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"Aegla obstipa"  
Artigo publicado em 09/04/2023, última atualização em 19/04/2023  




Égla – Aegla obstipa

 

Nome em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água doce, Scrabei
Nome em inglês: -
Nome científicoAegla obstipa Bond-Buckup & Buckup, 1994

Origem: Brasil, leste do RS

Tamanho: carapaça com comprimento de até 2,2 cm
Temperatura: 18° C
pH: 6.2~6.5

Dureza: alta
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce

Comportamento: pacífico


 

 

Importante!!

 

Aegla obstipa é uma espécie listada como “em perigo” (EN) na relação das espécies em risco de extinção publicado pelo Ministério do Meio Ambiente e IBAMA (2014) - B1ab(iii) + 2ab(iii, iv), assim como na re-avaliação feita pela Sociedade Brasileira de Carcinologia (2016) - B1ab(iii), e na revisão de 2017 (Santos et al.) - B2ab(iii, iv). Desta forma, sua coleta e manutenção em cativeiro são proibidas por lei.


 
 


Apresentação

 

Apesar de serem muitas vezes referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero atual, Aeglaexclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da América do Sul, com próximo de 60 espécies brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécie neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.

Não são muito populares no Brasil como animais de aquário, mas em outros países (como na Argentina) são criados há algum tempo com sucesso.

      Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle, uma das três Hespérides, donas do jardim dos pomos de ouro, situado no extremo ocidental do mundo. E obstipa tem origem no latim obstipus = inclinado para diante, relativo ao rostro deflexo.



 

Origem

            Églas são crustáceos com distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes dulcícolas das regiões temperadas do continente, o que explica sua baixa tolerância ao calor. Vivem em riachos límpidos de leito rochoso, geralmente montanhosos, alguns também em lagoas e represas.

            O Aegla obstipa é uma espécie encontrada somente no Brasil, na região leste do Rio Grande do Sul. Engloba a bacia do sistema Atlântico-Sul (lago Guaíba, rios baixo-Jacuí, arroio dos Ratos e Camaquã), com uma extensão de ocorrência estimada em somente 50 km². São simpátricos com A. violacea.



Distribuição geográfica de Aegla obstipa. Imagem original Google Maps; dados de Bond-Buckup G, et al. 1994.

 


Aparência

 

Lembra bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob o abdômen e não possui função locomotora.


  • Rostro triangular, de comprimento médio, deflexo, linguiforme, sem carena no terço distal
  • Espinho ântero-lateral da carapaça alcançando a base da córnea
  • Seio extra-orbital extremamente reduzido
  • Lobos protogástricos ausentes
  • Linha dorsal transversal reta
  • Ângulo látero-dorsal da segunda pleura inerme
  • Crista palmar retangular
  • Dedo móvel do quelípodo com lobo modesto
  • Margem interna da face ventral do ísquio com apenas quatro tubérculos



 



Aegla 
cf. obstipa, fotografada em Aberta dos Morros, Porto Alegre, RS. Fotos gentilmente cedidas por Rodrigo Spezia.



Parâmetros de Água

 

Habitam ambientes bastante estáveis, são bem sensíveis a variações e condições inadequadas de água. Um aspecto bastante importante é sua sensibilidade a altas temperaturas, uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. Somente como exemplo, o Aegla laevis sobrevive por 30 minutos a 28º C, e por 20 minutos a 31º C.

Por viverem em água corrente e fria, demandam também alta taxa de oxigenação, sugerindo-se superdimensionar a filtragem e circulação de água no tanque. Como os demais crustáceos, são bem sensíveis a compostos nitrogenados, assim como a metais. A temperatura média nos locais de coleta foi de 18°C.

 


Dimorfismo Sexual

 

Bem demarcado, machos são maiores e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais desenvolvidos.




Reprodução


            Possuem ciclos anuais de reprodução, esta espécie parece ter um período mais prolongado, iniciando-se em Julho e estendendo-se aos meses mais quentes. 

            Em Aeglas, existe um claro padrão latitudinal para fecundidade e tamanho dos ovos, em que os animais em latitudes mais altas produzem mais ovos de menores dimensões, enquanto que menos ovos de maiores dimensões são produzidos em latitudes mais baixas. Também existe uma variação no período reprodutivo, espécies de clima frio reproduzem-se ao longo de todo o ano, enquanto espécies de clima subtropical mostram reprodução na estação fria. É um padrão oposto ao encontrado em espécies decápodes marinhos.

         Produzem poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Não há informações sobre número ou dimensões dos ovos. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto. É quase certo que esta espécie tenha também cuidado parental, mas não existem ainda informações.




Comportamento

 

São animais totalmente aquáticos, devem ser criados em aquários, não necessitando de uma porção emersa.

Apesar das grandes garras, não são animais agressivos, podendo ser mantidos com peixes ou com outros Aeglas, independente do sexo. Comportamento gregário, em especial animais juvenis. Hábitos noturnos, passando o dia entocado, saindo à noite para se alimentar.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.

 


Alimentação

 

Não há dados específicos, assim como as demais espécies do gênero, são onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em decomposição, vegetal e animal. 

 

 

Bibliografia:
  • Bond-Buckup G. Família Aeglidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Bond-Buckup G, Buckup L.1994. A família Aeglidae (Crustacea, Decapoda, Anomura). Arch. Zool., São Paulo, 2 (4): 159-346.
  • Martin, J.W. & Abele, L.G. 1988. External morphology of the genus Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae). Smithsonian Contributions to Zoology 453: 1-46.
  • Pérez-Losada M, Bond-Buckup G, Jara CG, Crandall KA. Molecular systematics and biogeography of the southern South american freshwater "crabs" Aegla (decapoda: Anomura: Aeglidae) using multiple heuristic tree search approaches. Syst Biol. 2004 Oct; 53(5):767-80.
  • Santos S, Bond-Buckup G, Gonçalves AS, Bartholomei-Santos ML, Buckup L, Jara CG. Diversity and conservation status of Aegla spp. (Anomura, Aeglidae): an update. Nauplius. 2017; 25: e2017011.
  • Bueno SLS, Santos S, Rocha SS, Gomes KM, Mossolin EC, Mantelatto FL. 2016. Avaliação dos Eglídeos (Decapoda: Aeglidae). Cap. 2: p. 35-63. In: Pinheiro, M. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS, Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 466 p.
  • Gomes KM. Avaliação do estado de conservação de duas espécies de Aegla Leach (Crustacea: Decapoda: Aeglidae) endêmicas do Sul do Brasil. Dissertação (Mestrado em Biologia Animal). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2012.
  • Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume VII - Invertebrados. In: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. (Org.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 727p.






Agradecimentos especiais ao colega Rodrigo Spezia por permitir o uso das fotos no artigo.

 
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