-os
de uma forma bem generosa, a água nunca ficou realmente turva-esverdeada.
Quando estão na sua quarta semana, as larvas já podem apreender pequenas partículas
de alimento. Quando você perceber que eles chegaram neste estágio de
desenvolvimento, é hora de acrescentar à dieta algum alimento líquido mais
espesso.
Neste meio-tempo, uma quantidade suficiente de algas deve ter se desenvolvido
sobre o vidro do aquário, no equipamento do tanque e no substrato. Se você
observar as larvas (que devem ter crescido visivelmente neste tempo) “pastando”
no fundo, no vidro ou no equipamento, você pode introduzir à alimentação um
pouco de ração em pó ou CyclopEeze, mas vá com calma e coloque somente pequenas
quantidades de cada vez.
Depois do que parece ter sido uma eternidade, você poderá ver que as larvas chegaram
a uma etapa em que eles se parecerão quase como um camarão totalmente
desenvolvido. Eles deixam de ficar em uma posição vertical de flutuação e
passam a nadar em posição horizontal, e se tornam especialmente ativos durante
a noite. Durante o dia eles ficam escondidos, semelhante aos seus pais.
Como nós não tínhamos nenhuma informação sobre o momento correto de passá-los
para água doce, tivemos que ir experimentando na base da tentativa e erro.
Porém, obviamente gostaríamos de poupá-lo (e poupar seu camarão!) deste método.
Quando eles são quase transparentes e você pode ver as entranhas (uma pequena
mancha escura no pescoço), e quando eles nadam como os adultos (e não de uma
forma errática ou parecendo um tanto restritos), é chegada a hora de transferi-los
para um tanque de água doce. Nosso procedimento foi o seguinte:
Encha um recipiente com água salobra do seu tanque de criação (o volume de água
é você que decide) e coloque seu camarão nele. Adicione um pouco de água doce
do tanque para onde ele está destinado a ir, uma vez a cada 30 minutos aproximadamente,
até que a quantidade de água doce seja o dobro da quantidade de água salobra.
Para aqueles que querem ter 100% de certeza de que tudo correrá bem, deixem o
camarão no recipiente por 24 horas (aerado, é claro), e observem como ele se
comporta. Se eles continuarem ativos, eles estão prontos para ir para o tanque
de água doce.
Agora você só precisa alimentar bem o pequeno camarão filtrador no tanque de
água doce. Nós também não tínhamos nenhuma informação para esta etapa. Nós
arriscamos, confiando no fato de que um tanque maduro e bem ciclado é um
sistema biológico intacto com uma rica microfauna e flora funcionais. Estávamos
certos – hoje, nossos filhotes de camarão estão com cerca de 1,5 cm de
comprimento. Nós só alimentamos os pais, e se os filhotes comeram esta mesma comida
foi realmente secundário. Usamos um filtro CristalProfi i200 da JBL neste
aquário. Os pequenos camarões conseguiam entrar no filtro, mas não eram feridos
ou mortos. O problema com este filtro é o espaço entre o vidro e filtro. Ele é
tão grande que os camarõezinhos podem entrar ali, mas eles não são capazes de
sair. Este fato custou a vida de alguns filhotes, desta forma, não podemos
recomendar esse filtro para este propósito, sem estas ressalvas.
Epílogo:
Ao contrário de alguns dados que você encontra na Internet, o
desenvolvimento do Atya gabonensis
não demora meras 4 semanas. Nossas larvas levaram de 3 e meio a 4 meses para se
desenvolver até um camarão adulto, ou seja, uns bons 120 dias.
Algum tempo atrás, nos foi informado que nenhum Atya gabonensis totalmente adulto é mais importado - não intencionalmente,
mas pelo simples fato de que eles não são mais encontrados na natureza! Se isso
é realmente verdade, nós não sabemos. No entanto, uma visita nas lojas de
animais confirmou nossos temores. Só encontramos camarões de tamanho pequeno ou
médio.
Se as coisas continuarem desta
forma é fácil imaginar seu desfecho.
Nossa intenção sempre foi a de contribuir, mesmo que seja com uma pequena
ajuda, na sobrevivência desta espécie no seu habitat natural, para tornar os Atya gabonensis selvagens capturados
supérfluos.
Agora depende de todos nós, e desejamos a qualquer um que tente a reprodução destes
fascinantes camarões boa sorte e muito sucesso.