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"Pomacea haustrum"  
Artigo publicado em 09/04/2012, última edição em 06/06/2023  

Pomacea (Pomacea) haustrum (Reeve, 1856)

Pomacea (Pomacea) penai Ampuero & Ramírez, 2023


Pomacea haustrum, foto de Chris Lukhaup.



A Ampulária sul-americana Pomacea haustrum é classificada dentro do chamado “complexo canaliculata”, um grupo de ampularídeos que tem traços anatômicos em comum, muitas vezes sendo bastante difícil a distinção das espécies dentro deste grupo. 

Uma ampulária invasora que fora inicialmente identificada como Pomacea haustrum era caracterizada no município de Palm Beach, na Flórida (EUA) desde o final dos anos 70, provavelmente introduzida por aquaristas. Sua presença fora documentada por mais de trinta anos, sem sinais de que tenha se espalhado para outros locais dos EUA. Não é mais identificada na região desde próximo de 2015, esta população provavelmente extinta. Foi criado por aquaristas norte-americanos, conhecida como “Ampulária Titã” devido ao seu grande tamanho, antes da sua proibição, e foram realizadas análises moleculares. Em 2022 uma nova espécie peruana foi descoberta, batizada em 2023 como Pomacea penai, com sequência genética idêntica à espécie invasora.    

Parte da confusão na literatura científica tem motivo neste fato. Boa parte dos artigos que mencionam a P. haustrum (especialmente artigos estrangeiros) referem-se a esta espécie invasora. Reforçamos que o presente artigo refere-se a estas duas espécies, não aparentadas, e distantes filogeneticamente.  


Não há análises moleculares da verdadeira P. haustrum, provavelmente é próxima filogeneticamente dos demais membros do clado canaliculata-insularum, baseado no aspecto da concha e dos ovos. A espécie P. penai é um caso curioso, já que sua aparência lembra muito a P. canaliculata mas é geneticamente mais próxima à Pomacea diffusa (clado diffusa/bridgesii). O único aspecto que pode sugerir esta proximidade é a morfologia do cacho de ovos, que, apesar da típica coloração verde, mostra um aspecto compacto e poligonal, semelhante ao P. diffusa e distinto do P. canaliculata.


A Pomacea haustrum é muito raramente vista no comércio aquarístico no Brasil, geralmente são coletas acidentais, devido ao seu apetite voraz e à sua distribuição nativa restrita à Bacia Amazônica. Na década de 70 foi introduzida em MG como agente biológico de controle de esquistossomose. Há focos de presença desta espécie também no CE, boa parte da literatura nacional desta espécie são baseadas nestas duas populações. A Pomacea amazonica (Reeve, 1856) é considerada um sinônimo júnior da Pomacea haustrum.










Conchas de 
Pomacea haustrum, fotografadas nas margens do Rio Coaçu, Fortaleza, CE. Fotos de Walther Ishikawa.





Pomacea penai, 89 mm, coletado em Palm Beach County, Florida, EUA. Fotos de Bill Frank.


 

Pomacea penai, fotos de Stijn Ghesquiere.



Pomacea penai, nesta imagem é bem visível o ombro mais agudo desta espécie. Foto de Terri Bryant.


Concha: A verdadeira P. haustrum tem tamanho médio, atingindo 5,5 cm. A espécie P. penai é uma Ampulária grande, sua concha atinge 9~12 cm de altura, com uma cor básica verde escura a marrom. A concha também possui muitas faixas de cor marrom-escura, lembrando a P. lineata. Próximo da abertura, a concha fica com um aspecto mais claro. A forma da concha lembra muito a P. canaliculata (e outras espécies do complexo), com suturas profundas, mas tende a ter uma concha menos globosa e relativamente mais alta. Exemplares juvenis  têm suturas rasas, lembrando bastante a P. diffusa.

Opérculo: O opérculo tem uma espessura média e um aspecto córneo. Sua estrutura é concêntrica com o núcleo próximo do centro da concha. O opérculo pode ser retraído na abertura da concha.





Comparação entre Pomacea penai e Pomacea canaliculata. Fotos de Terri Bryant.


Corpo: Seu corpo tem uma coloração cinza-acastanhada, com manchas pigmentadas escuras. A cabeça tem cor clara (quase branca), enquanto que os tentáculos e sifão são bastante pigmentados. O sifão respiratório é bem longo quando totalmente estendido. Em repouso, o sifão já tem uma forma tubular, mas fica dobrado abaixo da concha.



 

Pomacea penai, fotos de Terri Bryant.



Reprodução:


Ovos: Os ovos da verdadeira P. haustrum são de cor rosa-salmão, depositados em agrupamentos na vegetação emergente (acima da linha d´água), formando cachos pouco compactos, semelhante às demais espécies do complexo canaliculata. Tornam-se esbranquiçadas com o tempo, e cinzentas próximo à eclosão. Medem cerca de 2,4 a 3,5 mm, o número por desova varia bastante, de 43 a 773. O período médio de incubação é de 14 dias. Os bebês recém nascidos medem cerca de 2,4 mm.

Os ovos da espécie P. penai são de cor verde, de grandes dimensões, medindo de 3~5 mm, Os cachos são formados por ovos comprimidos em formas poligonais, com aspecto de "colméia", semelhante à P. diffusa





Cachos de ovos de Pomacea haustrum, fotografados no açude da Agronomia, Campus PICI, UFC, em Fortaleza (CE). Fotos de Walther Ishikawa.





Desova de Pomacea penai, foto de Terri Bryant.

Cacho de ovos de Pomacea penai, em Palm Beach County, Florida, EUA. Foto de Bill Frank.



Massa de ovos de Pomacea penai, com sua típica cor verde. Foto de Terri Bryant.





Eclosão dos ovos, e filhotes de Pomacea penai, fotos de Terri Bryant.


Alimentação: Se alimenta de quase todo tipo de vegetação.

Comportamento: Mais ativo durante a noite.




Distribuição geográfica de Pomacea haustrum no Brasil. Imagem original Google Maps; dados de Simone LRL 2006.



Distribuição: Bacia Amazônica, Bolívia, Colômbia e Peru. No Brasil, esta espécie é vista nos estados do PA e AM. Introduzida em MG e CE. 

Descrito inicialmente como invasor na Flórida (EUA), mas restrito a poucas localidades, embora hoje se saiba que se trata de um erro de identificação. Esta nova espécie peruana foi coletada em diversas localidades perto de Iquitos, como nos rios Itaya e Nanay, além de ser vendida em mercados locais.

 




 



















Bibliografia adicional:

  • Simone LRL. 2006. Land and Freshwater Molluscs of Brazil. EGB, Fapesp. São Paulo, Brazil. 390 pp.
  • http://www.conchasbrasil.org.br/
  • Milward-de-Andrade R,  Carvalho OS. Colonização de Pomacea haustrum (Reeve, 1856) em localidade com esquistossomose mansoni: Baldim, MG (Brasil). (Prosobranchia, Pilidae). Rev. Saúde Pública. 1979, vol.13, n.2, pp. 92-107.
  • Cowie RH, Thiengo SC. (2003): The apple snails of the Americas (Mollusca: Gastropoda: Ampullariidae: Asolene, Felipponea, Marisa, Pomacea, Pomella): a nomenclatural and type catalog. Malacologia, 45: 41-100.
  • Rawlings TA, Hayes KA, Cowie RH, Collins TM. The identity, distribution, and impacts on non-native apple snails in the continental United States. BMC Evolutionary Biology 2007, 7: 97.
  • Hayes K. A., Cowie R. H. & Thiengo S. C. (2009). A global phylogeny of apple snails: Gondwanan origin, generic relationships, and the influence of outgroup choice (Caenogastropoda: Ampullariidae). Biological Journal of the Linnean Society 98(1): 61-76.
  • Bernatis JL. Morphology, ecophysiology, and impacts of nonindigenous Pomacea in Florida. Doctorate Dissertation, Interdisciplinary Ecology, University of Florida, 2014.
  • Guimarães CT. Controle biológico: Pomacea haustrum Reeve, 1856 (Mollusca, pilidae) sobre planorbíneos, em laboratório. Rev. Saúde Pública. 1983 Apr; 17(2): 138-147.
  • Milward-de-Andrade R, Carvalho O dos S, Guimarães CT. Alguns dados bioecológicos de Pomacea haustrum (Reeve, 1856), predador-competidor de hospedeiros intermediários de Schistosoma mansoni Sambon, 1907. Rev. Saúde Pública. 1978 Mar; 12(1): 78-89.
  • Guimarães CT. Algumas observações de laboratório sobre biologia e ecologia de Pomacea haustrum (Reeve, 1856). Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 1981 Mar; 76(1): 33-46.
  • Guimarães CT. Algumas observações de campo sobre biologia e ecologia de Pomacea haustrum (Reeve, 1856) (Mollusca, Pilidae). Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 1981 Dec; 76(4): 343-351.
  • Linares EL, Lasso CA, Vera-Ardila ML, Morales-Betancourt MA. 2018. XVII. Moluscos dulceacuicolas de Colombia. Serie Editorial Recursos Hidrobiologicos y Pesqueros Continentales de Colombia. Instituto de Investigacion de Recursos Biologicos Alexander von Humboldt. Bogota, D. C., Colombia. 326 pp.
  • Rodrigues LC. Desempenho zootécnico de juvenis de Pomacea haustrum (Revee, 1856) (Mollusca: Gastropoda: Ampullariidae), mantidos em diferentes dietas e salinidades. 2019. 54 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Pesca) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2019.
  • Ramírez R, Ramirez JL, Rivera F, Justino S, Solís M, Morín J, Ampuero A, Mendivil A, Congrains C. Do not judge a snail by its shell: molecular identification of Pomacea species (Gastropoda: Ampullariidae), with particular reference to the Peruvian Amazonian giant apple snail, erroneously synonymized with Pomacea maculata. Archiv für Molluskenkunde International Journal of Malacology. 2022. 151(1): 7-17.
  • Ampuero A, Ramírez R. Description of two new species of apple snail (Ampullariidae: Pomacea) from Peruvian Amazonia. Zootaxa. 2023 Mar 27;5258(1):76-98.




Esta ficha foi adaptada do portal  applesnail.net , possivelmente o melhor banco de dados de Ampulárias que existe na internet. Agradecimentos a Stijn Ghesquiere, responsável pelo portal, por permitir o uso do material e fotos. Agradecemos também à colega aquarista americana Terri Bryant e Bill Frank ( Jacksonville Shell Club ), pela cessão das fotos para o artigo, e valiosas informações.



 As fotografias de Walther IshikawaStijn Ghesquiere estão licenciadas sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
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