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"Aegla oblata"  
Artigo publicado em 17/04/2023  


Égla – Aegla oblata


Nome em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água doce, Scrabei
Nome em inglês: -
Nome científicoAegla oblata Bond-Buckup & Santos, 2012

Origem: Brasil, sudeste de SC

Tamanho: carapaça com comprimento de até 2,0 cm

Temperatura: 18-25° C
pH: 7.7~8.3

Dureza: alta
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce

Comportamento: pacífico

 


 

Importante!!

 

Aegla oblata é uma espécie listada como “em perigo” (EN) na relação das espécies em risco de extinção publicado pelo Ministério do Meio Ambiente e IBAMA (2014) - B1ab(iii), assim como na re-avaliação feita pela Sociedade Brasileira de Carcinologia (2016) - B1ab(iii), e na revisão de 2017 (Santos et al.) - B2ab(iii, iv). Desta forma, sua coleta e manutenção em cativeiro são proibidas por lei.


   
 


Apresentação

 

Apesar de serem muitas vezes referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero atual, Aeglaexclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da América do Sul, com próximo de 60 espécies brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécies  neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.

Esta espécie foi descrita bastante recentemente, em 2019. Desta forma, há escassez de informações específicas desta espécie em literatura. 

Não são muito populares no Brasil como animais de aquário, mas em outros países (como na Argentina) são criados há algum tempo com sucesso.

      Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle, uma das três Hespérides, donas do jardim dos pomos de ouro, situado no extremo ocidental do mundo. E oblata tem origem no latim, oblatus = deprimido, devido à carapaça bastante plana e achatada desta espécie.


 

Origem

            Églas são crustáceos com distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes dulcícolas das regiões temperadas do continente, o que explica sua baixa tolerância ao calor. Vivem em riachos límpidos de leito rochoso, geralmente montanhosos, alguns também em lagoas e represas.

            O Aegla oblata é uma espécie encontrada somente no Brasil, em uma pequena área da região sudeste de Santa Catarina. Engloba a bacia do rio Uruguay (rios Caronas, Lava-Tudo e Périco Redondo, afluente do Engenho Velho). Sua extensão de ocorrência é de somente 1.928 km², com população severamente fragmentada.



Distribuição geográfica de Aegla oblataImagem original Google Maps; dados de Trombetta AS, et al. 2019.

 


Aparência

 

Lembra bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob o abdômen e não possui função locomotora.


  • Rostro bastante curto, subtriangular, carenado. É a espécie de Aegla com o rostro mais curto
  • Espinho ântero-lateral da carapaça não alcançando a base da córnea
  • Seio extraorbital ausente
  • Lobos protogástricos ausentes
  • Ângulo látero-dorsal da segunda pleura inerme
  • Crista palmar sub-disciforme, com lobos
  • Dedo móvel do quelípodo com lobo
  • Margem interna da face ventral do ísquio com elevação ornamentada com tubérculo distal escalariforme



 

Aegla oblata, fotografado em Lages, SC. Fotos cortesia de Leandro Spiller.



Parâmetros de Água

 

Habitam ambientes bastante estáveis, são bem sensíveis a variações e condições inadequadas de água. Um aspecto bastante importante é sua sensibilidade a altas temperaturas, uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. Somente como exemplo, o Aegla laevis sobrevive por 30 minutos a 28º C, e por 20 minutos a 31º C.

Por viverem em água corrente e fria, demandam também alta taxa de oxigenação, sugerindo-se superdimensionar a filtragem e circulação de água no tanque. Como os demais crustáceos, são bem sensíveis a compostos nitrogenados, assim como a metais.


 


Dimorfismo Sexual

 

Bem demarcado, machos são maiores e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais desenvolvidos.




Reprodução


            Provavelmente possuem ciclos anuais de reprodução, acasalando no verão e com um pico reprodutivo durante os meses de temperatura mais fria (outono-inverno). 

            Em Aeglas, existe um claro padrão latitudinal para fecundidade e tamanho dos ovos, em que os animais em latitudes mais altas produzem mais ovos de menores dimensões, enquanto que menos ovos de maiores dimensões são produzidos em latitudes mais baixas. Também existe uma variação no período reprodutivo, espécies de clima frio reproduzem-se ao longo de todo o ano, enquanto espécies de clima subtropical mostram reprodução na estação fria. É um padrão oposto ao encontrado em espécies decápodes marinhos.

         Produzem poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Não há informações sobre número ou dimensões dos ovos. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto. É quase certo que esta espécie tenha também cuidado parental, mas não existem ainda informações.




Aegla oblata, fotografado em Lages, SC. Fotos cortesia de Leandro Spiller.


Comportamento

 

São animais totalmente aquáticos, devem ser criados em aquários, não necessitando de uma porção emersa.

Apesar das grandes garras, não são animais agressivos, podendo ser mantidos com peixes ou com outros Aeglas, independente do sexo. Comportamento gregário, em especial animais juvenis. Hábitos noturnos, passando o dia entocado, saindo à noite para se alimentar.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.

 


Alimentação

 

Não há dados específicos, mas, assim como as demais espécies do gênero, devem ser onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em decomposição, vegetal e animal.

 

 

Bibliografia:
  • Bond-Buckup G. Família Aeglidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Martin, J.W. & Abele, L.G. 1988. External morphology of the genus Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae). Smithsonian Contributions to Zoology 453: 1-46.
  • Santos S, Bond-Buckup G, Buckup L, Pérez-Losada M, Finley M, Crandall KA. 2012. Three New Species of Aegla (Anomura) Freshwater Crabs from the Upper Uruguay River Hydrographic Basin in Brazil. Journal of Crustacean Biology 32(4), 529-540.
  • Santos S, Bond-Buckup G, Gonçalves AS, Bartholomei-Santos ML, Buckup L, Jara CG. Diversity and conservation status of Aegla spp. (Anomura, Aeglidae): an update. Nauplius. 2017; 25: e2017011.
  • Bueno SLS, Santos S, Rocha SS, Gomes KM, Mossolin EC, Mantelatto FL. 2016. Avaliação dos Eglídeos (Decapoda: Aeglidae). Cap. 2: p. 35-63. In: Pinheiro, M. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS, Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 466 p.
  • Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume VII - Invertebrados. In: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. (Org.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 727p.




Agradecemos ao fotógrafo Leandro Spiller pela cessão de fotos para o artigo.

 
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