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"Aegla prado"  
Artigo publicado em 11/04/2023, última atualização em 20/04/2023  


Égla – Aegla prado

 

Nome em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água doce, Scrabei
Nome em inglês: -
Nome científicoAegla prado Schmitt, 1942

Origem: Brasil, sudeste do RS, e Uruguai, sul a leste

Tamanho: carapaça com comprimento de até 2,6 cm
Temperatura: 20° C
pH: 6.2~6.5

Dureza: alta
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce

Comportamento: pacífico


  

 

Importante!!

 

Aegla prado é uma espécie listada como “pouco preocupante” (LC) na relação das espécies em risco de extinção publicado pelo Ministério do Meio Ambiente e IBAMA (2014), assim como na na revisão de 2017 (Santos et al.). Porém, a re-avaliação feita pela Sociedade Brasileira de Carcinologia (2016) lista esta espécie como "quase ameaçada" (NT) - B1b(iii), devido à sua distribuição restrita, e declínio continuado da qualidade do habitat. Desta forma, embora formalmente sua coleta e manutenção em cativeiro não sejam proibidas por lei, sugere-se fortemente evitá-las.


 
 

 


Apresentação

 

Apesar de serem muitas vezes referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero atual, Aeglaexclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da América do Sul, com próximo de 60 espécies brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécie neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.

Não são muito populares no Brasil como animais de aquário, mas em outros países (como na Argentina) são criados há algum tempo com sucesso.

      Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle, uma das três Hespérides, donas do jardim dos pomos de ouro, situado no extremo ocidental do mundo. E prado tem origem no bairro de Prado, Montevidéu, onde foi coletado o holótipo da espécie.



 

Origem

            Églas são crustáceos com distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes dulcícolas das regiões temperadas do continente, o que explica sua baixa tolerância ao calor. Vivem em riachos límpidos de leito rochoso, geralmente montanhosos, alguns também em lagoas e represas.

            O Aegla prado é uma espécie encontrada no Brasil e Uruguai, no nosso país ocorre em uma faixa litorânea na região sudeste do Rio Grande do Sul, englobando a bacia do sistema Atlântico-Sul (sul da lagoa dos Patos e lagoa Mirim, e rio Jaguarão). No Uruguai ocupa as bacias do rio Uruguay (rio Negro) e bacia do rio La Plata (arriois Miguelete e Malvin). Há também um único relato de coleta na região central/continental do Uruguai. A extensão de ocorrência é estimada em aproximadamente 6.000 km².



Distribuição geográfica de Aegla prado. Imagem original Google Maps; dados de Bond-Buckup G. In: Melo GAS. 2003, e Santos S, et al. 2014.

 


Aparência

 

Lembra bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob o abdômen e não possui função locomotora.


  • Rostro longo e estiliforme, carenado em todo seu comprimento
  • Espinho ântero-lateral da carapaça alcançando a margem posterior da córnea
  • Cefalotórax suboval, elevado
  • Lobos protogástricos elevados, lobos hepáticos bem marcados
  • Proeminências epigástricas obsoletas a ausentes
  • Margens laterais da área branquial anterior da carapaça expandidas com tubérculos escamiformes
  • Ângulo látero-dorsal da segunda pleura projetado por um espinho
  • Crista palmar sub-retangular
  • Dedo móvel do quelípodo com lobo encimado por um tubérculo
  • Margem interna da face ventral do ísquio com dois espinhos, e entre eles tubérculos



 



Aegla 
pradocoletada em San José, Uruguai. Foto de aguscf_13 (iNaturalist).



Parâmetros de Água

 

Habitam ambientes bastante estáveis, são bem sensíveis a variações e condições inadequadas de água. Um aspecto bastante importante é sua sensibilidade a altas temperaturas, uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. Somente como exemplo, o Aegla laevis sobrevive por 30 minutos a 28º C, e por 20 minutos a 31º C.

Por viverem em água corrente e fria, demandam também alta taxa de oxigenação, sugerindo-se superdimensionar a filtragem e circulação de água no tanque. Como os demais crustáceos, são bem sensíveis a compostos nitrogenados, assim como a metais. Curiosamnete a temperatura mencionada no artigo original foi alta, 28-29° C

 


Dimorfismo Sexual

 

Bem demarcado, machos são maiores e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais desenvolvidos.




Reprodução


Provavelmente possuem ciclos anuais de reprodução, acasalando no verão e com um pico reprodutivo durante os meses de temperatura mais fria (outono-inverno). 

            Em Aeglas, existe um claro padrão latitudinal para fecundidade e tamanho dos ovos, em que os animais em latitudes mais altas produzem mais ovos de menores dimensões, enquanto que menos ovos de maiores dimensões são produzidos em latitudes mais baixas. Também existe uma variação no período reprodutivo, espécies de clima frio reproduzem-se ao longo de todo o ano, enquanto espécies de clima subtropical mostram reprodução na estação fria. É um padrão oposto ao encontrado em espécies decápodes marinhos.

         Produzem poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Não há informações sobre número ou dimensões dos ovos. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto. É quase certo que esta espécie tenha também cuidado parental, mas não existem ainda informações.




Comportamento

 

São animais totalmente aquáticos, devem ser criados em aquários, não necessitando de uma porção emersa.

Apesar das grandes garras, não são animais agressivos, podendo ser mantidos com peixes ou com outros Aeglas, independente do sexo. Comportamento gregário, em especial animais juvenis. Hábitos noturnos, passando o dia entocado, saindo à noite para se alimentar.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.

 


Alimentação

 

Não há dados específicos, assim como as demais espécies do gênero, são onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em decomposição, vegetal e animal. 

 

 

Bibliografia:
  • Bond-Buckup G. Família Aeglidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Bond-Buckup G, Buckup L.1994. A família Aeglidae (Crustacea, Decapoda, Anomura). Arch. Zool., São Paulo, 2 (4): 159-346.
  • Buckup L, Rossi A. O gênero Aegla no Rio Grande do Sul, Brasil (Crustácea, Decapoda, Anomura, Aeglidae). Rev. bras. Biol., 37:879-92, 1977.  
  • Martin, J.W. & Abele, L.G. 1988. External morphology of the genus Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae). Smithsonian Contributions to Zoology 453: 1-46.
  • Santos S, Bond-Buckup G, Gonçalves AS, Bartholomei-Santos ML, Buckup L, Jara CG. Diversity and conservation status of Aegla spp. (Anomura, Aeglidae): an update. Nauplius. 2017; 25: e2017011.
  • Bueno SLS, Santos S, Rocha SS, Gomes KM, Mossolin EC, Mantelatto FL. 2016. Avaliação dos Eglídeos (Decapoda: Aeglidae). Cap. 2: p. 35-63. In: Pinheiro, M. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS, Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 466 p.
  • Schmitt WL. 1942 The species of Aegla, endemic south american fresh-water crustaceans. Proc. U.S. natn. Mus., Washington, 91 (3132): 431-524.
  • Santos S, Bond-Buckup G, Buckup L, Loureiro T, Gonçalves AS, Verdi A, Scarabino F, Clavijo C. (2014). The Aeglidae of Uruguay (Decapoda, Anomura), with the description of a new species of Aegla. In Advances in freshwater decapod systematics and biology. Leiden, The Netherlands: Brill.
  • Bond-Buckup G, Bueno AAP, Keunecke KA. Primeiro estágio juvenil de Aegla prado Schmitt (Crustacea, Decapoda, Anomura, Aeglidae). Rev Bras Zool. 1996;13(4):1049–61.





Agradecemos ao colega colaborador do iNaturalist aguscf_13 pelo uso da sua foto no nosso artigo.



 A fotografia de aguscf_13 (iNaturalist) está licenciada sob uma  Licença Creative Commons 
 
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