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"Aegla longirostri"  
Artigo publicado em 05/04/2023, última atualização em 18/04/2023  


Égla – Aegla longirostri

 

Nome em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água doce, Scrabei
Nome em inglês: -
Nome científicoAegla longirostri Bond-Buckup & Buckup, 1994

Origem: Brasil, nordeste, centro e leste do RS

Tamanho: carapaça com comprimento de até 3,3 cm
Temperatura: 3-12° C
pH: 6.2~6.5

Dureza: alta
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce

Comportamento: pacífico


 

 

Importante!!

 

            Aegla longirostri é uma espécie listada como “dados deficientes” (DD) na relação das espécies em risco de extinção publicado pelo Ministério do Meio Ambiente e IBAMA (2014), assim como na re-avaliação feita pela Sociedade Brasileira de Carcinologia (2016), principalmente pela possibilidade de ser um complexo de espécies crípticas. Era previamente caracterizada como LC (pouco preocupante). Desta forma, embora formalmente sua coleta e manutenção em cativeiro não sejam proibidas por lei, sugere-se evitá-las.


 
 


Apresentação

 

Apesar de serem muitas vezes referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero atual, Aeglaexclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da América do Sul, com próximo de 60 espécies brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécies  neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.

Trabalhos recentes têm demonstrado que trata-se de um complexo de espécies crípticas. Um estudo realizado em 2018 usando marcadores moleculares (dois mitocondriais e um nuclear) demonstrou dois clados bem definidos, um ao norte (platô meridional) e outro ao sul (depressão central). Mesmo estes dois parecem não-monofiléticos, com até 14 espécies potenciais.

Não são muito populares no Brasil como animais de aquário, mas em outros países (como na Argentina) são criados há algum tempo com sucesso.

      Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle, uma das três Hespérides, donas do jardim dos pomos de ouro, situado no extremo ocidental do mundo. E longirostri tem origem no latim, longus = comprido, longo, e rostrum = bico, focinho, relativo ao comprimento caracteristicamente longo do rostro.



 

Origem

            Églas são crustáceos com distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes dulcícolas das regiões temperadas do continente, o que explica sua baixa tolerância ao calor. Vivem em riachos límpidos de leito rochoso, geralmente montanhosos, alguns também em lagoas e represas.

            O Aegla longirostri é uma espécie encontrada somente no Brasil, na região central, nordeste e leste do Rio Grande do Sul. Englobam as bacias do sistema do rio Uruguay (rio Ibicuí) e Atlântico-Sul (rios Vacacaí-Mirim, Jacuí, Pardo, Taquari-Tainhas, Antas, Caí e Sinos).

São simpátricos com Aegla spinipalma.



Distribuição geográfica de Aegla longirostri. Imagem original Google Maps; dados de Bond-Buckup G, et al. 1994.

 


Aparência

 

Lembra bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob o abdômen e não possui função locomotora.


  • Rostro muito longo, estiliforme, o que dá nome à espécie, carenado em todo seu comprimento
  • Espinho ântero-lateral da carapaça ultrapassando a metade da córnea
  • Lobos protogástricos moderadamente elevados
  • Margens laterais da área branquial anterior da carapaça pouco expandidas com tubérculos e tubérculos escamiformes
  • Ângulo látero-dorsal da segunda pleura projetado por espinho robusto
  • Crista palmar retangular, escavada, com margem serrilhada e espinho distal
  • Dedo móvel do quelípodo sem lobo 
  • Margem interna da face ventral do ísquio com dois espinhos robustos e entre eles tubérculos
  • Margem ventral do mero com espinho ântero-medial seguido de tubérculos escamiformes. Poucos Aeglas possuem espinhos nas pernas ambulatórias, o que auxilia a sua identificação 



 

Aegla longirostrifotografada em Santa Maria do Herval, RS. Fotos gentilmente cedidas por Romulo Cenci.



Parâmetros de Água

 

Habitam ambientes bastante estáveis, são bem sensíveis a variações e condições inadequadas de água. Um aspecto bastante importante é sua sensibilidade a altas temperaturas, uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. Somente como exemplo, o Aegla laevis sobrevive por 30 minutos a 28º C, e por 20 minutos a 31º C.

Por viverem em água corrente e fria, demandam também alta taxa de oxigenação, sugerindo-se superdimensionar a filtragem e circulação de água no tanque. Como os demais crustáceos, são bem sensíveis a compostos nitrogenados, assim como a metais.

 


Dimorfismo Sexual

 

Bem demarcado, machos são maiores e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais desenvolvidos.




Reprodução


            Possuem ciclos anuais de reprodução, fêmeas ovígeras são mais comuns na primavera e verão (Janeiro a Abril).

            Em Aeglas, existe um claro padrão latitudinal para fecundidade e tamanho dos ovos, em que os animais em latitudes mais altas produzem mais ovos de menores dimensões, enquanto que menos ovos de maiores dimensões são produzidos em latitudes mais baixas. Também existe uma variação no período reprodutivo, espécies de clima frio reproduzem-se ao longo de todo o ano, enquanto espécies de clima subtropical mostram reprodução na estação fria. É um padrão oposto ao encontrado em espécies decápodes marinhos.

         Produzem poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Não há informações sobre número ou dimensões dos ovos. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto. É quase certo que esta espécie tenha também cuidado parental, mas não existem ainda informações.




Comportamento

 

São animais totalmente aquáticos, devem ser criados em aquários, não necessitando de uma porção emersa.

Apesar das grandes garras, não são animais agressivos, podendo ser mantidos com peixes ou com outros Aeglas, independente do sexo. Comportamento gregário, em especial animais juvenis. Hábitos noturnos, passando o dia entocado, saindo à noite para se alimentar.

A longevidade é estimada em um ano e nove meses para machos, e dois anos para fêmeas.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.

 


Alimentação

 

Assim como as demais espécies do gênero, são onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em decomposição, vegetal e animal. Análises de conteúdo estomacal demonstraram uma preferência por dieta vegetal.

 

 

Bibliografia:
  • Bond-Buckup G. Família Aeglidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Bond-Buckup G, Buckup L.1994. A família Aeglidae (Crustacea, Decapoda, Anomura). Arch. Zool., São Paulo, 2 (4): 159-346.
  • Martin, J.W. & Abele, L.G. 1988. External morphology of the genus Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae). Smithsonian Contributions to Zoology 453: 1-46.
  • Pérez-Losada M, Bond-Buckup G, Jara CG, Crandall KA. Molecular systematics and biogeography of the southern South american freshwater "crabs" Aegla (decapoda: Anomura: Aeglidae) using multiple heuristic tree search approaches. Syst Biol. 2004 Oct; 53(5):767-80.
  • Santos S, Bond-Buckup G, Gonçalves AS, Bartholomei-Santos ML, Buckup L, Jara CG. Diversity and conservation status of Aegla spp. (Anomura, Aeglidae): an update. Nauplius. 2017; 25: e2017011.
  • Bueno SLS, Santos S, Rocha SS, Gomes KM, Mossolin EC, Mantelatto FL. 2016. Avaliação dos Eglídeos (Decapoda: Aeglidae). Cap. 2: p. 35-63. In: Pinheiro, M. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS, Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 466 p.
  • Crivellaro MS, Zimmermann BL, Bartholomei-Santos ML, Crandall KA, Pérez‐Losada M, Bond-Buckup G, Santos S. (2018). Looks can be deceiving: species delimitation reveals hidden diversity in the freshwater crab Aegla longirostri (Decapoda: Anomura). Zoological Journal of the Linnean Society, 182, 24-37.
  • Silva-Castiglioni D da, Barcelos DF, Santos S. Crescimento de Aegla longirostri Bond-Buckup & Buckup (Crustacea, Anomura, Aeglidae). Rev Bras Zool. 2006 23(2):408–13.
  • Santos S, Ayres‐Peres L, Cardoso RCF, Sokolowicz CC. (2008) Natural diet of the freshwater anomuran Aegla longirostri (Crustacea, Anomura, Aeglidae), Journal of Natural History42:13-14, 1027-1037.
  • Colpo KD, Ribeiro LO, Santos S. Population Biology of the Freshwater Anomuran Aegla longirostri (Aeglidae) from South Brazilian Streams, Journal of Crustacean Biology, Volume 25, Issue 3, 1 July 2005, Pages 495–499.






Agradecemos ao colega colaborador do iNaturalist Romulo Cenci pela cessão de fotos para o artigo.



 As fotografias de Romulo Cenci (iNaturalist) estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons 
 
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