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"Aegla nebeccana"  
Artigo publicado em 06/04/2023, última edição em 19/04/2023  


Égla – Aegla nebeccana


Nome em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água doce, Scrabei
Nome em inglês: -
Nome científicoAegla nebeccana Trombetta, Páez, Santos & Teixeira, 2019

Origem: Brasil, centro de PR

Tamanho: carapaça com comprimento de até 2,4 cm

Temperatura: 18-25° C
pH: 7.7~8.3

Dureza: alta
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce

Comportamento: pacífico

 

  
 


Apresentação

 

Apesar de serem muitas vezes referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero atual, Aeglaexclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da América do Sul, com próximo de 60 espécies brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécies  neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.

Esta espécie foi descrita bastante recentemente, em 2019. Desta forma, há escassez de informações específicas desta espécie em literatura. É espécie-irmã de Aegla parva

Não são muito populares no Brasil como animais de aquário, mas em outros países (como na Argentina) são criados há algum tempo com sucesso.

      Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle, uma das três Hespérides, donas do jardim dos pomos de ouro, situado no extremo ocidental do mundo. E nebeccana é uma referência ao NEBECC (Núcleo de Estudos em Biologia, Ecologia e Cultivo de Crustáceos).


 

Origem

            Églas são crustáceos com distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes dulcícolas das regiões temperadas do continente, o que explica sua baixa tolerância ao calor. Vivem em riachos límpidos de leito rochoso, geralmente montanhosos, alguns também em lagoas e represas.

            O Aegla nebeccana é uma espécie encontrada somente no Brasil, em uma pequena área da região central do Paraná. Engloba a bacia do sistema Paraná, sub-bacia do rio Ivaí, rio Lageadão.



Distribuição geográfica de Aegla nebeccanaImagem original Google Maps; dados de Trombetta AS, et al. 2019.

 


Aparência

 

Lembra bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob o abdômen e não possui função locomotora.


  • Rostro triangular de base estreita, discretamente recurvado para baixo, carena proeminente em toda sua extensão
  • Espinho ântero-lateral da carapaça alcançando a base da córnea
  • Carapaça discretamente protuberante
  • Lobos protogástricos desenvolvidos e protrusos
  • Ângulo látero-dorsal da segunda pleura inerme
  • Crista palmar retangular na quela maior, e retangular ou subdisciforme na menor
  • Dedo móvel do quelípodo com lobo
  • Margem interna da face ventral do ísquio com tubérculos proeminentes proximal e distal, e dois tubérculos rudimentares entre eles



     


    Aegla nebeccanafotografada em Santa Maria do Oeste, PR. Fotos gentilmente cedidas por Joseane Derengoski.



    Parâmetros de Água

     

    Habitam ambientes bastante estáveis, são bem sensíveis a variações e condições inadequadas de água. Um aspecto bastante importante é sua sensibilidade a altas temperaturas, uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. Somente como exemplo, o Aegla laevis sobrevive por 30 minutos a 28º C, e por 20 minutos a 31º C.

    Por viverem em água corrente e fria, demandam também alta taxa de oxigenação, sugerindo-se superdimensionar a filtragem e circulação de água no tanque. Como os demais crustáceos, são bem sensíveis a compostos nitrogenados, assim como a metais.

    Os parâmetros medidos no local de coleta da espécie são temperatura de 18 a 25°C, pH 7,7 a 8,3 e condutividade de 43 a 54 mS/cm.

     


    Dimorfismo Sexual

     

    Bem demarcado, machos são maiores e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais desenvolvidos.




    Reprodução


                Provavelmente possuem ciclos anuais de reprodução, acasalando no verão e com um pico reprodutivo durante os meses de temperatura mais fria (outono-inverno). Fêmeas ovígeras são mais comuns entre Julho e Agosto.

                Em Aeglas, existe um claro padrão latitudinal para fecundidade e tamanho dos ovos, em que os animais em latitudes mais altas produzem mais ovos de menores dimensões, enquanto que menos ovos de maiores dimensões são produzidos em latitudes mais baixas. Também existe uma variação no período reprodutivo, espécies de clima frio reproduzem-se ao longo de todo o ano, enquanto espécies de clima subtropical mostram reprodução na estação fria. É um padrão oposto ao encontrado em espécies decápodes marinhos.

             Produzem poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Não há informações sobre número ou dimensões dos ovos. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto. É quase certo que esta espécie tenha também cuidado parental, mas não existem ainda informações.




    Comportamento

     

    São animais totalmente aquáticos, devem ser criados em aquários, não necessitando de uma porção emersa.

    Apesar das grandes garras, não são animais agressivos, podendo ser mantidos com peixes ou com outros Aeglas, independente do sexo. Comportamento gregário, em especial animais juvenis. Hábitos noturnos, passando o dia entocado, saindo à noite para se alimentar.

    Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.

     


    Alimentação

     

    Não há dados específicos, mas, assim como as demais espécies do gênero, devem ser onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em decomposição, vegetal e animal.

     

     

    Bibliografia:
    • Bond-Buckup G. Família Aeglidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
    • Martin, J.W. & Abele, L.G. 1988. External morphology of the genus Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae). Smithsonian Contributions to Zoology 453: 1-46.
    • Trombetta AS, Páez FP, Santos S, Teixeira GM. Aegla nebeccana n. sp. (Crustacea, Aeglidae) from Ivaí Basin, Paraná, Brazil. Zootaxa. 2019 Dec 18;4712(1):zootaxa.4712.1.10.
    • Trombetta AS. Descrição e características populacionais de uma nova espécie de Aegla Leach, 1820 (Crustacea, Anomura, Aeglidae). Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas). Universidade Estadual de Londrina. Londrina, 2018.





    Agradecemos à colega colaboradora do iNaturalist Joseane Derengoski pela cessão de fotos para o artigo.



     As fotografias de Joseane Derengoski (iNaturalist) estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons 
     
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