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"Pseudopalaemon bouvieri"  
Artigo publicado em 31/03/2014, última edição em 19/11/2023  


Nome em português: Camarão-fantasma, Camarão invisível.

Nome em inglês: -
Nome científico: Pseudopalaemon bouvieri Sollaud, 1911

Origem: Sudeste da América do Sul
Tamanho: fêmeas com até 4,1 cm
Temperatura da água: 15-29° C
pH: 7.0-7.4
Dureza: indiferente

Reprodução: abreviada, todo o ciclo em água doce
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

           O gênero Pseudopalaemon está representado no Brasil por cinco pequenas espécies com aspecto de “camarão-fantasma”, quatro delas encontradas em uma área bastante restrita da bacia amazônica, no estado do Amazonas, e a quinta com ocorrência mais ampla, no sul/sudeste do Brasil. Este último é o Pseudopalaemon bouvieri, juntamente com o Palaemon argentinus são as duas espécies mais comuns de “fantasmas” disponíveis nas lojas da Argentina e Uruguai. Raramente é visto no hobby aqui no Brasil.

            Juntamente com o Palaemon argentinus e Macrobrachium borellii, compõe o trio de espécies tipicamente austrais de palaemonídeos brasileiros.

            Etimologia: Pseudo vem do grego pseudes, “falso”; Palaemon é outro gênero de pequenos camarões transparentes, de águas doces, salobras e salgadas. E bouvieri é uma homenagem ao eminente entomologista e carcinologista francês Eugène Louis Bouvier (1856-1944).






Distribuição geográfica de Pseudopalaemon bouvieri, Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 2003 e demais referências.



Origem


            Esta espécie de camarão tem distribuição relativamente restrita, sendo encontrada desde o sul/sudeste do Brasil (estados de São Paulo e Rio Grande do Sul), leste do Uruguai, até o nordeste da Argentina (províncias de Corrientes e Entre Ríos), nas bacias dos rios Uruguai e Paraná.

            Habita tanto corpos d´água costais quanto continentais, sem e com correnteza. Tipicamente é encontrado em planícies, em água doce, mas pode ser coletado também em locais com água salobra de baixa salinidade. Em alguns locais são bastante numerosos, existem registros de mais de 1000 camarões/m2 na Bacia do Paraná, Argentina.
















 


 



Aparência

            São camarões pequenos, machos atingindo até 3,4 cm, fêmeas até 4,1 cm. Possui o típico aspecto de “camarão-fantasma”, coloração amarelo claro quase transparente, garras pequenas e delicadas.

            Como todo Pseudopalaemon, o padrão de espinhos da carapaça é idêntico ao dos Macrobrachium, possuindo o espinho antenal e hepático, mas não o espinho branquiostegal. A diferenciação com o Macrobrachium é feita pelo aspecto das mandíbulas, os Pseudopalaemon não possui palpo, enquanto que o Macrobrachium possui um palpo tri-articulado.


Rostro: Alongado e delgado, alcançando o fim do escafocerito. Extremidade distal reta. Margem superior com 5~10 dentes (geralmente 7), os distais são mais separados entre si. Primeiro dente está situado sobre a margem posterior da órbita. Margem inferior com 2 a 5 dentes.

Quelípodos: Dimorfismo sexual demarcado, nos machos são longos e finos, lisos e simétricos; dedos longos e delgados, bem mais longos do que a palma. Palma pouco menor que o carpo, carpo mais longo do que o mero. Nas fêmeas o quelípodo é mais curto, alcançando pouco além do escafocerito, dedos do comprimento da palma.

Pleura do quinto somito abdominal com ápice largamente arredondado.


Frequentemente são confundidos com Palaemon argentinus, que tem praticamente a mesma distribuição. Há muitas diferenças, como os espinhos da carapaça e o rostro, mas que nem sempre são fáceis de se enxergar em fotos ou em animais de aquário. Uma forma simples de diferenciá-los é pela quela: Palemon argentinus tem a palma mais longa do que os dedos, enquanto Pseudopalaemon bouvieri tem a palma mais curta (machos) ou do mesmo comprimento (fêmeas) do que os dedos.

 


Pseudopalaemon bouvieri, fêmea ovada, foto de Mario Gervasi.

 


Pseudopalaemon bouvieri, fêmea ovada, foto de Mario Gervasi. Ovos prestes a eclodirem, com os olhos escuros visíveis. Note o padrão de dentes do rostro, primeiro dente junto à margem posterior da órbita.



Parâmetros de Água

 

Por estar adaptado a ambientes com amplas e rápidas variações nos parâmetros, é bastante tolerante quanto às condições da água. Se desenvolve melhor num pH alcalino, de 7,0 a 8,8, água dura. Vive em locais com grande variação de temperatura (31º a 4ºC), mas prefere temperaturas mais baixas.


 

Dimorfismo Sexual

 

Fêmeas são maiores que os machos. Fêmeas possuem pleuras abdominais arqueadas e alongadas, formando uma câmara de incubação. Também podem ser diferenciados pela análise dos órgãos sexuais, mas isto é bem difícil em animais vivos.

Como mencionado, possui dimorfismo nos quelípodos, nos machos são mais longos, e com dedos mais longos. 




Pseudopalaemon bouvieri, foto de Romina Arakaki.

 

Pseudopalaemon bouvieri, foto de Romina Arakaki. Note as finas cerdas na antênula.

 

Pseudopalaemon bouvieri, foto de Romina Arakaki.



Reprodução

O P. bouvieri é uma espécie com reprodução especializada, gerando ovos grandes e pouco numerosos, medindo entre 1,0 e 2,1 mm de diâmetro. Fêmeas carregam entre 9 e 55 ovos por postura. Embora abreviada, possui algumas fases iniciais de larvas planctônicas de nado livre, nascendo sem pereiópodes funcionais, um padrão menos abreviado do que, por exemplo, o Pseudopalaemon chryseus. Provavelmente possuem mais do que três estágios larvares, mas não foram adequadamente estudados ainda.

Um fato que confirma este padrão intermediário é a ausência de relatos de reprodução em cativeiro por aquaristas argentinos e uruguaios. Nestes países, frequentemente são confundidos com o Palaemon argentinus, pelo fato dos filhotes nascerem como larvas natantes.

A época de reprodução e no final da Primavera. Não há outros dados reprodutivos. Assim como os demais palaemonídeos, a fêmea passa por uma muda pré-acasalamento, e logo após o macho deposita seu espermatóforo. Após algumas horas a fêmea libera os ovos, que são fertilizados e se alojam nos pleópodes. Não há informações sobre o tempo de desenvolvimento dos ovos.

 


Comportamento

 

É uma espécie ativa, se movimentando por todo o aquário, desde que não haja potenciais predadores. Bastante dóceis, podem ser mantidos com outros peixes e invertebrados, desde que estes sejam pacíficos.




Alimentação

 

Onívoros, na natureza boa parte da sua dieta é baseada em algas e detritos. No aquário não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas a restos de ração dos peixes. Alimentam-se de animais mortos, inclusive outros camarões. São bastante úteis como faxineiros, coletando restos de alimentos em locais inacessíveis a outros animais.

 


Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Sollaud ME. 1911. Pseudopalaemon Bouvieri, nouveau genre, nouvelle espece, de la famille des Palaemonidae. Bull. Mus. Hist. nat. Paris, vol. 17, pp. 12-16.
  • Colllins PA, Giri F, WIilliner V. 2004. Crustáceos Decápodos del Litoral Fluvial Argentino (Crustacea: Eucarida). INSUGEO Miscelánea 12: Temas de la biodiversidad del Litoral Fluvial Argentino, p. 253-264.
  • Müller YMR, Nazari EM, Ammar D, Cargnin FE, Beltrame IT, Pacheco C. Biologia dos Palaemonidae (Crustacea, Decapoda) da bacia hidrográfica de Ratones, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Rev. Bras. Zool. 1999; 16(3): 629-636.
  • Grave S, Ashelby C. A re-appraisal of the systematic status of selected genera in Palaemoninae (Crustacea: Decapoda: Palaemonidae). (2013). Zootaxa, 3734(3), 331–344.
  • Carnevali RP, Collins PA, Poi de Neiff AS. Trophic ecology of the freshwater prawn, Pseudopalaemon bouvieri (Decapoda: Palaemonidae) in Northeastern Argentina, with remarks on population structure. Rev Biol Trop. 2012 Mar;60(1):305-16.
  • Coelho PA, Ramos-Porto M. Camarões de água doce do Brasil: distribuição geográfica. Rev. Bras. Zool. 1984; 2(6): 405-410.
  • Bond-Buckup G, Buckup L. Os Palaemonidae de águas continentais do Brasil Meridional (Crustacea, Decapoda). Rev. Brasil. Biol. 1989; 49(4): 883-896.
  • Magalhaes C. The larval development of palaemonid shrimps from the amazon region reared in the laboratory V. the abbreviated development of Pseudopalaemon chryseus Kensley and Walker, 1982 (Crustacea: Decapoda: Palaemonidae). Acta Amazonica 1986: 16-17(1): 95-108.
  • De Grave, S. 2013. Pseudopalaemon bouvieri. In: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2013.2. <www.iucnredlist.org>.
  • Gomes DM. Aquicultura nas aulas de Biologia do Ensino Médio. Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Universidade Federal do Pampa, Aquicultura. Uruguaiana, 2016.
  • Carnevali RP, Collins PA, Poi ASG. Reproductive pattern of the freshwater prawn Pseudopalaemon bouvieri (Crustacea, Palaemonidae) from hypo-osmotic shallow lakes of Corrientes (Argentina). Studies on Neotropical Fauna and Environment, 2016.


Agradecimentos especiais aos colegas aquaristas argentinos Romina Arakaki e Mario Gervasi pela cessão das fotos para o artigo, e valiosas informações.
 
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